Alguns meses depois de terminarmos, mais ou menos em maio de 2014, ouvi dizer que Rafael tinha passado em um curso muito concorrido, só que em outra cidade, acho que no interior de São Paulo, ou algo assim. Eu estava muito orgulhosa dele, e provavelmente esse foi o momento que mais senti a dor de termos nos afastado. Eu queria comemorar com ele, dar um abraço, e tudo mais, e não podia. Porque já não éramos mais nada, e seria estranho chegar assim “MEU DEUS VOCÊ PASSOU PARABÉNS”. E claro, também tem aquela coisa estranha que acontece quando duas pessoas param de ficar ou namorar, de um olhar pra cara do outro e pensar “a gente já trocou baba”.

Enfim, ele mudou de cidade, e nunca mais tive notícias dele.

Bom, como eu estava dizendo, é ano novo! Este ano, eu e a Isabelle decidimos que estava na era hora de mudarmos um pouco, já que todo ano sempre íamos à mesma festa de ano novo do prédio. Desta vez, estávamos indo a uma festa do outro lado da cidade, e realmente esperávamos que valesse a pena essa festa, pois era uma das nossas últimas noites na cidade.

Eu e Isabelle tínhamos passado no vestibular no Rio de Janeiro, mas em universidades diferentes. Nós alugamos um apartamento juntas, e iriamos fazer a mudança poucos dias depois da chegada do ano novo. Estávamos mais ansiosas do que nunca.

A festa foi muito boa, então fechamos nossa vida em São Paulo com “chave de ouro”. Quando cheguei em casa, acabei me lembrando da Letícia. Nós nos afastamos muito, sem motivo aparente, e depois ela acabou se mudando para outra cidade. Sinto falta dela. Engraçado como as pessoas entram e saiam na nossa vida com tanta frequência. Engraçado também como o jeito que achamos que se um dia aquela pessoa sair da nossa vida, nós não saberemos viver sem ela. E quando ela sai, nós simplesmente nos adaptamos, e quando percebemos, a saudade já não aperta mais tanto.

Os dias passaram, e chegou o tão esperado dia da mudança. Foi um dia bem estressante, mas foi divertido. Alguns amigos nossos nos ajudaram a embalar as coisas, e nossos pais nos levaram ao aeroporto. Meus pais e os da Belle estavam meio desesperados por suas “garotinhas” estarem voando solo agora. Entramos no avião, e a Belle estava um tanto nervosa, já que nunca tinha viajado de avião. Quando chegamos ao apartamento, ficamos surpresas, pois era muito menor do que parecia nas fotos. Mas, tudo bem, cabíamos nós duas ali sem problemas algum. O apartamento já era mobiliado, então não tivemos que nos preocupar com móveis. Nossas coisas vieram em um caminhão de mudança, que chegou alguns dias depois de aterrissarmos no Rio.

No dia em que as aulas começaram, já estávamos muito bem adaptadas à cidade. Fui de metrô até a universidade, e até arranjei um crush no metrô, porque sinceramente, os meninos mais bonitos estão no metrô. Demorei a encontrar minha sala, pois era muito grande o lugar. Conheci duas meninas, Rafaela e Bruna, que eram até que bem legais. Quando cheguei em casa, levei um susto ao ver Rodrigo, meu irmão, sentado no sofá. Perguntei o que ele estava fazendo lá, e ele disse que tinha arranjado um emprego no Rio, e que resolveu vir. Ele contou que alugou um apartamento no mesmo prédio que o que eu morava, mas uns andares mais pra cima. No começo, odiei a ideia porque achei que seria como ter meu pai por perto só que em uma versão mais nova. Porém, depois o Rodrigo acabou se tornando um irmão até que bem legal, então aceitei a ideia melhor.

Depois de algumas semanas de aula, eu já havia virado muito amiga da Rafaela e da Bruna. Um dia, estávamos andando pelo campus, quando vi um garoto bem bonitinho jogando futebol. Fiz elas ficarem comigo ali assistindo o jogo, como se estivéssemos totalmente interessadas na partida. Ao final do jogo, os meninos por algum acaso divino, vieram falar com a gente, perguntaram algo sobre se a gente gostava de futebol. Acabei descobrindo que o nome do menino gatinho era Davi. Dias mais tarde, teve uma grande festa na universidade, e para minha felicidade, Davi (também conhecido como meu crush) foi. Não sei como, mas nós ficamos. Depois daquele dia, nós meio que começamos a ficar, mas era uma sem relação titulo, quero dizer, eu nunca sabia se éramos exclusivos ou não. Nunca sabia como apresenta-lo para as outras pessoas. Mas tirando isso, até que era boa nossa... coisa.

Em um sábado, resolvemos ir a um restaurante japonês que tinha acabado de abrir na cidade, e aproveitamos para conhece o tão falado namorado da Bruna. Pedi ao Rodrigo para deixar eu e a Belle lá, e como a Rafaela morava perto, ela acabou vindo junto também. Quando descemos do carro, a única coisa que Rafaela conseguia falar era “como seu irmão é gato”. O Davi já estava lá, sentado em uma mesa. Sentei ao lado dele, e ele passou o braço por trás do meu pescoço, e tentamos decidir o que iriamos pedir, enquanto a Bruna não chegava, já que ela sempre estava atrasada, e nós estávamos com muita fome.

Quando ela finalmente chegou, ela chegou sozinha. Nós perguntamos onde estava o famoso namorado dela, já que a intenção era conhecê-lo. Ela disse que ele estava estacionando o carro, e que já vinha.

O garçom veio anotar o que queríamos para beber, e depois de eu pedir minha água de sempre, vi alguém conhecido entrar. De primeira, não o reconheci, mas quando ele virou o rosto para onde a minha mesa estava, eu sabia quem era. Eu reconheceria aqueles olhos mesmo no meio de uma multidão. Era ele. Era o Rafael. Meu coração se encolheu. Ele começou a vir na minha direção, mas ele ainda não tinha me visto. Ele olhava para Bruna. Quando ele chegou à mesa, Bruna levantou e disse:

– Gente esse é o Rafael, meu namorado!

Foi nesse momento, que ele finalmente me viu, e nossos olhares se cruzaram.