Somebody That I Used To Know escrita por Luke Lupin


Capítulo 3
“I’m as free as my hair”


Notas iniciais do capítulo

Hair - Lady Gaga



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Mais rápido do que sua vontade queria e que seu cérebro podia processar, Billie já estava tão perto de Henry que ele nem teve chances de poder sair dali. Vergonha? Jamais. Medo, apenas medo. Mesmo que ele não pudesse definir exatamente do que tinha medo. Para todos os conceitos, Henry nunca teve medo de falar com garotas, seja para conversar ou para beijá-las. Não era, também, nenhum galanteador, na verdade, estava bem longe disso.

Em todas as suas quinze (quase dezesseis) primaveras vividas, Henry tinha ficado com total de zero duas garotas. E tinha gostado muito delas. Nos momentos em que ocorreram, ele e as garotas tinham um ótimo relacionamento, tão ótimo que eles se mantinham até hoje, mesmo que apenas como amigos (incrivelmente ou não, a tão impossível “amizade com ex” acontecera todas as duas vezes, provavelmente causada pela mudança de cidade). E Henry não tinha ficado com medo de nenhuma delas.

Mas com Billie era diferente, sabe-se lá porque tão diferente, mas era.

— Então, será que seu Doctor preferido é o primeiro? – perguntou a garota tão repentinamente que Henry se assustou e a encarou assustado.

— Nono, na verdade. – Respondeu, depois de tomar inteiro conhecimento do que a garota tinha falado. – Mas tenho certeza que o seu não é o primeiro.

— É – ela riu sem graça e passou a mão pela nuca – de fato não é... Meu preferido é o décimo primeiro, mas aquilo na aula de português, eu não sei nem explicar, até eu fiquei em choque depois... Mas e o seu poema, hein? Poderoso.

“Oh, lord”, o garoto se desesperou internamente. “Ela ouviu um poema meu. Trinta pessoas ouviram um poema meu. Na minha voz. Meu Rá.”

— Bom... – o garoto recomeçou meio transtornado – eu não queria falar sobre meus poemas, exatamente... Não gosto muito e tal... mas o seu, sim, foi muito bom.

Então o silêncio reinou. Era engraçado, porque Henry queria continuar a conversa, talvez falar de Doctor, ou de livros, ou de filmes, ou de qualquer outra série, ou do que a garota gostasse. Mas ele simplesmente não conseguia. Estava travado.

— Olhe – talvez como uma mensagem divina da deusa Hera, uma mesa ficou livre e Henry viu aquilo como uma ótima oportunidade para quebrar o gelo e para fazer com que aquela garota parasse de encará-lo diretamente nos olhos, porque estava ficando desconfortável – uma mesa, gostaria de sentar?

Billie fez que sim com a cabeça e isso permitiu a corrida de Henry até a mesa, para ver se conseguia colocar os pensamentos em ordem antes que a garota sentasse em sua frente e o encarasse dura e pesadamente de novo.

— Então... – ela começou, e incrivelmente a conversa fluiu.

Claro que, no começo, Billie perguntava algumas coisas e depois tinha medo de responder qualquer pergunta vinda de Henry, mas o gelo rapidamente foi quebrando e a comunicação foi tomando conta do ambiente.

Sobre a vida de Billie, Henry descobriu que: ela tinha dois irmãos mais novos, um com onze outro com treze anos; ela morava com os pais na mesma casa desde que eles tinham se mudado dos EUA, fato que tinha acontecido quando ela já tinha quatro anos, por isso ainda um pouco do sotaque, o qual ela fazia questão de manter, mesmo que algumas pessoas rissem; ela possuía dupla nacionalidade; sua família inteira por parte de pai era, naturalmente, brasileira enquanto a por parte de sua mãe era completamente do sul dos EUA, mais exatamente do Texas e ela não os via desde que tinham saído de lá.

 Quando foi perguntado sobre sua família, Henry procurou resumir sua vida bem rapidamente e excluiu a parte sobre o falecimento do pai. Contou sobre morar praticamente sozinho, sobre o quanto sua mãe trabalhava e sobre seu irmão, demorando mais nesta parte, pois gostava de falar do irmão. Billie pareceu bem curiosa e com vontade de perguntar mais sobre a vida do garoto, mas foi impedida naturalmente, talvez pela questão de bom senso.

 Sobre os sonhos para o futuro e qual rumo ela iria querer tomar para a vida, Henry descobriu que a garota tinha sonho de estudar em Harvard e em Oxford, independe de qual ordem ou quando fosse estudar, desde que estudasse; queria estudar química como primeira formação e depois fazer pesquisa até o fim de sua vida, tinha como sonho principal ganhar o Nobel; ao mesmo tempo, queria viajar e poder conhecer vários países, em sua lista entravam lugares como França, Bélgica, Índia, China, Austrália, África do Sul, Egito e Rússia, além de todas as sete maravilhas do mundo moderno.

Quando Henry foi perguntado sobre qual carreira iria seguir e quais eram seus sonhos, ele apenas respondeu que tinha como objetivo estudar engenharia química e que faria aquilo acontecer de qualquer jeito, depois de conseguir, deixaria a vida levá-lo para onde os ventos soprassem, mas com certeza visitaria Londres em algum momento da sua vida.

O terceiro assunto que veio foi o que mais manteve a conversa viva e animada: gostos pessoais. Quando Henry ouviu a resposta, realmente já esperava por aquilo, principalmente depois de ter visto que a garota tinha um fichário com a nave espacial do Doctor, afinal, eles compartilhavam dos exatos três hobbies, que era basicamente o que ele usava para descrever sua vida e que foram falados pelos dois no exato mesmo tempo, assim como foi com a abertura de Doctor Who, e os hobbies proferidos foram: livros, séries e filmes.

Era possível ver os olhos dos dois brilharem enquanto falavam as três palavras mágicas em uníssono. Não haveria um único diamante mais poderoso do que aqueles dois pares de olhos em todo o mundo.

O primeiro assunto, claro, foi a tão adorada série britânica da BBC Doctor Who, aquela que conta a história de certo alienígena que é o último da sua espécie e viaja pelo espaço-tempo em sua espaçonave em forma de cabine telefonia azul e que é maior por dentro. Os dois garotos quase subiriam em cima da mesa que estavam e começaram a gritar um para o outro coisas que gostavam sobre a série, mas se contiveram porque era o primeiro dia de aula.

Billie tinha como Doctor preferido o décimo primeiro, seu otp era Idris/11th, sua lista de episódio favoritos eram: Blink, Silence in the Library, The Empty Child, The Doctor Dance, Asylum of the Daleks, The Angels take Manhattan e The Unicorn and the Wasp. Sua temporada preferida era a quinta e a melhor companion para ela foi Amelia Pond, além de seu otp, também gostava de Amy/Rory e Rose/10th. Henry ficou surpreso ao ouvir essas declarações e refletiu um pouco antes de falar as suas. O fato mais curioso foi ela gostar de um episódio que ele quase nem se lembrava de ter visto, Donna era sua companion preferida, mas aquele episódio passou em branco na memória dele(*), a próxima coisa foi o seu otp, realmente podia contar nos dedos o número de pessoas que gostava de Idris/11th e não passaria da primeira mão; a coisa mais interessante eram seus episódios favoritos, já que combinavam na maioria.

Henry informou à garota que sua companion favorita era Donna, já que ela já sabia quem era seu Doctor; seu otp era Rose/10th e ele concordou que não tinha sentido nenhum em suas preferências. Sua lista de episódios era composta por: Rose, Blink, The Empty Child, The Angels take Manhattan, When a Good Man goes to War, The Wedding of River Song, The Impossible Planet, Doomsday, The Shakespeare Code e Silence of the Library, a cara de quase admiração que fazia Billie era engraçada de se ver.

A conversa continuou rolando e eles continuaram falando de Doctor Who. Tempos depois, Henry perguntou quais outras séries a garota assistia e o assunto continuou seguindo seu rumo. Falaram de Community, How I Met Your Mother, Friends, Sherlock, Once Upon a Time, American Horror Story e The New Normal. Saltavam de uma série para outra com a maior simplicidade, citavam personagens e quotes de séries tão distintas que algumas pessoas não conseguiriam acompanhar, cada um tinha uma determinada opinião bem forte sobre cada série e sobre o que achavam dela.

Falaram tão animada e rapidamente que eles se surpreenderam com o som do sinal que sinalizava o final do intervalo preencher todo o pátio. Ainda conversando, porém diminuindo o nível de excitação, eles saíram da mesa e seguiram o caminho para a sala. Henry tinha ficado realmente triste de ter apenas quinze minutos, queria tanto saber sobre o gosto de livros da garota.

— Hey – disse Henry, faltando pelo menos dez metros para a entrada do prédio. – Posso te fazer uma pergunta? – a garota fez que sim com a cabeça. – O que seus pais acham do seu cabelo? Não que eu ache que está feio – acrescentou rapidamente, vendo a cara de tristeza da garota – na verdade eu acho muito foda, mas os pais né... não são todos que aceitam.

— Eles não gostam. – Ela responde, voltando sua expressão facial para o modo normal. – Na verdade, eles odeiam. Mas eu parei de ligar pra isso depois da terceira vez que eu retoquei essa cor. Sabe, eu preciso de um jeito de me expressar, porque eu não gosto muito de sair falando e escrever nem sempre é possível, então escolhi meu cabelo. Eu normalmente mudo a cor dele a cada quatro meses, mas essa cor ficou ano passado inteiro, claramente por causa de Doctor. Eu estou pensando se deixo assim ou se eu troco, de qualquer jeito, só terei que mudar em Março.

— Eu acho essa cor bem legal. – Disse Henry, sem saber exatamente se deveria acrescentar algo.

Faltando pouco para chegarem até as escadas que os levariam para a sala, Billie e Henry foram barrados por dois seres humanos.

Um deles era uma menina. Meio alta, mas ainda menor que o outro ser. Morena de cabelo, olhos azuis claros como o céu, mais claros que os de Henry. Suas maçãs do rosto eram muito bem marcadas e seu sorriso natural capaz de derrubar muralhas, seus cabelos castanhos caiam para trás dos ombros onduladamente magníficos, as finas sobrancelhas eram marcadas tão perfeitamente que nem pareciam reais. Usava calça jeans, all-star preto e um blusão de moletom roxo. Um colar com coruja tomava conta de seu pescoço, combinando perfeitamente com os brincos de um único diamante que habitavam cada uma das orelhas. Aquela garota era tão linda que com certeza era uma das filhas de Afrodite, talvez a mais bonita delas.

O outro ser era um menino. Mais alto que a garota, porém um pouco mais magro. Tão bonito quanto. Olhos verdes. Cabelos loiros e compridos o suficiente para chegar ao final da nuca, porém sem tocar diretamente os ombros, uma franja um tanto quanto longa cortava seu rosto da direita para esquerda e escondia parte de sua testa, e que provavelmente cobririam seus olhos de vez em quando. O sorriso tão poderoso quando o da pessoa que o acompanhava, porém sem ter exatamente as maçãs do rosto marcadas. Sobrancelhas grossas e lábios um pouco finos completavam a descrição do estereótipo de beleza atual. Vestia uma camiseta de banda (cuja qual Henry não tinha ideia de qual era), jeans e tênis preto.

Aquele casal era um dos mais lindos que Henry já tinha visto na vida. Sabia que era um casal, porque no momento em que foi barrado, seus olhos naturalmente estudaram os corpos protetores de cima a baixo, marcando certos pontos de expressão e alianças iguais em seus dedos anelares da mão direita. “Já estou com inveja dos filhos que vocês vão ter, então tomem cuidado. Eu me benzia agora e torcia para a macumba não dar certo”.

— Bichos! – exclamaram os dois ao mesmo tempo. “Cara, por que as pessoas gostam de falar ao mesmo tempo? I mean, why.”

— Bichos! – respondeu Billie, no mesmo tom de animação. – Aposto que vocês devem ter visto vários, já. E já foram um deles. Podemos passar?

— Bichete, seu cabelo é simplesmente lin-do – comentou a garota, como se o dela fosse muito feio – sou Gabriela, do terceiro J, e esse é Gabriel, do terceiro B. – Henry riu.

— Ei! – disse o maior, tentando impor respeito. – Qual é a graça, cara?

— Bom, não é sempre que se encontra um casal com praticamente o mesmo nome. Mais coincidência que isso só se vocês fossem gays... ou lésbicas. Namoram juntos desde o primeiro ano?

— Sim. – respondeu Gabriela, meio que chocada pelo garoto ter acertado, e depois beijando Gabriel. – Vocês estão sabendo do trote? – os garotos fizeram que não com a cabeça – Bom, todo ano entram pessoas novas, e sempre fazemos meio que uma brincadeira com eles, para eles se enturmarem e se conhecerem melhor, ou conhecer melhor o pessoal dos outros anos. Foi lá que eu conheci o Gabriel. – Ela passou a mão na bochecha, o garoto sorriu, meio bobo. Billie nem piscava olhando para o sorriso do menino. – E nós estamos convidando vocês! Sempre, ou quase sempre, os bichos acham veteranos para o trote, e nós somos veteranos e estamos nos oferecendo, e aí, topam?

— Claro! – respondeu Billie, espantosamente rápido depois do transe que estava. – A que horas é?

— Quatro e meia. – Respondeu Gabriel. – Vamos todos nos encontrar na frente do portão de entrada. Procurem-nos por lá. Os dois. E chamem amigos! – Concluiu o garoto, saindo com a namorada no exato momento em que a próxima professora entrava na sala.

— Você vai, não é? – Cochichou Billie para Henry, quando percebeu que o garoto estava com a cabeça meio fora de órbita. A resposta que recebeu foi um sim frenético com a cabeça e a última coisa que viu foi ele indo se sentar na fileira da janela.

“Cara, eu falei que ia com a Billie para o trote. Mas a real mesmo é que eu estarei morrendo de sono às quatro da tarde. As vezes eu me surpreendo com a minha capacidade mental de fazer coisas que não devia.”

— Olá – começou a nova professora. Altura normal, tinha no máximo cinquenta anos e era meio “cheinha”, por assim dizer. Usava uma jeans branca e uma camiseta com paetês aleatórios na barra e perto da gola e vestia um jaleco branco sujo de giz colorido por cima de tudo. – Sou a professora de matemática de vocês.

“Eu vou pedir para que vocês façam uma conta de dividir pra mim, porque eu preciso ver o nível que cada um está. Infelizmente, alguns alunos vêm de escola pública e outros de escola particular, e na pública os alunos vão passando de ano sem saber nada, aí chegam ao ensino médio precisam ter que aprender tudo desde a base só para entender o conteúdo do momento. E isso está errado! Vamos, peguem seus cadernos e dividam 491 por 7.”

Henry não tinha ideia se a professora falava verdade ou brincava e só veio ter a confirmação daquela ordem quando a própria foi escrita na lousa, em giz branco. “Ai, cara, é real?”. Lutando contra todas as suas vontades de ter que fazer uma conta de dividir no primeiro dia de aula, Henry efetuou a divisão. Uma dízima periódica.

Elizete deve ter dado no máximo cinco minutos até começar a perguntar a todos os alunos quais foram os quocientes obtidos, um por um. O resultado de Henry foi 70,14 e o dele bateu com pelo menos metade da sala, a outra metade tinha conseguido o resultado 7,14. No final, Henry tinha acertado e a outra metade não, o que fez com que a professora conseguisse dar o sermão mais engraçado e meio sem sentido da história.

Tudo que Henry fez foi se debruçar sobre seus braços e encarar seu caderno em branco, deixando todas as palavras que saiam da boca da professora entrarem de um lado e saírem do outro, até que sentiu a pessoa atrás dele o cutucando. Levantou a cabeça e a professora o encarava.

— E você? – Ela perguntou do nada, apenas encarando-o com uma pseudo cara de bulldog.

— E eu o quê, professora? – Perguntou Henry, sem saber de nada.

— Qual seu nome?

— Henry.

— Você acertou a conta, Henry?

— Acertei.

— Ah, muito bom. – Terminou a professora, fazendo vários “sins” com a cabeça como se tivesse concordado com alguém maior que ela, que estava em sua frente, mas sem parar de encará-lo, apenas parou para colocar os óculos na cabeça e voltar sua atenção para a lousa. “Esse ano vai ser muito longo, cara.”

Henry já tinha aturado aquela aula por mais de duas vidas quando o sinal finalmente bateu. O suspiro de alívio foi mútuo e de certa forma cômico. Mas ainda tinham duas aulas até o almoço. Duas. Longas. Aulas.

Uma de história e outra de geografia.

Henry gostava das duas matérias, mas primeiros dias de aula são um saco depois da primeira aula, Henry já tinha dito seu nome três vezes para os professores e estava com vontade de gravar em seu celular o seu nome e clicar no botão para repetir todas as próximas aulas, quando todos os próximos professores perguntassem o nome para a sala.

A professora de História, chamada Orfeia, pediu para que todos se apresentassem falando seus nomes e idades, depois deixou todos livres para fazer o que quisessem, porque a aula de verdade só começaria na próxima vez que se encontrassem. Henry não tinha ideia de como iria gastar seus quarenta minutos restantes, estava prestes a começar a fazer distribuições eletrônicas aleatórias em seu caderno, quando sentiu os dedos de Bruno em suas costas novamente e, ao virar, encarou o garoto.

— Oi – cumprimentou Henry.

— Oi – respondeu Bruno.

E um silêncio eterno caiu entre os dois. O mais engraçado, era, na verdade, o fato de Bruno tê-lo chamado, mas não ter sido ele quem cumprimentou primeiro ou quem tentou continuar a conversa.

— Você quer me dizer alguma coisa, Bruno?

— Eu quero conversar com alguém... – Respondeu o garoto, tímido, olhando para baixo e mexendo freneticamente a capa da borracha. Henry sorriu ao olhar para o garoto daquele jeito, era engraçado conhecer alguém tão tímido assim. Em todo caso, começou a conversar com o garoto.

Demorou um tempo até que o outro menino de fato começasse a falar mais coisas que monossílabos, mas depois que aconteceu, foi legal conversar com ele. Bruno era mente aberta e sempre parava para ouvir opiniões, independe sobre o que elas fossem. Gostava de todos os tipos de música, mas realmente preferia rock.

Bruno vinha de família tipicamente espanhola, mas nascera no Brasil. Todos os seus bisavós eram da Espanha, mas seus avós tinham vindo para o Brasil e criado seus filhos aqui, só retornaram para a cidade natal depois de vê-los crescidos e com a vida praticamente ganha. Tinha um irmão dois anos mais velho que era bem diferente dele, mas tinha os seus pontos positivos de vez em quando. Seus pais eram um casal normal e estavam juntos há quase vinte anos. As únicas séries que assistia eram Supernatural e CSI, quaisquer outras não acompanhava como acompanhava essas. Seu sonho era fazer farmácia e seguir no ramo, deixando com que os ventos o levassem para onde soprassem.

A conversa dos dois seguiu animada até quando o sinal bateu e a professora de Geografia já estava na porta, segurando um rádio, uma bolsa com vários livros e com sorriso de orelha a orelha estampado no rosto.

— Henry, você conhece algum lugar para almoçar?

— Nem conheço, cara.

— Eu sei de um lugar, se você tiver afim, a gente pode ir lá...

— Ah, que ótimo, pra mim fechou.

A professora tinha conectado o rádio na tomada e, sem nem se apresentar, colocou uma música para tocar. Era o som de água caindo, pássaros cantando, vento batendo em árvores, sapos coaxando. Relaxante. Ao longo do tempo, as pessoas foram ficando em silêncio e encararam a professora.

— Olá, sou a professora Dalva, leciono Geografia. – A voz da professora era tão calma e tão relaxante que qualquer tipo de tensão desapareceu. Ela começou a falar coisas sobre sua vida e sobre os planos que tinham para aquele ano. Sua voz era como uma droga relaxante e um sonífero.

Henry não conseguiu prestar muita atenção no que a professora declamava, mas pegou a parte que teria que falar seu nome em voz alta (como sempre), sua vez chegou, ele falou, o ritual prosseguiu. Depois que todos falaram, a professora deu mais um sorriso, juntou as mãos em forma de concha e encarou a sala inteira. Então, sentou-se em sua mesa e colocou as mãos sobre a mesa, fechou os olhos e deixou a coluna ereta.

Não se mexeu até ouvir o sinal tocar.

No meio tempo, a sala foi tomada por cochichos, Henry se virou para trás e cochichou algumas brincadeiras sobre a professora e Bruno riu, além de também ajudar com mais brincadeiras.

Assim que o sinal tocou, a professora abriu os olhos, respirou fundo, pegou o rádio, levantou-se e olhou para a sala.

— Teremos um ótimo ano. – E saiu.

Todos se entreolharam e ficaram pasmos com a cena. Dois minutos depois, alguém deve ter lembrado que aquela era a última aula antes do almoço, então podiam arrumar suas coisas e saírem.

Henry e Bruna saíram juntos e seguiram o caminho para o portão do colégio. Estavam prestes a sair quando ouviram um grito em suas costas. Era Billie e estava correndo para encontrá-los.

— Vocês conhecem algum lugar para comer? – ela pergunta para os dois, mas claramente a pergunta era para Henry, ela evitou olhar nos olhos de Bruno.

— A gente está indo para lá agora... – disse Bruno, antes que Henry conseguisse formular qualquer tipo de resposta – Venha conosco. – Então Billie foi obrigada a olhar para Bruno, sorrindo timidamente. – Sou Bruno, a propósito.

— Billie. – Se apresentou, estendendo a mão e sorrindo mais abertamente.

Bruno começou a andar e logo foi seguido pelos outros dois. Henry continuou conversando com o garoto e Billie ficou meio que de fora da roda de conversas, ficava mais ao canto da calçada, mexendo freneticamente em seu celular e conseguindo ao mesmo tempo desviar de pessoas, buracos, atravessar a rua e saber exatamente quando parar para o sinal vermelho.

— Quem é esse de fundo do seu celular? – perguntou Bruno, enquanto observava curioso a capacidade da garota de poder fazer tudo ao mesmo tempo e não ter nenhum problema com isso.

— É um ator... – comentou a garota, apertando um botão apenas para mostrar novamente a foto do tal ator. – Acho difícil você conhecer... Ele chama Benedict Cumberbatch. – A garota sorriu e olhou para Bruno, que estava com um olhar engraçado, meio querendo rir do nome e meio chocado com a foto em si.

— Aposto que sei qual foto é! – disse Henry, animado. – Benedict como Sherlock, em a Scandal in Belgravia, ele está envolto por um lençol e sorri de um jeito estranho. – Billie apenas virou o celular com a exata foto descrita e riu animadamente com Henry, enquanto Bruno refletia internamente o que era aquilo.

— Você é foda, Henry. – Disse Billie, recuperando-se do riso.

— Você também, Billie. – Respondeu.

— Eu adoraria saber sobre o que vocês estão falando, cara. – Disse Bruno, olhando alternadamente para os dois. – E, aliás, chegamos.

O lugar era bem apresentado, amarelo-terra por fora e uma placa com o nome do local, “Vida, Comida”, em vermelho no topo. Um estacionamento na calçada e duas portas de vidro espelhado que não mostravam o interior do local.

— Ele é um ator de uma série que a gente assiste. – Explicou Henry, enquanto entravam no tal restaurante. – Ele chama Benedict Cumberbatch, como Billie disse, e faz Sherlock, uma das melhores séries para mim. E não tem como ver Sherlock e não achar o Benedict foda, ele é tipo, o Sherlock Holmes em pessoa. – E então prestou atenção no lugar que entrara.

Era normal, bem iluminado, várias mesas juntas, algumas sozinhas, no meio um lugar com várias comidas e logo depois um caixa com uma balança.

— O melhor de tudo é que é barato. – Exclamou Bruno, enquanto olhava para o local em geral e encontrava uma mesa para deixar sua mochila.

Henry, Billie e Bruno rapidamente se ocuparam numa mesa e foram montar seus pratos. Henry não estava com muita fome, então não colocou muita coisa no prato. Arroz, feijão, alface, tomate, um pouco de batatas e carne moída. Sentou-se a mesa e aguardou a volta de seus amigos para começar a comer. Quando voltou, o prato de Billie tinha apenas arroz integral com cenoura e vários legumes e verduras diferentes; já o de Bruno era quase igual ao de Henry, só que sem a parte saudável.

— Você é vegetariana? – Pergunta Bruno a Billie, que responde que sim com a cabeça. – Eu gostei do seu cabelo, você só pinta de azul?

— Não, na verdade era para eu ter trocado de cor, mas eu gostei tanto desse tom de azul que eu achei digno que ele ficasse pelo menos meu primeiro mês de aula... De qualquer jeito eu pinto a cada quatro meses e...

Foram interrompidos por algumas exclamações histéricas vindas da porta de entrada, quando viraram, viram Gabriela e Gabriel lá. A menina encarava a mesa deles com um olhar de grande felicidade.

— Então os bichos já encontraram um lugar para comer. – Comentou Gabriel, chegando mais perto da mesa e cumprimentando Henry e Billie. Terminou por encarar Bruno. – E esse, quem é?

— Bruno, Gabriel. Gabriel, Bruno. – Apresentou Henry, os garotos apertaram as mãos.

Gabriel saiu da mesa e foi se servir enquanto Gabriela puxou papo com Billie animadamente. Estavam falando de cabelos e o que cada uma fazia para deixá-los melhores e mais lisos, ou qual condicionador usava, se faziam chapinha ou se o cabelo era natural, qual a frequência de lavagem, quanto tempo durava a tinta, quantas cores Billie já tinha pintado e o que seus pais achavam daquilo.

— Eu estava pensando de fazer umas mechas vermelhas no meu cabelo – comenta Gabriela, depois de já ter pegado sua comida e sentado ao lado de Billie. – Você acha que ficaria bom?

— Acho que sim – respondeu a garota, depois de terminar de mastigar a última garfada de comida. – Se você quiser, eu posso fazer, você só precisa comprar a tinta e marcar o dia.

Gabriela deu um pequeno ataque de felicidade sentada na mesa, soltou gritinhos e teria abraçado Billie caso seus braços fossem maiores ou a distância entre elas menor. Depois disso, se é que era possível, ela ficou mais animada ainda e começou a puxar assunto sobre coisas aleatórias como música, livros, hobbies.

— Sim, ela é sempre assim. – Cochichou Gabriel para Bruno, que assistia a cena das duas conversando com olhar vidrado e chocado. – Mas com o tempo você se acostuma, ela é bem legal, inteligente e, claro, extrovertida. É bem difícil não gostar dela, no final... Ela é uma das alunas do terceiro ano mais conhecida em toda escola. É pior que político na rua em dia de campanha. – Então ele voltou a comer.

Henry voltou a conversar com Bruno sobre Sherlock e logo depois convenceu o garoto a assisti-la, depois passaram o resto do almoço conversando sobre assuntos aleatórios. Enquanto conversavam, Henry sempre olhava rapidamente para Gabriela e Billie e via que as duas estavam mesmo se dando bem. Aparentemente, a conversa sobre cabelos já tinha sido de fato concluída e agora elas estavam brincando de ping-pong com gostos pessoais. Henry adoraria estar ouvindo tudo que elas diziam, mas ou a voz de Bruno era excessivamente alta, ou a delas muito baixas.

Bruno bombardeava Henry com perguntas e ele respondia mecanicamente, sem pensar realmente sobre elas. Em vez disso, resolveu observar Gabriel por um tempo maior. O garoto comia lentamente, com a cabeça baixa e até mesmo de um jeito desanimado. Aparentemente, toda alegria que tinha em Gabriela, faltava em Gabriel.

— O que você está olhando? – Perguntou Bruno, quebrando toda linha de raciocínio mental que Henry já tinha desenvolvido sobre o outro garoto.

— Agora, nada. – Respondeu, virando o rosto e voltando a olhar para Bruno.

Terminaram de comer, pagaram a conta e saíram. O caminho de volta para a escola pareceu ser muito mais rápido do que o de ida. Gabriela e Gabriel acompanharam-nos de volta a escola e, exatamente como Gabriel disse, Gabriela conhecia onze de cada dez pessoas que passava na rua.

— Vocês vão ao trote, não vão? – Pergunta Gabriela quando chegam ao portão da escola, recebendo “sins” com a cabeça de Billie e Henry. – Você também vai, não é, Bruno?

— Vou? – perguntou respondendo Bruno, arregalando os olhos porque aquela garota sabia o nome e ele não se lembrava de ter dito para ela.

— Acho bom. – Disse a garota se virando e pegando o caminho para seu prédio, sendo seguido por Gabriel, que abraçou sua cintura e inclinou a cabeça para o lado, tentando se igualar à da garota.

— Tão shippáveis. – Disse Billie.

— Tão shippáveis. – Concordou Henry.

— Apenas acho que vocês devem fazer um dicionário para mim, porque, se formos continuar andando juntos, não quero ter que ficar perguntando toda hora o que cada coisa estranha que vocês dizem significa, parece que elas perdem toda a graça do momento depois que eu pergunto.

Rindo, Billie, Henry e Bruno entram em seu prédio novamente e seguiram para a sala. Sentaram em seus lugares e aguardaram a entrada do/da nova/novo professor/professora.

Dessa vez, Bruno começou a puxar assunto com Murilo, o garoto que era do grupo deles e que sentava exatamente ao lado de Bruno, deixando Henry sozinho. Mary-Ann conversava com Lucia em algo que parecia mais um monólogo do lado de Mary, mas que era possível perceber a vontade que ela tinha de fazer a mais tímida se soltar.

Por hábito, Henry pegou seu celular para ver se tinha algum sms, ou atualização e para ver a hora, então ouviu uma voz bem conhecida ao seu lado.

— O que é isso? – perguntou Larissa chegando bem perto do celular que entrou na frente da visão de Henry. – Por que alguém teria uma cabine telefônica azul como fundo de tela de celular?

— Porque ela é maior por dentro. – Respondeu Henry, olhando para Larissa, que, confusa com a resposta do garoto, riu alegremente.

— Do que é que você está falando?

— Oh, nada. Esqueça.

E então quem começou a conversar com Henry foi Larissa, provavelmente pelo fato de que os dois eram do mesmo grupo nas aulas de português, e Larissa era muito simpática e engraçada, bem fácil de manter o papo sem se cansar ou forçar a continuação. A conversa já tinha durado uns dez minutos sem descanso, até que a nova professora entrou em sala.

Alta, muito alta, magra e loira. Olhos claros, óculos e mãos ossudas. Quando falou, de sua boca saiu uma voz bem fina e bem audível de qualquer canto da sala.

— Olá, sou a professora Norberta, de química inorgânica, muito prazer conhecer todos vocês. – A essa altura, a sala inteira já estava quieta e todos olhavam a professora com certo respeito. – Todos os dias, depois do horário do almoço, vocês terão aulas direcionadas ao técnico cujo qual se inscreveram no caso química. O coordenador do curso de Química é a professora de orgânica, que já devia ter chegado, mas aparentemente se atrasou, ou se perdeu.

“Como assim se perdeu?”, pensou Henry, no exato momento que uma pessoa baixinha, gordinha e com um avental batia na porta.

— Olá, olá, olá, garotada nova. – Disse a professora, entrando na sala e enganchando seu avental no trinco da porta, o que quase deixou-a sem ele. – Opa, opa, opa. Calma, calma. Bom – disse a tal professora, ainda rindo. – Sou Alma, professora de química de orgânica e coordenadora do curso, qualquer dúvida com o curso podem me procurar ou na sala de aula ou na minha sala no final do corredor, seguindo reto assim que sair dessa sala. – Nesse momento, ela já estava ao lado de Norberta e já tinha derrubado o apagador, tropeçado e quase caído ao se apoiar na cadeira. A sala inteira queria rir, mas se seguravam ao máximo.

“Bom, basicamente, vocês terão sempre duas aulas depois do almoço, acho que a professora já os informou disso, poderão ter acesso ao laboratório sempre junto com outra pessoa ou com a professora. Se tiverem algum trabalho e precisarem de reagentes ou de alguma instrução, podem me procurar ou qualquer outro professor do curso que se sentirem mais confortáveis. Espero que vocês gostem e curtam o curso e, obviamente, não desistam.

“Agora eu preciso ir, porque eu esqueci algo na minha sala e não consigo me lembrar o que é...”

E saiu. Mas não sem antes de se esbarrar numa mesa e deixar a porta bater forte demais.

— Ela pode ser meio desastrada, mas é um gênio da química, acreditem. Vocês provavelmente terão aula com ela pelo menos esse ano. – Disse a professora, assim que a outra saiu e teve uma distância segura – Bom, primeiro dia de aula é aquela coisa. Quero saber o nome de vocês e depois podem ficar fazendo qualquer coisa até os dois sinais baterem, porque hoje as duas aulas são minhas.

Nomes ditos, dúvidas tiradas, as conversas tomaram conta.

Larissa voltou a conversar com Henry e a conversa ficou ainda mais animada. Vira e mexe Henry pendia seu olhar para Billie e Bruno, apenas para vê-los. Um dos passatempos de Henry era exatamente esse, ficar observando pessoas e tentando entender suas expressões corporais, provavelmente um resquício do vício em uma de suas séries preferidas, o que não quer dizer que sempre entendia o que via, que fique claro.

O tempo, literalmente, voou. Em poucos minutos o sinal já batia e Henry chamava Larissa para o trote e, junto com Billie e Bruno, ambos seguiram para o pátio.

Ainda tinham pelo menos uma hora até que fossem de fato para o trote, o que os dava muito tempo para continuar a conversar. Dessa vez, entretanto, a conversa foi entre os quatro. Futuro, preferências, opiniões sobre o primeiro dia, professores, aulas, o que esperavam para as outras aulas foram tópicos da conversa.

Quatro e meia chegou e eles foram para o portão onde Gabriel disse que a aglomeração de pessoa estava. E realmente havia uma aglomeração de pessoas. Para falar a verdade, Henry nunca tinha visto tanta gente junta num mesmo lugar para um mesmo objetivo. Nunca.

Procurar por Gabriela não foi necessário porque ela os encontrou mais rapidamente, sendo seguida como uma sombra por Gabriel. Ela cumprimentou a todos e perguntou quem era Larissa. Afastou-se por um minuto e depois voltou com suas mãos cheias de tinta e, sem nem esperar, jogou em Billie e Henry, sendo seguida por Gabriel, que jogou em Bruno e Larissa.

E tudo apenas começou ali. Depois dos jatos de tinta, Gabriela fez questão de tornar o cabelo de Billie uma zona e a camiseta de Henry qualquer cor, exceto branca. Usou seus indicadores para fazer marcas nas bochechas como se fossem índios e usou sua mão para tatuar as calças de cada um. A tinta vermelha praticamente tomou conta de tudo, o cabelo de Billie parecia qualquer coisa, menos o tom azul-tardis.

No começo, Henry tinha se desesperado, mas depois entrou na brincadeira e começou a aceitar as tintas de boa, rindo cada vez que recebia jatos de tinta. Olhando para Billie, podia ver que ela se divertia do mesmo jeito, e assim era com Bruno e Larissa, mesmo que esta última tivesse ficado mais tempo histérica.

— Queria saber quem é Manet perto de mim, beijos. – Disse Gabriela, olhando como um todo para Billie e Henry e vendo que suas cores eram poderosamente confusas. – Agora podem ir pegar dinheiro no farol.

Inicialmente, acharam que ela estava brincando, mas depois do olhar sério vindo daqueles olhos azuis eles viram que não era.

— Vamos, nós vamos com vocês.

E eles saíram.

Havia uma avenida muito bem movimentada a poucos metros da escola e o caminho para ela nunca foi tão colorido. Ao chegarem lá, várias pessoas passaram na frente dos carros e foram pedindo dinheiro.

A cena era muito curiosa de se ver, nenhuma das pessoas estava com vergonha, nem mesmo Bruno, que era a pessoa mais tímida que Henry já tinha conhecido. Ficaram, pelo menos, duas horas na avenida, Henry já não sentia mais suas pernas, mas ainda continuava passando pelos carros porque a cara que os motoristas faziam era impagável. Quando estavam para completar a terceira hora, Gabriela os chamou.

— Olhem, água para vocês. Sim, eu sei que sou legal, não precisam me dizer. – Todos os quatro beberam os 500 ml da água num único gole e sorriram um para o outro. – Vocês são fodas, é tudo que eu tenho para dizer, no meu ano eu não consegui metade do que vocês conseguiram.

— O que vocês vão fazer com o dinheiro? – Perguntou Billie.

— Bom, o certo seria a gente dar o dinheiro para juntar com o resto, mas eu não acho justo o que eles fazem. Então, a gente marca um dia e podemos sair para gastar tudo isso, vai ser bem mais legal do que dar o dinheiro para o que quer que eles façam. Me senti roubada no meu ano.

— Awn, Gabriela – disse Henry, se aproximando dela e do namorado. – Vocês são tão legais. – E abraçou ambos, os envolvendo num mar de tinta seca e molhada, sendo seguido pelos outros três. – Que eu acho que devemos compartilhar a tinta.

E todos riram.

Henry era o único que iria para um ponto de ônibus diferente dos outros, por isso foi o que ficou mais tempo sozinho.

O caminho para casa foi engraçado, porque todos ficaram olhando para ele com cara espantada e olhos arregalados, seguravam o riso e tentavam não perguntar “o que de errado havia acontecido”. Voltar pareceu bem mais rápido do que ir, como sempre. Em minutos que foram horas, já estava subindo no elevador para seu andar, almejando um bom banho quente e sua cama.

Assim que entrou em sua casa, tirou sua roupa assim que fechou a porta, correu para a área de serviço e tacou as roupas no tanque, deixando lá para decidir o que faria com elas mais tarde. Andou até o banheiro e entrou no banho, deixando água quente cair pelo seu corpo, fazendo-o relaxar e fazendo com que o sono criasse vida novamente.

Esfregou-se com força e fé para tirar toda a tinta e lavou seu cabelo com xampu pelo menos quatro vezes, até que toda a tinta parecesse ter saído. Saiu, se secou e colocou uma cueca preta.

Foi para seu quarto, fechou todas as janelas e se deitou na cama, deixando todo o sono contido e antes expulsado tomar conta de seu corpo por inteiro, desde os músculos até ao funcionamento do cérebro, em poucos segundos seus olhos já se fechavam e sua mente partia desta dimensão para outra, deixando-o apenas pensar nas pessoas fantásticas que tinha conhecido naquele dia e o quão forte provavelmente seria a amizade entre eles em três anos.


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Notas finais do capítulo

Hera - deusa da família, rainha do Olimpo (mitologia grega)
(*) O episódio referido é "The Unicorn and the Wasp", um dos quais Billie gosta
Afrodite - deusa da beleza (mitologia grega)
hope you guys like it, sorry for taking so long to post :x