Invisível escrita por Carolina Fernandes


Capítulo 42
Momentos


Notas iniciais do capítulo

O ministério da saúde adverte, esse capítulo está gigantesco, não é de Chechuis e quase matou a autora de cansaço x.x
***
Oi :D
Cheguei com the epic finale!
O capítulo de hoje é especialmente dedicado ao Rob, a LarissaHyuuga e a Caah-Chan ♥
Obrigada pelas lindas e maravilhosas recomendações. Fiquei muitíssimo feliz com as lindas palavras *---*
O capítulo de hoje também é dedicado àqueles que enviarem suas recomendações após o término da fic. ♥
***
Gostaria de pedir para que todos que leram tentem deixar seu comentário neste capítulo, falando o que gostou, o que não gostou e qualquer coisa que quiserem dizer para esta pobre autora. Esse pequeno esforço me faria muito feliz mesmo.
Sem mais, venho lhes dizer pela última vez:
Enjoy :}



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Sempre ouvi dizer que a vida é feita de momentos, porém prefiro acreditar que a vida, na verdade, é feita de escolhas, afinal são estas que determinam os momentos a serem vividos.

Por duas semanas ele tinha pensado. Por duas semanas ele havia olhado fotos e mais fotos, assistido a vídeos e conversado com seus pais e Sasuke a respeito de qualquer curiosidade sobre o tempo que ele não presenciara. A cada momento feliz que descobria sentia-se arrasado por não tê-lo vivido. Tanta coisa marcante havia acontecido e ele não possuía a memória ou a lembrança, pois estava inconsciente em uma cama de hospital. Acordar e saber que ele houvera sido impossibilitado de estar ao lado de quem amava em momentos importantes era de apertar o coração e esse sentimento transformava-se em raiva por ninguém tê-lo esperado. Conteve a raiva e o nervosismo por saber que Hinata o substituíra. Conteve também a vontade de gritar com sua mãe, acusando-a de querer matar o próprio filho. Naruto estava ciente de que não podia deixar a raiva falar mais alto, por isso, toda vez que sentimentos explosivos começavam a fazer seu sangue ferver, ele ia ficar com a irmã, acalmando-se ao olhar para o sereno e feliz rosto infantil.

Inicialmente, ficara irritado com os familiares, pois três anos pareciam muito pouco tempo para se desistir de um paciente em coma. Ele queria ter berrado com todo o fôlego que possuía o quanto machucava saber daquilo. Estava arrasado, afinal as pessoas que deveriam amá-lo incondicionalmente haviam decidido seguir em frente. Por causa disso, dessa raiva e decepção, o Uzumaki ignorou os pais por três dias. Nada falou, comunicando-se apenas com olhares acusadores e magoados. Kushina chorara nos ombros do marido, sentindo-se culpada por quase ter forçado seu menino a deixar esse mundo. Foi após ouvir um desabafo sofrido da mãe que o loiro percebera seu egoísmo e foi levado a repensar seus sentimentos.

Ele não era o centro do universo e isso era um fato que deveria ser aceito. Sabia que possuía o direito de ficar magoado e confuso, porém notou sua falta de consciência sobre o quanto todos haviam sofrido. Não podia exigir que chorassem e lamentassem por ele durante a eternidade. Ninguém podia fazer nada a respeito de seu coma a não ser tentar continuar vivendo. Culpar seus pais por terem se esforçado ao máximo para poderem cuidar de Megumi do jeito que ela merecia era algo terrível da parte dele. Seu problema de confiar nas pessoas falara mais alto e ele se sentira traído, todavia tal coisa não fazia sentido, pois ele não havia estado presente. Havia sido o primeiro a abandonar, mesmo que sem intenção. Como poderia exigir algo que seria totalmente unilateral?

Naruto queria ser compreensivo, mas estava tendo dificuldade. Imaginar que três anos haviam passado sem que ele tivesse a chance de vivê-los deixava-o furioso. E ele somente conseguia acreditar que Shion era a causadora de toda aquela desgraça. Se não tivesse se preocupado em ser educado, muito provavelmente teria evitado o quase acidente. Mas era inútil ficar criando hipóteses, porque ninguém poderia devolver o tempo perdido, mesmo ele querendo voltar ao fatídico dia de algum modo. Aos seus olhos, nada estava igual, nem mesmo as pessoas que julgava conhecer tão bem. Pensava como é incrível a mudança. Minuto após minuto algo invisível muda e, depois de um longo período, tudo está visivelmente diferente.

Nesse ponto chegava a Hinata, pois, no momento em que a olhara, tivera a certeza que já não mais a conhecia. Seu olhar, sua postura, seus gestos... As semelhanças com a imagem dela ainda fresca na memória do Uzumaki eram muito pequenas. Ele comprovara ainda mais seu desconhecimento da atual Hyuuga ao ver os filmes que ela estreara, assim como as entrevistas dadas. Tão mais confiante, tão mais forte, tão mais segura de si. Ela, sozinha, havia se aperfeiçoado e isso era uma das primeiras coisas que chateava o loiro, porque, no final, ele não fora assim tão necessário. Muito provavelmente, a azulada conseguiria seguir vivendo sem ele, mas ele não conseguia imaginar um futuro sem ela. Era desse ponto que surgia sua irritação. Uma parte dele esperava todos os dias pelo toque da campanhia anunciando sua amada, que viera se desculpar e voltar para seus braços, contudo sua espera era sempre frustrada. Então se lembrava de Kiba, quem havia roubado sua pequena. Tinha vontade de ir atrás dele para espancá-lo e castigá-lo por tocar no que não lhe pertencia, todavia era dominado pelo fato de que Hinata não era mais sua para permiti-lo tamanha atitude.

Por mais que ficasse primeiramente puto, ao final sempre era obrigado a tentar ser compreensivo, de modo que o único sentimento que restava era a decepção. Ficava decepcionado até consigo, desejando ter feito escolhas diferentes. Não sabia como agir do momento em diante. Não sabia como continuaria sua vida. Poderia esquecer tudo e continuar do ponto de parada ou tentar recuperar o tempo perdido. Pela primeira vez, o desejo impulsivo que sempre o prevenira de se demorar em fazer escolhas não estava funcionando. Estava com dificuldades para se decidir e odiava isso. Queria saber o que fazer em ralação a amada, se deveria correr até ela e implorar por outra chance ou se deveria esquecê-la e ater-se a dolorosa verdade de que fora trocado. Suspirou cansado, finalmente admitindo a necessidade de ajuda.

Terminou de ninar Megumi e colocou-a no berço. Ela era um calmante natural, pois era impossível não ficar animado ao ouvi-la rir. O irmão mais velho provocava risadas na mais nova apenas por mostrar-lhe um sorriso e isso o fazia sentir a pessoa favorita da caçula. Era um acalento para seu coração atordoado. Cobriu a menina e saiu do quarto, indo até a sala, onde seu pai lia tranquilamente ao jornal. Sentou-se no sofá e ficou em silêncio. Minato ergueu os olhos e analisou-o, encerrando a leitura ao comprovar a vontade de conversar do filho. Naruto sorriu com a atitude do progenitor, percebendo que certas coisas de fato não mudavam.

-Já conseguiu colocar a cabeça em ordem? – o mais velho perguntou. Havia se preocupado silenciosamente com o herdeiro, pois não queria forçá-lo a nada. Podia imaginar o quanto o mais novo estava perdido, necessitando se localizar no meio de tudo. Sabia que ficar em cima dele seria pior.

-Estou longe disso ainda... Mas consegui colocar alguns sentimentos em ordem. – os olhos azuis encaravam o tapete e o Uzumaki parecia diferente. Parecia mais maduro, algo de certo modo incomum.

-Já é um bom começo.

-Talvez... - os olhos do loiro começaram a lacrimejar - Pai, porque parece que todo mundo havia desistido de mim? – a pergunta que o chefe de família tanto esperara havia sido proferida. O homem respirou fundo e se ajeitou na poltrona, olhando seriamente para o primogênito.

-Ninguém desistiu de você, filho. Na verdade, todos aqueles com uma conexão forte com você necessitaram de muita força de vontade para se colocar em pé e voltar a andar. – Naruto encarou o pai, querendo ouvir mais. – Sua mãe não saiu da cama por uma semana e eu comecei a trabalhar compulsivamente sem nem mesmo me alimentar direito... – as mãos do mais velho se uniram, mostrando a dor sendo relembrada. – Por dois meses, sua mãe e eu nem nos falamos direito, passamos a dormir em quartos separados e deixamos de parecer uma família... Kushina até pensou em abortar Megumi-chan. – os olhos do filho se arregalaram e ele tremeu diante da hipótese. Seus pais haviam ficado tão desestruturados assim? Indagou-se. Afinal, sabia que sua mãe era expressivamente contra o aborto, prova disso era sua existência.

-Por que não me falou isso antes? – Minato riu fracamente e passou a mão pelo cabelo.

-Se eu tivesse despejado algo assim em você logo de cara, como se sentiria?

-Furioso, eu acho... – murmurou, desviando o olhar.

-De certa. Sei que ficou alguns dias furioso por sua mãe querer desligar os aparelhos, se soubesse que ela quase abortou sua irmã, provavelmente gritaria com ela coisas muito injustas... – o cômodo ficou em silêncio por alguns instantes – Nós clamávamos aos céus todos os dias para que você voltasse para a gente, meu filho, mas, depois de um tempo, todo mundo tem que tentar superar, pois a vida não espera por ninguém.

-Eu sei... É só que me sinto tão para trás... Como se não tivesse nem a chance de recuperar o que perdi... – o rosto do Uzumaki se contorceu em dor e ele cerrou os punhos. – Fico me perguntando o que fiz para merecer tamanha injustiça...

-É claro que você tem como recuperar o tempo perdido, Naruto... E talvez você não tenha feito nada para merecer, mas as pessoas a sua volta precisavam te perder para se fortalecerem... – recebeu um olhar descrente do filho, o que o fez rir. – Sei que parece não ter sentido, mas se formos ver, fatalidades ocorrem muito mais com pessoas boas do que ruins. Se você ficar se preocupando com detalhes como a mudança das coisas e das pessoas ou o quanto foi injustiçado não vai conseguir se concentrar em voltar a viver. – a voz do homem era compassada e suave, cheia de paciência.

-Acho que você está certo... Só porque as pessoas seguiram com a vida não quer dizer que se esqueceram de mim... – o loiro limpou as lágrimas do rosto e começou a brincar com uma almofada. – Só que toda vez que tento pensar assim esbarro no fato da Hinata estar noiva e não consigo acreditar nisso.

-Você sabe que ela só aceitou o noivado quando sua mãe tomou a decisão, não sabe? – recebeu uma confirmação de cabeça e suspirou. – A Hinata não queria ficar sozinha. Ninguém quer ficar sozinho, meu filho. Ela achou um amigo que começou a gostar cada vez mais dela e então a pediu em namoro. Ela estava sob pressão devido ao início da carreira artística, com saudade do Sasuke-san e da Hanabi-chan e principalmente lutando para controlar a dor por não ter mais você. É o que sempre falam, para superar um amor só apaixonando-se de novo. Ela aceitou o pedido em uma tentativa desesperada de adormecer a saudade que sentia do namorado.

Mais silêncio se fez presente. Minato desejava muito que o filho conseguisse compreender os sentimentos e sofrimentos das pessoas para que pudesse seguir em frente. Ajudaria no possível, porém sabia que dependia apenas do mais novo a decisão de entender e perdoar. Naruto não queria aceitar, mas, aos poucos, as palavras do pai faziam efeito. Hinata ainda poderia amá-lo do mesmo jeito, com a mesma intensidade. Ele não poderia ter a certeza, contudo uma das funções do diálogo é esclarecer dúvidas.

-Acho que só conversando com ela para ter certeza... – comentou.

-De fato. Se for para os dois seguirem para caminhos separados, você não poderá fazer nada, mas, se ao menos esclarecer as coisas e deixar claro que está disposto a deixar tudo para trás por ela, não poderá se culpar por não tentar. – o chefe de família sorriu para o herdeiro, que correspondeu. – Sei que você ainda precisa de mais tempo para colocar sua vida e pensamentos em ordem, contudo eu realmente acho que se você conseguir ter uma conclusão em relação à Hinata-chan tudo ficará mais fácil.

-É sempre bom conversar com você, pai... Havia me esquecido disso. – Naruto deu um sorriso de canto. Estava para conhecer alguém mais sensato e controlado que seu pai. Sempre paciente e portador dos melhores conselhos. Perguntava-se se tinha alguma situação a qual ele não conseguia lidar.

-Fico feliz em te relembrar... – encarou a feição cabisbaixa do herdeiro e sentiu a necessidade de acrescentar mais algumas coisas. - Preste atenção, meu filho. Sua mãe e eu te amamos mais do que pode imaginar. Ter você em casa completou o que faltava. Nossa família está completa e estamos estupidamente felizes por isso. Sei que você tem que retomar o ritmo das coisas, mas quero que saiba: não há problema algum em ir com calma. Nós vamos te esperar, por que te amamos. Então caminhe lentamente e uma hora conseguirá ficar tão feliz quanto nós estamos.

A resposta de Naruto foi se levantar e se jogar nos braços do pai, abraçando-o como há muito tempo não fazia. Depois de crescer e tornar-se homem, havia se esquecido do quão acolhedor era o abraço de seu velho. Sempre fora Kushina a dominadora dos enlaces e apertos, mas Minato tinha um abraço especial, que oferecia um porto seguro, uma segurança. Acho que ser envolvido pelo pai é quase sempre assim. O progenitor depositou um afago nos cabelos do herdeiro, rindo da situação. Podia sentir que um pedacinho do Uzumaki havia voltado.

-Obrigado por tudo, pai. Desculpe-me por ser um filho ingrato... – o mais novo murmurou.

-Ora, deixe disso. Você já é um homem feito e nem de longe é um filho ingrato. Levanta essa cabeça e tente voltar logo a sua essência, sim? Isso já me deixará feliz.

Naruto deixou o abraço e confirmou com a cabeça. Por mais que sentimentos como a decepção, desapontamento, tristeza e raiva ainda o rondasse, sentir que o amor continuava intacto o fazia enfraquecer gradualmente. Se o amor continua forte e palpável por que motivo arruiná-lo? Essa pergunta começava a ganhar força dentro do loiro.

-Desculpe-me interromper, mas, Minato-sama... – Shizune entrou na sala com uma feição nada boa e de certa desconfiada. O patrão encarou-a com um sorriso, incentivando-a a continuar.  – Shion-san e sua mãe, Miroku-san, estão aqui...

O corpo do loiro mais novo tencionou e ele trincou os dentes. Como ela tinha coragem de aparecer na sua frente? Seu sangue borbulhou no mesmo instante. Precisou respirar fundo para conter a vontade de esganar a mulher no momento em que a visse. Por acaso ela queria destruir mais um pouco de sua felicidade? Tê-lo feito perder três anos não era o suficiente? A coragem da outra em voltar a procurá-lo não podia ser real! Qual era o problema dela? Queria vê-lo gritando e contando para todos sobre sua culpa? Ele estava disposto a apagá-la de sua vida e nunca falar nada a respeito, contudo não poderia ficar calado com ela tomando tal atitude.

Minato gritou a esposa, que apareceu na sala minutos depois. A ruiva olhou para o marido, esperando ele dizer o que queria, mas o homem não precisou responder, pois as duas visitantes entraram timidamente no cômodo. Kushina arqueou uma sobrancelha e torceu o nariz ao ver a ex nora nada querida, cruzando os braços para deixar claro que não estava feliz com a visita.

-Peço desculpas por aparecermos sem aviso prévio, mas, quando minha filha soube que o Naruto-san acordou, ela me pediu para vir falar com os senhores. – Miroku tinha uma voz gentil e era muito educada. Era muito parecida com a filha com exceção dos cabelos mais escuros.

-Claro... Sentem-se, por favor. – o chefe de família indicou o sofá e voltou a se sentar na poltrona, onde a esposa sentou no braço. Naruto resolveu ficar em pé e, após lançar um olhar furioso que fez à ex- se encolher, ele encostou-se a uma parede um pouco afastada com os braços cruzados. O pai notou a postura defensiva do filho, ficando desconfiado da situação.

-Peço que escutem todo o discurso de minha filha antes de falarem alguma coisa... Ela reuniu muita coragem para vir até aqui. – o loiro mais velho assentiu com a cabeça. Shion apertava os dedos com força e mordia o lábio inferior, encarando os joelhos apenas. Estava nervosa.

-Eu quis vir aqui me desculpar. Não vi necessidade para isso quando Naruto ainda estava em coma, mas agora acho que vocês merecem entender o que aconteceu. – a voz baixa e tremida tomou a atenção de todos os presentes. Minato olhava para jovem apreensivo, Kushina olhava-a com desprezo e Naruto olhava-a com irritação. Por sentir tantos olhares em cima de si, ela encolheu-se ainda mais. – Eu fui a responsável pelo acidente de seu filho. – a feição dos pais ficou chocada. Shion limpou uma lágrima que caiu pela sua face, queria correr ou sumir naquele momento.

 – Eu sou bipolar e tenho algumas fobias... Meu lado agressivo é muito descontrolado, por isso mesmo com tratamento, eu precisei ser internada em uma clínica de reabilitação. Quando eu tive alta, me senti tão bem que achei que não precisava mais dos remédios... Comecei a enganar minha mãe e parei o tratamento. – ela levantou os olhos e todos se surpreenderam com o arrependimento contido neles. A ruiva, quem já estava pronta para atacar com palavras, vacilou em sua vontade. – Enquanto eu estava bem com o Naruto, eu de fato consegui me controlar, mas, quando ele terminou comigo, eu comecei a perder o controle. – o choro dela aumentou e seu corpo começou a chacoalhar. Miroko envolveu a filha com um braço para ajudá-la a terminar as explicações.

 – No dia do acidente, eu tinha invadido a casa de vocês para esperar pelo Naruto... Pensei que ele voltaria para mim, mas ele estava certo do amor que sentia pela namorada. Por causa disso eu perdi a cabeça e quis ir atrás dela... – ela precisou de um tempo para conter os soluços e apertou com força a mão da mãe. – Ele tentou me segurar e eu o empurrei com muita força, fazendo com que ele tropeçasse e caísse. Desculpem-me.

Ninguém teve reação. Todos ficaram paralisados, tentando processar o que haviam ouvido. Após um tempo, Kushina fez um som irritado com a boca e saiu pisando forte, recusando-se a escutar qualquer outra coisa. Se a menina era doente o mínimo que a mãe podia ter feito era ter avisado a família do namorado. Sempre soube estar certa em não gostar da loira. No final, havia sido ela a causar os maiores problemas. Queria gritar e falar muitas ofensas para as duas visitantes, mas só iria gastar saliva, pois não recuperaria nada perdido com a atitude. Deixaria que o marido cuidasse da situação, porque se ela ficasse na sala por mais um segundo estapearia Shion.

Minato foi despertado do baque ao ver a esposa deixando o local. Iniciou um gesto para impedi-la, todavia desistiu. A mulher deveria estar furiosa, sendo mais sensato deixá-la fazer o que achasse melhor. Ele respirou fundo, ainda não acreditando no que acabara de ouvir. Olhou rapidamente para o filho, que estava calado e muito sério, perguntando-se por que ele não havia compartilhado tal informação. Decidiu pensar nessa parte depois, afinal encontrava-se em uma posição complicada. Não sabia como lidar com a revelação, pois, mesmo a jovem tendo culpa, eles não podiam crucificá-la já que ela possuía uma condição. Apesar de que ela recusar tratamento e Miroko não contar sobre o diagnóstico dava a ele todo o direito de ficar furioso. Passou a mão pelo rosto, exausto só por começar a pensar a respeito.

-Minha filha pediu para ser internada duas semanas depois do que aconteceu ao Naruto-san. Ela não me contou o porquê da decisão até alguns dias atrás. Sei que vocês têm todo o direito de culpá-la e não perdoá-la, mas gostaria que soubessem que ela se esforçou e ainda está se esforçando para melhorar. Ela se arrependeu de verdade. – Miroko ainda envolvia a filha em prantos. Olhou com intensidade para o chefe de família, como se buscasse por uma reação.

-Miroko-san, você foi errada por não avisar sobre os problemas de sua filha e ela foi errada em parar o tratamento. Fazer qualquer coisa exagerada nesse momento não vai fazer o tempo voltar, mas creio que falo por toda minha família quando digo que nunca conseguiremos perdoá-la. – o loiro mais velho disse com seriedade e postura impassível. Sem gentileza, sem simpatia, sem comoção. Querendo ou não, Shion havia sido responsável pelo sofrimento que passara, por isso era mais saudável esquecer. – Se ninguém tiver mais nada para falar, peço para que se retirem e nunca mais dirijam a palavra a nós novamente.

Naruto passou por diversos níveis sentimentais. Sua ira inicial começou a se transformar em surpresa. Nunca desconfiara da condição médica da namorada. Ao pensar nisso, sua surpresa virou culpa, pois ele notara que nunca havia verdadeiramente se importado com a jovem. Notara coisas estranhas a respeito dela, mas nunca dedicara uma parte de si para tentar entendê-la. Apenas havia ignorado as coisas complicadas, sem se dar ao trabalho de perguntar. Então se sentiu péssimo consigo por sempre ter uma tendência ao egoísmo. Deste ponto, uma conclusão atingira-o em cheio. Se tivesse se preocupado com a loira. Se tivesse escolhido intensificar o relacionamento e conhecê-la melhor e não apenas superficialmente muitas coisas poderiam ter sido diferentes. Ele poderia ter descoberto sobre a bipolaridade dela e percebido quando ela parara de tomar os remédios. Ao parar para pensar, nunca havia conversado mais que cinco minutos com Miroko. Nada disso mudava o fato dele não perdoá-la, porém extinguia o ódio que ele começara a cultivar por Shion.

-Shion... – disse quando a mulher já estava de saída, fazendo-a virar para olhá-lo. – Desculpe-me por nunca me preocupar verdadeiramente com você... Depois de pensar melhor, percebi que se minhas escolhas tivessem sido outras, muita coisa seria evitada. – ele enfiou as mãos nos bolsos. Seu pai estava surpreso com as suas palavras. – De qualquer forma, mesmo não te perdoando, saiba que não te desejo mal. Apenas faça um favor para nós dois e me esqueça.

O Uzumaki lançou um olhar intenso à ex-, quem fez um aceno com a cabeça e sorriu fracamente. Ouvir aquelas palavras do loiro tirara um peso razoável de si. Sem dizer nada, as duas mulheres deixaram a residência. Naruto suspirou pesadamente e olhou para o pai, que o encarava com um olhar curioso.

-Eu também cometi erros... – sorriu de canto e deu de ombros.

-Eu sei... Só achei muito maduro de sua parte dizer aquilo. – o mais velho respondeu, levantando-se da poltrona.

-Eu ainda não digeri tudo o que está acontecendo, mas cheguei à conclusão que não posso refazer minhas escolhas, por isso tenho que aceitar as consequências delas.

Minato sorriu e deu duas batidas cheias de orgulho no ombro do herdeiro, que parecia estar tentando retirar o melhor daquela doida experiência. Estava tranquilo, pois adquirira a certeza que o primogênito saberia prosseguir com a vida.

-Vou à casa da Hinata agora. – então, por fim, o loiro exibira seu tão caloroso e usual sorriso, mostrando que ele havia tomado uma decisão e traçado um rumo para guiá-lo no processo de restabelecimento.

-Boa sorte.

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Estava quase enlouquecendo. Mikoto a forçara a ficar apenas descansando nas últimas duas semanas. Ela não podia nem ir à cozinha para tomar um copo d’água! Não aguentava ficar parada daquele jeito, pois repouso nunca havia sido uma de suas atividades favoritas. Resolveu levantar para ir à sala, pelo menos faria um pequeno exercício nas pernas. Levantar-se com uma barriga tão pesada nunca era uma tarefa fácil e ela sempre demorava alguns minutos para conseguir se por de pé. Respirou fundo ao executar o custoso esforço, andando lentamente até o outro cômodo.

Quando estava no corredor, começou a sentir um incômodo na região pélvica e, em seguida, sentiu algo molhar a parte interna de suas pernas. Apoiou-se na parede e ficou paralisada por alguns momentos, tentando processar o que estava acontecendo. Não demorou muito para a dor de uma contração a trazer de volta para a realidade.

-Mikoto! Mikoto! – gritou a sogra, que correu até ela quase no mesmo instante.

-O que foi, querida? O que está sentindo? – perguntou preocupada, afinal Ayame segurava a barriga e se curvava como se estivesse com muita dor.

-Minha bolsa estourou. – a senhora Uchiha olhou para o chão já um pouco molhado e depois para a feição da nora antes de voltar a correr desesperadamente. Foi até o telefone fixo, pegando o aparelho sem fio, e voltou em seguida para ajudar Kurumizawa a se sentar em uma cadeira. O número de Itachi estava na discagem rápida e ele não demorou nem dois toques para atender.

-Alô?

-A bolsa da Ayame-chan estourou e ela precisa ir para o hospital! Corre aqui! – a mais velha falou de forma afobada, ficando cada vez mais ansiosa devido à respiração controlada e rápida da grávida, além dos gemidos de dor.

-Chego em cinco minutos. – a linha ficou muda.

Mikoto pegou em uma das mãos da pequena e ficou ajudando-a nas respirações. A senhora estava muito feliz, afinal não via a hora de conhecer seus lindos netinhos. Iria ser a avó mais coruja de todas. Ayame estava grata por ter a sogra junto dela naquele momento, pois odiaria tentar se acalmar sozinha. Sempre havia sido resistente para dor, mas as contrações do parto começavam a ficar cada vez mais intensas. Algumas gotas de suor começaram a se formar em sua testa e alguns fios de cabelo grudaram em seu rosto. Não demorou muito para o marido entrar esbaforido pela porta, com cara de quem havia conseguido várias multas durante a curta distância feita. Ele se aproximou da esposa e sorrindo roubou-lhe um beijo que demonstrava o tamanho de sua felicidade e empolgação. Sem se demorar, o Uchiha passou um braço em volta da cintura da mulher e ajudou-a a se apoiar nele. Após alguns minutos, todos já estavam a caminho do hospital.

-Tudo bem, querida? – Itachi olhou preocupado para a companheira pelo retrovisor. Ela tentou um sorriso, mas seu rosto acabou se contorcendo de dor.

-Estou... Aguentando... – respondeu entre fortes respirações.

-Vai dar tudo certo Ayame-chan, você vai ver! – Mikoto ainda segurava firmemente a mão suada da nora.

O carro foi estacionado de qualquer jeito em frente à porta de entrada para a emergência do hospital. Itachi saiu apressado do carro e segurou o primeiro enfermeiro que viu pelo braço, avisando-o que a bolsa de sua esposa havia estourado. Uma cadeira de rodas foi levada até Ayame, levando-a para dentro. Ela foi encaminhada para um quarto, onde diversos exames padrões foram realizados. Uma enfermeira mediu sua dilatação e avisou que ainda era necessário esperar mais um pouco. Após o término dos procedimentos, o marido finalmente parou de andar de um lado para o outro e foi ficar ao lado da esposa. Ele segurou sua mão e depositou um beijo carinhoso, não conseguindo conter o sorriso e o brilho nos olhos.

-Em algumas horas seremos pais... – ela riu junto dele e depositou uma mão em seu rosto. Ambos estavam ansiosos para conhecerem os filhos, os quais já amavam incondicionalmente.

-Seremos pais... – nenhum dos dois conseguia parar de sorrir ou lacrimejar. O momento havia sido tão aguardado e saber que em breve poderiam segurar nos braços os frutos de seu amor chegava a dar um frio na barriga de pura alegria.

A cada minuto as contrações da grávida foram ficando mais intensas e, quando ela afirmou estar sentindo uma dor absurda, a enfermeira, que retornava de tempos em tempos para ver se estava tudo bem, confirmou que a dilatação já estava ideal. Moveram Kurumizawa para a sala de parto e o marido se vestiu adequadamente para ficar ao lado da esposa no tão importante momento. Durante o trabalho, Itachi teve sua mão fortemente apertada por Ayame, deixando-a até mesmo dormente. A pequena suou muito e precisou fazer muita força para dar à luz a dois bebês, contudo tudo correu bem e o nascimento não teve nenhuma complicação.

Logo que o primeiro choro inundou o ambiente, lágrimas começaram a rolar livremente pelos rostos dos pais. Mais algum esforço depois, o segundo choro pôde ser ouvido. As duas crianças foram limpas e levadas aos braços da mãe, que chorava e não conseguia parar de sorrir. Nem em seus sonhos ousara imaginar ser amada e montar uma família tão linda. Havia sido abençoada com dois filhos maravilhosos e saudáveis e, tudo o que havia sofrido, passou a ter valido a pena. As três pessoas mais importantes de sua vida haviam entrado nela por causa das escolhas que ela fizera. A escolha de se manter forte e lutar para encontrar paz e felicidade permitiram-na chegar aos melhores momentos de sua existência. Admirou os pequenos anjos rosados, frágeis e adoráveis, e soube não haver maior satisfação além da maternidade.

O amado beijou-lhe a testa, envolvendo a família em um abraço frouxo. O Uchiha estava com o coração aquecido. Era pai de duas perfeitas pequenas criaturas. Seus dias, já felizes, tornar-se-iam esplêndidos. Nem ao pensar nos choros da madrugada conseguia reduzir o contentamento que sentia. Afagou o rosto da esposa e beijou-lhe os lábios.

-Vamos revelar os nomes? – perguntou, recebendo uma confirmação de cabeça dela. Eles haviam combinado que Itachi escolheria o nome da menina e Ayame o nome do menino, somente revelando as escolhas no dia do nascimento.

-O menino vai se chamar Hiroki... – a mãe passou a mão pela miúda cabeça do filho. Seu sorriso e olhar eram brilhantes. -Era o nome do meu pai...

-É perfeito... – o casal manteve um olhar cúmplice por alguns instantes. - Eu escolhi Sayaka para a menina... Sempre achei um nome muito bonito. – o moreno sorriu.

-É lindo, Itachi... – Kurumizawa olhou para os dois bebês aninhados em seus braços. – Hiroki-kun e Sayaka-chan, é ótimo finalmente conhecê-los... Eu os amo de mais... – mais lágrimas rolaram. A pequena podia sentir que seriam uma família calorosa e divertida. Mal podia esperar para presenciar as primeiras palavras, os primeiros passos, o primeiro dia de escola e todas as primeiras vezes tão únicas e marcantes. Era mãe e tinha como marido um homem que provara de várias formas a intensidade do amor que sentia. Depois de ter perdido tantas coisas, de ter vivido em medo, tinha conseguido encontrar seu lugar ao sol. Não estava mais sozinha e todos os futuros medos seriam banais, pois tinha o amado para apoiá-la, sempre a lembrando de que ele estava ao seu lado em qualquer situação, sem importar a dificuldade. Podia contar com o moreno para encontrar soluções, por isso tinha certeza que sua felicidade nunca seria arruinada.

O Uchiha tomou o rosto suado de sua amada nas mãos e beijou-a apaixonada e demoradamente. Cada momento ao lado dela era especial e tudo o que podia desejar era a preservação da estabilidade e intensidade do relacionamento. Sabia que teriam discussões e que complicações não poderiam ser evitadas, afinal nada é perfeito, contudo acreditava do fundo de seu coração que conseguiriam ultrapassar juntos os obstáculos colocados no caminho. Momentos tristes, de irritação ou desapontamento viriam, mas ele podia sentir que tais momentos não conseguiriam abalar o casamento, muito menos à família recém-formada. O futuro não amedrontava, pois o presente estava excelente.

-Eu te amo, Ayame... – murmurou contra o rosto da esposa, que depositou uma mão em seus cabelos.

 -Obrigada, Itachi... Obrigada por me amar, por me fazer sua esposa, por me ensinar a ser feliz... Obrigada por ter escolhido lutar por mim... Obrigada por estar ao meu lado... Eu te amo.

--------------***------------

-Por que estamos fazendo isso mesmo? – a pergunta teve que ser gritada devido ao vento forte, que chacoalhava qualquer pele flácida, e ao ruidoso barulho do avião. Sasuke nunca gostara de altura. Gostava de velocidade, mas apenas quando as rodas tinham contato com o chão. A não sei quanto metros de altura, sabendo do pulo que o aguardava, ele chegava a ficar tonto.

-Fizemos a promessa, agora temos que pagar! – Sakura gritou. O sorriso animado e excitado não abandonava seu rosto. – Prometemos que, se o Naruto acordasse, pularíamos de paraquedas!

-Na verdade você prometeu por mim! – o Uchiha olhou mais uma vez para a monstruosa queda livre e sentiu seu estômago revirar.

-Deixe de ser medroso! Promessa é dívida!

A Haruno estava mais comemorando do que pagando uma dívida. Seu melhor amigo bobo e escandaloso havia acordado, mesmo que os médicos não tivessem qualquer esperança sobre o quadro dele. Sabia que um milagre havia acontecido, por isso precisava fazer alguma coisa. Havia conversado com o loiro por vídeo conferência e notara o quanto ele estava abalado. Já queria ter ido visitá-lo, mas o namorado havia a proibido expressamente, alegando que o amigo precisava de espaço. Ela acabou concordando e decidiu pagar logo a promessa. Quem sabe mandar o vídeo do pulo para Naruto o animaria um pouco, ou, pelo menos, causaria algumas gargalhadas, afinal, se Sasuke já estava branco antes da adrenalina, ficaria hilário durante. O Uzumaki sempre havia se responsabilizado por fazê-la rir, por isso estava na hora dela retribuir. Ela deveria fazer o que pudesse para ajudar, pois o outro sempre estivera ao seu lado nas necessidades.

-Sakura, não me sinto bem... – o moreno resmungou. O instrutor se aproximou e verificou se o casal estava bem preso. Eles pulariam juntos e compartilhariam o paraquedas. A rosada riu e virou um pouco o rosto para dar um selinho no amado medroso.

-Estão prontos? – o homem gritou, recebendo um sinal de cabeça afirmativo e um negativo, este último obviamente vindo do Uchiha. Ele riu, puxando os aventureiros para bem na beirada da porta do avião. – Vai dar tudo certo, será como no treino! Eu vou pular com vocês então é só sinalizarem para mim se tiverem problemas!

-Certo! – Sakura gritou. O namorado começou a sentir dificuldades para respirar. Por que diabo estava fazendo aquilo? Indagou-se. Iria morrer, tinha certeza que iria morrer. O paraquedas podia não abrir, eles poderiam ser atropelados por um avião ou até mesmo por aves! Precisava fincar os pés na terra e nunca mais abandonar sua tão querida moto.

-É agora! Um, dois...

E Eles pularam. O vento forte e gelado faziam suas bochechas tremerem, assim como toda a roupa que vestiam. A rosada gritava animada, aproveitado absurdamente o momento, já o companheiro tinha os olhos bem fechados por baixo dos óculos protetores e rezava todas as orações que sabia. A queda livre era rápida e eletrizante. Para a jovem, o sentimento do ar como um colchão por baixo do corpo era libertador. Estava caindo. Estava voando. Era a melhor sensação que já experimentara.

Os corações estavam acelerados e os cabelos sendo jogados e embaraçados. As bocas secaram rapidamente e o estômago parecia estar sendo comprimido. Sasuke deu graças quando o paraquedas foi finalmente aberto pela namorada. Ao reduzir de velocidade, ele conseguiu abrir os olhos, surpreendendo-se com a beleza da paisagem. Era possível ver todo o grande campo verde, as plantações de arroz mais para frente e as inúmeras montanhas bem ao fundo. Nesse instante ele se esqueceu de que ainda estava caindo de uma altura absurda, ficando a admirar a privilegiada visão dos pássaros. Encarou a amada, quem tinha um sorriso gigantesco nos lábios e os olhos verdes brilhantes. Ela estava feliz e ele ficava feliz por participar da felicidade dela.

-É lindo, não é mesmo? – disse, sentindo uma gotícula de água subir até sua bochecha. Sakura chorava de emoção e alegria por poder viver aquela maravilhosa experiência.

-É! Todas as coisas que vistas lá de baixo parecem tão insignificantes, vistas aqui de cima formam as mais belas visões... Acho que tudo neste mundo importa. – ela respondeu e apertou uma das mãos do amado, grata por poder compartilhar tudo com uma pessoa extremamente importante. Ele sorriu, podia ter ficado a beira de um ataque cardíaco, mas tinha valido a pena, porque qualquer coisa feita ao lado da rosada valia a pena.

O sol da tarde já ameaçava se por e estava em um tom alaranjado belíssimo, tingindo o céu antes azul de amarelo e vermelho. Um gavião se exibiu em um voo alto e majestoso. E o cheiro de terra molhada ficou mais intenso conforme eles se aproximavam do chão. As pessoas deixaram de parecerem pontos minúsculos e pouco a pouco adquiriram seu tamanho normal. Os pés do casal finalmente tocaram o chão e eles cambalearam, caindo sobre a grama macia. A Haruno gargalhava enquanto se soltava do namorado. Queria se jogar de novo e então mais uma vez. Na verdade queria poder morar bem alto nas nuvens, para acordar todos os dias com a visão do mundo.

-Está vivo? – perguntou ao moreno, que sorriu de canto e, rapidamente, imobilizou-a na relva.

-Eu nunca mais faço algo assim, mas ainda bem que fiz algo assim com você. – ele então tomou os lábios da amada em um beijo cálido. Preferia não pensar quais seriam as próximas loucuras da lista, porque se pensasse muito desistiria de fazer as memórias mais incríveis quando a hora de vivê-las chegasse.

-É melhor não falar nunca, meu amor, afinal você é o meu namorado. – Sakura mostrou um sorriso travesso e começou a organizar o cabelo embrenhado do Uchiha com os dedos. Ele olhou-a desconfiado.

-Se você falar asa-delta te faço sofrer. – ela soltou uma gargalhada e o abraçou com força. O companheiro revirou os olhos e iniciou um ataque de cócegas nela, que a fez se contorcer e rir ainda mais, chegando a lacrimejar. – Nada de asa-delta, bungee jump ou qualquer coisa em o corpo fique rodeado apenas pelo ar! – ele aumentou o ritmo das cócegas, fazendo a rosada bater as pernas com força no chão, impedida de fugir pelo peso em cima dela.

-Tudo bem! – gritou entre risadas e respirações descompassadas – Eu prometo! Eu prometo! – Sasuke arqueou uma sobrancelha e sorriu de canto, saindo de cima de seu corpo. Ela conteve o sorriso tratante, pensando em como convenceria o namorado de qualquer jeito quando o momento chegasse, afinal poderia enrola-lo até o segundo propício para atacar. O moreno imaginava as tramoias da companheira, todavia estava decidido a ser mais experto, pois não queria ter um ataque e morrer antes da hora.

-Gostariam de ver o vídeo? – o instrutor se aproximou dos dois, entregando a câmera para então recolher o paraquedas.

A Haruno deu play e adiantou para a parte do pulo, explodindo em gargalhadas. Ela segurou a barriga e se ajoelhou por não aguentar a dor causada pelo longo período rindo sem cessar. O moreno pegou a câmera para averiguar o motivo da graça e corou assim que viu a imagem pausada. Sua feição estava ridiculamente hilária, digna de causar vergonha própria. Os olhos esbugalhados, as narinas expandidas e o sorriso quadrado mostrando os dentes pressionados um contra o outro montavam a expressão do pavor.

-Para de rir, ser irritante! Você é a culpada disso! – berrou, embicando os lábios e cruzando os braços. A outra ainda rolava na grama, tentando conter as gargalhadas. Ela levantou cambaleante e envolveu seu pescoço, dando um beijo estalado em sua bochecha.

-Isso vai para o facebook, nem adianta chorar. – ele a encarou pelo canto do olho de forma mortal, mas ela estava se divertindo de mais para ter medo das consequências. – Acho que até vou imprimir em tamanho real e emoldurar para sempre me lembrar de que até mesmo o senhor inabalável consegue se abalar...

-Corre.

Foi tudo o que o Uchiha disse antes que um pega-pega, com direito a gritos e trocas de ameaças, se iniciasse. Sakura, quem estava com as pernas fracas de tanto rir, não demorou muito para ser pega pela cintura e voltar a rolar pela relva. A irritação do moreno passou no momento em que ele encarou os intensos olhos verdes cheios de animação e, em vez de descer a ira do Senhor na rosada, concentrou-se em beijá-la enquanto a noite caía lentamente. Para ambos, não havia nada melhor que aproveitar o presente.

-----------***-----------

Estava no apartamento do namorado, olhando-o cozinhar. O cheiro agradável já começava a inundar o ambiente e aumentar a fome. Depois de Hinata ter ficado abalada com o despertar de Naruto, Hanabi só esperara Shino terminar o trabalho no desfile, para voltar junto dele para Paris. Dera algum apoio à irmã, mas a azulada obviamente precisava de um tempo sozinha e a mais nova não queria ter que ficar olhando para a cara do genro de forma entediada todos os dias, por isso foi embora. Só que, na verdade, o motivo para ela querer ir embora mais rapidamente havia sido um encontro acidental com Neji.

Estava dando uma volta na cidade um dia e resolveu entrar em um restaurante para comer alguma coisa, pois a irmã avisara que teria uma reunião com Kurenai e almoçaria fora por causa disso. Ao entrar no estabelecimento, a primeira coisa que seus olhos viram foi a cabeleira castanha do primo, quem estava sentando em uma mesa afastada da porta. Ela ia fugir, mas mal deu um passo de meia volta e um garçom a reconheceu.

-Ai meu Deus, Hanabi-sama! Que honra tê-la aqui! Eu sou muito seu fã! – ele disse em uma voz alta o suficiente para que todos os presentes a olhassem, inclusive aquele para quem ela desejava passar despercebida. Seus olhares se conectaram por míseros segundos, forçando-a a fazer uso de sua simpatia e glamour.

-Ah, que maravilha! É sempre bom conhecer um fã bonito! Que tal me servir? – comentou rindo e jogando um charme, que fez o rapaz derreter. Amaldiçoou o jovem mentalmente quando ele a guiou para uma mesa que a obrigou a passar ao lado da do familiar. Foi obrigada a parar pra cumprimentar, mesmo sem querer nem um pouco executar tal gentileza. O cabeludo almoçava com Tenten, que tinha um belo anel de diamante no dedo anelar.

-Neji, quanto tempo. – o homem encarava-a meio perdido. Ficara bestificado, pois não esperava rever a Hyuuga nem em mil anos.

-É... Quanto tempo. Parabéns pela carreira de sucesso. - ele disse um pouco desconfortável, tossindo e se remexendo na cadeira em seguida. A jovem deu um sorriso orgulhoso.

-Obrigada. Vejo que pediu Tenten em casamento. Fico feliz por vocês dois... – A morena olhou para a personal trainer com um pouco de deboche. Então deu de ombros e jogou o cabelo, decidida a encerrar tamanha cena constrangedora. - Bem, já vou indo. Até qualquer dia desses.  – e, após lançar um rápido olhar de desprezo ao primo, seguiu para sua mesa para almoçar muito desconfortavelmente.

Não tinha se permitido parar e pensar no encontro até o presente momento, em que observava os movimentos hábeis e precisos do namorado para cozinhar. Sempre pensou que, quando encontrasse Neji, todos os sentimentos do passado a inundariam de imediato. Imaginou que sentiria o coração acelerar ao olhá-lo nos olhos mais uma vez. Tinha certeza que uma vontade inexplicável de se jogar nos braços do moreno a fraquejaria. Mas ela não sentira nada, apenas o desconforto de encontrar uma pessoa de quem não havia se despedido nos melhores termos. Era estranho, pois aquele que considerava o amor de sua vida parecia um conhecido sem qualquer influência sobre ela.

Olhou Shino secar o suor da testa e sorriu. Demorara tanto para perceber que era o namorado quem passara a mexer com ela. Hanabi ficava feliz feito uma adolescente sempre que conseguia tirar um sorriso do companheiro com suas piadas ou comentários. Seu coração acelerava durante todos os beijos de despedida acompanhados da frase “Te amo, Hana. Tenha bons sonhos”. As mãos ficavam suadas antes de uma conversa séria e ela sempre possuía dificuldade para encontrar o que vestir para uma ocasião importante ao lado dele. Estava apaixonada e nem havia notado. O namorado havia apagado quaisquer resquícios do Hyuuga de seu coração de forma lenta e indolor.

Voltou a sorrir, sentindo-se estúpida. Tinha escolhido certo sem nem perceber. Nunca precisara do primo para ser feliz de verdade, mas sentia-se triste e ansiosa todas as vezes que ficava longe do atual companheiro. Se parasse para pensar, ele a dominara logo nas primeiras palavras trocadas. O interesse sentido há três anos havia sido muito mais que apenas interesse, contudo fora mascarado pelos seus sentimentos ainda pulsantes por Neji.

-Ei, Shino... – o homem parou de cozinhar no mesmo instante e a encarou com a sobrancelha arqueada. Como assim ela havia o chamado pelo nome certo? O que estava acontecendo? Ela iria terminar a relação? Muitas perguntas passaram rapidamente pela mente do maquiador. A modelo sorriu, olhando-o de forma apaixonada, algo pouco comum da parte dela. – Eu te amo.

Ela pronunciou as palavras pela primeira vez em tanto tempo de namoro. Somente naquele instante percebera que de fato amava o namorado e que as chances dele ser o amor de sua vida eram muito maiores que as chances de seu primo um dia ter sido. Ele ficou sem reação por alguns instantes, tentando descobrir de qual lugar aquilo viera, porém, após alguns minutos, sorriu de canto e voltou a cozinhar.

-Achei que nunca admitiria. – disse. Hanabi se levantou e caminhou até o amado, abraçando-o pelas costas.

-Desculpe por demorar tanto. – murmurou. Era ótima a sensação de conclusão, pois não deixava espaço para arrependimentos e permitia a certeza de que o caminho tomado havia sito o certo.

-Você vale a espera.

-------------***------------

As duas semanas que passaram haviam sido difíceis. Hinata fora bombardeada com diversos sentimentos, preocupações e hipóteses. De início sentiu-se a pior de todas as pessoas por ter desapontado Naruto, por ter quebrado a promessa, por ter seguido em frente com sua vida sem ele. Foi abatida pela sensação de que havia sido apressada, seguido por caminhos errados, sem deixar uma oportunidade para que o loiro pudesse voltar para seu lado a qualquer momento. Queria correr atrás do amado e pedir-lhe perdão de joelhos, como se tivesse cometido um erro imperdoável, mas então ela percebeu a realidade de estar se culpando sem motivos. Estava se martirizando por algo que era compreensível, afinal não era assim mais tão jovem para ficar desperdiçando anos em uma espera que, de acordo com todos os médicos, era inútil.

Seus sentimentos pelo primeiro namorado não haviam mudado em nada, todavia ela estava diferente. As coisas estavam diferentes e ele teria que entender sua situação. Além disso, percebeu que não poderia sair correndo e desistir de Kiba, pois nem mesmo sabia se teria uma segunda chance com o Uzumaki. O noivo era maravilhoso para ela, ele a amava e a havia apoiado em momentos muito difíceis, por isso seria injusto e cruel dispensá-lo como se houvesse sido um substituto temporário. Ela já havia se comprometido com o casamento e não tinha certeza se seu relacionamento com Naruto deveria acontecer. Como poderia sacrificar tudo sem nem imaginar qual era o estado mental do loiro? Ele deveria estar confuso, magoado e irritado, podendo muito bem estar colocando toda culpa para cima dela.

O veterinário estava sendo compreensivo e paciente, evitando fazer perguntas sobre o assunto, obviamente oferecendo-a tempo para se preparar para as explicações. O homem sempre fora assim, respeitoso e carinhoso, sempre a permitindo manter um espaço pessoal. Se fosse puramente sincera, era obrigada a admitir que não o amava, porém nutria um sentimento de carinho muito forte. Aceitara o pedido de casamento, porque muitas pessoas casam por menos e constroem o amor ao longo dos anos. Não custava tentar. Contudo, ao ser pega de surpresa pelo despertar do amor de sua vida, não sabia dizer se essa tentativa era a que valia a pena.

O noivo sentou-se ao seu lado no sofá e respirou profundamente. Então pegou em uma de suas mãos e a olhou com intensidade.

-Hina, se você quer terminar tudo comigo, por favor, faça isso logo. Eu não irei aguentar essa espera por muito tempo. – o moreno foi direto ao ponto, fazendo a azulada paralisar e olhá-lo espantada. A feição dele era triste e um pouco sofrida, como se já esperasse o pior.

-Eu não vou terminar tudo, porque pensou tal coisa? – indagou, tentando sorrir e quebrar o clima pesado instalado.

-Hanabi me contou quem foi o Naruto para você... Se ainda o ama, Hinata, eu só te peço que seja direta e não me iluda... – os olhos dele estavam cheio de intensidade. A Hyuuga ficou tensa e se sentiu péssima por não ter percebido a aflição do noivo. Por um segundo quis matar a irmã por ter dado com língua nos dentes. Suspirou e passou a mão pelos cabelos, desviando o olhar.

-Você quer a verdade? – perguntou.

-Quero. – a resposta veio firme e sem dúvidas. Ela soltou outro suspiro. Nunca imaginaria que seus meses de descanso começariam tão exaustivos.

-Meu relacionamento com o Naruto foi muito intenso... – tentou começar, mas faltou coragem para continuar. Mordeu o lábio inferior e se remexeu em seu assento. – Eu não me separei dele porque quis, então, obviamente ainda o amo, mas também tenho sentimentos fortes em relação a você...

-Que não chegam a ser amor... – ele completou de forma desapontada, apertando os joelhos nas mãos.

-Não... Eles chegam a ser amor, mas não é igual... – ela virou-se de frente para ele, pegando em seu braço. – Não há motivo para se preocupar com isso, o que eu tive com Naruto foi há três anos e eu nem mesmo sei se existe outra chance para nós... Eu estava certa de minha decisão quando aceitei seu pedido, Kiba... Por favor, vamos dar tempo ao tempo.

Ela queria encerrar aquele assunto, afinal não sabia se o deixaria ou não. O melhor que podia fazer era tranquiliza-lo, deixando implícito que caso o momento chegasse ele nada poderia fazer, pois não tinha culpa alguma pelo talvez fim do noivado e relacionamento. O Inuzuka sorriu de canto e acariciou o rosto da noiva, entendendo cada entrelinha de seu discurso. Ele esperaria e ficaria na torcida de ser o escolhido, apesar de que no fundo não possuía confiança.

-Hina, eu sei que essa foi sua maneira gentil de dizer que caso uma chance apareça eu serei trocado sem dúvida alguma... - a azulada abriu a boca para argumentar, mas ele a silenciou com o indicador. – Então obrigado por se preocupar com os meus sentimentos... – ele suspirou e piscou algumas vezes para evitar o choro travando sua garganta.

-Desculpe-me, Kiba... Você não merecia ser arrastado para o meio desta bagunça... – a atriz murmurou, olhando-o ternamente em seguida. Ela se levantou, repousou uma mão em seu rosto e depositou um selo singelo em seus lábios, deixando o cômodo.

O homem ficou sentado na mesma posição por longos minutos, enquanto a noiva fora chorar sozinha, longe de olhares e julgamentos. Ela queria uma luz, algo indicando o que fazer e que escolha tomar. Sabia que estava em um ponto crítico de sua vida e que sua decisão definiria o tamanho de sua felicidade no futuro. Pela primeira vez naqueles anos voltara a se sentir perdida e sem rumo.

--------------***--------------

Havia caminhado, mesmo que a distância entre sua casa e a de Hinata fosse grande. Durante o percurso muitas coisas passaram por sua mente, entre elas abundantes memórias do passado. Em poucos meses de relacionamento, superara ao lado da pequena uma perda de memória, uma namorada e um psicopata. Isso sem contar os desentendimentos, os problemas com ciúmes, as inseguranças e os medos. Tantas coisas os dois haviam conseguido superar somente por se amarem. Se tal fato provava algo era que eles mereciam outra tentativa. Tinha certeza de que algo tão intenso e forte só aparecia uma vez na vida, de modo que desperdiçar tamanho amor é burrice.

Queria ter de volta os momentos de ócio ao lado da Hyuuga, queria poder vê-la corar com suas palavras, queria dar risadas devido a brincadeiras infantis, queria sentir seu corpo e amá-la perdidamente. Podia estar perdido, confuso, sem noção do tempo e das mudanças, contudo tinha a certeza de que nunca conseguiria voltar a ser como era e continuar seu caminho se não possuísse o amor da atriz. Ele sabia que houvera sido o relacionamento o responsável por seu amadurecimento e por suas tão esperadas decisões importantes. A azulada o deixara mais forte, mais corajoso, mais focado. Com ela a seu lado, conseguiria superar os três anos de três segundos.

Não conhecia a concorrência e muito menos imaginava o tamanho do sentimento que a antiga namorada nutria pelo atual noivo, todavia estava decidido a não desistir. Se precisasse reconquistá-la mais uma vez era o que faria. Se precisasse melhorar e mudar esforçar-se-ia em dobro pra ela ser sua mais uma vez. A aliança ainda envolvia seu dedo e havia envolvido durante todo o tempo que passara. Ele ainda continuava sendo pura e inteiramente dela.

A porta branca pareceu amedrontadora, porém ele respirou fundo e reuniu toda a coragem de seu ser. O som da campanhia pôde ser ouvido e, após alguns instantes, sua amada abrira o pedaço de madeira, surpreendendo-se com sua presença.

Ambos os corações aceleraram e ambas as respirações se descompassaram. O contato visual inquebrável compartilhava saudade, amor e nostalgia. Os dois sentiam-se tentados a se esquecerem de tudo e se entregarem a paixão, como se um ímã poderoso os atraíssem. O silêncio reinou por longos minutos, sem que alguém tentasse quebrá-lo.  O rosto da Hyuuga estava ao alcance dos dedos do Uzumaki, mas, ao mesmo tempo, tão distante. Ela por fim desviou o olhar.

-Naruto, o que faz aqui? – perguntou. O loiro sorriu, até mesmo o modo de ela chamá-lo mudara. O sufixo –kun não parecia ser mais necessário. Ele coçou a nuca e exalou o ar que prendera ao ver novamente a face de Hinata.

-Preciso falar com você... Hinata, eu quero você de volta na minha vida.

A azulada sentiu os joelhos fraquejarem. Então seu amado queria tentar mais uma vez? Não entendia. Ele não estava irritado ou magoado? Olhou-o com confusão. Precisava de mais do que só tais palavras. Necessitava de explicações, mesmo que soubesse que existem coisas que não podem ser esclarecidas baseadas em fatos e evidências.  Ela queria aceitá-lo de volta, mas estava dividida.

-Eu sei que você está noiva e que muitas coisas mudaram, mas o tempo não passou para mim... Eu ainda me sinto no dever de me desculpar por não ter te levado ao cinema e ter te deixado esperando por mim... – ele sorriu fracamente e deu um passo para frente, diminuindo a distância entre os dois. – Eu estou confuso e magoado, mas estou disposto a esquecer e perdoar se puder te ter novamente... – seu pedido mais parecia um apelo e seus olhos azuis brilhavam clamando por uma chance. Era possível sentir a esperança e o desespero neles.

-Naruto, eu... As coisas não são mais as mesmas... – o rosto da atriz se contorceu e seus orbes se encheram de lágrimas, as quais ela não permitiu caírem. Naruto pegou em suas mãos, aproximando-se mais um pouco. O cheiro dele e a proximidade de seu corpo começaram a tirar sua sanidade pouco a pouco.

-Eu preciso de você, Hina... Meu coração ainda é seu. A aliança em meu dedo continua no mesmo lugar desde aquele dia! – ele franziu o cenho para compor sua feição de súplica – Por favor... Eu sei que não deveria te pedir para abandonar o homem com quem está agora, mas não consigo imaginar nem mesmo o próximo segundo sabendo que te perdi para sempre! – a voz saía carregada. Só queria ouvir uma afirmação, qualquer que fosse, para tomar para si os lábios rosados e tentadores. Só precisava de uma palavra da pequana para compensar o tempo perdido. – Minha vida virou uma bagunça que ainda não consigo entender por completo, mas eu sei que se você estiver comigo... Se eu tiver seu amor, Hinata, vou conseguir vencer qualquer obstáculo.

Uma lágrima rolou pela bochecha da Hyuuga e ela se desvencilhou das mãos do amado. Repousou uma mão na boca, querendo encontrar uma resposta reluzindo em alguma das paredes de sua casa. Ao ouvir palavras tão intensas e sinceras do Uzumaki, o amor em seu peito começava a pulsar com mais intensidade, tentando forçá-la a aceitar o pedido sem se preocupar com ninguém, contudo já havia sido egoísta de mais em sua vida e não poderia ser mais uma vez, ainda mais com Kiba, que sempre fora compreensivo e de bom caráter.

-Naruto... Eu vou me casar. Eu não posso simplesmente voltar atrás com o que me comprometi... Desculpe-me. – ela encarou os olhos azuis desapontados e sentiu sua garganta fechar. – Eu ainda te amo... Do mesmo jeito que amei há três anos.

-Hinata... Nós temos outra chance para sermos felizes. – ele tentou mais uma vez. Havia se preparado apenas para uma resposta positiva. Estava tão confiante, tão certo de que a única constante em sua vida era o amor compartilhado com Hinata. Era uma facada em seu peito saber que o sentimento talvez houvesse sido efêmero. Substituível. – Por favor, volte para mim.

-Eu não posso... Às vezes, não era para ter sido, Naruto... Quando estávamos juntos tantas coisas tentaram nos separar... – ela queria sair correndo. O momento a estava matando. Não poderia mais aguentar a dor dentro de si por escolher um caminho que parecia cada vez mais ser o errado.

-Nós superamos todas essas coisas! Hinata, não me rejeite... Você sabe que seremos muio felizes juntos...

-Desculpe-me... – A Hyuuga fungou e limpou as lágrimas, ajeitando sua postura. Conteve toda a dor em seu ser para terminar a conversa. – Siga com sua vida, Naruto. Será melhor assim...

Viu os braços do Uzumaki caírem e ele a olhar despedaçado. Quis retirar tudo o que dissera e mudar de decisão, mas já havia tomado um rumo em sua vida. Seu amado havia acordado tarde demais. Ela fechou a porta lentamente, passando a mão pelos cabelos. Não tinha mais volta.

Naruto ficou parado em frente à porta branca por vários minutos, paralisado e sem reação. Quando finalmente voltou a si, respirou irritadiço e cerrou os punhos com força. Chacoalhou a cabeça e pensou em gritar e fazer um escândalo, mas a vontade passou tão rápida quanto chegou. Não seria o idiota a implorar de joelhos. Se ela havia feito uma decisão, ele respeitaria. Que os dois seguissem por caminhos diferentes. Tal conclusão parecia inevitável.

-------------***------------

Hinata entrou na cozinha apressadamente, pois necessitava tomar um copo d’água para se acalmar. Seu corpo inteiro tremia. Algo gritava dizendo que sua escolha havia sido estúpida, mas a decisão mais certa e sensata parecia ser a que tomara. Seu coração gritava uma coisa enquanto seu cérebro sussurrava outra. Por que estava ouvindo o sussurro? Indagou-se. Descabelou-se um pouco, próxima do ponto de explodir em lágrimas. Havia ficado tanto tempo sem chorar e todas suas lágrimas acumuladas pareciam querer subjulgá-la.

-Hinata... – a voz do noivo a fez dar um pulo. Estava em tamanho conflito interno que nem ouvira a chegada do homem.

-Ah, Kiba, desculpe-me... A gente ia sair, não é? Já vou me trocar... – ela sorriu para disfarçar seu estado, tentando deixar o cômodo o mais rápido possível, contudo foi impedida pela mão do veterinário segurando-a pelo cotovelo.

-Hinata, eu ouvi tudo... – ela congelou e engoliu em seco. Tinha que se explicar, dizer que havia escolhido... Por que não conseguia verbalizar as palavras que queria? Perguntou-se. – Sabe... No instante em que eu te vi, eu me apaixonei. Você era deslumbrante e parecia nem se dar conta do fato... Tão simples e delicada... – ele comentou, soltando-a e escorando-se na pia para ficar de frente para ela. – Eu te amo, Hinata. Eu te amo muito, mas não quero que a felicidade seja unilateral. Eu não quero que viva ao meu lado se perguntando como seria estar ao dele...

-Kiba... – sua voz saiu em uma altura mínima e ela cobriu os rostos com as mãos. O Inuzuka retirou suas mãos da posição e apertou seus dedos com força.

-Eu sei que você pode sentir que deve correr atrás do seu amor... Por isso, por te amar intensamente, que eu termino agora esse noivado e esse relacionamento. – a atriz arregalou os olhos e parou de respirar. – Quem ama de verdade, sabe entender a hora de deixar a pessoa amada ir... Eu só quero que seja feliz, Hinata, e nós dois sabemos que você não será completamente feliz comigo... – os olhos castanhos cheios de lágrimas passaram a encarar outro ponto e Kiba depositou um beijo cheio de tristeza e dor na testa da Hyuuga. Então sorriu fracamente para ela, retirando o anel de seu dedo anelar. – Vai atrás dele... Eu vou ficar bem. Corra atrás da sua felicidade.

A azulada parou de conter o choro e envolveu o pescoço do homem, abraçando-o com força.

-Obrigada por tudo que fez por mim, Kiba... Eu nunca vou me esquecer. Obrigada!

E desfazendo o abraço, ela correu o mais rápido que podia, atravessando a porta da frente com necessidade e pressa. Kiba a havia libertado de sua decisão, por isso ela podia parar de ouvir os sussurros. Seguiria os gritos de seu coração, afinal não tinha nada a perder. Estaria cometendo a verdadeira injustiça se continuasse noiva sem poder dedicar todo seu amor e pensamentos ao seu noivo. Correu por duas quadras até conseguir ver Naruto andando irritado e com as mãos nos bolsos. Sorriu largamente e recolheu todo o fôlego possível.

-Neko-chan! – berrou a todo pulmões e, felizmente, o amado a ouviu, virando o rosto surpreso para trás. Ela continuou correndo até ele, jogando-se contra o corpo ainda fraco do loiro. O abraço foi longo e cheio de saudade. Saudade do calor, do cheiro, dos sentimentos que o toque proporcionava. Quando a azulada conseguiu recuperar o fôlego, desenterrou o rosto do pescoço do Uzumaki, passando a olhá-lo com intensidade.

Ambos riram feito crianças e por fim colaram os lábios. O beijo foi urgente e intenso. Todas as emoções sendo silenciadas, assim como os pensamentos. A falta que um fazia ao outro sendo eliminada de forma absoluta. Beijaram-se até não restar alguma molécula de oxigênio em seus pulmões.

-Desculpa! Eu te amo, Neko-chan! Não quero ficar longe de você por mais nenhum segundo! Eu também preciso de você! Meu coração ainda é seu! – risadas e lágrimas de alegria foram cormpartilhadas e eles voltaram a se beijar, até que Hinata interrompeu e se afastou do loiro para se ajoelhar. – Naruto Uzumaki, você gostaria de se casar comigo?

A vontade de fazer o pedido e a atitude havia tomado conta da Hyuuga repentinamente. O homem riu da cena assim como ela e balançou a cabeça em afimação. Era tudo o que ele mais queria.

-Sim, Hinata Hyuuga, a mais bela e talentosa de todas as atrizes, será uma honra poder finalmente me casar com você! – ele gritou a frase para quem quisesse ouvir, abraçando a mulher de sua vida com força. Ele a girou e beijou inúmeras vezes, sem saber conter a felicidade que havia aquecido seu coração.

Hinata estava em paz consigo e suas escolhas pela primeira vez. As dúvidas haviam evaporado no momento em que ela propusera. Não seria um “felizes para sempre”, obviamente, mas sabia que a parte feliz de sua vida seria a predominante. Encarou os lindos olhos azuis e depositou uma carícia no rosto do seu amor.

-Viu, Neko-chan... Nunca acontece como planejamos.

Todo mundo tem uma parte de si que é invisível e, por vezes, não conseguimos vencê-la sozinhos. Duas pessoas podem acabar curando uma a outra de sua invisibilidade.


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Notas finais do capítulo

Espero do fundo do meu coração que tenham gostado. Meu relato terminou aqui, mas só a morte traz um final definitivo, por isso sintam-se a vontade para imaginar o que quiserem daqui para frente. :}
Por favor, leiam minhas palavras finais e não se esqueçam de deixar um comentário.
***
Minha nova fic Menina Dos Meus Olhos
[http://fanfiction.com.br/historia/365485/Menina_Dos_Meus_Olhos]
Espero ter o prazer de revê-los *-*