No capítulo anterior...

– Sei que há pureza em seu coração para me perdoar, Safira.

– Perdoar eu posso, mas não esquecerei.

– Safira, eu...

– Será que poderei confiar em você, novamente?

POV Rupert

- Mas é claro que sim!

- Terá que provar para mim. - Ela se jogou para trás.

- Safira! - Segurei sua mão com toda a força.

Ela parecia confiante quando se jogou em direção ao mar, mas quando teve noção do perigo, se assustou.

- Por que fez isso?

- Não me solte! Por favor! - Ela gritava, desesperada.

- Vou buscar ajuda.

- Não! 

- Não?

- Quero a sua ajuda porque sei que quer a minha confiança.

- Safira, eu não...

- Devo ter confiança em você, Rupert? - Ela não me chamava pelo nome. 

- Safira, pare!

- Salve-me, capitão! - Ela se acalmou um pouco. - Salve-me...

- Vou te puxar. - respirei fundo. - Um, dois... Três! - Fiz força e consegui trazê-la para o navio.

Ela caiu em cima de mim, com as mãos em meus ombros.

- Você conseguiu, capitão. - Ela sorriu e me deu um beijo em minha bochecha. Ah, como eu queria que ela beijasse minha boca. Eu tinha sede disso e não aguentava mais esperar. Ela se levantou e eu continuei deitado. Eu estava delirando.

***

- Deixe de dizer bobagens, Harold! - Eu disse e ri.

- Não disse bobagem nenhuma! Safira gosta de você.

Nós estávamos sentados em duas cadeiras de madeira, jogando cartas e bebendo vinho ao ar livre.

- Como pode ter tanta certeza?

- Eu vi no olhar dela.

- Mas ela te disse que tem interesse em mim?

- Não, mas sei o que a prende no passado.

- O que a prende? - Falei, aproximando meu rosto para ouvir a história.

- Um rapaz teve um relacionamente com ela. - Harold falava baixo para não sermos ouvidos. - Ela tinha apenas 15 e este era dez anos mais velho do que ela. 

- Safira tem o poder de seduzir a todos!

Eu estava conversando normalmente com Harold, pois necessitava de informações para ter Safira. Um dia eu ainda tiraria a história daquele beijo roubado a limpo.

- Pois é. Ela é realmente bonita.

- Continue, Harold.

- Não pense que tenho interesse nela.

- Eu acredito. Continue.

- Safira me disse que este rapaz lhe ofereceu várias noites de prazer.

- Então, quer dizer que ela não é mais virgem?! - Dei um soco na mesa.

- Não é culpa sua, capitão. E nem dela.

- Como a culpa não é dela?

- Ela estava apaixonada, assim como está por você, mas ela tem medo porque passou por uma situação parecida antes... E por isso não se entrega.

- Sei.

- Continuemos. - Ele respirou fundo. - O pai dela sugeriu ao rapaz que pedisse Safira em casamento e, pelo que entendi, ele a abandonou no altar. Seu nome é William.

- Essa menina sofreu. Posso imaginar o quão difícil deve ter sido para esquecê-lo.

- Se é que esqueceu, capitão. - Ele se levantou. - É seu dever fazê-la esquecer deste traste. - Ele deu um leve tapa em meu ombro. - Vou me deitar. Tenha uma boa noite. Até amanhã no banquete pra Safira.

- Acha que fiz certo ao preparar este banquete para ela, não acha?

- Acho que sim.

- Então, até lá.

Ele fez um gesto de cumprimento e desceu para dormir. Será que Safira se interessava em mim e tinha medo de assumir?

POV Safira

Depois de ter comprovado que posso confiar em Rupert, fui dormir tranquila e feliz. Não conseguia parar de pensar nele. E o meu medo de ser enganada já não existia mais, talvez...

***

- Capitão? Já acordado?

- Sim e vejo que você também. - Ele sorriu. - Está um belo dia, não? - Ele dizia, com as mãos para trás, entrelaçadas.

- Muito. - Sorri.

- Capitão... - Um homem, aparentemente, bêbado, disse.

- John? Estás bêbado?

- Claro que não! - Ele disse, com certa dificuldade. Eu apenas conseguia rir.

- Eu só vim lhe perguntar se o seu caso com aquela moça ainda está de pé quando voltarmos ao reino porque ele - Ele apontou para um outro homem. - duvidou de mim.

Meus olhos encheram de lágrimas, meu coração se encheu de raiva e minha mente se encheu de "eu te avisei para não confiar nele".

- Safira, não!

POV Rupert

Ela saiu correndo para o seu quarto e fui atrás dela. Ela trancou a porta.

- Safira! Não me obrigue a entrar aí! - Ela não dizia nada. Eu apenas ouvia seus soluços. 

- Capitão, - Harold sussurrou. - deixe-a aí. É um bom pretexto para mantê-la longe dos preparativos.

- Mas, Harold, ela não vai querer olhar para mim.

- Darei um jeito, capitão.

Desconfiei. Harold estava gostando de Safira ou tinha vontade mesmo de me ajudar?

Subi para tentar terminar os preparativos. Passei a tarde inteira coordenando o banquete, mas com a cabeça longe dali.

Mandei aqueles que já estavam bêbados irem dormir e, com muito trabalho, consegui colocá-los nos colchões. Eles adormeceram e não iriam acordar tão cedo.

Harold veio em minha direção.

- Capitão, eu disse a Safira que se arrumasse pois terá um banquete, mas não disse que este é para ela.

- Ótimo, Harold. Ótimo!

- Posso trazê-la?

- Ela está pronta?

- Quase. Eu fiz... Quer dizer, ela trouxe, por acaso, um vestido muito bonito.

- Sei. - Eu disse, desconfiado. - Vou organizar todos ali. Prepare-a para subir. Demore mais uma hora mais ou menos, certo?

- Está bem!

Cometi um enorme erro ao mandar Harold cuidar de Safira para que viesse ao jantar, mas seria um erro maior ainda fazê-la pensar que deixei mulheres pensando que estão comprometidas comigo lá no reino. Como eu disse antes, apenas me relacionei sexualmente com outras mulheres. Não houve nada a mais.

POV Safira

- Não sei porque quer que eu fique tão bonita assim.

- É um banquete importante, Safira.

- Não terei coragem de olhar nos olhos do capitão depois do que fiquei sabendo.

- Já lhe disse, Safira. Ele nunca amou ninguém. Você é a primeira.

- Mas ele não dormiu com outras mulheres? - Parei o que estava fazendo para ouvi-lo.

- Dormiu, mas apenas isso, Safira. Ele não as amava. Aquilo era desejo, apenas.

- Sei... - Abaixei a cabeça e penteei meu cabelo. - Acha que está bom assim? - Levantei-me e lhe mostrei como eu estava. - Este vestido que você fez ficou bom. Você tem talento.

- Não comente isso com ninguém, se não pensarão coisas erradas.

- Fique tranquilo. Mas, me responda, estou bonita?

- Você já é bonita, Safira. Está maravilhosa. Vamos?

- Vamos!

Subimos as escadas e fomos até uma espécie de salão que ficava em baixo da cabine do capitão. Todos estavam de taças erguidas.

- À Safira. - O capitão disse, com um sorriso enorme no rosto.

- À Safira! - Todos os outros repetiram, ergueram as taças e tomaram seus vinhos.

- Feliz 19 anos, Safira. - Ele sorriu. Tinha como não gostar de um cavalheiro como este?