Quatro Bruxos - Hogwarts, Uma História escrita por Shanda Cavich


Capítulo 3
Capítulo 2 - Juventude Transviada


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, espero que gostem (:



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Godric

O jovem subiu o grande morro, carregando consigo uma mochila. Anos atrás seu pai dissera que aquele era um lugar especial. Especial, porém perigoso. Apesar de, a princípio, parecer haver nada de diferente, aos poucos era possível notar uma fumaça rosada circulando entre as árvores. Godric Gryffindor era um rapaz arruivado, cabelos ondulados descendo as orelhas, olhos azuis celestes. Sua magia, bastante desenvolvida levando em conta a sua idade, foi capaz de proteger muitas pessoas, outras vezes fora destrutiva para os aldeões da região.

De repente o sono começou a vir. Sorrateiro, e até mesmo prazeroso. Seus passos começaram a lhe trair, suas pálpebras também. Cada vez em que se aproximava mais do topo da subida, a vontade de deitar naquela grama macia e tirar um cochilo se intensificava de modo feroz. “Acho que uma parada não me fará mal.”, pensou Godric. Então deitou na clareira inclinada onde o sol batia levemente, e adormeceu.

Abriu os olhos. Não sabia quanto tempo havia passado. Enxergava tudo de cabeça para baixo, fontes luminosas o cercavam por todos os lados. Ouro, pedras preciosas de todos os tamanhos e formatos estavam cravados nas árvores. Percebeu que seus pés estavam presos com uma corda, assim como suas mãos. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, um ser pequeno saiu de trás de uma das árvores. Segundos depois, mais três surgiram, e um deles segurava sua mochila.

– Você dormiu como um bebê! – disse um dos homens pequenos, com uma voz esganiçada. Sua face era assustadora e seus dentes afiados. Olhou para seu colega e berrou. – Esse moleque não tinha nada de valioso na mochila?

– Quase nada. Só um cordãozinho de ouro mixuruca!

– Isso era do meu pai! – gritou Godric, instintivamente. Estava pendurado, de cabeça para baixo e mãos amarradas. Os três pequenos seres o encararam. – O que vocês são?

– Ele quer saber o que somos! – zombou o líder dos homenzinhos. – Somos duendes, seu idiota! E você vai morrer!

O duende que segurava o cordão de ouro sorriu maldosamente.

– Esses humanos acham que são grande coisa! Argh! Mas basta uma magiazinha, e eles caem no sono!

Godric se deu conta do que esteve ocorrendo no vilarejo há alguns meses. Aldeões que transportavam material valioso desapareciam toda a vez em que passavam por aquela floresta. Aqueles duendes só podiam estar envolvidos. Godric, sendo mágico, já encontrara diversas criaturas do mundo da magia, mas os duendes não estavam sendo discretos assaltando a população daquela maneira, logo expondo o mundo mágico.

Um dos duendes, chamado Mith, direcionou uma grande faca em frente ao pescoço do jovem bruxo. No momento em que ia apunhalá-lo, o facão se desintegrou. A corda que prendia os pés e mãos de Godric se desamarrou aparentemente sozinha.

– Ah não! Ele é um bruxo! – gritou um deles, recuando. Os outros três se encolheram, como forma de defesa, colocando as mãos sobre a cabeça.

Godric caiu no gramado e rapidamente sacou uma espada do bolso em sua calça. Um bolso invisível, pois enquanto esteve adormecido os duendes não a roubaram.

– Devolvam minha mochila! – disse Godric, apontando sua espada ao duende Mith. – E o cordão!

A criatura buscou a mochila e o cordão rapidamente e os entregou ao jovem.

– Por favor, bruxo. Nos perdoe! – disse Mith, com uma voz rancorosa. – Podemos lhe recompensar, caso poupe nossas vidas! Ouro, senhor! Trabalhamos com ouro!

– Ouro? – Godric pensou durante alguns instantes, reparando como sua espada de ferro estava velha e enferrujada.



Rowena

A jovem de dezessete anos estava em pé no meio da multidão há horas. O centro da cidade estava bastante movimentado em função da vinda de estrangeiros para a Bretanha. Muitos desses estrangeiros roubavam as riquezas da ilha para levarem ao Norte ou para a Ásia, saqueavam embarcações e, principalmente, barbarizavam a cultura local, o que era uma das maiores preocupações do Rei Edgard.

– Compre uma flor, senhor. – disse Rowena, estendendo um cesto a um passante. Ela vestia uma espécie de túnica azul clara. O homem olhou para ela de cima a baixo, com um olhar de desprezo.

– Saia do meu caminho, cigana, ou chamarei os soldados. – disse o homem, ríspido. Este fazia parte do clero, e considerava qualquer moça daquela idade solteira, com o tom de pele mais moreno, e sem sapatos, uma cigana.

– Não sou cigana! – disse ela irritada, embora não tivesse nada contra os ciganos. Mas tinha orgulho de ser uma bretã, e detestava o preconceito que os moradores do centro tinham contra os aldeões do subúrbio.

Rowena não morava na cidade, mas sim em uma comunidade pagã mais afastada, junto de outros que eram como ela. É claro que ninguém sabia de sua identidade mágica, pois a matariam se descobrissem. O Rei Edgard era um homem extremamente católico, e acreditava que bruxos eram seres demoníacos, que tinham por intenção roubar, matar e destruir.

– Volte para o beco, rameira! Você não pode ficar em frente a minha banca! Meus clientes vão achar que atendo gente da sua laia! – disse um homem de meia idade, gorducho, sujo de suor e sangue de animais. Era um mercador, dono da banca de peixes e carnes.

– Porco! – gritou ela. – Não sou rameira! Estou vendendo flores!

– Podemos nos ver a noite, se quiser! Você é bonita, vale algumas das minhas moedas. – disse ele, mordendo uma moeda prateada tirada do chapéu. – Agora saia de frente da minha banca, ou chamarei os soldados!

Rowena estava acostumada com maus tratos e com ameaças dos “digníssimos” soldados do Rei. Mas se tinha uma coisa que ela odiava era ser confundida com uma rameira. Sentiu tanta raiva daquele homem que não conseguiu controlar uma força crescendo dentro de si. Com um estalar de dedos, os peixes e carnes pendurados na banca do mercador começaram a tremer, alguns explodiram, sujando todo o local.

– O que está havendo!? Minha mercadoria! – gritou o homem desesperado. Por uma fração de segundo, pôde jurar que a culpa era da moça. Mas depois pensou melhor, e viu que não fazia sentido, pois as mãos dela estavam ocupadas segurando o cesto de flores. – Oh não,estou arruinado!

Rowena deu uma risada proposital, suficientemente alta para o mercador se aborrecer ainda mais.

– Cigana dos infernos! Nenhuma mulher ri de mim, nenhuma! – o homem gordo levantou o punho. Antes que pudesse tomar qualquer atitude violenta contra a jovem, seu braço foi segurado por um jovem soldado ruivo.

– Posso saber o motivo da confusão? – disse o rapaz vestindo o uniforme vermelho contendo o emblema do Rei.

– Esta rameira...

– Não sou rameira! – interrompeu Rowena, furiosa.

– ...está incomodando meus clientes com sua imundice! Deve ter dito para algum trombadinha de sua família arruinar meus negócios! Olhe só o que aconteceu com os meus peixes!

O soldado encaminhou Rowena para longe da banca, deixando o mercador e a garota sem entender nada. Mas para evitar alguma confusão logo com um soldado, achou melhor obedecer. Chegando atrás do muro de um posto fiscal, ele parou e a olhou nos olhos.

– Eu sei o que você é. E não acho prudente que desconte sua raiva utilizando magia. Sua majestade, o rei, não ficaria feliz se soubesse da existência de uma bruxa nas redondezas.


Helga

Quatorze anos quase em cativeiro. Ela não chegava a odiar o feudo germânico onde nasceu, mas a cada dia que passava sua vontade de atravessar o muro alto e conhecer mundo afora era maior. Sua mãe, Gretel, era originária da Germânia assim como o próprio dono do castelo feudal, o Conde Dietrich. Mas Helga sequer teve a chance de aprender a língua germânica, pois todos na Ilha falavam o Inglês. E apesar da origem do Conde, a maior parte de sua família era bretã, e por conta da quantidade de vikings espalhadas por toda a Europa, qualquer língua estrangeira era motivo para preconceito e preocupação.

Gretel trabalhava com as plantações, enquanto Helga cuidava dos estábulos. As duas mantinham em absoluto segredo o fato de Helga ser uma bruxa. O Conde Dietrich era um homem terrivelmente rígido e, de certa forma, ignorante. Quando houve tempos de seca, as plantações do feudo não foram suficientes, então ele declarou “incompetência” por parte de seus servos naquele setor. Mas Helga, sempre disposta a ajudar, fez com que as plantações crescessem como nunca quando soube, poupando assim, o castigo que o visconde viria a sobrepor em seus empregados.

Durante a tarde, a jovem bruxa estava penteando uma égua com o nome de Charlotte, uma das favoritas do conde. Olhou mais atentamente ao portão dos fundos do feudo, e notou que o esqueceram aberto. Sem pensar muito sobre as possibilidades ou implicações caso ela o atravessasse, Helga foi até ele. Era por aquela passagem que alguns empregados iam até a cidade central buscar mantimentos. Puxou a porta de madeira cravada ao muro, levando a égua consigo.

– Hei, garota! – gritou uma voz masculina. – Não pode sair deste lugar sem autorização!

Helga olhou para trás e percebeu que quem falava com ela era um dos cavaleiros de confiança do conde, o Lorde Lovat.

– Fique onde está, e não a denunciarei! – ele disse um pouco mais calmo.

Alguns empregados se aproximaram, percebendo a confusão. Helga, mesmo sabendo do temperamento do conde, não podia descartar talvez a única possibilidade que teria na vida de sair daqueles muros. Montou na égua rapidamente e saiu com ela pela mata.

– Este cavalo é do conde! – gritou para os ares, na esperança de que ela ouvisse. – Ladra! Vai se arrepender por isso! Ladra!

Enquanto corria, olhava para trás inúmeras vezes, pensando em como faria para voltar e resgatar sua mãe. Para sua sorte o lorde não a estava seguindo. Embora cavalgasse muito bem, era muito jovem, e provavelmente morreria caso ele a alcançasse.

Salazar

A taberna estava cheia naquela noite. Todos brindavam a construção da ponte que facilitaria o acesso dos camponeses a capital. Mas o jovem rapaz, sentado no canto do bar, não estava nem um pouco interessado no bem comum dos bretões. Ele sequer tinha nascido naquelas terras, e o clima consideravelmente mais quente do que o de sua terra natal o incomodava. Com apenas quinze anos, o garoto transmitia o aspecto de um homem já feito, de olhos frios e cinzentos. E o calor. O calor o estava matando em pleno outono.

– Uma garrafa de vodka. – disse Salazar, para o suposto dono da taberna, um homem idoso.

O homem encarou o bruxo rapidamente, então deu uma risada.

– O que quer com uma garrafa inteira dessa bebida bárbara? E não acha que é muito jovem para estar aqui, filho?

Salazar Slytherin levantou-se da cadeira. Mesmo sendo um adolescente, sua altura ultrapassava dois palmos a do homem com quem ele falava.

– Uma garrafa de vodka. – o garoto repetiu, com uma voz tão sombria, que os pelos da nuca do idoso se arrepiaram. – É para o meu pai.

– Ah, é mesmo? – o dono da taberna duvidou. – E onde ele está?

A lareira se apagou subitamente. Os homens dentro do local, completamente alcoolizados, reclamaram com palavras grosseiras. A grande porta de madeira se abriu. E junto com o vento, um homem extremamente alto adentrou. Seus cabelos eram longos e negros, iguais aos de Salazar, porém com algumas mechas grisalhas. Sua barba era comprida e embaraçada, e seus olhos assustadoramente claros, como o gelo.

– Salazar, sem demoras. Pegue a bebida e saia. – disse Soren Slytherin, de modo firme.

– Pai, não precisamos fazer isso. – o garoto pegou a garrafa transparente da prateleira. – Estes homens não nos fizeram nada.

– Sei o que cada um desses homens faz todos os dias, filho, e posso lhe dizer que não são coisas boas. Acreditam que gente como nós dois somos monstros, aberrações do inferno!

– Mas, pai, nem todos devem pensar assim. – Salazar olhou novamente para o dono da taberna, que, diferente da maioria de homens bêbados, já estava com o medo penetrado no rosto. – Vamos embora.

Soren Slytherin pegou a garrafa da mão do filho e bebeu alguns goles. Direcionou-se a um homem calado próximo a janela, que embora parecesse assustado, não teve nenhuma reação defensiva, em função da embriaguez.

– Este trouxa aqui – Soren o segurou pelo ombro. – matou meu amigo! Não com as próprias mãos, mas o denunciou para o rei! Becrux Black foi morto ontem por causa dele! E agora ele tem que pagar.

Salazar sentiu primeiramente o ódio. Um ódio parecido, ou senão maior do que o do pai. Mas o sentimento passou, então voltou a pensar nas consequências.

– Mas os outros aqui não têm culpa disso. Estão apenas bebendo e comemorando. – embora a morte de Black tivesse lhe causado um grande impacto, ainda desaprovava a atitude de seu pai em descontar a raiva em inocentes.

– Todos tem culpa, Salazar. Todos são iguais e farão de tudo até matar cada um de nós. Pessoas como ele mataram sua mãe. Nunca se esqueça disso. – Soren apontou um cetro negro ao homem. – Avada Kedavra!

Então tudo ficou escuro, para o primeiro cadáver e para os que viriam dentro de alguns instantes.



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