Psicose escrita por claire salvatore


Capítulo 1
Prólogo




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Girava em minha cadeira sem ânimo e profissionalismo. Não me lembro da última vez em que algum paciente entrara naquela sala. Tomei um gole de meu café expresso sem açúcar e lambi os lábios com o sabor. Desde que eu me formara na faculdade, minha carreira não havia melhorado. Eu não havia dinheiro para abrir uma clínica, e as que eram boas, ficavam muito longes de onde eu morava.

Olhei pela janela, admirando a minha singela vista do Brooklyn. As casas eram germinadas de tijolos avermelhados e janelas pretas com a sujeira. Havia em vários bares que já estavam abertos - devido ao Happy Hour. - que tocavam um blues baixo, dando a impressão que eu estava nos anos 60. Como eu sempre fazia quando estava desanimada, contei os tijolos de meu prédio, que eram duas ruas longe de meu trabalho.

De repente, o telefone tocou, fazendo-me soltar a xícara e derrubando o resto do meu café.

– Droga. - praguejei, limpando com folhas de caderno, a lambança que fizera. - Por favor não desligue, não desliguei. - supliquei ao telefone

Depois de três toques, o telefone parou de tocar. Tombei o corpo na cadeira, bufando de raiva. Ótima hora para se fazer uma lambança, Elena.

E então, o telefone apitou.

– Hã, oi, esse é o escritório de Elena Gilbert? - meus olhos brilharam quando o homem falara meu nome. Sua voz era educada e hesitante. Ele continuou com o recado. - Bem, meu nome é Stefan Salvatore. E… eu gostaria de marcar uma consulta com Damon, meu irmão. - alguém no fundo gritou a Stefan para ele parar de ser idiota. - Damon você precisa sim de um psicólogo. - ele gritou de volta. E então, voltou a dar o recado. - Gostaria de marcar uma consulta o mais rápido o possível. Bem, me liga de volta. - espere Elena, por que você ainda não pegou a droga do telefone? Antes que ele pudesse desligar, agarrei o telefone.

– Olá. - falei, sem saber direito como me comportar. - Desculpe a demora para atender eu - mordi o lábio inferior, pensando em uma desculpa. - Estava com um cliente.

– Ah, tudo bem. - Stefan respondeu.

– Bem, você quer marcar um horário?

– Sim, por favor.

– Bem, Sr.Salvatore, devo dizer que estou bem ocupada. - falei, folheando a minha agenda vazia. - Mas posso encaixar o seu irmão amanhã, as nove horas da manhã até as dez. O que acha?

– Perfeito. - no fundo, Damon gritou que tinha um encontro. - Um encontro? - Stefan falou, pouco convencido. - Com quem? - Damon falou um nome que não consegui entender. - Mandy? Isso não é um encontro. É um programa. E como você marca um programa as 9h00 da manhã? - Stefan falou. E então, a voz de Damon estava mais clara agora. Provavelmente ele tinha se aproximado. - Não tenho de manhã, bocó. É hoje. Mas como nós vamos ficar a noite inteira acordados, provavelmente vou estar dormindo a essa hora, de cansaço. - ele falou com malícia. Não pude deixar de revirar os olhos. - Bem, 9h00 da manhã está ótimo Dra.Gilbert. - Stefan falou, ignorando a desculpa de Damon.

– Ótimo. - sorri. - Bem, nos vemos amanhã Damon. - falei. Eu sabia que ele estava ao lado, escutando tudo.

Desliguei o telefone com um sorriso largo no rosto. Eu sentia que as coisas iam melhorar, agora que eu tinha um paciente. Eu poderia pagar os aluguéis dividados, terminar a prestação da minha Chevy e, quem sabe, conseguir bancar o casamento de Caroline, como madrinha.

As luzes piscaram, fazendo rápidos blecautes. Presumi que Brooklyn iria sofrer um de seus famosos apagões naquela noite, em razão da tempestade que vinha. Juntei as minhas coisas, que eram basicamente, celular, sombrinha, um livro e documentos, e as joguei de qualquer jeito dentro de minha bolsa. Vesti meu cardigã preto manga três quartos em cima da minha camiseta branca e desamassei a minha saia de cós alto cinza, com renda floral. Calcei os meus sapatos saltos anabela vermelho, coloquei a bolsa em meu ombro e saí da sala. Virei a chave na fechadura, e certifiquei que a porta estava fechada. Apesar de ser uma clínica simples, ela chamava atenção aqui no Brooklyn, por ser grande e ter uma tecnologia relativamente avançada.

Percebi que eu era a primeira a sair. A medida que eu andava pelos corredores, podia-se ouvir as vozes calmas dos psicólogos, tentando acalmar seus pacientes. Ou, talvez, as vozes chorosas dos pacientes contando algo para os psicólogos. Eu gostava de ouvir sua conversa, pensar em uma solução em minha cabeça. Era assim que eu passava o tempo. Ri fraco, sozinha. Escutando conversas alheias e dando soluções que nunca serão ditas.

– Dra.Bennet, não sei mais o que fazer. - ouvi uma voz chorosa, vindo da sala de 18. Era uma voz jovem, feminina e desesperada. Parei no corredor, se aproximando e encostando a orelha na porta. - Descobri que estou grávida e… - sua voz falhou. - Não sei como contar para meu pai. Ele vai ficar irado. - e a garota, que não devia ter nem 16 anos, desabou a chorar.

– Vickie, não se preocupe. - Bonnie falou, com uma voz solidariamente falsa. - O melhor para fazer é contar com calma. Conte o mais rápido o possível.

– Acha mesmo? - a garota falou, pouco convencida, porém menos chorosa.

– Sim. - Bonnie respondeu. - Bem, a nossa consulta acabou. Foi um prazer, como sempre.

Voltei a andar pelo corredor, com a testa franzida. Eu, na verdade, não concordava com Bonnie. Antes de tudo, Vickie teria que se acostumar com a ideia de estar grávida. Assim, quando fosse contar para o pai, transmitisse confiança para ele.

Bem, mas quem sou eu para conselhar alguém?

Apertei o botão do elevador e fiquei fitando os números brilharem e apagarem, de forma descrescente, mostrando que o ele estava descendo. Uma porta no corredor se fechou, e ouvi passos atrás de mim. Vickie se colocou ao meu lado, limpando as lágrimas do rosto. Seu choro era alto e de dar pena. Ela certamente não sabia o que fazer.

– Você está descendo? - ela perguntou, tentando controlar a sua voz tremida.

– Sim. - sorri de leve.

– Eu também. - Vickie falou, sem jeito. - Desculpa, eu choro meio alto né?

– Não precisa se desculpar. - falei, girando os olhos e dando um sorriso desencanado.

– Você é paciente também?

– Não - falei, meio sem-graça. - Eu trabalho aqui.

– Hm. - ela murmurou. Então, olhou para a sala 18 e se aproximou de mim. - Pode me dar um conselho então?

– Claro! - falei, sem esconder o quanto eu estava radiante. Vickie deu um sorriso.

– Bem - ela mordeu o lábio interior, com dificuldades para falar. - eu estou grávida, e tal… - ela corou por alguns instantes. - A Dra.Bennet acha que eu devo contar o mais rápido o possível. Mas sei lá - ela olhou para mim, esperançosa. - não sei se é o certo.

– O que eu acho… - fingi não saber o seu nome. - Qual é o seu nome? - perguntei.

– Vickie.

– O que eu acho - recomecei - Vickie, é que você deve se acostumar com a ideia antes. E quando você se acostumar, aí sim você conta para o seu pai. Vai transmitir confiança e calma para ele.

– Como eu vou me acostumar à isso? - ela perguntou, meio desesperada, apontando para a barriga, que já estava ligeiramente arrebitada. Mordi o lábio, hesitante, antes de responder.

– Pense em quão bom vai ser. No começo vai ser díficil, claro. - adicionei. - Mas pense no seu filho, ou filha, pedindo colo, brincando com você. Pense no amor incondicional que ele teria por você. - falei com um sorriso largo. - Acredito que ter filhos deve ser a melhor sensação do mundo.

E nesse momento, o elevador chegou, com uma sintonia aguda. Eu e Vickie entramos, apertando no botão de térreo e de subsolo e as portas se fecharam. Durante a descida, Vickie e eu não trocamos uma palavra. Vickie olhava para o nada, com uma expressão pensativa, raciocinando com as minhas palavras. O elevador parou bruscamente, alguns centímetros antes do que deveria, e as portas se abriram.

– Bem, obrigada pela opinião Dra… - Vickie semicerrou os olhos, chiando.

– Gilbert - falei rindo. - Mas pode me chamar de Elena.

– Isso. - ela falou. - Bem, obrigada, Elena.

– Que é isso. - Vickie me deu um tchau com a mão e saiu do elevador.

Meu trabalho era só duas ruas de distância do apartamento onde eu e Carr dividiamos. Por isso, eu não tinha problemas em ir a pé para lá.

Mas aquela noite estava fria e escura. Apertei o cardigã mais próximo de mim, praguejando baixinho por não ter trazido algo mais quente. Enquanto eu andava pela rua, percebi que as luzes dos postes começavam a falhar, uma por uma, em fila indiana. Até que então, a rua estava um completo breu.

Eu nunca tivera medo de andar sozinha. Não sei exatamente o porquê. Talvez a noite me parecesse muito mais afetiva do que o dia. Mas por algum motivo, meu coração batia rápido. Eu via pontos pretos na visão. Eram aqueles velhos ataques de ansiedade. Respirei fundo. "Não tenha medo do escuro, Elena" escutei alguém falar. Sua voz era sedutora e ligeiramente rouca. Olhei para os lados, procurando o dono da voz. Mas não havia ninguém.

Apressei o passo, passando pela primeira rua. Eu escutava passos atrás de mim, mas quando eu olhava, nada aparecia. Tentei me acalmar, respirando fundo várias vezes.

A chuva começara, agora batendo com força em meu rosto. Formavam-se poças no chão, que eu insistia em desviar para não tropeçar. Porém, quem quer que estivesse atrás de mim, não se preocupava com isso. Eu ouvia seu passo pesado batendo na água, e sentia as gotas respigando em minha coxa nua. Virei o rosto brucamente, fazendo o cabelo grudar em minhas bochechas, e não vi nada além de um par de olhos claros e finos. E então, tropecei em um dos tijolos da calçada, desleixados e quebradiços. Joguei os braços para frente, para aliviar a queda, apoiando nas mãos. As lágrimas escorriam como nunca, e eu esperava qualquer movimento de meu perseguidor. Mas quem quer que estivesse atrás de mim, quando eu levantei o rosto acima do ombro, desapareceu.

Com um pouco de dificuldade, levantei da poça suja, desamassando e tentando secar a minha saia. Praguejei por ter sido tão idiota.

– É só a noite brincando com você, Elena. - falei, tentando convencer a eu mesma.

– Ou talvez seja só eu mesmo.

Ao ouvir essa voz por cima de meu ombro, imediatamente gritei e pisei no pé do homem. Dei uma cotovelada em suas costelas e sorri irônica quando ele gemeu de dor.

– O que deu em você, Leninha? - só então reconheci o seu sotaque.

– Puta merda Klaus. - gritei, com raiva. - Não faz mais isso! - Klaus deu uma risada sofrida. - Você me assustou.

– Bem, então missão cumprida. - ele sorriu. Sorri de volta, girando os olhos.

– Desde quando você está me seguindo? - perguntei, com a hipótese que era ele o tempo todo. Parecia com a cara de Klaus. Me fazer de idiota.

– Bem, acabei de sair dessa loja. - ele apontou para o lado. Ao semicerrar os olhos, vi que era uma loja de bebidas. Ótimo, pois eu precisaria de uma. Ou alguém estava realmente me seguindo, ou eu estava ficando louca.

– É melhor irmos logo. - Klaus falou. - Carr preparou o jantar.

Fiz que sim com a cabeça e começamos a andar. As luzes ainda não haviam voltado, e eu ainda tinha a impressão de que alguém nos observava. Mas Klaus emetia uma segurança. Talvez pelo seu olhar, ou pela sua altura de guarda-costas.

Não demorou para chegarmos no apartamento. Era um daqueles prédios típicos de Nova Iorque. Tijolos avermelhados, germinado com outro prédio. O batente das janelas era branco, e havia uma grande escada de incêndio acompanhando o prédio até o décimo andar.

– Ah, energia, você é uma vadia que sem coração. - Klaus resmungou, negando com a cabeça.

– São 2 andares. - falei, arqueando uma sobrancelha. - Vamos logo.

Klaus resmungou, começando a subir as escadas preguiçosamente. Ele batia o pé com força, ecoando um barulho alto e fazendo a escada tremular. Revirei os olhos com a sua má vontade. Ele era um completo sedentário, talvez por mal se mexer direito. Ele era um artista plástico, embora não tivesse achado ninguém que aceitasse expor as suas obras por um preço abaixo de cinco mil dólares.

– Teve alguma sorte hoje? - perguntei, mordendo os lábios. Klaus parou por alguns instantes e suspirou.

– Não, ainda não. - ele respondeu. - Mas fiz um desenho novo para usar como exemplo para as galerias.

– Ah é? - sorri. - Como é que é?

– Te mostro quando chegarmos. - e sorriu triste.

Paramos no segundo andar e batemos de leve na janela. Caroline estava acendendo mais uma vela, de inúmeras. O apartamento estava com uma luz laranja e leve. Podia-se ver, na mesa, o jantar que Caroline "preparara". Klaus bateu mais uma vez, para chamar a atenção de Caroline. Ela pulou, ligeiramente sobressaltada, e ao nos ver, sorriu. Ao meu lado, Klaus soltou um suspiro. Ele era completamente apaixonado por ela, desde o ensino médio. E toda aquela história do casamento da Carr e de Tyler estava simplesmente acabando com ele. Aproximei-se de seu ouvido e cochichei:

– Aproveita o jantar a luz de velas para fazê-la se apaixonar por você. - e dei uma risada de leve quando Klaus revirou os olhos, resmungando.

Carr virou a chave e empurrou a janela para o lado, dando espaço para nós passarmos. Beijei a sua bochecha, e entrei, me sentindo relaxada. A sala, que era grudada com a cozinha e com a mesa de jantar, estava quente sentindo-me confortável com o ambiente quente e escuro. Pelo canto do olho, vi Carr hesitar ao beijar Klaus; ela diz que não gosta dele, mas por mim, é só uma desculpa para o casamento com Tyler não parecer tão ruim. Sua mãe a obrigara a casar-se com ele, um veterinário rico e bem sucedido. Vi o rosto de Klaus corar levemente com o toque dos lábios de Carr em sua bochecha. Carr tossiu levemente e sentou-se na cadeira:

– Jantar de hoje: comida chinesa. - ela falou sorrindo.

– Com uísque porque a vida está uma droga. - Klaus falou, rindo sem graça, puxando a cadeira e sentando-se na cadeira a frente de Carr.

– Concordo! - ela falou.

– Por que? Você não está feliz por se casar? - perguntei, sorrindo de leve e encarando Klaus.

– Claro que estou. - ela corrigiu rapidamente. - Só estou concordando porque achei que nossa vida tinha que estar uma droga para bebermos uísque.

– Claro que não, minha querida. - Klaus falou, sorrindo. Abriu o uísque com um anel e pegou o copo de Carr, servindo até ela falar que estava bom. E então, inclinou a garrafa para mim, erguendo as sobrancelhas, perguntando se eu queria.

– Com toda a certeza do mundo. - falei com um sorriso largo.

– Ou você está muito feliz, ou muito mal. - Carr comentou, franzindo a testa. - Conte aí.

– Bem - olhei para Klaus e para Carr, mordendo os lábios com um sorriso. - eu finalmente arranjei um paciente!

Caroline sorriu largo, batendo palmas e agarrando a garrafa de uísque das mãos de Klaus, servindo a si mesma novamente. Klaus ergueu as sobrancelhas, sorrindo de lado. Roubou o uísque de Carr, que já enchia o terceiro copo.

– Não vai ficar bêbada antes do jantar, Carr. - Klaus reeprendeu. E então, pegou o próprio copo e encheu. Ergueu-o no ar e tossiu de leve. - Um brinde a Elena por agora ter a chance de ser babá de um maluco. - ele falou em tom divertido. Revirei os olhos.

– Que falta de sensibilidade, Klaus. - resmunguei, embora risse de leve.

– Que tal "um brinde a Elena por finalmente ter começado a carreira depois de dois anos roubando o meu dinheiro para pagar qualquer coisa"? - Klaus ergueu as sobrancelhas com expectativas. Fiz beicinho.

– Te odeio.

– Eu sei que você não me odeia, Leninha. - ele falou, sorrindo divertido.

– Odeio mais do que tudo. - falei, o encarando com seriedade.

– Não fale assim, me magoa. - e ele usou o seu sotaque britânico fortissimo, que ele usava apenas para pedir algo, ou para nos fazer se sentir mal.

– Usar o seu sotaque é golpe baixo. - falei rindo.

Carr, que já estava bêbada com o quinto copo, pegou a vela do meio da mesa e a segurou na palma da mão, estendendo-a de modo que ficasse entre eu e Klaus. Semicerrei os olhos sem entender.

– Estou segurando vela. - ela explicou, fazendo beicinho. Klaus revirou os olhos.

– Carr já está suficientemente bêbada para enxergar algo entre nós dois - ele apontou para si mesmo e depois para mim - então é melhor comermos logo.

Cada um de nós pegou uma das caixinhas de comida chinesa. Carr abriu a sua caixinha, posicionou os seus pauzinhos e comeu vorazmente o seu tofu e os bolinhos de arroz recheado. Klaus começou a desfrutar preguiçosamente sua sopa de bolinhos de peixe. Eu, no entanto, nem tocara ainda nos meus rolinhos de primavera. A voz daquele homem em minha cabeça ainda me pertubava, a sensação de que alguém me seguia me deixava assustada. Eu não sabia dizer se eu imaginara aquilo, se a noite brincara com os meus olhos, e o cansaço com os meus ouvidos. Ou talvez, Klaus tivera brincado comigo o tempo todo. Pelo canto do olho, vi os dedos de Klaus andarem na mesa, na tentative de roubar um dos rolinhos de primavera. Dei um tapa em seus dedos, franzindo os lábios e levando um dos rolinhos na boca.

– Foi possuída, Elena? - Klaus franziu a testa. - Você ficou olhando para o nada.

– Tá pensando no que? - Carr perguntou, jogando a caixa vazia para o lado.

– Em meu paciente. - menti.

– Qual é o nome dele? - Carr perguntou, pegando as caixas vazias e indo para a cozinha.

– Damon Salvatore. - respondi.

– Qual é o problema dele? - Klaus perguntou, pegando a garrafa e levantando-se da mesa.

– Não faço ideia. - falei, sincera, me levantando e desabando em meu sofá surrado e furado. Klaus sentou-se ao meu lado, deitando-se em meu colo e colocando os pés para fora do sofá. Revirei os olhos e o empurrei para frente, sem deixar de rir, quando ele caiu no tapete vermelho e cheio de mofo. Klaus se sentou no chão, fazendo-se de bravo e levou a garrafa a boca. - Eu não falei com ele, mas sim com o seu irmão, Stefan Salvatore.

Nesse momento, Carr apareceu na sala, meio cambaleando com os saltos que ela insistia em usar o tempo todo. Ela acreditava que um salto de alto a fizesse se sentir mais segura e imponente. Mas bêbada, do jeito que estava, sem conseguir ao menos se equilibrar, tropeçou no começo do tapete e desabou no chão, apoiando as duas mãos no peitoral de Klaus. Os olhos de ambos se encontraram, porém com expressões completamente diferentes um do outro. Os de Klaus estavam tensos e tímidos. Os de Carr estavam pervetidos e maliciosos. Ela olhou para a garrafa na mão de Klaus e sorriu com malícia. Suas mãos escorregaram pela garrafa, descendo até seus dedos tocarem nos dedos de Klaus. Retirou a garrafa com delicadeza e levou a boca, bebendo um grande gole de uísque que fez escorrer pelos cantos de seus lábios, molhando-os suavemente.

– Quer uísque Klaus? - ela perguntou sorrindo de leve, enquanto eu me esforçava para não rir com a cara de Klaus. Algo entre atônito, tenso, porém tentado. Ele aproximou a mão para pegar a garrafa, mas Carr a afastou, fazendo beicinho. - Não, não. - ela segurou o queixo de Klaus, aproximando-se. Sua outra mão pegou a mão de Klaus, levando-a para sua boca. - Aqui. - e roçou os dedos médios em seus lábios. O olhar de Klaus encheu-se de tentação e surpresa, e seus lábios finalmente começaram a se aproximar dos de Carr.

As luzes piscaram algumas vezes, dando leves blecautes e voltou completamente. E junto com as luzes, a sobriedade de Carr voltou. Ela arregalou os olhos, fitando os lábios de Klaus e se levantou, correndo para o quarto gritando que tinha que ir dormir cedo. Klaus suspirou, levantando-se do tapete e despediu-se de mim, dando um beijo em minha testa.

– Boa sorte amanhã. - ele sorriu pelo canto dos lábios.

– Ei pelo menos ela quis te beijar. - tentei animá-lo, mordendo o lábio inferior.

– Quando ela estava bêbada. - Klaus completou, irônico. Fez que não com a cabeça e suspirou novamente. - Boa noite, Lena. - e saiu do apartamento, sem esconder a sua raiva, batendo a porta.

Suspirei, mordendo os lábios e tomando o resto do uísque em meu copo. O levei para a pia, lavando-o e aproveitei a insônia para lavar a louça. Aquela voz, a perseguição fantasma, ainda me assombravam. Isso me lembrava esquizofrenia. Alucinações, era um dos sintomas, se eu não me engano.

– Ótimo, Elena. - falei, apertando os lábios um contra o outro, jogando a esponja contra a pia e enxugando minhas mãos. - Agora você é uma psicóloga mal-sucedida, e ainda esquizofrênica.

"Ou talvez você precise de uma aventura"

"Ou talvez você precise de uma aventura"

A mesmíssima voz soara, vindo de um lugar que eu não pude identificar, fazendo-me sobressaltar. Virei para trás, encarando a janela por alguns instantes. Por algum motivo, ela prendeu a minha atenção. Caminhei em sua direção, sem virar o olhar. Parecia haver uma sombra na escada de incêndio. Não. Definitivamente havia alguém lá. Quando eu piscara, percebi que meu nariz quase grudava no vidro. Naquela escuridão, eu não via nada. Bufei, respirando fundo por ser tão idiota a achar que ouvesse alguém lá. Por que haveria alguém na escada de incêndio? E então, a minha frente, dois olhos azuis e penetrante foram iluminados. Arregalei os olhos, colocando a mão na chave para desmacará-lo.

"Nem pense nisso, Elena." Ouvi a voz rouca e sedutora novamente. "Durma. Está tarde, e não é inteligente abrir porta para estranhos." A voz rira de leve, e os olhos azuis penetrantes ficaram finos. Como se o homem estivesse rindo. "Embora não convidar as pessoas para entrar seja mal-educado. Mas, por incrivel que pareça, não quero lhe fazer uma visita agora. Já basta amanhã." Franzi a testa. Amanhã? "Agora, durma" e então, talvez pela sua voz autoritária e sedutora, talvez pelo meu cansaço, meus olhos obedeceram, sem ao menos procurar um lugar mais confortável do que o chão.



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Notas finais do capítulo

olá! bem, essa não é a minha primeira fic no nyah, além dessa, escrevo outra chamada 1944. Eu realmente gostei dessa história, estou disposta a continuá-la. Porém, é preciso que vocês expressam a sua opinião contra ela. Espero que vocês tenham gostado ♥