Kajitsu escrita por 4hana


Capítulo 1
Estresse




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Por um segundo, me perguntei o que era aquela coisa vermelha se espalhando.

Com uma pontada de dor, eu entendi a minha situação. Dobrando o corpo sobre a minha mão esquerda, deixei escapar uma exclamação surpresa enquanto lagrimas começavam a surgir no entorno de meus olhos.

Eu comecei a xingar quando olhei para baixo da cama, local que eu estava apalpando segundos antes, removendo todo e qualquer lixo que podia ter se juntado ali em quatro anos de convivência enfadonha e aborrecida.

Seguindo o rastro de sangue que havia se formado no ambiente escuro, encontrei o que causara o corte. Um porta-retratos estraçalhado e em pedaços, com cacos de vidro espalhados em todas as direções. Com a pouca luz que entrava no quarto as três horas da madrugada, podia ver o liquido vermelho na borda do caco em que eu provavelmente havia me cortado e a foto de um casal feliz com a sua filha.

Eu provavelmente deveria queimar aquilo ou coisa parecida.

Eu não considerava mais aqueles dois idiotas os meus pais.

Ah, sim. Creio que devo explicar o motivo disso.

Os dois haviam se divorciado quando eu tinha quatro anos de idade e a minha mãe entrou em depressão logo depois. As coisas realmente pioraram quando eu tinha seis anos, mas eu e a minha irmã conseguimos nos virar até uns dois anos depois disso.

Quando eu tinha oito, ela se mudou para a América para estudar. Eu acho que foi nessa época que virei uma bibliólatra que vivia parcialmente no mundo da ficção.

Um ano depois, a minha mãe saiu da doença. Mesmo assim, quando eu estava para completar onze anos, ela se casou de novo.

Nada contra o cara. Ele até que era legal, mesmo eu não me lembrando o nome dele.

Tanto faz, isso começou quatro anos infernais. Ele foi o primeiro casamento dos três e durou cerca de seis meses.

O segundo surgiu quase um ano depois foi um pouco pior; pouco mais de um mês. Foi ai que eu me tornei uma viciada na internet sem esperanças e passei a evitar qualquer tipo de contato social. O homem deveria ser um réprobo ou coisa assim; por mais que eu quisesse ficar em casa, era simplesmente insuportável e eu brigava muito com o meu ex-padrasto muito, então eu ganhei o hábito de perambular por ai e passar um tempo considerável enfurnada na biblioteca do colégio.

E agora, o antigo e mais recente casamento. Algum tipo de recorde. Minha mãe havia conseguido ficar com o cara por mais de dois anos, embora a minha ficha tenha ficado realmente suja no colégio nesse meio-tempo.

E então, o quinto divorcio na curta e trágica de Shinimori Kyoshi.


A minha paciência finalmente havia se esgotado.


Não demoraria muito tempo para o ciclo começar novamente, então eu estava partindo. Eu iria recomeçar toda a minha vida do zero, como a minha mãe havia feito quatro anos atrás. Não era muito longe: apenas o bastante para ser um lugar onde ninguém me conheceria. Caso as coisas ficassem realmente feias por ali, eu poderia voltar.

Já havia ajeitado tudo. A minha primeira opção teria sido viver com a minha irmã, mas os Estados Unidos simplesmente não eram uma opção. Não, eu iria viver com os meus avós por algum tempo.

Com o dedo cortado envolto por um chumaço de papel higiênico que já estava sujo de sangue, eu me aproximei da porta. A mala e a mochila estavam cheias de tudo o que eu ia precisar na minha mudança. Não havia nada que eu realmente prezava por ali.

De qualquer maneira, eu não havia dito nada para a Kyoshi. Tecnicamente, eu estava fugindo de casa.

Mamãe não se importaria muito, eu estaria em boas mãos. Logo, ela estaria correndo de novo atrás daquela coisa patética chamada amor.

Com uma última olhada na sala onde eu havia passado tantos momentos infelizes, eu deixei aquele lugar pelo o que pareceria para sempre.

Dessa maneira, a minha longa, longa jornada começou.


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