Eu fiquei paralisada. Não conseguia me mover além de piscar e ouvir o que acontecia ao meu redor. Eu ouvi mesmo aquilo? Eu era algum tipo de “chave” para o futuro da humanidade? Eu? Schyler Jackson, a garota que foi completamente negada pelos pais e que foi quase estuprada num beco de New York?

Sério, qual o problema de quem escreve o futuro?

Soltei um riso estridente, sem emoção alguma e pude ver o quão confusos estavam Stencil, Gabriel, Tristan e a própria Lieene, quem pareceu não entender o motivo de minha crise de riso. Droga, quando fico extremamente nervosa acabo rindo de qualquer coisa, isso é genético, Carrie sofre do mesmo problema. Mas, eu tinha motivos grandes para ficar nervosa, afinal, estavam me avisando sem nenhuma antecedência de que eu seria uma espécie de “arma secreta” para o fim da guerra entre anjos caídos, demônios e anjos negros.

– Você não pode estar falando sério. – eu disse ainda tendo a crise de riso. Porém, minha risada se tornou algo nervoso e quase inexistente quando vi Lieene balançando a cabeça negativamente. – Espera, eu não sou nenhuma “chave” ou coisa do tipo! Posso até ser uma mestiça, mas não sei fazer nada ainda! Não tenho como ajudar a vencer a guerra da forma que vocês esperam!

Gabriel e Lieene se entreolharam de uma forma pensativa. O desespero começou a deixar meu corpo e eu finalmente conseguia pensar direito, ainda mais porque o olhar de Gabriel se dirigiu a mim e me senti melhor.

– Então, está na hora de recrutar anjos caídos. – disse Stencil quebrando o silêncio. – Não há mais como adiar o inevitável. Precisamos montar um exército.

Iríamos montar um exército de anjos caídos contra anjos negros comandados por Aliha e ainda por cima, contra demônios com sede de vingança. Bom, então tecnicamente, eu tinha o total direito de estar exausta e preocupada.

Gabriel dissera que eu precisava descansar essa noite, pois logo de manhã pegaríamos um avião para ir atrás do primeiro grupo de anjos caídos. O único problema, era que eu morria de medo de aviões e só de pensar que estaria voando em um deles de manhã, meu estômago se revirava.

– Eu sei que tem medo, mas vai conseguir. Eu vou estar lá e não deixo nada acontecer com você, Schy. – disse ele na porta de meu apartamento hesitante em entrar. – Vai ficar tudo bem.

– Com tudo o que aconteceu, acho que posso ter alguma esperança. – resmunguei.

Perguntei algumas vezes se ele não queria dormir no meu apartamento essa noite, mas Gabriel estava apreensivo com o próximo dia. De acordo com ele, os anjos caídos que encontraríamos, eram assim como Lieene e Stencil, então não acreditariam em nós dois logo de primeira. É, algo me diz que essa tarefa vai ser bem complicada.

[...]

"Ultima chamada para os passageiros do voo 1-8-0 para a China"

Encarei Gabriel com um grande ponto de interrogação na testa. China? Então quer dizer que os anjos caídos que encontraríamos estavam morando na China e fiquei sabendo cinco minutos antes de embarcar? Por que algo me diz que isso é bem a cara de Gabriel?

Ele deu de ombros antes de arrumar minha mochila em minhas costas e segurar minha mão esquerda para que fôssemos para o embarque. O avião não estava tão cheio, e isso possibilitou que eu pudesse me sentar ao lado dele e se morresse de um ataque do coração, Gabriel poderia morrer de remorso logo.

E sim, estou brincando.

A viagem de avião foi a coisa mais assustadora pela qual já passei em toda minha vida, porém, conseguimos chegar, 14 horas depois, finalmente na China. Eu estava ainda assustada, não apenas pelo avião, mas também porque embarcamos em um país completamente diferente do meu anterior.

De acordo com Gabriel, um carro estaria nos esperando bem na entrada do aeroporto graças a Tristan e seus contatos com alguns empresários em Pequim. O aeroporto internacional de Pequim era gigantesco e fez com que nós dois nos perdêssemos pelo menos duas vezes, até que finalmente encontramos a saída e encontrar um homem chinês magro e alto segurando uma placa com meu nome. Ele estava ao lado de um carro vermelho que nunca vi na vida e usava óculos escuros, escondendo facilmente seu rosto por completo. Gabriel me cutucou e eu disse que Schyler era eu, mas o homem hesitou por alguns instantes ao avistar Gabriel.

Amassou o papel com meu nome e esticou o braço esquerdo em minha direção segurando a chave do carro. Porém, ao esticar o braço, a manga de seu paletó preto subiu e avistei tatuagens negras em forma de asas e símbolos. Droga, não era humano.

– Ele já foi um anjo negro. – disse Gabriel quando entramos no carro e seguir em frente para sair do aeroporto. – Tristan o conheceu durante uma aposta. Ele perdeu e deixou os anjos negros, mas jurou servir Tristan por algum tempo.

– Aposta? – franzi o cenho. – Anjos apostam muito?

– Bom... eles sim, mas só quando um superior, como eu era, estava longe.

Gabriel seguiu com o carro por Pequim em silêncio e aproveitava as várias paradas para checar um mapa que ele pegou ainda no aeroporto. Enquanto isso, fiquei observando as pessoas nas ruas, as lojas com letreiros super coloridos e divertidos, imaginando que poderia até me acostumar a morar num lugar como aquele. Não sei bem o porquê, mas Pequim me trouxe um ar alegre, bem diferente de New York.

– E então... para onde exatamente vamos para
encontrar os anjos caídos? – perguntei quando paramos em um semáforo e ele procurava algo no mapa.

– Eu não achei que Tristan estivesse certo. – murmurou ele deixando o mapa de lado. – Tudo indica que eles estão na muralha da China.

Arqueei as sobrancelhas surpresa. Muralha da China? Certo, eu sabia que os anjos caídos estavam espalhados pelo mundo e muitos deles, espalhavam o mal por toda a terra, porém alguns continuavam sendo como Gabriel mesmo tendo sidos expulsos do céu.

Depois de muito tempo dirigindo, eu estava quase caindo no sono ouvindo uma música chinesa muito calma no rádio, até que senti a mão de Gabriel mexendo de leve em meu ombro. Ele havia estacionado o carro em um local para turistas que vieram visitar a muralha da China. Senti um arrepio ao olhar na direção das montanhas a minha frente e encontrar a famosa muralha – gigantesca, não pude nem vê-la até o final. Haviam muitas pessoas andando por sua extensão e seu local acima das montanhas deixava a paisagem lindíssima.

Arfei com aquela visão. Nunca imaginei que estaria bem ali, muito perto, mas muito longe da grande muralha da China. Gabriel segurou minha mão e me ofereceu um óculos escuros que trouxe consigo em sua mochila.

– Vamos procura-los no final da muralha. – disse ele enquanto seguíamos um grupo de turistas ingleses para a entrada da muralha. Droga, era muito alto. – Devem estar trabalhando como guias ou coisa do tipo. Eles não querem chamar atenção e muito menos serem vistos por pessoas erradas, como Aliha ou até mesmo os demônios.

– Como vamos convencê-los a lutar conosco?

– Assim como fizemos com Lieene e Stencil. Eles irão perceber o que está acontecendo quando você contar os ataques dos demônios e eu sobre a segunda guerra mundial. Mas, Schy, haja o que houver, não saia de perto de mim, não temos como saber se eles serão calmos como Lieene e Stencil.

Franzi o cenho me sentindo preocupada com isso. Eles poderiam nos atacar por proteção com medo que fôssemos como Aliha ou pior.

– E se acharem que somos parte dos anjos negros?

– Não vão. – ele suspirou apontando a escada extremamente alta a nossa frente. – Anjos negros têm marcas nos braços, coisa que nós dois não temos.
Agora vamos subir logo, temos muito o que fazer ainda até o final do dia.

Observei a longa escada a nossa frente. Se eu nem tinha certeza se conseguia subir aquelas escadas, será que eu teria chance na guerra que está próxima?