Fiquei longos minutos me olhando no espelho, como se eu estivesse esperando por outra imagem. Uma melhor que essa que vejo.

Levanto-me de meu banquinho e olho para o relógio digital que esta em cima do meu criado-mudo ao lado de minha cama enorme demais pra uma só pessoa. Já é bem tarde e não estou com sono. Pensei em ligar pra Sara, pra gente dar uma saída, mas lembrei de que ela não estaria em casa esse final de semana. Sem ela eu me sentia só. Mas às vezes precisamos ficar longe uma da outra. Mas só às vezes.

Suspirei e decidi que o melhor a fazer era ir dormir. Na verdade forçar isso. Fui até a janela enorme pra fechar a cortina, quando vi a luz de seu quarto acesa, sua janela aberta e ele bem ao centro me olhando de longe. Fiquei olhando-o sem entender. Ele estava me vigiando? Ou me olhou pelo mesmo motivo por eu esta olhando?

Sorri pra ele, pra me sentir menos constrangida, pois estava apenas de tope, mas ele retribuiu o sorriso alegremente. Olhou para baixo e pegou algo, me olhou de novo e fez um gesto para que eu esperasse. Estreitei os olhos e fiquei a esperar, então ele ergueu uma folha onde havia enormes letras.

“Oi, como está?” comecei a rir então. Aquilo era tão infantil. Ele também estava rindo, colocou a mão na testa, como se tivesse feito uma besteira, voltou novamente o olhar para baixo e então estendeu outra folha.

“Não estou com sono. Quer jantar comigo?” fiz um biquinho. Ele arregalou os olhos e olhou pra baixo rapidamente escrevendo outra coisa. Então me olhou fixamente.

“Balance a cabeça em resposta” sorri mais uma vez e balancei a cabeça positivamente e Warrick fez um gesto de vitoria.

Fechei minha cortina pra me dar um pouco de privacidade. Coloquei uma roupa casual e mordendo os lábios fui até sua casa.

- Olá. – ele abriu a porta dando um espaço para que eu entrasse.

O cheiro da comida estava ótimo. O vinho também não era de deixar de lado. Encostei-me na bancada dando um longo gole do vinho, a taça brilhante era linda. Dei uma olhada nele. Tão lindo com seu avental e seu jeito de fazer a comida que me sinto até uma dona de casa de quinta categoria.

-Mas e ai, por que decidiu vim pra esse bairro? – perguntei qualquer coisa, era melhor do que ficar observando, quando minha cabeça na verdade me levava pra outros lugares com ele. Pigarreei.

- Bom – ele se virou pra mim pegando um potinho com cebola picada e jogando na frigideira – Problemas, nos quais me obrigaram a vim pra cá. – ele deu de ombros – Pode me passar essas azeitonas, por favor?

Peguei as azeitonas dando a ele, que me olhou por longos segundos, desnecessários.

- Você aprecia álcool! – ele não fizera uma pergunta, mas sim estava afirmando.

- Algum problema? – passo a língua no lábio inferior sentindo o gosto do vinho.

-Nenhum. – ele sorriu apagando o fogo.

- Porque na verdade você quem me chamou pra cá. – fiquei olhando pra minha taça, pra que seus olhos claros não prendessem os meus – E como sou uma ótima samaritana vim lhe fazer companhia. – agora tive de olha-lo e me arrependi, porque seus olhos eram leitosos e sentimentais demais.

Pra dizer a verdade eu nem sei o que comi, só sei que era diferente e uma delicia.

- Gostou mesmo! – ele deu uma risada dando um gole em seu vinho.

- Sim! – cocei a cabeça me jogando pra trás na cadeira – Sua casa é muito bonita. – quase sussurrei depois que bocejei.

- Pelo jeito você já tem que ir pra sua. – o olhei, ele me olhava com nenhuma expressão, era como se ele fosse um boneco negro a me encarar.

- Esta me expulsando? – perguntei estreitando os olhos.

- Você está com sono. E só não quero que tenha uma má impressão de mim! – ele se aproximou de mim, ficando com os cotovelos apoiados na mesa – Na próxima vez você não vai querer voltar porque não lhe deixei ir embora. Ai, eu me acharia mal educado demais.

- Posso então lhe convidar pra minha casa. Gosto de ser mal educada. – sorri pra ele – Acho que não estou tão sóbria assim.

- Deveria estar. – ele então se afastou fazendo biquinho.

- que tipos de problemas o trouxe pra esta casa? – apontei pra toda a casa antes de olhar fixamente pra ele.

- Eu estava noivo. – ele deu uma longa pausa, me fazendo ficar séria e com os ouvidos atentos – Eu iria me casar a três semanas atrás antes da minha noiva desistir de tudo.

- Como assim? – fiz uma cara de triste – Como alguém poderia não querer se casar com você?

- Ela! – ele desviou o olhar, olhando pra qualquer canto, menos pra mim – Ela não sabia se realmente me amava, se era aquilo que ela queria fazer. Então pediu um tempo e eu vim pra cá pra ficarmos afastados. – sua voz foi se perdendo. Fiquei de pé – O que foi?

- Desculpa. Não posso ficar. – passei a mão no meu cabelo – Tchau, desculpa.

- Cath, o que foi? – ele ficou de pé me seguindo – Fiz algo de errado? – ele segurou meu ombro me parando. Fiquei meio tonta antes de respondê-lo.

- Nada, nada. Só tenho que ir logo pra casa como você me falou. – tirei as mãos dele de meus ombros e sai de sua casa rapidamente, aquilo era errado. Eu estava errada.