As coisas estavam calmas em Fatherwell, uma cidadezinha entediante e monótona que não atraía visitas, exceto quando havia alguma embarcação aportando por ali, fazendo com que tavernas e estalagens lotassem, comerciantes eufóricos, e ladrões a solta com a esperança de conseguir algo de valor. Havia ricos em suas majestosas residências, grandes fazendas e propriedades...  E pobres que se sustentavam como podiam. Uns tentavam a sorte procurando emprego nas fazendas, outros, pescavam para comer e vender, e o resto se arriscavam em algo mais ousado e até perigoso. Um exemplo? Piratas. Um bando de homens desajustados espalhados numa banheira extremamente fétida, buscando por tesouros, saqueando navios inimigos, lotando tavernas e arrumando brigas onde quer que estejam. Uma suntuosidade.

Além disso, essa maravilhosa cidade é meu lar. Onde nasci, onde cresci, onde eu atualmente vivo. Felizmente (ou infelizmente) sou filha de um grande proprietário de terras, que é casado com a dama mais formosa, respeitada e temida de Fatherwell, Áurea.

 Alguns diriam a mim que é burrice de minha parte reclamar da vida que tenho. Mas acreditando ou não, tenho motivos para querer deixar essa vida de dama para sempre. Agora que alcancei a maioridade, meu “futuro feliz” seria me casar com um homem rico escolhido pelos meus pais, procriar com ele, contratar serviçais, e cuidar de meus filhos até que cresçam e forem embora. Meu marido cuidaria dos negócios familiares e eu faria presença em raras festas lotadas de mulheres que obtiveram o mesmo destino que eu, sem assunto algum a ser tratado. Sempre com os melhores vestidos, as mais caras joias, os mais belos sapatos. Sempre o mesmo tédio, a mesma rotina. Se já estou insatisfeita em ser filha solteira, nem gosto de pensar em ser esposa. Felizmente tenho um pouco de diversão por aqui. Infelizmente só em datas especiais. Seria meu tio, Benjamim, que raramente faz visitas por aqui. Meu pai sempre permite que possamos ir ao campo. E é lá que meu tio me ensina a manejar o arco e flecha, e como ser uma exímia espadachim. Sendo que também existem os “ensinamentos essenciais” como ele mesmo diz, por exemplo: nós resistentes, curativos, remédios, suprimentos, moradia improvisada, entre outros.Tudo para eu saber me comportar sobre um imprevisto ou emergência ou uma situação de sobrevivência. Tudo isso com o maior sigilo possível. Felizmente, é hoje que tio Benjamin virá me visitar! Meu tio é um homem atencioso, tranquilo, amigável e muito sábio em minha opinião. É viúvo, acho. Ninguém sabe realmente, pois tia Cecília havia sido sequestrada há muito tempo por piratas. Meu pai e meu tio foram à busca dela, porém, sem sucesso. Até então, foi considerada morta.