Draco Dormiens Nunquam Titillandus escrita por caiofernandos


Capítulo 3
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/315645/chapter/3

Quando Merlin desapareceu, junto com ele foi o ambiente em que estávamos. Então o velho local da tenda voltou, só que agora não havia mais os soldados. Os cinquenta que iam nos atacar jaziam mortos. Como Merlin. O nosso querido líder, em sua última aparição, mostrou sua imensa força por uma última vez.

Deixo registrado aqui a morte de Merlin, cujo sobrenome e linhagem são desconhecidos, bruxo que partiu deste mundo no ano de 1008. O bruxo mais poderoso que o mundo já viu.

Mas nem tivemos tempo de lamentar sua perda, pois do céu caiu um pergaminho, que desceu flutuando suavemente pelo ar. Helga o pegou e o abriu. Leu em voz alta o conteúdo. As palavras eram as mesmas da profecia de Merlin. Mas no fim, havia algo a mais.

Os quatro artefatos são objetos de grande poder. São objetos onde residem toda a força do Rei. O Rei tem um segredo, apenas se o descobrirem ele poderá ser derrotado. O segredo será revelado na Biblioteca Real, no Condado de Yorkshire. Não se enganem, pois ele não é um homem comum.”

O silêncio inundou o ambiente por um longo tempo até que por fim Godric o quebrou:

– Acho que devemos começar a procurar esses artefatos logo.

– Mas por onde começar? – perguntei.

– Leia a primeira linha da profecia que diz sobre os artefatos, por favor. – disse Salazar, com seu típico olhar sombrio, olhando para Helga.

Esta procurou o verso.

A pequena coroa na mais sublime arquitetura clériga... – uma pausa.

– Glasgow. – foi a única palavra que soltou o bruxo sombrio.

– Como? – perguntou Rowena, interessada.

– A Catedral de Glasgow. – ele repetiu. Vendo a cara de desentendimento de todos, revirou os olhos e explicou. – “...na mais sublime arquitetura clériga”. O único local que conheço que tem a ver com a Igreja e possui uma arquitetura sublime, é a Catedral de Glasgow.

– Hmm... já ouvi falar dela, também. – Rowena se manifestou. – É lá onde ficam os altos oficiais da Igreja Católica e da Santa Inquisição.

– Que de santa não tem nada. – comentei. – Mas temos que achar uma... como que é mesmo?

– Pequena coroa.

– É, isso mesmo.

– Então o que estamos esperando? – perguntou Godric, se movendo ansioso. – Vamos partir.

– Precisamos de cavalos, e de suprimentos. – disse Salazar. Tá, apesar de sombrio e um tanto carrancudo, ele até que era esperto.

– Tem uma vila aqui perto. – falei. – Temos de ser discretos. Compraremos alguns alimentos, e cavalos. Alguém tem dinheiro? – apenas vi movimentos de negação - Não? Tá... vamos ter que roubá-los mesmo.

Três horas depois, estávamos na estrada, com cinco cavalos selados, e a comida pronta. Esse é o lado bom de ser bruxo: é fácil de se conseguir o que precisa. Godric estava ao lado de Rowena, na frente, numa conversa amistosa. Salazar, um pouco atrás, solitário, olhava o chão, como sempre com seu robe preto, o que contribuía para seu ar de mistério.

Por fim, na última coluna, estavam eu e Helga.

– Tenho um pressentimento forte sobre aqueles dois. – apontou com a cabeça para Godric e Rowena. – Sabe, nunca vi Godric tomar um pé na bunda – ela riu. – Acho que ainda vão ficar juntos. Coitada dela, primeiro dia na reunião e já acontece aquilo. O que você acha dela?

Ela ainda era nova no nosso grupo, mas mesmo assim parecia que estava há décadas, e agia como tal.

– Não sei, ela parece ser um pouco misteriosa, não tem muito senso de humor, mas também é muito inteligente, sabe criar estratégias, táticas e planas. E o Salazar, acha que dá pra confiar?

Ela hesitou.

– Pra ser sincera, não confio muito nele. Merlin daria sua vida por ele, mas não vejo o porquê. Cá entre nós – ela sussurrou – por que ele não estava dentro da tenda, quando os atacantes chegaram? Ele só apareceu junto com eles. Isso para mim me parece bem suspeito.

– Mas você não pode culpá... - tentei defendê-lo.

– Não estou o culpando, é apenas uma suspeita. Pode ser muito bem que ele seja um traidor. Ou não. Cabe a nós apenas esperar e ver o que o tempo nos trará.

O resto da viagem me deixou refletindo sobre isso. Nunca parei para pensar sobre Salazar. É um tanto diferente agora, sempre fui apenas um escrivão, nunca lutava nos conflitos, apenas observava de longe. Mas a situação agora mudara.

– É melhor acamparmos agora. Estamos perto, mas já está escurecendo. – Godric desmontou do cavalo. – Vamos para dentro da floresta. Não devemos mais continuar na estrada.

– Até que enfim pensou um pouco – Salazar comentou baixo, mas em um tom suficientemente alto.

– O que você disse? – Godric perguntou, a raiva começando a surgiu nos seus olhos.

– O que você escutou. – o outro respondeu calmamente, preparando sua tenda.

Godric, sem pensar, avançou no bruxo de cabelos brancos com a mão no ar, desferindo um golpe certeiro no rosto. Mas, no último instante, seu adversário se desviou e deu um chute na barriga do mais forte. Godric cambaleou, ofegando, dando espaço para que Salazar se aproximasse, pronto para atingir o ferido.

Quando Salazar ia atacá-lo, ele se levantou com o punho virado para cima, ferindo o queixo do atacante. Depois disso, seguiu-se uma sequência de socos e chutes. Isso durou apenas 30 segundos.

Quando Godric ia atingir Salazar mais uma vez, uma luz brilhante passou no meio de ambos, jogando os dois pelos ares, um de cada lado. Rowena estava a cinco metros, com a varinha apontada para o local onde tinha mandado o feitiço.

– VOCÊS DOIS SÃO IDIOTAS? – gritou. – Não percebem que só existem nós cinco para lutar contra um reino inteiro? Que temos pouco tempo? Que temos que ficar unidos? Então parem de ser duas criancinhas e cresçam. – bufou. E depois de um minuto de um silêncio constrangedor, acrescentou: – Vou criar os feitiços de proteção.

Ela saiu furiosa enquanto os dois se levantavam. Trocaram um olhar hostil e se afastaram. Depois, quando fomos dormir, e parei para pensar bem no ocorrido, percebi que não havia nenhum motivo para Salazar ter irritado Godric. Mas sempre há um motivo. Então tinha que haver o porquê dele ter feito aquilo. Perdido nesses pensamentos, adormeci.


Mais dois dias se passaram após a briga. Não aconteceu nada de mais, apenas a cansativa rotina de um viajante do século XI: cavalgar, acampar, cavalgar, acampar. Isso sem falar das terríveis dores de ficar em uma sela o dia todo, do tédio de ir somente em frente, em trilhas escondidas, tentando a todo momento não ser pego por tropas do Rei.

Ser um rebelde não era aquilo que eu tinha pensado que seria, para ser sincero. Como o grupo crescia rápido, achei que ia ser tudo mais fácil, que logo o Rei estaria deposto e a paz reinaria. Tudo caminhava para isso, até aquele maldito dia. Ainda não me conformo, como que eles souberam de tudo.

A viagem durou ao todo três dias e quatro horas. Lá pelo começo da manhã do terceiro dia, ao longe, erguia-se imponente a Catedral de Glascow, uma belíssima obra de arte encomendada pelo rei anterior. Contava com dez torres no total, além de muralhas fortificadas ao redor do edifício e guaritas estrategicamente posicionadas para impedir que indesejados invadissem a imensa igreja.

O plano tinha sido discutido na noite anterior. Sugerido por Rowena, entraríamos na Catedral a noite, na hora da missa, junto com todo o povo, camponeses, fazendeiros e artesãos. Lá iríamos interrogar alguém para descobrir sobre a coroa, ou encontrá-la por nós mesmos.

Tudo deu certo até entrarmos na Igreja. Entramos aos poucos, um de cada vez, ocupando o banco pouco a pouco.

– Muito bem, a missa começa em apenas dez minutos. – Rowena declarou. – Vou até o confessionário interrogar um padre. – ela estava pronta para se levantar quando Godric a segurou.

– O que é aquilo? – ele apontou para o púlpito, em cima do altar. Ao lado de velas, missais e cálices, havia um outro objeto, pequeno e extremamente reluzente. Parecia-se com uma tiara, tinha a cor azulada e traços detalhados. Olhando mais atentamente, percebia-se que era uma espécie de coroa.

– É ela. – disse Helga, contendo a excitação. – Mas como vamos pegá-la?

Rowena se levantou, escapando do braço de Godric. Foi até o corredor principal da Catedral e começou a andar na direção do altar. A atenção de todos lentamente começou a se focar nela. O povo murmurava e cochichava, e seu barulho fez atrair a curiosidade dos cardeais e dos soldados.

– O que ela está fazendo? – sussurrou Salazar.

– Eu não sei. – respondi, ainda espantando. Ficamos parados, observando-a. Não sabíamos o que fazer.

Ela continuava a dar seus passos ritmados e chegou a escada. Subiu um degrau e a mão foi para o bolso, onde guardava a varinha. Quando percebemos que ela iria usá-la, foi tarde demais.

Tão ágil quanto um raio, sua mão tirou a varinha do bolso e lançou um feitiço de explosão para o altar. Os clérigos foram lançados para todos os lados, inertes. Os soldados fecharam o grande portão de madeira e correram na direção dela. Ela continuava andando, na mesma velocidade calma até a coroa.

Parecia estar hipnotizada. Seguia-a sem ao menos olhar para trás. Os guardas se aproximavam.

– Eles vão matá-la. – exclamei, e sem esperar pelos outros, me levantei e me coloquei no meio do corredor, varinha erguida em direção aos soldados que vinham. Eles hesitaram por um momento suficiente para que Godric e Salazar se juntassem a mim.

Helga foi atrás de Rowena, que estava a apenas cinco metros da tiara, as mãos estendidas para tocá-la. Os soldados então voltaram a avançar, numa formação falange, os escudos postos à frente, um ao lado do outro. Mandei um feitiço de ataque, que apenas ricocheteou e bateu em um vitral, quebrando-o.

A multidão começou a se desesperar, e tentar fugir, pisoteando umas as outras e atacando os guardas. Salazar criou uma coluna de fogo, que deteu os soldados por um tempo. Mas eles continuaram chegaram mais perto, e comecei a lançar feitiços a torto e a direito.

Era tudo um caos. Pessoas gritando, correndo, guardas avançado, feitiços voando, ordens sendo dadas. Então, quando os guardas estavam a ponto de poder nos atacar, Rowena tocou na tiara azul.

Uma luz de mesma cor do objeto, mas de intensidade mil vezes maior, inundou o local, causando uma cegueira instantânea a todos. Mas Rowena não parecia atingida, pois colocou a pequena coroa em sua cabeça.

A luz cessou. Ela levantou sua mão e, com a varinha apontada para os soldados, gritou:

– BOMBARDA!

A linha de poder vermelho atingiu o chão, explodindo tudo. As tropas ou foram jogadas longe ou morreram queimadas. Por pouco escapamos, já que Godric, no último minuto, criou um escudo mágico que nos protegou.

A varinha agora mirou no gigantesco portão e, em questão de segundos, lançou o mesmo feitiço. A porta explodiu. O povo, desesperado, correu loucamente para fora.

No mesmo momento, Helga alcançou Rowena e tirou a coroa de sua cabeça. Esta desmaiou nos braços da loira. Então, todos juntos, nos infiltramos no meio da multidão e corremos para fora.

A última coisa que me lembro era da cena dos destroços da Catedral voando. Um deles, do tamanho de vaso de cerâmica, veio com tudo na minha direção e me atingiu.

Depois disso, tudo ficou escuro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Draco Dormiens Nunquam Titillandus" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.