A Saga De Câncer escrita por FernandaCDZ


Capítulo 7
Romeiro ao Lonxe


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas! Mais um capítulo (Para nooossaaaa alegriaaaa) das Memórias Póstumas de MdM de Câncer...
Bem, como sempre fui fascinada com a Casa de Câncer, visto que Mu demorara muito para descer o cacete nos inimigos, estarei, em breve, dedicando uma fic ao mais novo (e polêmico) Cavaleiro de Câncer, Schiller. Postarei nessa seman ou na outra, não sei.
Como minhas aulas da universidade só se iniciam em Abril, devo aproveitar o momento para postar tudo, visto que muito em breve não disporei do tempo.
Comentários são bem-vindos e muito, muito apreciados. Boa leitura.



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- Capítulo 7: Romeiro ao Lonxe -

Nove de Julho. Faltava uma semana para o aniversário de Matteo, que parecia cada vez mais acostumado com a ideia de ser Cavaleiro. Não mais reclamava nos treinos, e costumava destacar-se. Contudo, começava a esquecer-se das cartas... Pois os outros, desconfiados de suas saídas e segredos, passaram a vigiá-lo constantemente. Nem mesmo Christian e Victor podiam ser considerados portos seguros para ele.

Um dia, mais ao fim do treinamento, quando o Sol se punha, ele avistou uma frondosa árvore, cuja copa ocultava o que havia por entre seus galhos e folhas. Eis o perfeito esconderijo. Com algumas cartas no bolso oculto de sua camisa, escalou a árvore rapidamente, escondendo-se dos olhares de todos.

Abriu uma das cartas para começar a leitura, e já foi recebendo bronca.

“Ahhh, você se lembrou de mim, palhacinho! Sumiu por que?”

(Matteo, com um sorriso sereno): Desculpe, Máscara. Não fiz por mal... É que todos já estão ficando desconfiados...

“Entendo. Segredos têm um preço, moleque. Ainda que eu concorde com o modo como está tratando minhas memórias, tenho que adverti-lo a respeito.”

(Matteo): Está aí algo que não compreendo: por que não contou a ninguém, antes de morrer, que você deixaria memórias?

“Como eu disse, eu não era dos mais sociáveis. Se falar que... Eu tinha uma reputação, entende? Os outros reprovavam meu... Estilo de vida.”

(Matteo): Entendo... Então, prefere que eu guarde segredo?

“Como sua Consciência, é tudo o que peço - discrição. Não é o momento para trazer à tona lembranças minhas. Agora, faça-me outro favor: não deixe de me visitar. Ter que ouvir a ladainha das almas penadas é uma lástima que, de tão trágica, torna-se até cômica.”

Matteo riu-se do comentário e passou a ler a carta. Mas que Consciência divertida era aquela! Como podia ser Máscara tão odiado, se tinha tanto senso de humor? O italianinho de cabelos grisalhos digladiou-se sobre mais uma parte das Memórias Póstumas de Máscara da Morte...

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“Saudações, leitor corajoso e/ ou desocupado,

Se chegou até aqui, meus parabéns. Conseguiu aguentar boa parte do sinistro e do macabro que minha infância carregou, e que, dentre outros fatores, fez de mim o homem que fui. A segunda parte de minha infância, o treinamento em Sicíla, está chegando ao fim. Diga-se de passagem, essa foi a fase mais horripilante da minha vida.

Desejando sempre um dia razoavelmente trágico,
Máscara da Morte de Câncer.”


As introduções sempre faziam Matteo rir. O humor dele era ácido, ferino e inteligente. Máscara da Morte sabia brincar! O italiano via nele uma inspiração; um alguém que sabia lidar com humor com as adversidades de sua vida... Quem o dera ser assim.

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Ilha de Sicília, Itália - Continuação...

Agora, dos seis discípulos iniciais, sobraram apenas três: Mefisto, Sírius e Carlo. Quatro anos se passaram desde as mortes de Saulo, Cortéz e Syrus. O primeiro, engolido por magma; o segundo, assassinado por Sírius; o terceiro, pela toxicicidade da fumaça do Etna. A cada dia, o trio ficava mais forte, e um era incapaz de ultrapassar o outro em termos de força e habilidades cósmicas. Contudo, em se tratando de agilidade, a disparidade era ligeiramente clara.

Carlo era mais rápido e ágil que os outros dois, sendo dono de rápidos reflexos em excelente tempo de reação. Todos os três já haviam desenvolvido o princípio de Cosmo - o de Mefisto manifestava-se em cor avermelhada; o de Sírius, em cor prateada. O de Carlo, contudo, manifestava-se em um bruxuleante tom de violeta, o que impressionava Sage, pois esse fora o tom em que seu Cosmo se manifestara antes de tornar-se o Cavaleiro de Câncer. Seria esse um sinal?

Os treinamentos passaram a ser não mais meramente físicos; visto que os meninos já haviam despertado como Cavaleiros, estava na hora de ensiná-los a controlar o Cosmo que há muito dormia dentro deles. Um dia, então, decidiu chamar os três para seus aposentos, a fim de modificar os treinos.

- Atenção, pirralhada! - Bradou em seu tom brincalhão e soturno de sempre - Estou vendo que vocês já cresceram, e bastante, tenho que dizer! Quatro anos passaram voando... Voando, molecada. - Ele então concentrou seu Cosmo na ponta dos dedos, fazendo a mesma apresentação que no dia em que Carlo o vira pela primeira vez - Sekishiki Meikai-Ha...O dia está chegando. O dia há de chegar, mas para apenas um de vocês...

Ele se levantou, instruindo o trio a fazer o mesmo.

- Hoje, a banda toca outro estilo - Disse Sage - Visto que vocês andam bem fortinhos e já com Cosmos ativos... Devo dizer que não vou mais perder meu tempo com exercícios de força para vocês. Agora, vocês focarão em sua agilidade e auto-descobrimento cósmico.

Os três olharam sem muito compreender.

- Não me olhem com essa cara! - Riu o antigo Grande Mestre - Se querem tirar a armadura de Manigoldo, vão ter que dançar a minha música! - Ele sorria para o trio - Vocês, desde o início, foram meus favoritos. Quero ver se não me desapontarão. Dou-lhes um ano. Um ano para descobrirem do que são feitos. Vocês estão livres para sair da ilha... Mas deverão retornar em... Que dia é hoje?

- 16 de Julho, senhor - Disse Carlo com um sorriso.

- Certo... - Sorriu Sage - Quero a molecada de volta dia 16 de Julho do ano que vem. Tratem de não se matar, por favor.

Os três assentiram, retornando ao dormitório. Sage parou na porta, vendo os rapazes, já no começo de sua adolescência, tão crescidos, afastando-se dele. Um lágrima saíra de seu rosto.

- Ah, Sage... - Murmurrou para si - Deixe de ser tão paizão... Você sabe como termina...

Ele olhou para o caixão de gelo, que continha o corpo de Manigoldo. Ele pôs a mão esquerda sobre o esquife, fitando-o com mais lágrimas.

- Você sabe como termina... Vidas vêm e vão, uma atrás da outra... - Ele soltou um largo suspiro - Uma atrás da outra...

***

Os rapazes embalaram seus pertences em silêncio; não havia muito com eles, apenas algumas roupas e algum passatempo ou outro. Mefisto e Carlo dormiam perto, então trocavam uma rápida ideia ou outra. Sírius, por outro lado, estava mais isolado, pois os que perto dele dormiam eram Saulo, Cortéz e Syrus, já falecidos.

O descendente de espanhois possuía três mudas de roupa, cujas cores variavam entre cinza, preto e dourado, a qual nunca o viram usar. Havia uma gaita entre os pertences dele. O rapaz de olhos prateados fitava o chão, tentando ficar alheio às vozes do italiano e de Mefisto, o qual desconhecia a nacionalidade.

Havia lágrimas em seus olhos. Para afastar de si aquela tristeza, decidiu cantar uma canção do norte da Espanha, vinda da Galícia:

Romeiro hei de ir lonxe ao San Andrés...
Com herbiñas de namorar...
Dareille a quen alén mar está...
O aloumiño do meu amor...


O som da voz dele fez com que Carlo o fitasse. Mefisto, ainda consumido pelo ódio que tinha de Sírius pelas mortes de Syrus e Cortéz, deu de ombros e continuou a embalar seus poucos pertences. Carlo, contudo, voltou as faces para o encolhido e melancólico Sírius. Naquele momento, ele não parecia tão assustador. Parecia apenas... Uma criança perdida.

Morto ou vivo hei volver á terra
(Que ela andou canda min)
Con herbiñas de namorar;
(Chouta o mascato polo cantil)
A vela-lo adro familiar,
(Ala lonxe, na fin,)
Co aloumiño do meu amor.

Hei de vestir a camisa de liño
(Que ella teceo para mim...)
Con herbinãs de namorar
(anda o lagarto azul e sonril...)
A acaroar mapoulas bermellas
(nacidas de fusis)
Con o aloumiño do meu amor
(Alleo á guerra e ao seu tambor...)

Cabo do mundo, ó pé dun aguillón
(Doeme a guerra ruín)
Entre herbiñas de namorar;
(Corvo mariño voa xentil)
O amilladoiro a levantar
(E pan santo a colorir)
Co aloumiño do meu amor.


Ainda restara algo de bom em Carlo. Ele ainda conseguia ver bondade em algo, e seu coração apertava-se com triste canção. Ele deu de ombros, levantou-se e aproximou-se de Sírius, qu cantava a estrofe final.

Romeiro hei de ir lonxe ao San Andrés
Con herbinãs de namorar
Dareille a quen alén mar está
O aloumiño do meu amor...


Assim que Sírius terminara a música, Carlo o abraçara, causando uma confusão no rapaz, que cai em lágrimas.

- Que essa viagem te sirva como lição também... - Sussurrou Carlo - Para que não nos tornemos seres maus... Você tem salvação. Pouquíssima, mas tem. Lembre-se disso daqui um ano.

Carlo voltou ao seu lugar com um ar amargo. Talvez tivesse gastado toda bondade que ainda tinha, todo apreço que poderia ter. Talvez estranhasse o fato de ter abraçado seu inimigo declarado, cedendo à pena que tal cenário lhe havia cusado. Seja qual tenha sido a situação, não importava para ele. Seus pertences - duas mudas de roupa, de cores azul escuro e preto, uma caixa com papéis e lápis e uma foto dele com os familiares. Esse último item fora a última memória que restara dos anos mais felizes dele.

Os três saíram dos dormitórios e caminharam, em silêncio, ao litoral, onde três barcos os esperavam.

- Vai aonde, Mefisto? - Indagou Carlo.

- Edimburgo primeiro, Orleáns depois - Replicou o ruivo - Preciso falar com a família de Syrus... Depois, volto a treinar em minha terra natal.

- Ah... Você é francês... - Concluiu Carlo - Mande lembranças aos familiares de Syrus por mim também. Acho que vou aproveitar e render uma visita à Espanha. Cortéz também merece ser velado, afinal...

Sírius nada respondeu. Simplesmente entrou na barcaça mais à direita, ligou o motor e saiu em disparada.

- Ele ainda vai se arrepender... - Comentou Mefisto.

- Será? - Duvidou Carlo - Talvez sim, talvez não... Ele tem um ano para isso.

Eles deram um abraço amigável na praia antes de partirem.

- Boa sorte, Mefisto - Disse Carlo, emocionado - E obrigado por tudo.

- Eu que agradeço, amigo - Replicou mefisto com um sorriso - Nos vemos em um ano.

Eles pularam nas barcaças e, sob os olhares vigilantes de Sage, seguiram seus rumos. Mefisto, mais para o Norte e Carlo, para o Oeste, para a maravilhosa Espanha, a terra dos mouros e cristãos, unidos pela graça de El Cid, Rodrigo Días de Vivar...

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(Matteo): (Surpreso) 16 de Julho?! Esse é o dia de meu anversário!

“É mesmo? Interessante coincidência... Mas, me diga: como andam as meninas? Fez as pazes com a greguinha? E a outra, Zahara? Onde está que não a vejo?”

(Matteo, sorrindo): Bem, eu fiz as pazes, sim. Passei no aniversário dela e entreguei um colar que fiz... (Enrubesce) Um dos mais bonitos da minha coleção, diga-se de passagem...

“Também é da área das Artes, garoto? É, você realmente é italiano... Que azar, não?”

Matteo riu-se desse comentário. Aqueles momentos, apesar de tristes, visto que as memórias não eram tão agradáveis, conseguiam arrancar-lhe boas risadas. Desde que Máscara da Morte entrara em sua vida, toda a melancolia parecia ter ido embora. Fazia tudo com um sorriso, com o ânimo renovado. Sequer lembrava o quanto sua vida fora difícil.

Buscava ignorar o quanto seu passado lhe doía...

(Madri): (Gritando debaixo da árvore) Matteo! Matteo!

Era a voz da cega indiana; apesar de cega,nada lhe escapava. Confiava em seu tato e olfato para descrever a parte física do mundo, e sua audição dizia-lhe o que era agradável e o que não era. Os olhos dela, azuis como o céu, ainda que desbotados pela cegueira, eram lindos e amigáveis. Muita vezes, ele podia jurar que ela lançava um olhar terno para aqueles que a cercavam.

(Matteo): (Rindo) Já estou descendo, Madri! (Refaz o caminho da escalada)

(Madri): Zahara e Samuel estão te procurando. Disseram que têm algo para você...

Matteo pede a Madri que fosse na frente enquanto ele guardava as cartas de Máscara. Em breve, pegaria as faltantes para finalizar a leitura. Ao guardar, correu que nem a criança alegre que era atrás da indiana de negros cabelos e azuis olhos.

Um dia, ele também seria um Cavaleiro como Máscara, que não deixaria de lutar pelo que acreditava. Um dia, também teria suas memórias póstumas. Quem sabe, teria muitos além de alguma outra alma a lê-las...

Continua...


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Notas finais do capítulo

"Romeiro ao Lonxe" é uma música galega da banda "Luar na Lubre". Ela conta a lenda de San Andrés de Teixido, uma cidade perto de La Coruña (capital da Galícia), onde "quem non va de vivo, va de morto". Os animais compartilhavam com os fiéis a experiência religiosa da peregrinação, e há quem diga que muitos dos animais que velam o caminho são encarnações daqueles que morreram na peregrinação. Acho uma música linda, carregada de emoção e sentimento. Quem quiser ler a fic ao som da canção, basta ver o vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=CKmLTvjJpPI
A frase "vidas vêm e vão, uma atrás da outra" é um dos bordões de Máscara da Morte em seu combate contra Shiryu nas Doze Casas. Dado o conexto, "emprestei-a" para Sage.
Rodrigo Días de Vivar, conhecido como "El Cid Campeador", é um dos herois da Espanha. Foi conhecido por auxiliar na nificação dos reinos mouros e cristãos da Espanha. Governou Valência (cidade ao leste da Espanha) até sua morte.



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