Dias se passaram após aquele encontro com Greg. Não tive mais tempo de ir ao centro da cidade, mas a minha vontade era de fugir e fazer um interrogatório a ele. Voltei a minha "rotina", se que é que podemos chamar de rotina. Naquele dia, Sky passou metade da tarde paquerando um dos carinhas da tal loja de doces, talvez ela tenha contado que era uma prostituta, pois do nada ele ficou com uma animação extraordinária e uma malícia nos olhos vista de longe.

– Aquele carinha ainda não veio me procurar. - Disse Sky enquanto entrava no nosso cafofo.

– Então você contou mesmo que era uma prostituta? - Perguntei enquanto pegava um cigarro de um maço velho, dentro de uma escrivaninha. Nós acabávamos de chegar no cafofo, fomos ao parque para aproveitar o final de semana, pelo menos por algumas horas.

– Claro que contei. Os clientes não me procuram mais, então "Se eles não vierem a mim, eu irei até eles. – Disse Sky num tom irônico. Aliás ela era a ironia em pessoa. - E você, Angel? Vi que rolou um clima entre você e aquele rapaz de olhos claros, acho que é Greg.

– Ah Sky, fala sério. Não rolou "clima" nenhum entre nós. Sabe, ele me lembrou alguém familiar, apesar de eu nunca tê-lo visto antes. Será que ele pode ser...

– Algum parente seu? - Sky me interrompe e bufa. Ela nunca gostou do assunto "família, parentes perdidos"

– Quem sabe. Você sentiu a mesma coisa que eu? Sky, eu não sei, mas ele pode ser um parente, eu sinto isso. Já me decepcionei muitas vezes com o meu sexto sentindo mas agora é diferente.

– Angel, quando você vai parar de se iludir? - Sky levantava do sofá e sentava na minha frente. - Parece que você faz isso de propósito. Quando eu conheci meus pais biológicos, foi a pior besteira que eu já fiz na minha vida. Quando eles souberam que eu era prosituta, me expulsaram de casa como se eu fosse um cachorro. E eu sou o que sou por culpa deles. Você tem noção do quanto aquilo doeu? E porra, eu não quero que você sinta a mesma coisa que eu senti. Agora se você gosta de sofrer, vai em frente, não me meto mais nisso. - Angel saiu bufando. Puda ver suas lágrimas de raiva brotando dos seus olhos

– Sky, a onde você vai?

– Pra algum lugar que seja bem longe do meu passado. - Sky disse enquanto pegava sua bolsa e batia a porta. Naquele momento pude sentir a mágoa camuflada na sombra que a acompanhava enquanto ela abria a porta e passava pelo corredor escuro do apartamento.

Esperei algumas horas. A noite já estava caindo e o frio estava aumentando. Eu definitivamente odeio frio. Fiquei preocupada com Sky, provavelmente ela foi fazer programa em alguma esquina para "esquecer" o seu passado, estranho jeito de esquecer as coisas... Aliás, ela já deveria ter voltado.

Resolvo ir a procura de Sky, já estava muito tarde e o frio estava cada vez pior.