Kajitsu escrita por 4hana


Capítulo 2
Desestresse




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Nada continua igual, no fim das contas...

A minha vida havia mudado, assim como todos ao meu redor. Antes que eu percebesse, já era primavera e então, seis meses haviam se passado.

Eu havia vivido a minha vida inteira em um mundo pequeno, como uma caixa. Eu percorria as mesmas ruas e as mesmas calçadas, indo sempre aos mesmos lugares.

Aquela era uma cidade pequena, mas considerando o quanto o meu mundo havia se expandido... era como se o lugar fosse uma metrópole gigantesca.

–--

O calor insuportável daquela manhã de verão havia me impedido de me levantar. A simples perspectiva de já ser domingo e que as aulas de recuperação começariam no dia seguinte eram suficientes para me manter presa a cama como uma força magnética.

Passar um mês em uma sala cheirando a formol não era exatamente o que eu havia planejado para as minhas férias, mas ficar sozinha em uma sala para vários alunos soava depressivo.

A partir de amanhã, começa a sua sessão de tortura na Sala de Ciências Preparatórias.

Era dessa maneira que eu encarava as aulas extras.

Ah, elas não seriam na sala de aula normal pois... bem, parece que durante o Festival Cultural, fogos de artifício haviam explodido na classe ou coisa assim. Não sei os detalhes.

Desde então, as pessoas da sala 1-1 foram distribuídas entre as outras quatro classes. Os dois que haviam ficado para trás por causa da lista de chamada foram colocados na maravilhosa "Sala de Ciências Preparatórias", onde ficavam isolados da sociedade durante as horas de ensino.

Eu era uma dessas pessoas, mas não importava. Nada nunca importava.

Com esse pensamento em mente, me arrastei do leito fresco que era a minha cama e tombei uns trinta centímetros em direção ao chão do colchão rebaixado. Desde que meu avô havia morrido no começo do ano, eu meio que havia assumido as tarefas domesticas quando a minha avó estava fora a trabalho. Diferente da minha mãe que era uma negação á sociedade, havia apenas uma coisa que regia a vida de minha avó: o trabalho.

Contra a minha vontade, abri as cortinhas e senti a luz quente e forte do Sol me atingir diretamente na cara, cegando-me. Aguardei o efeito estimulante da claridade irritante por um longo minuto e então, gritei.

Aquele grito parecia mais com um suspiro nervoso ou uma exclamação irritada. Uma fraca fala reprimida. Mas aquele era o pequeno estresse que eu estava comprimindo fazia algum tempo.

Foi relaxante deixa-lo ir.

Espreguiçando, me levantei do chão frio e fui até fora do quarto, em direção as escadas.

–--

Me pergunto como as pessoas faziam para se manterem acordadas antes do café. É sério, não sei se conseguiria acordar totalmente antes do fim da manhã se não fossem os efeitos da cafeína.

Considerando o fato que eu havia passado a noite anterior inteira navegando na internet e fazendo o download de milhões de livros, era uma proeza incrível ter acordado antes daquela pessoa.

Tanto faz, ele apareceu no exato instante que eu desliguei a frigideira chiante, talvez atraído pelo aroma dos ovos. Olhando para aquela figura alta, eu me perguntava se realmente éramos parentes.

– Bom-dia... Nee-chan...

– Bom-dia, Houtarou.

O nome dele era Morika Houtarou e o garoto era o meu primo. Havia se mudado para a casa de Uzuki, minha avó, pouco depois de eu chegar a cidade. E não tínhamos nada a ver: enquanto ele era um menino alto, de cabelos castanho-claro rebeldes e talvez fosse considerado um pouco maduro para a idade, eu tinha longos e lisos fios negros, sem contar um corpo relativamente pequeno. Embora o garoto fosse dois anos mais novo que eu, era apenas uns cinco centímetros mais baixo.

Aquilo era realmente irritante. Adicionei o fato que o meu primo de doze anos era quase da minha altura na minha lista de "Coisas que me dão nos nervos mas eu não posso fazer nada para muda-las" enquanto servia o prato dele com o café da manhã.

– As suas aulas recomeçam amanhã, não é, Hana? - Houtarou perguntou enquanto eu contornava a mesa e me sentava onde havia deixado o meu copo de café e os ovos mexidos com torradas intocadas.

– Elas não estão recomeçando exatamente - expliquei, tomando a terceira ou quarta xícara de café da manhã. Talvez eu devesse adicionar a cafeína as coisas que eu era viciada, logo abaixo de "internet" e "qualquer coisa escrita que tenha qualidade e seja legível". - São classes de verão. Eu estou as frequentando porque a minha nota em inglês e em mais algumas matérias foram realmente baixas.

– Ah, eu me lembro disso! - o garoto disse, animado. Ele deu um sorrisinho e eu retribui. Havíamos nos conhecido a pouco tempo, mas vivíamos como se fossemos irmãos ou coisa parecida. - Foi nessa prova que você foi a melhor de baixo para cima!

Melhor de baixo para cima...

Aquelas palavras me atingiram como uma flecha.

Não, esqueça. Estrangula-lo parecia de bom tamanho agora. Esqueça a parte que eu achava que ele era legal.

– Mas a Hana não parece do tipo estúpido - Houtarou comentou, me deixando mais irritada a cada instante. - E você parece ser realmente boa em inglês. Por que você ficou de recuperação?

– Seu...! Não, quer saber, tudo bem - disse, suspirando. Tomei um gole de café açucarado, tentando me controlar. Mais uma coisa para a lista de vícios: coisas doces e açúcar. Chocolate, caramelo e outras comidas do gênero eram o que haviam me ajudado a chegar até ali. "Fique calma, não perca o controle", eu tentava me ensinar, repetindo essas palavras para mim mesma toda vez que algo me irritava. Não era exatamente "eficiente". - Hm... como posso explicar? Algumas pessoas estavam falando coisas ruins e isso me deixou extremamente irritada, então bati nelas. Por isso, eu fiquei de suspensão e não pude fazer a prova.

– Entendo...

– Ah, o Sensei vai me matar - me lembrei do meu assustador professor da Sala de Ciências Preparatórias e suspirei. - Os dois alunos que ele apostava tanto neles para deixa-lo livre das aulas logo ficaram de recuperação...

– Dois? - meu primo parecia subitamente interessado. Houtarou abaixou lentamente o garfo com o qual devorava os ovos que eu havia colocado em seu prato. - Isso significa que a sua classe inteira ficou de recuperação?

– Sim... parece que eu e esse cara vamos passar o verão confinados juntos - disse, irritada e suspirando. - Esse tal de Chitanda Sion.


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Notas finais do capítulo

Sobre algumas expressões usadas no capítulo:
Nee-chan: jeito carinhoso de se chamar a irmã mais velha.



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