Kajitsu escrita por 4hana


Capítulo 5
Felicidade e Paz de Espirito


Notas iniciais do capítulo

Olá! Por favor, leiam isso antes de lerem o capítulo.
Eu talvez mude a sala onde Taiga e Madoka estudam para "Sala de Ciências Especiais", pois isso ficará melhor com o que eu quero para o futuro da web.
Ah, talvez o nome de Kuruki Sayaka também mude para Sakura Sayaka, caso vocês não se importem.
Também pretendo mudar o nome da web de "Aru no Kajitsu" para simplesmente "Kajitsu".
Por favor, digam as suas opiniões no review! ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/315531/chapter/5

"Pensando nisso, a situação atual é provavelmente a melhor." Vivendo dessa forma, antes que eu percebesse era primavera. Em catorze anos, eu nunca fiz nenhum amigo de verdade, mas não é como se eu tivesse problemas com isso. Eu vivo por mim mesma, sem nunca depender ou me apegar a alguém. Isso só trará sofrimento no fim.

Mesmo assim, eu sobrevivi um dia de cada vez.

Menos de uma semana havia se passado e eu havia me acostumado com aquela figura beirando ao meu redor.

Menos de uma semana havia se passado e definitivamente… definitivamente eu havia apreciado. Era quase como se eu tivesse um amigo.

A imagem refletida mostrada uma garota pequena vestindo a camisa, saia e suéter do uniforme escolar, porém com um adicional: embaixo da saia, havia uma calça curta que ia até os arredores do joelho.

A pálida figura no espelho piscou para mim com os seus desconcertantes olhos âmbar. Eu era a única na família com um tom como aquele, talvez fosse herança de meu pai ou coisa assim. A garota pálida que eu via na minha frente era eu, talvez um pouco melhor do que eu esperava.

As manchas negras que adornavam os meus olhos haviam desaparecido, assim como um pouco de cor agora vivia em meu rosto. Os fios negros cortados retos da minha franja caiam de leve sobre os meus olhos. O meu cabelo começava a precisar urgentemente de um corte, mas eu simplesmente ignorava esse detalhe.

Me movendo um pouco, expus por acidente uma marca branca em meu pescoço. Instintivamente, eu a toquei e um sorrisinho amarelo. A cicatriz parecia mais fria que o resto do meu corpo por algum motivo.

Não sai… não importa o que eu faça… é?

———

— Bom-dia, Hana!

— Uaah… Bom-dia, Sion… — murmurei, sonolenta. Nos dias que haviam se passado, aquela cena havia se tornado comum. O garoto parecia determinado a estar me aguardando quando eu chegasse a sala de aula, se forma que eu tinha que acordar de madrugada para surpreende-lo. Ah, e aquilo também não havia dado certo: a despeito de todos os seus atrasos anteriores, parecia que agora ele fazia de tudo para chegar a escola antes de mim.

Com areia nos olhos, me sentei em meu lugar e me permiti cair sobre a carteira. Se Sion não estivesse ali, eu poderia dormir até o Sensei e ele chegarem, mas…

Eu havia dito para o garoto que iria descobrir tudo sobre ele e então joga-lo no lixo. A última parte era uma mentira, é claro; eu duvidava que poderia ser tão cruel até com a pessoa que eu mais odiava no mundo, mas eu não sentia que a minha vida havia mudado desde então.

Eu ainda me pegava olhando para ele quando não esperava. Ele era… interessante. Não era o típico herói das histórias, era algo a mais. Aqueles personagens eram bonitos, mas tinham apenas uns dois centímetros de profundidade antes de chegarmos em um centro oco. Sion não; eu podia me perder tentando decifra-lo apenas pelas suas ações, sem ouvir os seus pensamentos.

Ah… aquele era o tipo de coisa que eu não podia perguntar, não é? Não era como se eu pudesse chegar nele e pedisse "Me diga quem é você" ou "O que você está pensando?". As pessoas mentiam sobre si mesmas. A única maneira de conseguir a verdade no fim das contas era as julgando a partir de sua vivencia.

Cerca de cinco minutos haviam se passado e o garoto simplesmente havia ficado em sua carteira, me encarando. Talvez tivesse se passado mais ou menos, refleti comigo mesma. Piscando os olhos, eu me forcei a levantar.

— Eu vou comprar um café, você quer que…

— Aqui.

Ele estendeu o braço na minha direção, segurando uma lata preta. O meu olhar foi do menino a lata e da lata ao menino.

Sion. Lata. Sion. Lata. Sion. Lata

Pisquei, tentando assimilar o fato. A lata com certeza era de café gelado de uma marca que eu gostava, mas aquilo era simplesmente inesperado.

— O que…? — eu não cheguei a terminar a frase.

— Não é como se eu estivesse preocupado com você nem nada. Eu apenas comprei isso por acidente mais cedo e… bem, sabe. Eu odeio café — disse Sion em uma péssima imitação do meu tom de voz. Se eu não estivesse tão contrariada e atordoada com aquela cena, teria dado um risinho — Você não tem comido nada de manhã esses dias, não é? Eu fiquei preocupado, já que você sempre chega tão cedo na aula e parece que você parou de trazer seu almoço, então… me desculpe, eu comprei isso para você!

Eu pisquei uma vez para processar tudo. Então… ah, o meu rosto corou perigosamente junto com o de Sion.

Arranquei a lata das mãos de Sion e a abri rapidamente, a esvaziando com uma velocidade surpreendente até para uma viciada em cafeína como eu.

— Obrigada — sussurrei, lhe estendendo o recipiente vazio. O meu rosto estava ligeiramente corado por causa do tempo que eu havia ficado sem respirar — É o meu favorito.

— O quê?

— Café gelado! O café, seu sonso! — reclamei, irritada. Mesmo assim, o meu rosto escondia um pequeno sorrisinho quando eu me sentei de volta em meu lugar. Sion, seu idiota, pensei comigo mesma. Aquele garoto… era estranho — Obrigada.

— Não h-há de quer — respondeu Sion, tropeçando um pouco em suas palavras. Então até mesmo ele agia daquela maneira de vez em quando, não é…? — Hana gosta bastante de café…

— Sim, eu amo café — disse, dando ombros e então suspirando. Na realidade, aquele instante se passa bem cedo; a escola estava basicamente deserta e conhecendo Mekakuyama-sensei, ele atrasaria bastante antes de dar as caras. Abracei os meus joelhos, me lembrando das vantagens de se usar calça — Você disse que não gostava. Por quê?

— É muito amargo! — comentou Sion com uma careta. Enterrei a metade inferior do meu rosto entre as pernas para não deixar escapar um risinho e o garoto arrastou a sua cadeira até a minha carteira com um sorriso no rosto. Ah… aquilo passava uma sensação de calma e paz de espírito — Mas eu gosto de doces amargos, de qualquer maneira… ainda prefiro coisas mais doces e leves, de qualquer forma.

— Você? Doces? — pisquei. Diziam que as pessoas que gostavam de doces eram hiperativas ou hipertensas, como eu. Sion era a pessoa mais lerda e relaxada desse mundo, sem ofensas, mas ele vivia extremamente em seu ritmo — Quero dizer… não parece.

— Ah… Ah! Eu adoro doces, se é isso que você está perguntando — ele não parecia nem um pouco envergonhado em admitir aquilo. Em algum momento, alguém parecia ter decretado que meninas gostavam de doces e meninos de coisas como sanduiches e comidas do gênero. A pessoa na minha frente simplesmente não se encaixar em estereótipos — E Hana?

— Amo…

— Então vou trazer deles todo dia.

— Heh?

O meu rosto atingiu um tom preocupante de vermelho em menos de 487 milésimos de segundo. Por que eu estava corando, droga!? Ele comprava café para mim. Ele trazia doces para mim. Qual era o problema dele? Se Sion simplesmente fosse assim com todos, precisaríamos ter uma séria conversinha.

— Não, não precisa. Eu estou bem, juro! — tentei me justificar, gesticulando com a mão. Distraidamente, coloquei o meu cabelo atrás da orelha enquanto mordia o lábio. Que droga… — Não é como se eu precisasse tomar café da manhã todos os dias. Eu só… ah…

— Eu insisto — disse Sion com um sorriso no rosto — Quero dizer… Hana não almoça. Se você não comer algo pela manhã… ah…

— O…

— Hm?

— Esqueça.

— O que?

— Esqueça, eu disse!

———

Aquilo havia acontecido mais cedo naquele dia.

Eu não tinha nenhuma atividade particular para fazer de tarde. Com o objetivo de evitar as pessoas, o único clube no qual eu participaria na minha vida seria o "Clube de Ir para Casa". Claro que algo como aquilo não existia.

Infelizmente, ir para casa também não era uma opção.

Houtarou era um idiota irresponsável que passava 90% do tempo na casa dos amigos, de forma que era realmente depressivo ficar em casa sozinha. Eu não podia culpa-lo de estar aproveitando as férias, mas gostaria que o menino ficasse mais tempo comigo.

Para essas ocasiões, existia a biblioteca.

A despeito do prédio da escola ser realmente velho e estar caindo aos pedaços, de forma que temos um adorável buraco no teto do ginásio que impede todas as turmas terem Educação Física quando está chovendo, a biblioteca era realmente boa. Havia um acervo basicamente incabível de livros e se você prestasse atenção, uma ou outra coisa interessante poderia acontecer.

Em suma, um estoque sem fim de material para pesquisa.

Quando eu era criança, vivia o tempo inteiro enfiada em bibliotecas. Na hora do intervalo, eu corria para lá. Eram raras as pessoas que tinham uma maneira parecida com a minha de agir e de pensar e quando elas apareciam…ah…

Falaríamos disso depois.

Em suma, aquela fortaleza de livros e palavras era o meu porto-seguro. Eu sentia que nada poderia me atingir ali.

Não naquele dia.

Pois… pois naquele dia…

Naquele dia, o mundo ficou escuro para mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kajitsu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.