Schyler escrita por Gi Carlesso


Capítulo 48
Uma verdade assombrosa


Notas iniciais do capítulo

Olá, margaridas.
Eu só não fico completamente chateada, porque a minha querida Bru comentou em vários capítulos e me deixou muito feliz por pelo menos alguém ler por aqui. Bru, você sabe que eu te adoro muito né? Esse capítulo é especialmente para você (nossa querida Blair haha)!
Aliás, leiam a fic da Bru (btw, é perfeita ok?) "O garoto da última casa", porque eu recomendo milhões de vezes essa história.



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Tristan

Os últimos acontecimentos haviam sido além de cansativos e confusos – muitas notícias quase que bombásticas, as rebeldias de Schyler e muitos outros. Parecia que tudo começava a seguir um rumo apocalíptico da guerra, como se os pontos começassem a se ligar até o momento em que saberíamos quando atacar. Eu sentia uma vontade enorme de reunir as pessoas que amava e simplesmente sumir dali e nunca mais voltar, evitar aquela matança desnecessária e poder viver em paz como um anjo da guarda. Porém, sabia que jamais poderia fazer isso, afinal, eu havia concordado em ajudar Gabriel e não poderia desistir logo naquele momento.

Já Schyler, ela nunca disse para mim o porquê de ir atrás de Miguel, nem ao menos Gail quis abrir a boca, algo que me fez ficar alerta para as rebeldias repentinas dela. Schy sabia de algo e, ao contrário do que achei que faria, não queria dividir comigo ou com qualquer outro anjo da casa.

Apesar de querer perguntar a Schyler sobre isso, Blair insistiu que eu me mantivesse de boca fechada pelo menos por enquanto, para ver o que daria no final. Ao mesmo tempo que parecia preocupada, ela também agia de forma indiferente sobre o segredo, como se não desse a mínima para os planos da guerra e até mesmo os segredos que ambos sabíamos que eles guardavam.

– Você não tem nem sequer curiosidade? – murmurei enquanto a seguia pelo campo ao lado da casa.

Blair caminhava em silêncio a alguns metros a minha frente com as mãos dentro dos bolsos de sua jaqueta e com a cabeça sempre abaixada, como se tentasse se proteger do frio mesmo que estivesse usando uma toca. Apesar de não conseguir ver seu rosto, eu sabia que ela encarava o campo em volta tentando ignorar minhas perguntas irritantes.

– Ok, você não quer responder. – eu disse um pouco mais alto, achando que isso ajudaria a fazê-la prestar atenção em mim. – O que você tem, Blair?

Novamente, um silêncio absurdo se instalou entre nós, o único som que eu conseguia ouvir era o do vento agitando as folhas da árvore próxima a nós.

– Schyler não confia em mim. – disse ela finalmente. – Desde o dia que me viu pela primeira vez, ela não confia em mim.

Bom, isso tecnicamente não estava errado como eu gostaria que estivesse. Desde que Blair chegara, Schyler começara a agir de uma maneira estranha e não parecia mais confiar em qualquer um. Talvez fosse pelas coisas horríveis que ela passara nos últimos meses ou simplesmente o fato de que ela não estava acostumada com o detalhe de Blair ser um Nefilim assim como ela. Era algo novo e eu sabia muito bem disso, apesar de ignorar esse fato desde o dia em que a nova Nefilim chegara.

Blair não disse mais nada depois de sua última fala, um ato que poderia significar que ela esperava uma resposta minha. Porém, apesar de estar louco para colocar para fora as infantilidades que ambas fizeram até agora, eu não tinha uma resposta concreta para satisfazer aquela pergunta.

– Você não está me ignorando, certo, Tristan? – perguntou ela quebrando o silêncio. – Eu sei que tenho razão, está mais do que na cara que Schyler me odeia e não confia em mim.

Engoli um seco enquanto sentia meus pés parando alguns metros atrás dela. Blair pareceu perceber que eu havia parado, então se virou lentamente em minha direção exibindo um par de sobrancelhas franzidas e lábios torcidos em uma careta confusa. Ela costumava parecer tão "fofa” e gentil que aquela careta me pareceu estranha e não combinava com seu rosto.

Vendo que ela não pararia de me encarar muito cedo, dei de ombros mostrando a ela que aquela seria minha resposta.

– Ok, então você não vai dizer que concorda comigo. – ela arqueou uma sobrancelha e bufou. – Ergh, Tristan, você não é quieto desse jeito. Sei que está louco para dizer alguma coisa.

É, ela é esperta demais até.

Revirei os olhos e voltei a caminhar em sua direção, porém quando estava prestes a estar bem ao seu lado, desviei de seu corpo no meio do caminho e segui até uma árvore na parte final do campo que Schy destruíra.

A verdade é que Blair já sabia que eu falaria de qualquer forma, afinal, ela tinha o tão famoso dom da visão e provavelmente já me vira abrindo a boca e colocando para fora toda minha opinião sobre o que estava acontecendo. Mas, ao contrário do que ela pensava, eu seguraria minhas palavras o máximo para não causar nenhuma briga desnecessária, não agora que estávamos tão próximos de uma guerra mortal que poderia dar um fim ao mundo que os humanos conheciam.

Quando me aproximei da árvore, sentei-me na região de suas raízes encostando a parte de trás de minha cabeça em seu tronco. Fechei meus olhos lentamente enquanto ouvia o som dos passos de Blair se aproximando até o momento que senti o corpo dela sentando ao meu lado. Seu braço direito estava parcialmente encostado no meu e eu sentia sua respiração sem ritmo fazer seu peito subir e descer.

Ficamos em silêncio por um bom tempo até que a ouvi suspirar.

– Eu sei que você não quer falar, mas... eu já percebi isso, Tristan. Ela não confia em mim apesar de eu dar todos os motivos para ela confiar! Quero dizer, não estou enganando ninguém e estou fazendo o máximo para ajudar. Sei que não quero contar a ela quem é a pessoa que irá morrer, mas é por um bom motivo. Prefiro que ela se prepare para o que vai acontecer e enfrente o momento de um jeito... diferente. É sério, eu só quero que ela não sofra antecipadamente.

Abri meus olhos e virei-me em sua direção, encontrando um par de olhos castanhos muito próximos aos meus.

– E não quer que o futuro mude e exista a chance de outra pessoa morrer. – completei num murmúrio não ligando para o fato de que estava falando. – Eu a entendo e acho que está certa, Blair. Olha... eu sei que vai ficar irritada com isso, mas não existe mais nada que esteja escondendo? Nada mesmo?

Ela franziu o cenho.

– Como assim?

– Schyler não costuma odiar as pessoas e ela não confia por conta de tudo que passou. Mas a “birra” dela por você deve existir por um motivo. Talvez ela saiba mais do que você pensa...

– Está dizendo que estou escondendo alguma coisa e ela desconfia?

Blair não parecia estar ofendida ou coisa parecida, na verdade, ela estava nervosa ao ouvir minha pergunta. Eu via as gotículas de suor escorrendo lentamente por sua testa, provando seu nervosismo e até mesmo um certo medo, algo que só ajudou a provar minha teoria.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela se levantou rapidamente. Passava os dedos por seus cabelos de forma nervosa e apesar de estar de costas para mim, eu tinha certeza de como seu rosto estava franzido e ela tentava ao máximo não pensar em seja lá o que fosse. Andou apenas por alguns metros até parar quase no centro do campo de maneira que pude ver apenas sua silhueta pequena e trêmula.

Minha nossa, ela estava escondendo alguma coisa.

– Blair! – chamei ainda que sentado entre as raízes altas da árvore. Vendo que ela não se virava de maneira nenhuma, chamei-a novamente. – Blair!

Mas ela continuava sem se mover, apenas ficava ali sendo sacudida pela ventania que começava a se formar. Seus cabelos escuros esvoaçavam para todos os lados e eu via que suas roupas faziam o mesmo, revelando um pouco da pele de sua cintura. Eu começava a me preocupar percebendo que poderia ter falado demais e talvez, a deixado pior do que já estava.

Levantei-me rapidamente do chão e caminhei em silêncio até ela sentindo minhas asas se agitarem por dentro de mim, onde costumavam ficar escondidas. Ela não se moveu de jeito nenhum quando parecia ter percebido que eu estava logo atrás dela sentindo alguns fios de seu cabelo encostarem em meu rosto por conta da ventania. Além disso, sentia que a tremedeira dela havia passado e agora, tudo o que eu ouvia era apenas o som do vento.

– Blair... o que é? – perguntei num murmúrio. – Se tem alguma coisa a dizer, é melhor que seja para mim.

Por um mero instante, achei que ela não fosse se mover. Porém, assim que começava a desistir de arrancar dela qualquer resposta, Blair se virou lentamente até estar bem de frente a mim. Seu rosto estava sério, mas numa expressão quase que abatida.

– Tem coisas que eu não quero dizer, porque esse... dom consegue atrapalhar todos meus pensamentos e... me faz parecer louca. – ela olhava na direção de algum ponto cego atrás de mim. – Eu sei de uma coisa que pode mudar tudo, Tristan. O arcanjo Miguel sabe sobre minha visão sobre isso, por esse motivo ele me quer muito bem calada.

Franzi o cenho.

– Eu não me importo com o que Miguel vai fazer, ele não vai tocar em nem ao menos um fio do seu cabelo. – eu disse soando firme como deveria ter soado desde o início. – Blair, o que é?

Seus olhos castanhos vagaram por toda a extensão de meu rosto, seguindo pela curvatura de meus ombros e pousando ali como se ela esperasse ver outra coisa. Eu sabia que seus olhos procuravam por minhas asas e mostrando que entendera seu pedido, deixei que elas se abrissem num único movimento. Abriram duas fendas em minhas roupas num movimento que poderia libertá-las da prisão que eu mesmo criara para ambas. Senti o vento agitando as penas e toda sua extensão se abrindo e esticando até estar totalmente na direção do céu.

– Quer saber de uma coisa engraçada? – ela murmurou. Agora havia um lindo sorriso estampado em seus lábios. – Suas asas me dão um conforto muito estranho. Acho que isso deve ter alguma coisa a ver com minha família.

Assenti aproximando-me apenas mais alguns centímetros em sua direção. Num movimento lento e ritmado, forcei com que minhas asas se fechassem ao nosso redor formando uma espécie de casulo entre mim e Blair. Ali, não havia mais nem ao menos o som do vento, eu apenas o sentia do lado de fora agitando-se tentando quebrar a barreira que eu criara com as asas.

– Qual é o segredo, Blair? – perguntei ainda mais firme forçando-a para que não mudasse de assunto.

Ela soltou um longo suspiro.

– Miguel pode até ajudar na guerra como ele prometeu para Schyler e Gabriel, porém, eles não sabem do preço que isso vai causar. – disse ela séria. – Anjos, não importa o tipo, não podem ter nenhum tipo de relacionamento com humanos ou nefilins. O relacionamento aceito é apenas o de anjo da guarda e humano.

Paralisei por um longo instante. Se Miguel ajudaria, mas Schyler e Gabriel não podiam ficar juntos, isso significava que...

– Mas ele é o anjo da guarda dela. Esse foi o castigo de Deus. – sussurrei.

– Sim. – Blair mordeu os lábios. – Mas acha mesmo que Miguel liga para isso? E tem outro detalhe, Tristan. Schyler não é humana.

E foi então que a ficha caiu.

– Ele não vai ajuda-los como eles pensam. – murmurei. – Ele... vai matar Schyler.

No mesmo instante em que as palavras deixaram meus lábios, minhas asas pareceram reagir em conjunto, abrindo o casulo protetor e fazendo com que uma rajada forte de vento nos atingisse como uma bomba. Blair tropeçou e antes que pudesse cair, segurei-a pelo braço esquerdo e a puxei de encontro a mim, fazendo com que ficássemos próximos demais.

– Ele sabe. – sussurrou ela aterrorizada. – Tristan, ele sabe que contei.

De maneira protetora, passei meus braços ao redor dela tentando mostrar que nada passaria por mim e encostaria um dedo sequer nela. Eu protegeria Blair, mesmo que não a conhecesse direito, mesmo que ela fosse uma Nefilim e... mesmo que não pudesse ficar próximo dela de verdade.

Como se lesse meus pensamentos, a ventania se dissipou aos poucos até o momento em que desapareceu por completo. Todas as árvores e plantas pararam de se movimentar e um silêncio estranho e tranquilizador tomou conta de todo o campo.

Blair tinha a respiração pesada contra meu peito, provando que estava ainda tão assustada quanto antes. Suas mãos estavam agarradas aos meus braços de maneira que suas unhas começavam a me machucar, porém eu não me importava.

– Eu disse que ninguém ia machuca-la. – sussurrei em seu ouvido quase que numa brincadeira, algo que ela conseguira identificar por causa de meu meio sorriso.

– É. – sussurrou ela sorrindo da mesma forma. – A garotinha que você cuida como anjo da guarda tem muita sorte.

– Talvez sim. – por mais que eu soubesse que ela estava certa, algo em mim dizia que nos últimos meses, eu não havia sido um ótimo anjo da guarda e muito menos presente. – Ou não.

Blair examinou meu rosto por um longo tempo, tanto que parecíamos inertes ao fato de que nossa proximidade havia aumentado e agora, ambos sentíamos nossas respirações tocando as faces.

– Eu acho que sim. – disse ela sorrindo novamente. – Você é um ótimo anjo, Tristan.

Sem nem ao menos pensar no que estava prestes a fazer, quando percebi, estava com os braços ao redor dela, mãos segurando-lhe os fios de cabelo, lábios contra lábios num beijo silencioso e tranquilo. Eu não fazia a menor ideia do que estava fazendo, apenas de que tinha uma necessidade enorme de beijá-la naquele instante como se fosse minha única chance de fazer isso.

Meu movimento fora tão rápido e inesperado que, no início, Blair não se moveu. Ela provavelmente estava assustada com aquilo ou me afastaria a qualquer momento e ficaria com um ódio de mim para sempre. Porém, superando todas as minhas expectativas, ela correspondeu ao beijo aos poucos até finalmente se deixar levar para o que eu estava fazendo.

Novamente minhas asas se fecharam ao nosso redor formando um casulo apesar de não haver vento algum como esteve antes. Daquela forma, parecia mais certo, como se nenhum dos olhares curiosos pudesse ver que eu estava beijando aquela Nefilim e nem sequer ligando para qualquer comentário.

Blair tinha os dedos em meu rosto, acariciando o local como se tivesse feito aquele mesmo movimento centenas de vezes. Desceu-os na direção de meus ombros até que me enlaçou com os mesmos, um movimento parecido com o que fiz em sua cintura, puxando-a mais para mim mal me importando com qualquer outra coisa. Eu sentia a maciez de seus lábios contra os meus, suas mãos perdidas entre os cachos que se formavam em minha nuca e principalmente, os suspiros que ela soltava a medida que o beijo se intensificava.

Eu queria prender-me a aquele momento para sempre, esquecer de tudo o que enfrentávamos agora e simplesmente permanecer um nos braços do outro sem se importar com mais nada.

Agora, com Blair em meus braços, eu sabia que sempre houve um sentimento entre nós. Desde o momento em que a vi naquele bar e sua personalidade engraçada me cativou.

Eu sempre soube.

Mas sempre escondi.

– Mas e o que eu disse sobre os relacionamentos... – sussurrou ela ainda que contra meus lábios.

– Não me importo, de verdade. – respondi puxando-a para mais perto. – Posso estar agindo de forma ignorante como Gabriel, mas... estou cansado de ser feito de marionete. Ninguém vai me separar de você.

Ela pareceu ainda mais surpresa que eu com minha frase, tanto que exibiu o sorriso mais largo e alegre que já vi em toda minha vida. Por um segundo, esqueci-me de que Blair era uma Nefilim, de que em poucos dias enfrentaríamos uma terrível guerra e eu poderia perde-la e que... Miguel poderia tentar nos matar assim como a Gabriel e Schyler. Deixei tudo de lado e apenas admirei aquele sorriso mal conseguindo respirar enquanto o encarava.

Agora eu sabia exatamente como Gabriel se sentia e como a vida de anjo poderia se tornar... insignificante depois de sentir algo como aquilo. Era como receber um grande balde de água fria. Tudo que eu acreditara até agora pareceu evaporar de uma vez só, como se nunca tivesse existido antes.

Ignorando os pensamentos que surgiam em minha mente, aproximei nossos lábios novamente até que estavam colados um no outro sem qualquer sinal da hesitação que existira antes. O segundo beijo fora mais tranquilo, menos silencioso por conta de nossos risos bobos e infantis. Droga, o que estava acontecendo comigo?

Porém, assim como os risos vieram, um movimento rápido feito por ela nos separou tão rápido que mal tive tempo de raciocinar direito. Blair, usando as mãos que antes estavam pousadas em meu peito, me empurrou para longe dela antes que a mesma caísse contra o gramado do campo. Confuso, tentei entender o que estava acontecendo, mas interrompendo minhas possíveis perguntas, um grito alto escapou de seus lábios.

O grito estridente tomou conta de todo o ar ao nosso redor até que se tornou um gemido alto e Blair despencou no chão. Ainda que estivesse deitada, percebi que seus olhos estavam abertos, mas miravam para todos os lados de forma aterrorizada, como se algo a estivesse atacando.

– Blair?! – chamei mal conseguindo conter o desespero enquanto a tocava na região dos ombros empurrando-a de leve. – Blair, o que foi? Por favor, me responda.

Provavelmente como resposta, ela se sentou lentamente com ajuda de meus braços ao redor de seus ombros. Seu rosto ainda tinha a expressão assustada, porém agora se amenizara assim que me viu.

– Ch-chame Schyler e Gabriel. – mandou ela gaguejando. – Chame eles depressa. Os demônios e anjos negros... estão vindo.


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Notas finais do capítulo

E é isso ai, margaridas! Próximo capítulo irá começar a tão esperada guerra hehe
Por favor comentem, eu vou ser a pessoa mais feliz do mundo se vocês fizerem isso :) beijos x



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