Kajitsu escrita por 4hana


Capítulo 4
Lagrimas


Notas iniciais do capítulo

Desculpem por qualquer demora para postar, a escritora morreu de nosebleed após o capítulo 3 e continuou assim desde então.
Sugestões para o próximo capítulo são bem-vindas.



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Esse mundo maravilhado é implacável, com seu coração inumano.

Eu não me lembro muito bem quando conheci Sion. Provavelmente foi no dia que eu fui transferida, mas nós não prestamos atenção um no outro. Ele era apenas um ponto no meu campo de visão, alguém chato demais inclusive para virar um personagem em meu mundo de ficção.

Mesmo assim, ele havia insistido em grudar em mim cerca de dois meses depois, quando eu o encontrei desmaiado no chão da sala de aula. Foi mais ou menos nessa época que eu descobri sobre a "doença" de Sion. Eu não sabia os detalhes, apenas que era algo potencialmente letal. Observando, a condição dele também parecia estar pior agora que era alguns meses atrás.

De alguma forma, os traços de seu rosto começaram a ser desenhados lentamente em meu campo de visão. Se eu dividia as pessoas entre "chatas" e "interessantes", alguma hora ele se transformou em alguém divertido, mesmo antes daquilo. Eu me pegava olhando para ele e emergindo rapidamente naquele delírios misturados.

Desde então, Sion havia me acompanhado contra a minha vontade. Eu realmente odiava aquele lado dos humanos. Será que ele não podia simplesmente escutar o que eu tinha a dizer? Eu não queria a companhia de pessoas, estava bem sozinha. Pessoas sempre irão lhe trair.

Não era como se eu quisesse curar a minha solidão, no fim de tudo. Mas com ele por perto, era como se eu tivesse amigos.

Aquilo me fazia olhar mais e mais para ele, imaginando o que estava passando em sua cabeça. Vivendo a minha vida inteira como uma observadora, eu havia passado a notar alguns hábitos interessantes dele, como sempre tocar a nuca quando estava mentindo, ou a sua incapacidade de ficar muito tempo perto de garotas, como se elas o assustassem.

Aquele era um dos momentos que, desprevenida, eu me pegava observando o garoto chamado Chitanda Sion.

O céu estava tingido de vermelho e dentro de menos de uma hora, estaria completamente escuro. Sua figura alaranjada que flutuava na sala de aula e o olhar que procurava algo enquanto ele olhava pela janela.

Mas o que era aquilo em seu rosto?

Eu não havia visto que algo estava errado até eu abrir a porta. O menino desviou o olhar da janela e rastros brilhantes ficaram no ar por um breve momento. O sua face brilhava, encharcada e os olhos estavam vermelhos.

Ah, o que era aquela coisa abstrata e sem sentido?

Ficamos nos encarando por um longo instante, as lagrimas escorrendo pelo rosto de Sion e a minha expressão chocada adornando a minha face. Minha cabeça simplesmente girava, não havia sentido naquilo.

O garoto limpou o rosto.

– Me desculpe... me dê apenas um instante e eu vou voltar para a minha cara alegre...

– Sion, o que...

Ele respondeu o meu incrédulo com um sorriso triste. O garoto entrelaçou os seus dedos, como se a única que visse algo estranho em tudo aquilo fosse eu.

Não... aquilo estava errado... era como se a anormalidade fosse ele e eu estivesse apenas assistindo.

– Ei, Hana... me diga... - ele mordeu o lábio. Eu lentamente atravessei a sala até a mesa onde ele se sentava - Se eu morresse agora, nesse exato instante... alguém iria me substituir, não é?

Eu imitei o garoto, umedecendo a minha boca, irritada. O meu pulso estava cerrado e toda a raiva que eu havia acumulado durante aquele dia, ela simplesmente... desapareceu. Eu estava furiosa, mas aquele sentimento havia sido gerado naquele instante.

– Por que... você está chorando...?

– ...

Ele me olhou como se aquela pergunta fosse inesperada. Sinceramente... Sion era um idiota. Eu tentava normalizar o meu pulso e respiração, para ter certeza que não iria avançar no garoto e lhe dar um soco.

Humanos me irritavam, esse era o fim da história.

O que viria a seguir... sim, falaríamos disso mais tarde.

– Você é um cretino idiota, sabia? - eu disse, me surpreendendo com a frieza na minha própria voz. Meu rosto se abriu em uma expressão estranha enquanto eu observava o garoto: ele era alto, porém esbelto, como se tivesse crescido demais para o próprio peso; por mais que ele fosse alegre e animado, bastava simplesmente ficar do lado dele para perceber o seu ar doentio. E aqueles olhos... aqueles dois olhos cinzentos manchados com lagrimas... era melhor você não se aproximar muito, ou acabaria se perdendo na imensidão que eles possuíam, como se passassem metade do tempo olhando para outro mundo - Esse é... o pior pecado que você pode cometer. Agora eu estou curiosa. Eu pensava que você era um hipócrita desgraçado com uns dois centímetros de profundidade, mas... no final, você não passa de lixo, não é?

– O que você está...

– Você é uma pessoa igual a todas as outras - comentei, dando ombros. Sion tremia, não como se estivesse com medo, mas como se reconhecesse a verdade. Cruzei os braços, fuzilando o meu colega com o olhar, então desviei o rosto - Mas... eu amo humanos, pois eles são interessantes. Você também é interessante, então... eu...

– Hana?!

– Não é como se eu gostasse de você, na realidade, eu te odeio - comentei, suspirando. Eu estava parada mais ou menos no meio da sala, sem saber muito bem o que fazer - Você quer saber se alguém iria te substituir? Ha, não me faça rir! Eu nem ia saber da sua existência se você não fosse um inseto irritante que me perseguisse. Você não faria falta nenhuma, com sinceridade...

Ele deu um sorriso triste. Eu lhe respondi cruzando a sala e lhe dando um tapa na cara. O garoto me encarou, perplexo e eu resisti a vontade de socar a cara de Sion.

– Mas isso não justifica isso... - murmurei baixinho, a raiva explodindo em minha mente e me impedindo de pensar. Nunca... nunca haveria uma boa justificativa para aquilo. As pessoas não podiam simplesmente dizer "eu quero morrer" ou "eu não vou fazer diferença". Sempre havia alguém que se importaria com elas, exceto no meu caso - Nada justifica. Eu não vou te responder, tipo, nunca! Se quiser, descubra por si mesmo. Então...

– Você... - aquele idiota... tinha começado a gargalhar... - Você é estranha, Hana! Isso... isso é interessante!

– O-O que você está dizendo, seu idiota!? - por alguma razão, eu corava. Agarrei o colarinho dele e chacoalhei Sion, o meu rosto ainda mais vermelho que antes, naquela manhã. A cabeça dele fez um barulho estranho enquanto ia para frente e para trás - Você não vai se livrar de mim tão fácil assim!

Eu o larguei. Ouvi um "pong" quando o crânio dele se chocou com a parede.

– Quer saber de alguma coisa, seu réprobo ignóbil soberbo!? - naquele instante, eu tive uma epifania. A pior punição para Sion... sim, eu já sabia qual ela era - Eu vou te torturar! A partir de hoje...! A partir de hoje, eu vou estar sempre ao seu lado e descobrir tudo sobre você! Ai eu realmente vou poder dizer que você é um lixo humano, pior que o Sensei!

Continuando a rir, eu percebi que aquilo de alguma forme me aquecia. O som da risada do garoto que reverberava pela sala era o primeiro que eu escutava em muito tempo e aquilo me paralisava.

– Obrigado - ele disse. O rosto de Sion ainda estava manchado de lagrimas, mas... - Eu já estou me sentindo melhor. Agora eu estou feliz por causa de você.

– Não me elogie depois de me chamar de estranha, seu idiota!

Mas a realidade é que eu não sabia o que fazer.


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