Marina escrita por Thainá Stephane


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

O primeiro capitulo como sempre, é só uma breve introdução à vida da personagem.



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Dez minutos.

Foi o maior tempo que eu já consegui ficar sem respirar dentro da água, e para ser sincera nunca cheguei perto do meu limite.

Abro meus olhos e vejo a imagem distorcida de André acenando pra mim e fazendo sinal pra que saia da água.Relutante, eu subo para a superfície e tomo fôlego – não por que precise, mas sim por costume – e o cumprimento com um sorriso.

- Você ainda vai acabar se afogando Sereia, foram quantos minutos dessa vez? Sete? – ele diz.

-Na verdade foram dez. – e abro o meu maior sorriso de orgulho.

-Nunca vou entender como você faz isso.Vá colocar as suas roupas, lembra que eu te convidei pra assistir ao meu jogo de basquete hoje?

-Lembro, eu já vou indo.

Dou um suspiro e saio da água em direção aos vestiários.Eu tinha esperanças de que o André não me pedisse novamente pra encarar os alunos metidos do seu colégio durante o seu jogo.Da ultima vez cerca de cinco garotas me cercaram logo depois de ele me lançar um olhar após marcar um ponto, e elas não saíram de perto de mim até eu afirmar umas dez vezes que nós éramos apenas amigos e que sim, ele estava solteiro; isso para não falar dos freqüentes sussurros de “eu acho que nunca vi ela nas aulas” ou então “o que ela faz aqui?”.O que eu não agüento só para não ver os grandes olhos castanhos dele tristes?

Chegando no vestiário me encaro no espelho.Meus olhos parecem ficar mais verdes a cada dia que passa, e como sempre que saio da piscina estão incrivelmente vermelhos por causa do cloro na água.Meus cabelos, é um milagre mas o cloro parece não ter efeito sobre eles, diferente de muitas garotas da época em que eu fazia natação, que podiam passar horas paradas na água só reclamando de como o cloro deixava seus cabelos ressecados e com um estranho tom de verde.Eu acho que tenho sorte dele continuar com seu tom de loiro escuro e sem nenhum ressecado que não se deva ao tempo frio.

Coloco minha calça jeans em um tom de azul desbotado, minha favorita, e penso por um segundo se devia colocar o uniforme do meu verdadeiro colégio, publico e sem nenhuma regalia, e assim evitar que fiquem se perguntando se eu estudo aqui.Não, se eu fizesse isso seria o fim das minhas horas na piscina e eu não poderia suportar ficar sem um lugar para nadar e traria vários problemas pro André, já que foi ele quem me ajudou há dois anos atrás, quando eu tentava pular o muro do colégio e acabei levando um tombo; ele ao invés de me chutar pra fora me ouviu e me apresentou para os seguranças como sendo uma nova aluna, assim eu poderia entrar pela porta da frente sempre que quisesse, já que como ele mesmo disse “Você não tem vocação para pular muros”.

Coloco o uniforme de volta na bolsa e visto uma camisa cavada branca, bem simples mas o suficiente para um jogo de basquete e assim termino prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo já que mais uma vez minha famosa falta de memória fez com que eu me esquecesse de trazer uma escova.

Saindo do vestiário olho com certa tristeza para a ala das piscinas.Esse colégio tem tantos alunos e em dois anos, mesmo vindo em horários alternados, nunca vi um deles nadando.André diz que é por que eles tem suas próprias piscinas em casa ou por que preferem sair o mais rápido possível de dentro do colégio, mas mesmo assim, quando minha mãe se separou do meu pai e não tivemos mais dinheiro para minhas aulas de natação, eu fiquei arrasada com a possibilidade de não achar outro lugar onde pudesse passar pelo menos uma hora por dia dentro da água, ninguém entende essa minha necessidade, nem eu mesmo entendo, eu só sei que tudo fica melhor quando estou nadando. O mais estranho é que em dois anos minha mãe nunca me perguntou aonde vou todo dia depois das aulas, nem mesmo quando eu apresentei o André para ela e disse onde ele estudava -uma escola para pessoas de uma classe social bem melhor do que a nossa- achei que seria quase impossível ela não perguntar como nos conhecemos mas ela realmente não fez nenhuma pergunta a respeito disso; sem mencionar que o maior talento da minha querida mamãe é me encher de perguntas sobre como anda a minha vida.

Olho no relógio, são quinze para as três ,droga vou me atrasar se não sair correndo para o ginásio que fica do outro lado do colégio.

Coloco as sandálias e saio correndo dos vestiários rumo ao ginásio .No caminho me distraio olhando na direção da sala de troféus – que está cheia com os vários prêmios dos alunos exemplares do colégio – e trombo com alguma coisa...ou será alguém?

Caio com as mãos apoiadas no chão e quando ergo o olhar, para ver o que estava no meu caminho, fico boquiaberta.

Bem na minha frente está o garoto mais lindo que já vi: olhos verdes como os meus, cabelos loiros brilhantes penteados para trás, músculos definidos se sobressaindo no uniforme do time de basquete do colégio e seus lindos olhos estavam me encarando de um jeito que me fazia pensar se ele conseguia ouvir meus pensamentos.

Era como se eu não estivesse mais neste mundo, não ouvia e não conseguia enxergar nada, todo o meu cérebro estava concentrando suas atenções naquele garoto maravilhosamente lindo.

-Hã...você está bem? – sua voz se possível soa mais linda do que sua aparência.

Com certa dificuldade para me concentrar respondo:

-Acho...acho que sim – e instantaneamente fico corada.

Ele me estende sua mão para me ajudar a levantar e novamente me distraio, dessa vez olhando seus longos dedos. Balanço a cabeça para clarear a mente e aceito a ajuda. No momento em que encosto em sua pele levo um choque; não um ruim do tipo que se leva quando está mexendo em alguma coisa relacionada a energia elétrica; um choque bom, do tipo que arrepia a pele e nos deixa ansiando por mais. Mas ao invés de buscar por mais ambos nos afastamos e eu me apoio na parede para levantar do chão.

-Então...você estuda aqui? Não me lembro de te ver por ai – ele fala isso de maneira casual, provavelmente tentando disfarçar o que aconteceu.

-Eu não estudo, só vim assistir ao jogo do meu amigo. – Não sei por que, mas enquanto ele me olhava com aqueles brilhantes olhos verdes, não fui capaz de mentir, nem mesmo se isso significasse problemas para o André.

-Que amigo? Eu sou do time – então ele olha para a camisa que está vestindo e abre um sorriso tímido.

Se é que isso é possível, fico ainda mais maravilhada com ele.

-O jogo já não vai começar? Acho melhor eu ir andando. – digo isso e saio correndo, antes que acabe arranjando problemas de verdade por não estudar aqui.

...

Quando entro no ginásio estou ofegando e penso seriamente se devia ficar para o jogo depois de quase abrir a boca para um estranho. Porém isso não seria nada justo com o André, e querendo não arriscar, vou até onde ficam os assentos mais distantes da quadra e me sento lá, decidida a ignorar qualquer um que tente conversar.

Quando me sento o locutor anuncia a entrada do time e dessa vez presto mais atenção, tentando reconhecer o lindo garoto de olhos verdes e cabelos brilhantes.

Você vai apenas olhar, nada de conversa, repito para mim mesma.

O locutor chega na vez de André, e quando ele entra na quadra me levanto e aplaudo com todas as minhas forças, tentando nesse gesto transmitir a minha boa sorte a ele, que se vira procurando por mim, e quando me vê abre um largo sorriso, do tipo que faz a gente se sentir em casa .Retribuo seu sorriso abrindo um maior ainda, e ignorando o olhar zangado das garotas.

Quando volto a me sentar a voz do locutor surge novamente anunciando Brendan Sanches e é nesse momento que descubro o nome do garoto misterioso.

Para minha enorme surpresa, seus olhos se voltam para mim e ele abre um sorriso maior do que o de André, mas ao invés de me sentir em casa, sinto algo queimar dentro de mim e parece que o lugar repentinamente ficou mais quente.

Corada, desvio do seu olhar e encaro o chão na minha frente. Infelizmente quebrar o contato visual não fez com que as garotas novamente me encarassem, mas dessa vez também fui capaz de ouvir seus comentários. “Quem afinal é essa?” disse uma loira de cabelos curtos, e ela foi gentil se comparada a garota morena de maquiagem carrega ao lado dela “Seja quem for é uma vadia, o André já não é suficiente? Ela precisa ficar com os dois garotos mais lindos do colégio?”.

E é por isso que eu detesto frequentar os jogos do colégio. Sempre que o André me olha ou sorri para mim essas garotas começam e dessa vez foi pior graças ao Sr. Olhos Verdes, o que ele estava pensando sorrindo daquele jeito pra mim?

O jogo começa e eu não consigo tirar os olhos dele. Parece que o mesmo acontece com o Sr. Olhos Verdes, que perdeu várias chances de marcar pontos para o time por que estava distraído demais com alguém nas arquibancadas para prestar atenção ao jogo.

No primeiro tempo eu tentei ignora-lo e olhar para outra pessoa, mas desisti quando vi que ele também me encarava. Se eu controlasse a boca e não revelasse que o André me ajuda a entrar escondida no colégio fazia dois anos, bom talvez então não tivesse problema em falar com ele depois do jogo certo?

Já no ultimo tempo de jogo eu percebi que não era a única com intenção de falar com ele e muitas das garotas também planejavam cercar o André quando o time saísse do vestiário, portanto decidi que assim que o jogo acabasse eu sairia do ginásio, mandaria uma mensagem avisando ao André que fui embora e assim evitaria ficar igual uma idiota esperando a atenção de qualquer um dos dois.

Assim que o ultimo apito soou eu me levantei para ir embora, e foi então que vi todos os olhares se voltarem na minha direção.

Graças a minha autoconfiança fiquei olhando na minha roupa para ver se tinha derramado alguma coisa nela ou se o banco onde me sentei estava sujo, depois de ver que tudo estava em ordem levantei os olhos e vejo Brendan parado bem na minha frente, me observando com aqueles olhos brilhantes.

- O jogo acabou, vai me dizer o seu nome agora? – ele parece bem mais confiante do que quando nos esbarramos no corredor.

-É...Marina, meu nome é Marina – digo quase num sussurro.

Ele abre aquele sorriso.

-Quer sair e comer alguma coisa Marina? Alias – ele estenda a mão – meu nome é Brendan, prazer em conhecê-la.

Em estado de choque e com o colégio inteiro olhando para mim eu faço a única coisa que faria alguém que quer evitar essa atenção e aceito o convite para sair rapidamente do ginásio.

- Quero. – e desço correndo as fileiras de assentos até chegar no corredor.

Quando chego ao meio do corredor me viro para ver se ele ficou lá dentro, mas me surpreendo e vejo que ele estava atrás de mim o tempo todo e quase esbarro nele pela segundo vez.

-Por que a pressa? – ele pergunta, aparentemente se divertindo.

-Olha, você fez todos lá dentro ficarem me encarando e eu odeio isso, custava muito esperar um pouco? – e percebo que minha voz soou mais irritada do que pretendia.

Ele parece confuso.

-Eu queria falar com você, e quando vi que estava se levantando – ele da de ombros – achei que seria a única oportunidade antes de você ir embora...não foi minha intenção chamar a atenção de todos.

Ele fez aquilo só pra falar comigo? Eu achei que era só para chamar atenção. Agora eu fiquei confusa.

-Mas agora com você suado desse jeito, duvido que algum lugar decente deixe você entrar desse jeito. – digo isso olhando para seu uniforme que está colado no corpo por causa do suor.

-Você tem razão...que tal ir para a piscina? – e mais uma vez abre um enorme sorriso.


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