31/10/1981

É engraçado pensar em tudo que aconteceu. Parece outra vida a época em que eu não gostava de James, a que Marlene e Sirius não estavam juntos e que eu ainda não sabia o que estava acontecendo com Dorcas. Mas isso foi só há alguns anos. Só que agora me sinto uma pessoa totalmente diferente, não tenho mais aquela inocência toda, perdida pela guerra. Vi tantas coisas, coisas demais... Era sofrimento e dor pelo mundo mágico todo. Tudo porque um sangue-puro¹ idiota não nos achava merecedores de partilhar o mesmo mundo que ele.

Sabe, antes, quando eu pensava em guerra só pensava em cenas de destruições físicas. Mas a guerra destrói o emocional. Acaba com quase tudo de bom que você é.

Mas quando você já está quase perdendo as esperanças acontece algo que te faz lembrar pelo que você está lutando. E que você não está sozinha. E há uma certa beleza em ser o lado perdedor, em ver que, apesar de tudo, continuamos em pé. Em como acreditamos em algo.

Perdi Marlene, a garota mais forte e justa que já conheci. Morta junto com o resto da família. Foi o pior dia da minha vida, junto com o da morte de Dorcas.

Quando Dorcas morreu, eu achava que seria mais fácil por causa de morte de Lene, que não seria algo tão difícil, mas foi. É estranho pensar que estou separadas delas e ás vezes queria estar morta só para não estar, porque eu não sei o que fazer sem a minha amigas. Eu ainda tenho James, Harry, Sirius, Remus e Peter. Mas não sobrou ninguém para fofocar, ninguém que me entende tão bem só de olhar, ninguém para fazer besteiras juntas.

E na morte de Lene... Eu não conseguia aceitar que aquela pessoa tão imperativa não iria estar do meu lado mais, não entendia que não veria Marlene McKinnon mais. Não acreditava que agora ela seria só uma lembrança, um nome. Fiz a única coisa que pude fazer: mandei uma carte para Sirius, avisando da morte dela. Ele precisava saber e eu sabia que Lene iria querer que ele soubesse, apesar da briga que eles tinham tido poucas semanas antes. E eu achava que talvez assim eu aceitasse a morte dela, pararia de me virar para falar com ela e não a encontraria. Aceitar que ela se foi.

Pela primeira vez, realmente percebi o que poderia acontecer comigo, o que provavelmente ia acontecer. E concordei com James em fazer o feitiço Fidelius. Eu sabia que não iria ser fácil ficar trancada em casa, mas não sabia que ia ser tão difícil, não podia sair hora nenhuma, para nada. A maior parte do tempo passava cuidado de Harry, meu filho bebê. Ele era adorável, com meus olhos e as feições de James, e com uma inteligência muito grande. Era por ele e por James que eu lutava.

James Potter. Era ele quem eu procurava, era ele quem eu precisava. Era ele que faltava na minha vida. Era ele a única pessoa que eu queria e quero do meu lado agora.

— Lily, corra. Ele chegou! – grita James, e meu coração bate mais rápido porque agora é horar de enfrentar Voldemort, o monstro. E eu sabia que eu não iria sobreviver. Então, esse é o meu adeus. Espero que Harry tenha uma boa vida.

FIM