A Fúria De Hades escrita por Andressa Picciano, Milena Buril


Capítulo 11
Viramos uma entrega especial


Notas iniciais do capítulo

O capítulo ficou grande, mas espero que gostem.



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Se o Manticore e a tal Alectó voltassem para nos afrontar eu ficaria mais feliz do que agora..

Eu adoro cachorros! Cachorrinhos fofinhos, pequenos e amigáveis. Mas esse.. bem, posso dizer que ele não era nem fofinho, nem pequeno e nem de longe amigável; talvez porque tivesse o tamanho de uma casa, ou talvez porque suas três - sim eu disse três - cabeças me encaravam com uma expressão sonhadora do estilo 'como deve ser o gosto dessa garota assada em fogo lento' ou coisas ainda piores..

Mas de algum modo eu soube que eles não iam me comer, pelo menos não agora, quem sabe após um comando ou quando a fome aumentasse.

Eu não queria transformar aquele cachorro em pó, não queria dar mais um motivo para que Hades me odiasse - não que ele precisasse de mais motivos. Mas mesmo que eu quisesse, minha espada não estava lá.

Perceber isso fez meu coração vir à boca. Depois de atingir aquela fúria, eu não havia notado que minha espada havia desaparecido.. Só esperava vê-la de novo antes que aquele cachorro resolvesse me abocanhar.

- Cérbero! - Nico disse surpreso. - Não sei o que ele está fazendo aqui, deveria estar cuidando dos portões.

Por que ele foi falar aquilo? A criatura latiu - as três grandes bocas em uníssono - e deu voltas  saltitando, como se estivesse animadíssima por estar ali diante de dois semideuses que deviam ter um sabor delicioso.

Ao terminar sua tentativa frustrada de perseguir seu rabo - o que estava causando um grande tremor de terra subterrâneo - o Cérbero parou e voltou a nos fitar. Então pareceu lembrar-se do que estava fazendo ali.

Com uma velocidade descomunal o cão abaixou abocanhou a mim e a Nico.

Pensei que eu fosse meu fim. Gritei tanto que pensei que já havia morrido e não notado. Mas então abri os olhos e vi que o Cérbero apenas estava segurando a mim a Nico com duas de suas bocas, enquanto a outra arfava feliz.

Então ele começou a se mover rápido como se fosse um táxi tamanho extra-gigante.

Olhei para a cabeça do lado e vi Nico sendo segurado pela jaqueta de couro. Ele estava parecendo um filhotinho gótico. Tentei não rir, o que foi fácil contando com o fato que eu deveria estar tão ridícula quanto ele.

Ele olhou para mim e seus lábios formaram silenciosamente as palavras 'Não sei o que está acontecendo'.


...


Continuamos andando mais um pouco até que a temperatura realmente caiu.

Um leve vento passava por ali, gelado o bastante para que eu sentisse que viraria Samcolé - não me perguntem como, também achava que no Submundo não havia vento, porém parece que tudo pode sim ficar mais estranho.

Mais a frente avistei uma grande construção. E por grande eu não me refiro a uma casa de três andares, e sim à Casa Branca. 

Aquele lugar realmente parecia uma visão melhorada - e muito mais dark - de um palácio digno de um rei da Grécia antiga.

Grandes pilares pretos se esguiam do chão ao teto como se tivessem sidos esculpidos ali e nada, nem aquele Cérbero, seria capaz de derrubá-los.

Ele nos jogou no chão como se fossemos bonequinhos de uma encomenda entregue e voltou feliz para seu posto nos portões do Submundo com o sentimento de missão cumprida. 

Nico se levantou e estendeu sua mão para me ajudar. Levantei ainda atordoada pela carona inesperada. E olhei mais de perto o lugar.

Grandes paredes de mármore preto se estendiam pelas paredes e o chão brilhava tanto que era possível ver seu reflexo nele sem o menor esforço. Um belo jardim abria-se na entrada, mas o que nascia lá eram pedras preciosas, rubis, e uma bela árvore com maçãs douradas (que mais chamava minha atenção).

Resisti ao impulso de pegar qualquer coisa quando me lembrei das advertências de Nico sobre o jardim da Perséfone.

Entramos no palácio, e depois de um tempo, adentramos um grande salão com dois tronos. Meu sangue gelou e os batimentos do meu coração desaceleraram. O tempo pareceu parar.


...


Um grande homem - de aproximadamente quatro metros de altura - estava sentado no maior trono, que era feito de ossos humanos. Ele era branco, tanto quanto Nico. Seus cabelos negros como a noite caíam sobre os ombros. Sua presença era forte o bastante para que eu sentisse vontade de me ajoelhar em uma reverência. Suas expressões eram de raiva, como se estivesse se controlando para que não explodisse qualquer um que entrasse por aquela porta.

A mulher ao seu lado parecia deslocada na paisagem de morte. Sua pele era clara e sua expressão de puro tédio. Seus olhos eram da cor do mel. Seus lábios avermelhados e os traços  suaves de seu rosto eram perfeitamente harmoniosos e simplesmente lindos. Ela usava um vestido florido em que, a cada instante, as mais variadas rosas, em diversas e belas cores, floresciam. 

Ela emanava vida, e ele algo bem pior que morte e terror.

Nico fez uma reverência e eu o imitei. Julguei que, após transformar em pó uma de suas fúrias ele não esperaria uma palavra minha antes que me matasse. Porém fiquei surpresa com o fato de ele começar a conversar comigo, como se decidisse o melhor castigo a ser aplicado -como uma diretora de escola (acredite, já passei muitas vezes por isso).

- O que a traz aqui? - Hades começou a falar.

- B-bem - minha voz estava querendo falhar, mas me obriguei a continuar firme -, Nico quer me ajudar a chegar ao Acampamento, e para isso precisávamos entrar aqui.

- E por que motivo você quer ajudá-la Nico? - Ele continuou quase empurrando as palavras em seu filho.

- Ela precisava de ajuda pai - Nico disse em tom forte. - E eu jurei pelo Estige para a mãe dela. Jurei que ela chegaria ao Acampamento a salvo e que depois a levaria de volta para casa.

- Desde quando um filho meu - Hades gritava - é encarregado de fazer o trabalho de um sátiro? Desde quando você virou chofer Nico? 

- Eu estou oferecendo ajuda a uma amiga, pai. Algo que o senhor ainda não aprendeu muito bem.

Os olhos de Hades brilhavam com fúria, como se ele fosse lançar Nico pelos ares. Mas eu não acreditava que ele fosse capaz de fazer isso com seu próprio filho. Ou seria?

- Bem - disse ele abrindo um sorriso malicioso - amiga, Nico? Amiga..

Senti meu rosto fervendo e desejei não estar tão corada quanto eu imaginava. Voltei a olhar para o chão e percebi Nico fazendo o mesmo.

- O.k. - o deus prosseguiu. - Você ousa entrar em meu reino sem a minha permissão, e ainda tem a coragem de enfrentar e desintegrar uma de minhas fúrias. Você tem raça menina - eu levantei a cabeça perplexa.

Assim? Um elogio e nada de exterminação? Queria eu ser tola o suficiente para acreditar que seria tudo assim tão fácil e tão bom.

Nico também pareceu surpreso por que levantou a cabeça e olhou incrédulo para seu pai, mas não ousou sorrir.

Quem sabe - ele continuou -, eu não acabe com você. Mas para isso, você precisa passar por um pequeno desafio, um pouco pior que Alectó - ele sorriu friamente. - Moleza não é? Aceita ou não semideusa.

'Claro' eu pensava 'Algo um pouco pior que o seu monstro que quase me matou? O.k. pode mandar' mas infelizmente, minha boca resolveu seguir meu pensamento insano.

- Estou pronta senhor Hades. Só preciso de uma arma.

Ele pareceu ter sido apunhalado pelas costas ao ouvir minhas palavras. Mas conseguiu sair por cima.

- Isso, minha jovem - ele soltou um breve sorriso de escárnio -, é problema seu.

Ele fez um rápido movimento com a mão antes mesmo que eu pudesse protestar, então eu não estava mais lá.


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Notas finais do capítulo

Reviews? (: Obrigada por estarem lendo!! *-*