Finalmente, depois de uma espera que pareceu eterna, o dia da webcon chegou.

A aura do apartamento até havia ficado mais animada. Cantarolávamos em plena manhã de domingo, oito horas da manhã, em meio a risadas e conversas leves. Estávamos ansiosos para nossa primeira conferência depois de anos.

– Será que muitos fãs irão? – Gibby indagou, enquanto vestia uma camisa. – Quero dizer, será que ainda temos fãs?

Carly olhou para ele e deu uma risada nervosa.

– Claro que temos fãs, ora essa. Por que não teríamos? Óbvio que temos – ela não parava de falar. – Somos nós ainda, claro que os fãs querem nos ver depois de tanto tempo.

Mas ainda sim ela parecia nervosa como se não estivesse acreditando em suas palavras. E dava para perceber que não estava mesmo.

Tínhamos planejado de nos vestir como os Power Rangers: Spencer de verde, Freddie de azul, Gibby de rosa, Carly de rosa e eu de vermelho. Tínhamos, ou melhor Spencer tinha, colocado alguns detalhes chamativos para deixar a fantasia mais engraçada. Eu por exemplo tinha colocado uma saia de ula-ula para dar um grande contraste.

Embarcamos em uma vã alugada por Spencer e partimos para a Webcon. O evento iria ser realizado no salão de festas de um hotel em Florença. Carly havia me mostrado as fotos e o lugar era realmente muito chique.

– Essas fantasias são as piores, não acha? – Freddie resmungou estendendo a perna para Gibby.

Freddie estava muito empenhado em me ignorar. Faziam quatro dias que nós matínhamos em silêncio. Eu até tinha tentado uma reaproximação, como lhe dar bom dias e boa noites, mas nada tinha dado resultado.

Depois da Webcon eu iria embora. Estava tudo certo já, passagens compradas e tudo o mais. Freddie estava esperando aquele momento com todo afinco, eu pensava. Eu tinha certeza, na verdade.

Depois de colocarmos meias de lurex em Spencer e mechas coloridas na parte de trás do cabelo de Carly nós fomos. Dei uma ultima olhada para minhas malas no pé da cama e pude jurar que Freddie havia feito o mesmo.

****

Era um enorme balcão colorido no lado de fora do hotel com umas centenas de cadeiras enfileiradas em frente. Todas elas estavam ocupadas por fãs do iCarly, segurando cartazes, plaquinhas, gritando loucamente...

Nós subimos no pequeno palco e nos sentamos atrás do balcão, nos lugares marcados. Infelizmente meu lugar era ao lado de Freddie, que ainda continuava a me ignorar.

Todos estavam gritando nossos nomes e aplaudindo. Nos sentamos enquanto Carly, de pé, pedia para todos se sentarem.

– Vamos nos acalmar, por favor – ela pediu, toda sorrisos como sempre. – Sei que todos tem perguntas a fazer e estamos dispostos a responder tudo se não houver baderna.

Carly sabia usar as palavras. Todos se sentaram em suas cadeiras, enquanto nós nos acomodávamos. Arrumei o microfone e levantei a mão.

– Tá, quem ai ta afim de fazer a primeira pergunta? – centenas ergueram as mãos em desespero. – É claro. Você aí de peruca laranja.

O individuo de pergunta laranja se levantou e foi até a frente das fileiras das cadeiras, onde tinha um pequeno púlpito com microfone.

– Oi, meu nome é Junior eu sou representante da fanbase iCarly Vicio de San Francisco. Vamos começar com uma pergunta leve – o individuo disse, dando uma piscada. Ele me pareceu muito convencido por isso não dei muito crédito a ele. – Quais são suas comidas favoritas?

– Pizza – Carly respondeu e Freddie também disse o mesmo.

– Hamburguer! – Gibby gritou e alguns da plateia gritam de volta para ele.

– Eu não sei, vou passar essa – Spencer responde.

– Frango. Mas sabe, qualquer comida é boa – eu respondi e alguns riram.

Essa foi o começo das perguntas idiotas. A maioria das perguntas eram banalidades, como nossa cor favorita, nosso vídeo favorito. Respondíamos todas as perguntas sem muita dificuldade.

Mas eu sabia que nossos fãs não eram idiotas cabeças de vento. Em algum momento eles chegariam em perguntas difíceis. Provavelmente sobre os tais "casais dentro da equipe" e o termino do webshow. Sabia muito bem, pela forma que eles nos olhavam, que eles estavam só esperando pelo momento certo.

E ele havia chegado. Uma garota que parecia ter nossa idade subiu no púlpito e senti meu sangue gelar nas veias quando vi que ela carregava faixas escritas "Seddie" em volta de seu corpo. Não olhei para Freddie, mas senti ele ficar tenso.

– Olá, meu nome é Dinah e eu sou de Atlanta. Minha pergunta vai para Sam e Freddie – ela disse, dando uma risadinha. Vou quebrar a cara dela, pensei, quebrar em mil pedaços. – Como foi para vocês ter um relacionamento a distancia?

– Não temos um relacionamento – Freddie respondeu rapidamente antes que eu pudesse sequer pensar em algo. Olhei para ele e vi sua mão direita fechada em punho. – Não temos nenhum relacionamento romântico entre nós todos do iCarly, somos muito amigos.

– Sam parece discordar... – a tal Dinah falou, olhando diretamente para mim. Ela estava me desafiando era isso? Pois bem...

– É exatamente isso o que ele falou. Agora, por favor, dê sua vez para outra pessoa. – falei, usando meu melhor tom de ameaça.

Vez ou outra aparecia alguém para fazer perguntas extremamente desconfortantes. Em sua maioria eram todos Creddie e Seddie e isso me irritava profundamente porque nossos relacionamentos não eram a pauta ali.

Mas eu não tinha muita paciência. Quando um menino subiu no púlpito e começou a perguntar se Carly e Freddie gostariam de ter filhos eu explodi.

– CHEGA! – gritei, arrancando o microfone da mesa e me levantando. Meus amigos e os fãs me encaravam surpresos e curiosos. – Isso é tão... Tão... Frustrante! Vocês só querem saber quem de nós duas está dando para o Fredward e isso me irrita!

Freddie arregalou os olhos e fez menção de se levantar mas eu o empurrei para que ele se sentasse.

– Vocês não pararam um segundo que seja pra pensar que nos esforçamos para estar aqui? Porque nós nos esforçamos, e muito. Agora não me venham fazer essas perguntas idiotas porque realmente não estou aqui para isso. – continuei. Eu estava tão empolgada que subi em cima da mesa. – Carly está namorando, pessoal, mas não com o Freddie e nem com ninguém do iCarly. Se conformem, se virem, eu não ligo e querem saber outra coisa?

Todos, todos sem exceção alguma, ficaram em silêncio. Estavam chocados? Sim. Estavam com medo? Com certeza. Mas quais quer que fossem seus sentimentos, ele queriam me ouvir.

– Fredward Benson, você é o maior babaca de todos! – eu gritei e apontei para ele, olhando para ele. Ele parecia querer me matar. – Eu sempre quero te bater por todas as coisas estupidas que você faz e você faz muitas. E eu te odeio. Odeio tudo sobre você. Mas o que mais odeio dessas coisas é que eu te amo. Eu te amo e eu me odeio por isso.

O queixo dele caiu e ele arregalou os olhos. Assim como Carly, Spencer, Gibby e todos os presentes ali.

– Mas o que eu posso fazer? Eu sou uma idiota é por isso que não podemos ficar juntos. Mas eu preciso que você saiba que em todos os anos em que nos conhecemos não houve nenhum em que não amei você. Mesmo quando brigou comigo, quando escolheu Carly, quando me odiou, em todos eles. E eu estou dizendo isso agora porque estou indo embora.

Carly se levantou e veio até mim, segurando meu tornozelo.

– O que você disse? – ela perguntou, parecendo aturdida. – Você não pode ir embora.

– Eu preciso. Isso aqui, não é mais quem eu sou – respondi, apontando para tudo a minha volta. – A Sam de Seattle não existe mais, Carly. Sua melhor amiga, eu fui ela mas agora ela não sou eu. Esta não é minha vida.

Larguei o microfone na mesa e sai, pegando meu celular do bolso da fantasia de Power Ranger. Eu já tinha arrumado todas as minhas malas, tudo, eu só precisava de um taxi para passar no hotel e buscar minhas coisas.

Por sorte ou por destino, escolha o que quiser, mal pisei na calçada e um taxi parou para mim. Eu entrei nele e mal olhei para trás. Eu estava desistindo.