Rainha Do Egito escrita por MayLiam


Capítulo 4
Meu dever


Notas iniciais do capítulo

Quase não precisei de tradutor neste cap. ^^ Boa leitura!
p.s.: aos que leem ELE de hoje pra amanhã...



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Segui o príncipe por longos quatro dias Nilo abaixo, meu cavalo quase sem forças. Eles paravam, eu parava, por todo caminho eu tentava deixar pistas para o meu general. Tínhamos um código, ninguém era deixado para trás, vivo ou morto. Eu não poderia fazer nada além de os observar. Eu procurava por ela dentre eles no acampamento, mas nunca a via. As defesas hicsas continuavam sendo fracas. Arrogantes de uma figa, os segui por dias e nem me notaram.

Na quarta noite, na cidade sede da Beni Hassan, foi a primeira vez que a vi. Uma terça, ao final da ceia deles. Perambular pela cidade era mais fácil.  Eu estava dentre muitos a volta de um pátio enorme, onde eles se esbaldavam em um banquete, aparentemente comemorativo, com bebidas e mulheres. E lá estava ela, sentada bem ao centro da mesa, as mesmas vestes que me lembro, com os pulsos presos. O hicso levanta e chama a atenção de todos.

-Bem, esta noite, após mais um boicote bem sucedido aqueles medrosos da casa de Rá, temos o prazer de festejar com a princesa Elena. A pretendente do trono egípcio. – ele se volta pra ela, com uma taça erguida, seu tom é esnobe e debochado. – Bem, companheiros, vamos deixar nossa convidada à vontade e mostrar um pouco de hospitalidade à futura rainha egípcia. Saúde. – e ao redor há risadas e taças erguidas.

Fico imaginando se o rei hicso mandou o filho numa missão para estragar os planos de meu pai. Ele parece conhecê-la, e se assim for, acredito que ela corre risco. A festa segue com danças e bêbados, comida e orgia, um verdadeiro show de bárbaros. Em um dado momento ele toma Elena e a põe de pé, acaricia-lhe o rosto, mexe em seu cabelo, desce a boca até seu pescoço e ela apenas tenta se esquivar, em suas feições um semblante de puro nojo e medo, por não saber o que mais ele irá tentar, e em meu coração, cresce ainda mais a vontade de enfiar minha espada no esterno deste miserável. É uma show gratuito aos cidadãos presentes e sua comitiva, ele debocha dela.

-Vejam a ex sarcunt (prostituta divina), um banquete diante de mim. O que farei com você? – ele pergunta, segurando-a pelo queixo e a fazendo o olhar, quando seu olhar encontra o dele, Elena cospe em sua face e recebe em resposta uma bofetada. Desgraçado! Ela cai diante dos pés dele. – Este é o seu lugar. Bebam! – ele esbraveja pros companheiros que se deleitavam com a cena da sacerdotisa ao chão.

...

Damon ficou pacientemente observando e esperando a melhor chance, ele vigiou os passos do príncipe por dois dias. Via sua rotina na cidade, observava o número de guardas aos arredores de Elena, traçava a melhor estratégia. Elijah mantinha Elena presa em uma das dependências da corte de Hassan. Todo o dia ele visitava o quarto, apenas ao cair da noite. Ficava por longos minutos e depois deixava o lugar com três guardas e mais dois sentinelas nas duas únicas janelas que haviam.

Niklaus deixou boa parte da comitiva para traz em Badari. Só levando consigo os soldados e claro alguns curandeiros. As mulheres e sacerdotes, assim como o restante ficaram para traz para ajudar o povo da província a se recuperar do ataque e também para ajudar com os feridos, alguns soldados e mulheres da própria comitiva. Quando ele chegou a Beni Hassan, não foi difícil juntar novamente as pistas de Damon e logo, como era de costume eles estavam reunidos.

-Mei amum. – Niklaus cumprimenta ao ver seu príncipe.

-Melom (amigo). – responde Damon. – Eu ansiava sua chegada.

-Perdão meu príncipe. Tivemos algumas baixas em Badari, e não pudemos deixar a cidade antes de estabilizar a situação, alguns guardas ficaram lá, só nos resta estes homens. – ele explica apontando para os vinte homens ao seu redor.

-Não precisaremos de um exército. Tenho observado estes bastardos por dias. Suas defesas são dispersas e eles são pretensiosos demais para imaginar que ousamos os seguir até sua sede.

Damon explicou ao seu general, toda sua estratégia. Falou do plano sobre Elena e da retirada.

-Vocês entenderam? – perguntou ao final.

-Até para você, meu príncipe, é um plano muito ousado. – Niklaus provoca.

-Como eu falei, tive tempo para observar. Esta é a única maneira possível. A primeira coisa a ser feita é que assim como eu, vocês se espalhem pela cidade, se vistam como eles, se misturem, não podemos nos reunir antes da hora. Quando tudo estiver feito, quero deixar a cidade em segurança, e nos por a distância sem eles em nosso encalço. Quando se derem conta do que houve estaremos bem longe. E de volta a Badari, iremos parar em Qau.

Todos assentiram sem mais contestações e no início do outro dia Damon colocaria sua fuga e resgate de Elena em curso.

...

Quando o dia raiou, eu encontrei com meus homens no mercado da cidade, estávamos todos lá, porém um longe do outro como o combinado. Nosso primeiro passo era chegar um a um até um guarda do reino hicso e roubar-lhe as vestes. Feito isto, o resto seria aparentemente fácil. Ao final da tarde estávamos prontos e disfarçados. Agora Niklaus, mais dois homens e eu teríamos que substituir os guardas na torre de Elena. Outra tarefa aparentemente fácil. Niklaus tinha mais lábia pra estas coisas e uma voz mais enfática, logo ele conversou com cada um, antes eu expliquei que seria complicado, por que eu não vi eles sendo substituídos e tenho a impressão que se tratavam dos melhores homens do príncipe hicso.

-O príncipe Elijah não gosta de mandar emissários, se é pra sermos substituídos ele mesmo vem avisar, ninguém é digno de representá-lo, mas todos sabemos disso. – um dos homens falou, Niklaus e eu nos entre olhamos e decidimos que seria pelo lado difícil. Desembainhamos nossas espadas.

...

Não foi muito complicado dar um jeito nos guardas. Damon tinha razão, esnobes, mas fracos. Eles esconderam os corpos e adentraram no quarto. Cuidaram dos sentinelas nas janelas e Damon foi até Elena, eles não tinham muito tempo. Ela estava amarrada à cama. O olhava assustada como se não o esperasse ali. Damon avançou contra ela sem demora, soltando seus pulsos que estavam presos, sua boca amordaçada.

-Tudo bem? – Damon pergunta assim que a solta e apenas se afasta e a observa.

-Não. – ela fala, num sussurro.

-Mei amum. – Klaus apressa. Damon se volta pra ele e acena que entendeu.

-Precisamos sair daqui antes que percebam o que fizemos. – Damon fala a Elena, que ainda parece perdida em pensamentos. – Melim! – ele grita, e ela se sobressalta, olhos arregalados. -Vamos! – Damon insiste e ela salta da cama e os segue.

-Vamos pelas janelas e sairemos pelo oeste rumo aos muros na saída da cidade. – Niklaus fala. Todos seguem para as janelas. Damon passa e estende a mão para Elena, ela hesita e ele a fuzila com o olhar.

-Não temos tempo. – rosna.

-Não. É muito alto. – ela ofega.

-Então feche os olhos. – agarra ela de forma brusca pela cintura.

...

 Ouço uma agitação fora do quarto. Estou cansada, com fome, sede, ainda sinto as mãos e boca dele em minha pele. É asqueroso, sinto nojo de mim mesma e só consigo pensar que quero morrer. Nunca deveria ter deixado o templo. Eu mesma não sei por que o segui. Havia algo nele... No que disse. Eu senti que meu destino era o ajudar.  A confusão lá fora só aumenta e estou começando a me assustar. De repente tudo se acalma, agora quase não ouço nada, segundos depois mais homens invadem o quarto. Não! O que vão fazer? Um deles avança contra mim, eu quero correr, mas estou presa e preciso enxergar aquela imensidão azul para me dar conta: ele está aqui? Ele veio por mim. Damon me solta, e libera minha boca, sinto dores em meu pulso, mal consigo pensar, porque não acredito que ele voltou e está aqui, se arriscando, infiltrado na sede inimiga, se expondo por mim.

É tudo tão rápido. Ele me olha firme e pergunta se estou bem. Lhe sou sincera, eu não estou. Só quero acordar de tudo isso, um pesadelo cruel. Como chegaram aqui? Estou parada. Damon me apressa, mas não sei que consigo me mexer, estou o olhando. Oh, ele está mesmo aqui.

-Melim! – ele grita, e eu odeio quando me chama assim, tenho nome, e não sou mais uma sacerdotisa. – Vamos! – não sei bem o que fazer, mas de novo a vontade de o seguir é mais forte que qualquer trauma que me prende à cama e me vejo com forças para levantar.

O general Niklaus tagarela algo e eu não entendo sobre o que conversam, só os vejo seguir para as janelas e depois Damon estende sua mão pra mim. Ele não acha que...

-Não temos tempo. – fala. Eu não vou sair pela janela, é muito alto. É exatamente o que digo a ele. Ele me olha quase com fúria e se inclina contra mim, me agarrando bruscamente.

-Então feche os olhos. – fala com ironia e me puxa, colando nossos corpos, descendo por uma corda já posicionada e antes que possa entender como, estou presa contra seu peito tocando o chão.

Seguimos com pressa em direção a alguns cavalos que também nos esperavam, assim como mais homens, todos vestidos com as roupas dos guardas de Elijah. Como? Passamos quase que despercebidos. Damon me encobriu com mantos, minhas vestes brancas substituídas por tons terra. Passamos pelos portões e ganhamos o deserto. Eu estava no cavalo com Damon, em sua garupa, agarrada a sua cintura e foi então que percebi: Ele me tocou, nos tocamos, e agora estou contra suas costas, meu rosto pressionado nesta região, me protegendo dos ventos fortes do deserto, enquanto o cavalo avança como a noite no grande mar de areia.

Não sei por quanto tempo ficamos cavalgando, o dia clareou e não paramos, seguimos por mais meio-dia, e então, demos água aos cavalos. Damon estava ao longe. Tínhamos provisões, comidas, remédios. Aparentemente eles saquearam os depósitos de Hassan, se prepararam bem para este resgate. E só consigo imaginar a mão de Damon em tudo.

Ele está ao longe me observando e devagar se aproxima de mim, enquanto com alegria me deleito com água.

-Precisamos ser rápidos. – ele fala de pé diante de mim, não me olha. – Cavalgaremos por mais um dia e então poderemos parar. Há um Oasis não muito longe daqui, podemos descansar lá e depois seguir para Badari. O resto da comitiva nos espera.

Acho que devo saber como tudo aconteceu, mas não acredito que seja uma boa hora pra esta conversa. Então apenas falo que entendo e me ponho de pé. Nossa! Meu corpo inteiro doi. Uma noite inteira, manhã e quase tarde em um cavalo e vamos voltar. Me arrasto, preciso de um banho, preciso dormir. A dias não faço isso, não conseguiria. Nunca sabia se Elijah invadiria o quarto ou não durante a noite, e mesmo fraca, não consigo comer.

Voltamos pros cavalos, agora eu vou num próprio. E como Damon falou, cavalgamos por mais um dia inteiro sem descanso até alcançarmos o Oasis de Amshare, um dos mais lindos do Egito. Os soldados começam a armar tendas. Ao final, Damon me indica uma.

-Se não se importar dividiremos esta tenda. Não temos muitas e precisamos de todos protegidos, caso haja tempestades. – ele explica com voz seria. – Há água para que se banhe ali. – aponta – E comida, não a vi comendo desde Hassan e ainda temos muito chão diante de nós. Amanhã sairemos o quanto antes, então sugiro que descanse esta noite. – estou apenas prestando atenção no que fala e me sento no chão da tenda, meu corpo está em frangalhos.

-Onde irá dormir? – pergunto e ele encolhe os ombros e aponta para direção oposta da tenda. Percebo que tudo foi estrategicamente dividido, são como duas tendas em uma.

-Vou sair para que se banhe. – fala e acho que revira os olhos, em seguida deixa a tenda. Suspiro. Ele pode ter voltado por mim sim, mas continua mantendo sua antipatia, tudo o que fez não passou de seu dever, continuando em sua missão de me levar até seu pai em segurança. De alguma maneira isto me deixa triste. Nem sei porque.

Assim que deixa a tenda me preparo para meu banho, e até então eu não tinha percebido, não fosse a dura cavalgada desde Hassan ainda havia mais. Hematomas por todo meu corpo. E as memórias horrendas de como os consegui me invadem enquanto começo a me banhar.

-Você é o novo brinquedo do Egito Elena. Como chegou neste ponto?

Eu não quero o responder ele se aproxima e agarra meu queixo com brutalidade, me forçando a o encarar.

-Fico imaginando como o velho rei de Ati ficou ao saber que sua filha renunciou ao seu dever divino pelos caprichos do Faraó. Ele prezava tanto aquilo. Ainda lembro como recusou minha proposta de aliança. Eu adoraria que ele reconsiderasse agora. Quem sabe com a influência perfeita: ou me dá sua mão ou lhe mato.

Meus olhos arregalam.

-Antes a morte. Meu pai sabe que eu prefiro isso a ser sua. – esbravejo e ele me joga contra o chão e avança contra mim.

-Então talvez deva morrer me dando o que quero. – sua voz e olhar me fazem vibrar. E ele desce sua boca contra mim.

- Não! – estou sentada no chão da tenda, Damon me olha sério, mas em seus olhos há temor.

-Você estava gritando. Achei que estava sendo atacada, mas então você apenas estava sonhando... – ele reluta e engole em seco me analisando. Olho ao redor. Estou vestida, nem mesmo me lembro de terminar meu banho. – A comida está intacta. – ele aponta pro cesto com frutas, carne e pão. – Deve comer. – fala franzindo o cenho.

-Por que? Seu pai não irá gostar de me ver abatida? – ele me encara com fúria e se afasta.

-Se quiser morrer de fome, não é meu problema. Não acredito em nada que meu pai acredita. Seria bem mais fácil fingir uma falha minha em lhe deixar morrer do que ver você ir até o Faraó e o decepcionar não sendo nada do que ele espera. – fala petulante. Apenas lhe dou as costas, voltando a me deitar. – Não vai mesmo comer?

-Não! – falo fraco e percebo que estou a ponto de chorar, porque o fato dele me tratar mal me causa tanta... Me sinto tão machucada, é pior que meu físico no momento.

-Como quiser então. – o ouço se afastar mais e logo um barulho abafado de algo atingindo o chão da tenda.

Certo! Acho que mereço saber como ele fez para executar tão bem seu dever em me manter em sua comitiva de volta para o pai.

-Você deixou o resto da comitiva em Badari. – falo baixo – Achei que pra você o resto da sua comitiva valesse mais que eu.

-Aparentemente meu pai tem outro pensamento. – ele fala. Me viro em direção ao som de sua voz e o encaro deitado do outro lado da tenda, voltado para o teto, mãos escondidas atrás da nuca.

-Você sempre faz o que o faraó manda? Mesmo contra a sua vontade?

-Sou soldado, cumpro ordens.

-Acho que cumprir ordens não é só o que um soldado faz. E você é mais que um soldado. Além de um príncipe egípcio é um medjay. – ele me encara, testa franzida.

-O que uma princesa que passou boa parte da vida presa no seu palácio e em um templo entende sobre o dever se um soldado?

-Porque você é tão grosso?

-Talvez seja só com você. – ironiza.

- O que faço pra lhe irritar?

-Fica tentando me dizer o que fazer.

-Achei que soldados só obedecessem ordens. – ele se remexe furioso.

-Não as suas. Não devo me reportar a você sobre nada. Estou em uma missão para levá-la ao meu pai, em segurança. Essa é minha ordem, o resto fica sobre meus termos e neles não consta o termo: gentil.

-Me seguiu até Hassan?

-Segui o hicso até Hassan. – corrige.

-Isso também era o seu dever?

-Sim.

-Entendo. – faço menção para me levantar, quero sair da tenda, me queixo ao fazê-lo, estou machucada demais. Me ponho de pé e ele me observa ainda deitado.

-O que pensa que está fazendo?

-Estou sem sono, quero tomar ar. – ele se ergue.

-Não!

-Assim como seu dever é esta missão, eu não tenho a obrigação de te obedecer. Se bem me lembro eu vim por contra própria e se quiser voltar ao meu reino você estará com problemas medjay. Estou lhe fazendo um favor – falo e ele cerra os olhos e avança contra mim, fica diante de mim, estamos olho no olho.

-Não duvide que eu poria fogo no templo com todos os sacerdotes dentro. Eu apenas não quis confusão e lhe dei bons motivos pra vir comigo voluntariamente, sem violência. Traria você de qualquer forma, faria o que fosse preciso pra isto, poria fogo em Ati, por que essa era minha tarefa. – argh! Como o odeio! Desvio dele para a saída e ele se põe no meu caminho.

-Sai da frente!

-Não vai a lugar algum melim. – fúria queima a minha face.

-Não me chame assim! – grito – É tudo o que eu não sou, não mais. E eu tenho um nome. – ele apenas me encara e não recua, avanço na direção oposta e mais uma vez ele me impede de passar. Certo, do jeito difícil então. Fecho meus olhos e inalo, o encaro depois e me concentro no que quero: ele longe de mim.

A expressão de Damon começa a mudar e é como se uma dor cortante o invadisse ele se ajoelha diante de mim, mãos nas têmporas.

-Mas o que... Ah! – se queixa, mas então há algo em mim, quebrando por dentro, minha respiração é suspendida e minha concentração quebrada. Só há dor.

-Ah! – recuo um passo e ele respira e arregala os olhos pra mim, ainda me olhando do chão.

-Melim... – ele estende o braço e estou dando passos pra traz. Levo minha mão até meu rosto, estou chorando, mas não são lágrimas. Droga! Estou fraca demais pra isto. Uma dor em meu peito e eu arfo descendo ao chão, caindo um pouco adiante de onde ele está, totalmente recuperado de meu ataque, ele avança contra mim e segura meu ombro. – Amón-Rá, o que fez? – não respondo, sinto outra dor, mais forte e então me inclino tossindo, sinto gosto do sangue em minha boca. Damon me deita no chão da tenda e eu estou praticamente me debatendo no chão. Não sinto nada além da dor, embora eu o veja tocando meus braços, pressionando meu peito, não é como se eu soubesse como respirar agora. E tudo fica escuro.

...

O que foi Isso? Ela me ataca e depois... O que você está dizendo Damon? Não faço ideia do que aconteceu, mas... Sim, foi ela que fez sua magia contra mim, mas agora ela que está diante de mim, sangrando e desacordada. Saio da tenda e corro em busca dos curandeiros. Eles invadem a tenda e vão contra ela. Guiam ela até onde deveria estar dormindo, eu apenas observo, tentando assimilar o que aconteceu ali. Uma lembrança me invade: “Não me deixe cair em tentação... Minha força vital se esvai... Eu sangro!” Devo estar ficando maluco, mas a conversa maluca dela no rio volta a minha mente. Ela está sangrando e a pouco, ele usou sua... Ela fez de novo... Algo contra mim, me fez recuar, queria passar. Por Osíris! Ela faz mesmo isso?

Voltando meus pensamentos para o lugar, vejo os curandeiros ainda com ela, que permanece desacordada.

-Corin (curandeiro), o que ela tem?

-Está muito fraca mei amum, seu pulso quase não reage, sua respiração é dificultosa. Ela precisa descansar, se fortificar.

-Ela está sangrando...

-Não sabemos o motivo, mas ela está cheia de marcas. – o que quer dizer?

-Como assim marcas?

-Por todo o corpo amum, hematomas, foi muito machucada. Talvez se trate de uma hemorragia interna, suas costelas, abdômen, pulsos, está tudo marcado. – eles explicam e me fazem olhar, há uma círculo roxo em seu pulso, uma perturbadora pulseira de hematoma. Como não percebi isto? Eu o vi batendo nela. Talvez ele tenha feito várias vezes. Eu o mato!

-O que se pode fazer? Ela ainda está sangrando...

-Estamos tentando parar. Ela precisa de repouso meu príncipe. Vamos buscar algumas ervas, sabemos quais podem ajudar. Precisamos acordá-la para que nos diga exatamente o que sente.

-Disse que ela precisava descansar.

-Sim, mas não está descansando, está desmaiada. Precisamos saber o porque.

Dou meu consentimento e um deles se vai, o outro fica com ela e eu apenas observo tudo ao longe. Prestando a atenção agora, vejo que todo o seu corpo está marcado, o curandeiro começa com muito cuidado a desfazê-la de algumas roupas e posso ver mais calmamente. O que diabos aconteceu com ela? O que aquele desgraçado fez?

Vejo os curandeiros passarem toda a noite se esforçando para acordá-la, mas ela não reage de nenhuma forma, depois de um tempo eles decidem esperar que ela desperte. Saem da tenda e me pego a noite inteira a observando, pelo menos eles conseguiram fazer com que parasse de sangrar.

Só me dou conta de que o sol nasceu, porque a voz de Niklaus invade meus ouvidos. Ela é alta, imprudente.

-Mei amum temos que.... – ergo meu braço sinalizando que pare, aponto para fora da tenda. Ele se vai, me volto para a melim, ela parece estar em sono profundo, como por toda a noite, mas está tão pálida. Sigo meu general até fora da tenda. – Precisamos partir e aproveitar a vantagem que ganhamos a estas horas o hicso já se deu conta da ausência dela e deve estar em nosso encalço com seu exército, mesmo se chagarmos a Badari, não temos homens suficientes pra ir contra ele. Temos que seguir até Qau, como mei amum falou, e lá fortalecer nossos números.

-Não posso tirar ela daqui assim. Está muito fraca, não aguentaria uma viagem dessas, são mais dois dias até Badari. Temos que esperar que esteja recuperada.

-É muito arriscado.

-Não podemos sair com ela assim, ela morreria e nada do que fizemos até agora faria sentido, nossa missão é levá-la até o Faraó, viva!

-Mei amum...

-General, sou seu príncipe, não devo justificar minhas ações. Ficamos até que ela possa seguir. Avise os homens. Observem os perímetros do Oasis. Vamos ficar em alerta.

-Como quiser meu príncipe. – ele reverencia e se vai.

Volto para tenda e ela ainda dorme. Passou toda a manhã assim e metade da tarde, quase ao anoitecer, ainda a observava quando a notei se mexer.

-Por Osíris, achei que estava morta!

...

Como pode meu corpo doer tanto assim? Mais uma vez, ao despertar me vejo diante do olhar aterrorizado de Damon.

-Como se sente? – e é a primeira vez que vejo preocupação em seu semblante, destinada a mim.

-Dolorida. – respondo baixo, minha garganta está tão seca, me debruço para levantar, mas doi.

-Cuidado! Com calma... – ele fala e apenas levanta os braços em minha direção, mas não me toca. Me ponho sentada. – Está fraca.

-Tenho sede. – falo e ele se afasta e volta com água para mim, recolho o copo de suas mãos e a sensação da água descendo por minha garganta é reconfortante. Quando termino ele recolhe o copo e volta a me encarar, de forma firme, está me analisando e estou constrangida.

-Desculpe por... – eu começo e ele pisca – Eu estava brava e você não me deixava passar. – engulo e ele ergue as sobrancelhas.

-Ah... Isso. Er... Não se preocupe, sei que sou meio... Irritante as vezes. – ele solta um breve meio riso. O que foi isso? – O que aconteceu com você? – ele me pergunta e sou eu que fico confusa desta vez. Ele percebe e se explica. – Está cheia de hematomas. – ele engole, um olhar doído.

-Como sabe disso? – é uma pergunta bem pertinente, ele abre a boca e fecha.

-Er... Os curandeiros eles... Não sabíamos o que tinha causado. – ele está meio perdido.

-Ficou aqui dentro olhando os curandeiros me examinarem? Olhou meu corpo? –quase grito.

-Não! – ele está meio exasperado. Oh, isso é mentira! O encaro. – Quer dizer... eles quiseram me mostrar.

-Ah sim! – ironizo e ele encolhe os ombros. – Não deveria, não sou uma de suas concubinas, nem mesmo sou uma melim, na verdade nem sei mais quem eu sou. – minha voz está mais desesperada do que pretendo e estou chorando.

-Não faça isso... – ele pede de braços erguidos, um apelo. – Princesa...

-Não me chame assim! – ele me encara meio feio.

-Não posso chamá-la de melim, não posso me referir a você como princesa, o que devo fazer? – me parece em desespero.

-Já lhe disse que tenho nome.

-Não posso me referir a você pelo nome, não é minha esposa.

-Não teria nenhum problema. Não sou mais uma sacerdotisa, não tenho mais um reino, estou longe de meu trono, não sei se meu pai me reconhece mais depois do que fiz. Não posso ser desposada, nenhum homem são o faria, a única coisa que me resta é meu nome e não quero que me chame de princesa. Ele me chamava assim. – jogo em sua cara todas as palavras em meio as lágrimas e ele apenas assiste ao meu ataque e depois engole.

-Foi ele que te fez isso? – ele aponta pro meu ombro. Há uma marca lá. Me encolho escondendo. – O que ele fez? Me diga!

-O que você acha? – ironizo e ele me fuzila. Estou cansada. – Elijah sabe ser assustador. – Damon arregala os olhos.

-Se refere a ele pelo nome? O conhece?

-Ele tem certa implicância comigo. Antes de meu pai me mandar para o templo, Elijah tentou uma aliança com o nosso reino. Queria casar-se comigo, mas meu pai estava decidido a me mandar ao templo. Ele não cedeu. E o hicso declarou guerra ao nosso reino, mas estava em menor número e teve que recuar. No entanto o fez com a ameaça de que me acharia e que eu ainda seria dele. Bem ele me achou. Em Badari. Eu estava segura no templo. Ali era uma fortaleza. – Damon engole.

- Eu imaginei que ele a conhecesse, mas... – ele para e é como se deduzisse algo - O que ele fez?

-Medjay...

-Responda!

-Eu não quero responder! – grito. – Não consegue imaginar o porque? Ele queria algo de mim, eu resistia e ele me batia. – os olhos de Damon saltam mais uma vez.

-Te tocou? – ofega.

-Tentava e por vezes... Ele é mais forte que eu. – ele arregala os olhos. - Já passou, você apareceu e salvou o dia. – Damon revira os olhos e se afasta e volta com comida.

-Precisa comer.- estou com fome, e devagar pego um pouco de uva e começo a comer. – É quase noite, se estiver se sentindo melhor partiremos amanhã pela manhã. Ficamos muito tempo aqui. Ele certamente está atrás de nós. – engasgo e ele franze o cenho. -Não se preocupe, temos vantagem.

-Quanto tempo eu dormi?

-Por quase um dia inteiro. Acho que foi isso. Agora coma! – ele fala e estou de boca aberta. Damon deixa a tenda.

...

Ele a tocou, machucou. Anseio reencontrar com ele. Eu sei exatamente o que merece. A noite está alta quando resolvo voltar pra tenda. Os curandeiros foram vê-la mais uma vez, me disseram que ela está disposta a partir o quanto antes. E como seria diferente? Volto para a tenda e ela está sentada.

-Deveria estar deitada.

-Eu sei que vai me dizer que estava fazendo seu dever, mas... –o que quer dizer?  - Obrigado, por voltar por mim.

-Como você disse: era meu dever. Durma!

-Estou tentando ser gentil. – fala aborrecida.

-E eu estou tentando sair deste Oasis e voltar para a minha comitiva. E isso depende de você, descansada.

-Voltar para a comitiva ou para sua enaiumi? – O que foi isso?

-Pros dois. Ela me deixa em paz, e você me irrita. – respondo, ela é intragável.

-Por que exatamente te irrito medjay? – desafia.

-Você é sempre tão... Teimosa, descuidada. Acha que é blindada ou sei lá. Que não precisa de ninguém e no entanto... Ele podia ter matado você.

-Isso não seria problema pra você. Você estaria fazendo sua parte indo atrás de mim, mas se já estivesse morta... – certo, não tenho paciência com ela.

-Falhei ao perder você em Badari.

-Acredito que você tenha usado de prioridades. - ela fala e me faz engolir. Sim, eu salvei os meus, Rebekah, eu não me lembrei ... Foi uma falha.

-Estou cansado. – desvio.

Ela está carrancuda. Olhos brilhantes, marejados. Ela nunca para de chorar?

Me jogo no chão, quero dormir, estou exausto, passei a noite em claro. Depois de um tempo observo que ela também se acomodou e logo está quieta em seu sono.

Acordo me sobressaltando. A princesa grita na tenda e eu corro indo pra cima dela. Outra vez?!

-Princesa! – grito, ela está suada.

-Me solta! – chora de olhos fechados, um pesadelo.

-Acorde! – a sacudo e ela dá um último e atormentado grito antes de saltar, ficando sentada.

-Não. – está chorando, tremendo. – Não me toque! – se agita e me faz a soltar, erguendo os braços. – Por Ísis. – cai em choro se encolhendo, agarrando os joelhos. E então há algo errado na tenda, as lanternas estão mais fortes, as chamas mais altas, um vento estranho corre me fazendo arrepiar, coloco meu olhar sobre ela, que se balança, como se ninasse a si mesma, e sussurra palavras que não entendo.

-Elena... – eu chamo e ela não parece me ouvir, seu corpo tremula e ela fecha os olhos, um vento ainda mais forte passa por mim. Isso outra vez não. Seja lá o que ela está fazendo não posso deixar. – Elena! – grito e ela abre os olhos, lágrimas correm por eles. – Pare! Vai se machucar. – ela engole e ergue o queixo, as lanternas explodem ao nosso redor, é quase um breu a nossa volta. – Pare com isso! – insisto, olhos no dela. – Elena para! – e aos poucos o seu olhar suaviza, ela solta o ar de seus pulmões.

-Pela mãe terra. – ela ofega e cai no choro, saltando para os meus braços. É um susto, ela está me apertando contra seu corpo, num choro desesperado, desço meus braços ao seu redor. Não sei o que fazer. – Eu pedi tanto para a deusa acabar com minha agonia. Eu orei para que você me encontrasse e depois quando isso pareceu impossível eu só queria morrer. A boca dele contra minha pele, sua mão em mim... Não! –subo minha mão até seus longos e sedosos cabelos. Oh, eu posso sentir, cheira tão bem, é tão frágil.

-Tudo bem, está segura. Não vou deixar ele chegar perto de você. – sinto suas lágrimas, ela aperta seu abraço ainda mais, tremendo. Quero matar o desgraçado. – Fique calma. – a trago mais pra junto de mim e ela reclama.

-Ai! – eu me afasto, a machuquei.

...

Ele está me olhando assustado por minha queixa, meus olhos não saem do seu. Por que sinto que devo confiar nele? O seguir? Seus olhos são tão familiares, é como se o conhecesse a muito tempo. E sei que é loucura. Nos vemos em torno de semanas. Não sei bem como, mas minha mão está indo contra sua face e ele está paralisado, apenas me olha e está como se... Com medo de mim? Do que eu vá fazer? E é tudo tão rápido, meus lábios encostam nos seusm um beijo casto, meus olhos estão fechados e quando abro e me afasto, ele prende sua respiração, parado, quero isso outra vez, me reaproximo e ele afasta, avanço contra e prendo seu rosto em minhas mãos.

-Elena... – ele solta a respiração e pede, há uma súplica em seu tom. Não consigo para de olhar em seus olhos.

-Você voltou por mim. – falo o encarando.

Ele engole, mãos em meu ombro, tentando manter a distância. Sua respiração ganha outro ritmo, seu peito se agita, ele desliza suas mãos até minha nuca e puxa meus cabelos para baixo, meu rosto está erguido. Seus olhos percorrem minha face, param em minha boca. Ele engole.

-Sim. – responde enfim.

-Só por mim? – exijo.

Ele franze a testa, parece em conflito.

-Sentia que era onde deveria estar.

-Seu dever?

-Não! – ele engole, é como se fosse difícil de explicar - Minha cina. – ele termina e desce contra meus lábios, me beijando e é tão quente e tão natural. É como se fosse onde sempre eu devesse estar.

Minha cina.


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Notas finais do capítulo

pode ter acontecido uns errinhos na digitação...
bem... Até breve.
Beijos!