Cirrus Quell - A Origem Do Massacre escrita por Norrie


Capítulo 6
Capítulo 6 - A Human




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2 Horas.

A exatas 2 horas Cirrus está sentado naquela cadeira gélida. Impotente em poder sair. Fora despachado para o Centro de Transformação assim que chegaram a Capital. Isso é claro, depois de ter que encarar toda aquela histeria dos cidadãos daquele lugar. Um bando de papagaios coloridos em forma deformada do que um dia foram humanos, isso sim. Evitou mais do que nunca o contato com Pandom, sempre afastando-se para o lado de Merida que o espremia entre Faye, forçando-os a acenar e moldurar sorrisos confiantes nos lábios. Mas Pandom também não parecia se importar. Estava animado demais com toda aquela recepção.

Cirrus chutou a mesa que deslizou alguns centímetros para a esquerda, derrapando pelo chão metálico. Raivoso com a lembrança. Não só por causa de Pandom e toda aquela pressão que os jogos estavam fazendo em sua cabeça, mas também por causa da impaciência. Seu maldito estilista já deveria ter dado as caras a essa altura. 2 horas que fora praticamente abandonado por aqueles seres esquisitos que o emolduraram em cremes e loções. Cortes de cabelo e a barba feita. Não queria que eles tivessem deixado seu rosto liso. Gostava daquela penugem que arranhava seus dedos quando pousava a mão no queixo. Fazia ele se sentir alguém adulto e independente. Apesar de que a mesma não era nada além de um pouco de pelos que se estendiam um pouco além da parte da frente de sua orelha, indo discretamente até o queixo. Imaginou que deveria estar com cara de bebê. Argh, odiava aquele pensamento. Decidiu expulsá-lo de sua mente.

A porta se abriu com um baque surdo.

Cirrus voltou-se na direção que o homem havia entrado. Se levantou sem expressão e ficou de frente ao estilista acabado. Era um homem de idade, mas mesmo assim, completamente fora dos padrões da Capital. Ele era apenas... um homem. Cabelos grisalhos e olhos fundos e pouco expressivos. Vestia apenas uma camisa social e uma calça caqui. Definitivamente, viera de algum distrito. O 7 não é nada disputado entre os capitalescos, então deveria ter sido fácil se candidatar.

– O que foi? – O homem indagou, olhando um ponto atrás de si, perto de onde o olhar de Cirrus estava focado. Ele era tão comum. Mas tão diferente ao olhar em volta e compara-lo com o resto do pessoal que jazia aqui. Finalmente um humano de verdade.

Cirrus balbuciou.

– Oh, nada – Completou, ainda um pouco suspreso - , senhor.

– Ah, pode me chamar de Garreth – Ele fez um sinal para ambos se sentarem – E enquanto a você? Como devo lhe chamar?

– Cirrus.

– Cirrus...? – Garreth arqueou as sobrancelhas, aguardando uma continuação.

– ...Quell – Cirrus batia nervosamente o calcanhar contra o piso. O que um homem de distrito estaria fazendo doando seus serviços aos jogos? Ou melhor, no que ele estaria pensando quando fez isso?– Cirrus Quell.

– Nome bastante interessante o seu – Garreth pôs a mão no queixo, em sinal de admiração. As feições franzidas. O estilista parecia estar pensativo em algum ponto entre Cirrus e o sobrenome que o seguia. Quell. – Voluntário, hã?

– O quê? – Não tinha escutado direito, estava ocupado demais nos devaneios que deveriam serem pertencentes a Garreth. O homem repetiu. Cirrus remexeu as mãos no ar, um tanto quanto amargurado – Ah, é melhor não enfatizar essa questão tanto assim. Sou um tributo qualquer afinal de contas.

– Isso não é verdade, e você sabe disso, Quell.

Cirrus ficou estático. Garreth não tinha toda razão. Sim, era verdade que Cirrus não era um tributo qualquer. Tirara essa conclusão na noite passada, no trem. Mas mesmo assim, na mesma noite até, também concluira que não era um tributo qualquer agora. Mais alguns anos e mesmo ganhando, seria esquecido. Só um tributo qualquer, afinal de contas.

– Eu sei o que falo – Disse, ríspido – Então, pode apenas me mostrar a roupa e me levar para aquela maldita carruagem. Vamos acabar logo com isso e nós dois saímos ganhando.

Garreth estreitou os olhos. Ele sim era um verdadeiro mistério. Imaginou que ele seria muito menos intimidador até mesmo com as roupas bizarras da capital. O homem tinha mais conhecimentos do que se poderia imaginar. Levantou-se de seu assento.

– Tudo bem, venha comigo. Primeiro quero que esteja bem alimentado

E seguiu pelo corredor sem demonstrar nenhuma reação drástica em relação a dureza em que Cirrus havia o tratado. Entraram em uma saleta e foram servidos com um caldo de cordeiro. Comeram em silêncio e depois forraram o resto do estômago com um pudim cremoso. Cirrus limpou o canto da boca sujo de gordura com a língua. Garreth parecia vidrado nas feições do garoto.

– Não acho que espere muito além de uma árvore para decorar-lhe o corpo.

– Ah não, imagina – Cirrus empurrou para dentro mais uma colherada de pudim – Todo ano é assim mesmo, então não acho que faça muita diferença.

– Ótimo.

E se levantou, deixando o cômodo e o voluntário do 7 sozinho. Deu de ombros. “Sobra mais cordeiro para mim” – pensou, servindo-se de mais. A porta fora aberta novamente, um dos membros da equipe de preparação que havia lhe preparado á algumas horas o puxou delicadamente pelos braços.

– Garreth pediu que o levasse – A mulher de nariz deformado e olhos extremamente puxados, soterrados por maquiagem roxa o conduziu pelo corredor abafado até a sala onde esteve inicialmente. Garreth virou-se para ele e estendeu a roupa. Bufou.

Mais uma árvore pro estoque.

~~

Todos estavam eufóricos nas arquibancadas. O presidente estava confortavelmente sentado em sua poltrona de couro em sua varanda, enquanto os membros da equipe técnica davam os últimos ajustes no palanque em que seria feito o discurso. Uma voz máscula murmurou ao seu lado.

– Já estão todos em seus postos, senhor.

Snow assentiu. O homem recuou e deu os comandos para abrirem os portões e darem início ao desfile.

Cirrus fora empurrado para cima da carruagem a força. Estava se sentindo ridículo dentro daquela fantasia tosca. Isso sem contar com o quanto a mesma era abafada. Estava derretendo. Faye foi posicionada ao seu lado. Para uma garota de 13 anos até que ela estava um tanto quanto apresentável. Nem parecia tão ridícula assim com toda aquela maquiagem para disfarçar seu rosto corado de vergonha. E ah sim, de calor também.

Os portões se abriram demoradamente. A visão dos carreiristas do 1 deixaram todos em puro êxtase. Cirrus escutou um coro feminino gritar o nome de Arkon. Revirou os olhos. Aquele imbecil não largaria seus pensamentos nunca? O 2 entrou em cena logo depois e quando se da por vista, a sua carruagem começa a se movimentar. Garreth e a estilista de Faye gritam algo positivo. Ou então estão xingando para que eles olhem para frente e não para os pés. Tanto faz.

A luz cega-os no primeiro momento e então a euforia o engloba de imediato. Pessoas de todas as extremidades estão esgoelando-se em gritos. Cirrus não demonstra nenhuma reação a todo aquele acolhimento por todo o percurso. A sua carruagem estaciona em baixo da varada do presidente e um homem jovem abre os braços em um agradecimento a chuva de palmas que aquele idiotas arco-íris o dirige.

Ele discursa sobre a importância dos jogos e sobre a honra do sacrifício de todos os tributos. O dedo do meio de Cirrus está formigando. Será que seria morto antes de entrar na arena se o levantasse na direção de Snow? Não teve tempo de pensar direito sobre isso. O discurso tinha abado de terminar. As carruagens foram guiadas pelos cavalos até um portão que dava no centro de treinamento.

Sua última visão do mundo em que lhe pertencia foi o pôr do sol pincelar com tons róseos e alaranjados o céu que um dia, fora seu verdadeiro teto.


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