Draco Dormiens Nunquam Titillandus escrita por caiofernandos


Capítulo 2
Capítulo 1




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            Fui o primeiro a acordar. Me levantei do chão duro – como não estávamos preparados para uma fuga, tivemos que dormir no chão, sem nenhum pano nem nada – e fui andar pelo bosque. O leve farfalhar das folhas sendo pisadas me acompanhou junto com a cantoria de alguns pássaros. Seria até bonito se o momento não fosse de tristeza.

            Me sentei no chão e reparei que a minha camiseta estava rasgada na altura do peito. Ainda tinha um pouco de sangue nela, também. A guerra não é algo bonito, mesmo se for pela mais nobre das causas. Sempre haverá sofrimento, dor e morte. Pais chorando, crianças se tornando órfãos, mas principalmente, reis e rainhas que ficam no trono enquanto seus soldados que lutam. Acho isso uma injustiça.

            Ouvi passos atrás de mim. Minha mão foi à varinha. Mas quando virei a cabeça, notei a figura de uma mulher alta, morena, lisos cabelos pretos e um corpo bem definido. Rowena.

            - Posso me sentar com você? – ela perguntou.

            - Claro, sinta-se à vontade.

            - À propósito, não fomos apresentados propriamente. – ela estendeu a mão. – Rowena Ravenclaw.

            - Henry Lancaster. – sorri.

            Ela notou meus machucados. Por incrível que pareça, ela não possuía nenhum, apesar de ter lutado com vários inimigos. Tirou a varinha e apontou para os meus.

            - Me permite? – Concordei com a cabeça. A um gesto da varinha, os ferimentos se fecharam e cicatrizaram, o sangue sumiu e a camisa foi costurada novamente. Estava cada vez mais impressionado com aquela mulher. Ela tinha um ar misterioso e era poderosa.

            - A senhorita é nova no grupo, não é? Quer dizer, no que restou do grupo...

            - Sim, ia me alistar ontem, mas então aconteceu aquilo. Acha que Merlin sobreviveu?

            Deu uma risada triste.

            - Ah, aquele velho... Ele é a pessoa mais imprevisível desse mundo. Sinceramente não sei. – olhei para o céu. Já fazia um tempo considerável que estávamos ali. – É melhor voltarmos, pra ver o que fazer. – Levantei e estendi a mão. – Quer ajuda, madame?

            - Muito obrigada. – Ela se levantou. – Mas não me chame de madame. – Ela sorriu.

           

            - A situação é a seguinte, meus caros companheiros: os rebeldes foram espalhados, não sabemos quantos sobreviveram, nem se Merlin ainda está vivo e nem como descobriram nosso esconderijo. Mas uma coisa é certa: temos que fazer algo – Helga tomou a liderança novamente. – Alguma sugestão?

            - É impossível reagrupar todos os rebeldes novamente. Temos que entrar no Castelo de Glamis e matar o rei, só assim isso tudo vai acabar.

            - Não seja tolo, Godric. – contra-argumentou Rowena. – Não temos nenhuma chance contra o Castelo inteiro, é fortemente guardado e matar o Rei não ia ajudar em nada. Outro se colocaria no lugar dele e continuaria com essa opressão. Temos que privá-lo de seus recursos. Destruir o exército de algum modo. A primeira coisa a fazer é voltar para a tenda. Deve estar vazia agora. Talvez encontremos alguns sobreviventes que voltaram para lá.

            A ideia de Rowena pareceu mais convincente. Parecia ser muito inteligente e sabia bem dos assuntos do reino. Ela liderou-nos em meio as árvores até chegarmos ao local. A tenda jazia caída no chão, queimada e quebrada.

            - Tomem cuidado, ainda pode haver guardas. – ela nos alertou. – Preparem as varinhas.

            Andamos devagar pelo local, ora se escondendo em um lugar, ora em outro. Por fim, chegamos ao centro, onde Merlin tinha feito seu pequeno discurso. Nada sobrou do homem. Nem uma roupa, nem um acessório, nada. Isso contribuiu ainda mais para o mistério. Estaria ele vivo? Ou tinha morrido?

            Os nossos pensamentos foram interrompidos quando dois guardas começaram a se aproximar. Ainda não nos tinham visto.

            - Escondam-se – eu disse, me abaixando atrás de uma mesa quebrada.

            - Aí, esse trabalho é um saco. – uma voz grossa se fez presente. – Ficar vigiando destroços, como se alguém fosse aparecer aqui.

            - Você não ouviu o que dizem? – o outro disse, com uma voz mais assustada. – Eles são bruxos. Usam magia.

            - Até parece. Você acredita nessas baboseiras? São rebeldes, e rebeldes tem que ser mortos. Ouvi dizer que o líder deles conseguiu escapar. Aquele bastardo! Consegue fugir toda hora.

            - Ele é um druida! – exclamou o mais assustado. – Vive desde os tempos da dominação romana, alguns dizem que é imortal e que nunca pode morrer.

            - Cara, você é um medroso! Ele nem ex... – algum de nós se mexeu um pouco, fazendo barulho o suficiente para atrair a atenção do guarda. – Eu ouvi um barulho. Veio dali. – Apontou na minha direção.

            Enquanto ele caminhava, pensei no que fazer. Comecei a ficar desesperado. Então, no momento em que ele chegou bem perto, disse, num sussurro:

            - Imperio.

            O guarda cambaleou, atingido, e de repente, ficou rígido. Comandei-o a voltar para o outro guarda.

            - O que que era, cara? – o outro perguntou. Não ouviu a resposta, apenas sentiu a lança de seu companheiro perfurar-lhe a barriga. Soltou um grito mudo e morreu.

            Saímos dos esconderijos. Interroguei o guarda. Ele disse que havia mais oito guardas no local, que estavam todos na entrada. Agradeci (um tanto estranho, mas o fiz). Godric tirou a espada e cortou-lhe a cabeça. Admito que os métodos que usamos foram pouco corteses, mas aquela não era a hora de ser cortês com o inimigo. Era uma questão de sobrevivência.

            - Como vamos matar os outros guardas? – Helga perguntou.

            - De acordo com o que interrogamos, eles são oito e estão todos juntos. Não vai ser assim tão difícil. Henry e Helga, vão pela direita e se escondem quando os avistarem. Rowena, faça o mesmo, só que pela esquerda. – Godric entendia de táticas de batalha. – Eu vou de frente e me finjo de machucado. Talvez atraia um ou dois. Quando eu der o sinal, vocês atacam. Eles serão atacados por três frentes e pegos de surpresa, serão derrotados facilmente.

            Ninguém discutiu. Apenas fizemos o que ele disse. Não foi assim tão difícil. Não havia ninguém mesmo. Quando os vimos, abaixamos. Quatro deles estavam sentados em volta de uma fogueira, bebendo e comendo. Outros dois conversavam em pé. Os últimos estavam deitados.

            - Ei, Edward, já faz um bom tempo que o Will e o Robin foram patrulhar, não é? – perguntou um dos que estavam na fogueira.

            - É verdade. – o outro tinha uma expressão pensativa. – Vai lá ver o que aconteceu.

            - Ah, mas eu...

            - Não foi um pedido, foi uma ordem. – ele parecia ser o capitão da tropa.

            O que havia falado primeiro se levantou resmungando, e lentamente começou a andar. Mas então viu um homem vindo, mancando.

            - Senhor, há alguém vindo.

            - Preparar armas! Formação de batalha! – ao som da ordem do capitão, os outros sete se levantaram e se enfileiraram, as lanças à frente de um escudo redondo. – Quem vem aí?

            Godric continuou mancando, se fingindo de machucado. Então, se jogou ao chão. O capitão, intrigado, se aproximou. Apenas receber uma facada do outro no pescoço. Tão logo atingiu o capitão, Godric se levantou e arremessou a lâmina no outro, que estava em pé.

            Ao mesmo tempo, Rowena saia de seu esconderijo e lança um feitiço de imobilização. Helga e eu também atacamos. Agora só sobraram três, que se renderam, levantando as mãos. Mas então fomos surpreendidos. Do outro lado da tenda, mais dez homens se aproximavam. E ainda mais dez do lado de fora.

            O guarda só tinha falado sobre oito. Agora eram vinte. Nos fechamos em um círculo. Costas com costas, as varinhas à frente. Mas antes que eles chegassem perto o suficiente para nos atacar, algo aconteceu. Uma sombra preta saiu de um lugar escondido e gritou para um dos batalhões:

            - Confrigo! – o feitiço voou e explodiu na massa que caiu para trás.

            Aproveitamo-nos da distração e nós quatro viramos para enfrentar a outra coluna. Apenas com alguns golpes, derrubamos eles. Então vimos que quem havia aparecido era ninguém menos ninguém mais que Salazar Slytherin. Deu um sorriso um tanto maligno. Como disse, ele é meio sombrio.

            A alegria durou pouco, pois novamente, uma nova onda de inimigos veio. Dessa vez, cinquenta soldados. Então eles tinham deixado um esquadrão inteiro para guardar a tenda. Cinco contra cinquenta. Éramos bruxos, mas não invencíveis. Os inimigos pararam a poucos metros de nós e um deles, que parecia ser o sargento, se colocou à frente:

            - Baixem as varinhas e serão poupados! Resistam e não haverá piedade!

            Ninguém falou nada, nem abaixou nenhuma varinha.

            - Vocês que pediram! Atac... – a sua fala foi interrompida por um clarão tão grande que todos tiveram que tampar o rosto com as mãos.

            Quando finalmente tomei coragem de abrir os olhos, não estava mais nos destroços da tenda. Encontrava-me em um local branco, de aparência suave e tranquila. Calma como a brisa. Percebi que meus companheiros também estavam lá e com a mesma expressão assustada que a minha.

            E então do nada, ele surgiu: Merlin. Ah, como disse, ele era imprevisível.

            - Meus bons amigos. – ele sorriu. – Sim, eu sobrevivi ao ataque, mas não por muito mais tempo. O meu tempo nesta terra chegou a um fim e cabe a vocês terminar a tarefa que eu comecei. Durante a batalha, fui ferido gravemente por dois soldados e estou prestes a morrer.

            - Não, o senhor não pode morrer – choramingou Helga.

            - Posso sim, como vou. Mas não antes de deixar meu legado. Os rebeldes não foram derrotados ainda. Fiz uma descoberta surpreendente que pode destruir o inimigo. Mas a deixo como uma profecia. Uma profecia a apenas quatro de vocês: Godric, Salazar, Helga e Rowena.

            “Para que o Monarca seja destituído,

É necessário que se realize a busca

Por quatro artefatos perdidos

A pequena coroa na mais sublime arquitetura clériga

O troféu no salão das tropas reais

A corrente sob o Rei passado

E a lâmina fiel que sempre os segue

Uni-os sob a proteção das muralhas

Do castelo das terras longínquas

Que vós hei de erguer

Quando os artefatos forem unidos

E o castelo construído

O feitiço mais poderoso se formará

E o Rei não mais existirá”

- E lembrem-se, meus queridos, nunca cutuque um dragão adormecido. – dizendo isto, deu uma piscadela e desapareceu, nunca mais sendo visto.


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