Indiana Jones e o Mistério do Báltico escrita por Goldfield


Capítulo 8
Capítulo 7




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Capítulo 7


Um tesouro ameaçador.

 

De volta ao interior do U-Boat e tendo retirado as vestes de mergulho, o grupo liderado pela tenente-coronel Vogel avançava por um corredor; a militar, sempre à frente dos demais, carregando com as duas mãos o baú encontrado no barco viking afundado, ávida por abri-lo. O mesmo soldado encarregado antes de trazer o vaso contendo as moedas de ouro continuava tendo-o em seu poder, enquanto Indy, fitando alternadamente os dois artefatos em meio à escolta, desejava ser capaz de averiguar seus conteúdos longe dos olhos dos nazistas.

Resolveu provocar a Sophia loira, seu rosto ganhando uma expressão arguta ao perguntar:

         O que acredita estar lacrado no interior desse baú, fräulein?

Ela pareceu incomodada pela indagação, sua face se fechando mais ainda. Continuou andando e, sem olhar para trás, como de costume, replicou num ligeiro sorriso:

         A chave para compreendermos o mistério de Vineta, certamente.

Indiana fitou Heinrich rapidamente, e o professor alemão, cabisbaixo, parecia já conformado com a possibilidade dos exércitos de Hitler desbravarem a “Atlântida do Báltico” e se apoderarem de seus segredos como bem entendessem. Quanto a Vogel, apesar de não demonstrar, existia em sua mente certo receio particular em relação a aquele recipiente em suas mãos. Era como se pesasse muito mais do que deveria. Não necessariamente um peso físico – que era também presente – mas algo como uma aura mística, uma coisa que não deveria ser tocada e que afligia a tenente-coronel justamente por fazê-lo.  Sem contar as estranhas vibrações que pareciam provir dele... Similares a batidas num ritmo fixo. No entanto, ela procurava esquecer a superstição e concentrar-se na tarefa de descobrir o que tal achado significava.

Detiveram-se de súbito diante da porta do alojamento da comandante. Um dos guardas da escolta apressou-se em liberar o caminho, girando a tranca e removendo o obstáculo de metal. A altiva militar, a passos rígidos, adentrou o recinto em primeiro lugar, acompanhada de Jones e Kriegüer, empurrados pelos canos das armas dos combatentes. Um deles, aquele que trazia o vaso com as moedas, permaneceu no interior do local junto dos três estudiosos, enquanto os outros se retiraram para o corredor, o último fechando novamente a porta.

Ansiosa, Vogel removeu os papéis e livros que se encontravam em cima de sua mesa de trabalho e sobre ela depositou o baú ainda molhado. Em seguida, a um sinal seu, o soldado com o vaso também o colocou sobre o móvel, logo depois voltando a munir-se de sua submetralhadora e pondo-se em vigília perto da saída. Indy e Heinrich permaneciam um tanto afastados da alemã, temendo represálias caso se aproximassem. Porém, após um inesperado gesto por parte da mesma pedindo que chegassem mais perto, concluíram poder participar do exame dos artefatos sem grandes problemas.

O primeiro objeto analisado seria o vaso e as intrigantes peças douradas dentro de si. Sophia cobriu as mãos com luvas apropriadas, desejando acima de tudo não danificar os achados, e puxou-o para junto de si. Em seguida levou os dedos da mão direita mais uma vez ao seu interior, trazendo à visão dos dois prisioneiros algumas das moedas vislumbradas anteriormente durante o mergulho. Suas formas circulares eram quase perfeitas, as figuras que continham tendo sido gravadas com impressionante riqueza de detalhes. Se pertencessem mesmo a Vineta, então a antiga cidade, por ter constituído importante entreposto comercial, possuíra avançadas e cuidadosas técnicas para a cunhagem de dinheiro.

         Consegue identificar estes símbolos? – inquiriu Vogel a Jones, estendendo-lhe uma das moedas.

O aventureiro apanhou-a e, depois de um rádio exame a olho nu, segurando-a com dois dedos, perguntou à tenente-coronel:

         Você tem uma lente de aumento?

         Ja, tenho sim!

Ela abriu uma das gavetas da mesa, retirou dela uma lupa e entregou-a ao norte-americano. Fazendo uso desta, ele conseguiu averiguar melhor as inscrições presentes no diminuto artefato, coçando o queixo com a mão livre conforme efetuava suas conclusões. Calado e tomado pela curiosidade, Kriegüer apenas assistia ao processo. Após poucos minutos, Indy iniciou seu parecer a respeito do que conseguira observar:

         As inscrições são compostas por antigas runas germânicas, aproximadamente século X d.C., eu diria... Há representações de caça e peixes, comuns oferendas a Njord, deus dos mares, em torno da figura de um falcão.

         Um falcão? – indagou Vogel.

         Sim. O falcão, ou águia, é uma ave freqüentemente associada ao deus Odin. Com o cristianismo, também passa a representar Jesus Cristo como Rei dos Reis. De fato, as runas dizem que esta é uma moeda comemorativa ao primeiro milênio transcorrido desde o nascimento de Jesus, mas também saúda o senhor de Asgard. Assim, quem as utilizava parecia já estar se convertendo ao cristianismo e, ao mesmo tempo, ainda honrando as divindades nórdicas.

         Algo comum para o período – acrescentou Kriegüer. – Em muitas regiões a conversão das populações germânicas deu-se de forma gradual, com a religião cristã inclusive incorporando elementos da cultura pagã para facilitar a assimilação daqueles que se convertiam.

         A árvore de Natal, por exemplo – concluiu Indiana.

         Mas e esse falcão, o que tem a ver? – quis saber a nazista.

         Como eu disse, é uma referência simultânea a Odin e a Jesus, e de acordo com as inscrições, dá nome à moeda: “Falcão do Milênio” – e, ao explicar isso, o intrépido arqueólogo sentiu um estranho “déjà vu”, o qual procurou ignorar. – Em resumo: estas cunhagens honram ao mesmo tempo Jesus Cristo, Njord e Odin, em comemoração ao término do primeiro milênio da Era Cristã. É como se eles estivessem preocupados em cultuar o maior número de deuses possível...

         Para evitar uma tragédia, talvez! – completou sabiamente Heinrich. – Essas moedas devem mesmo ser originárias de Vineta!

         E provavelmente passaram a circular perto do ano 1000 – com tal fala, Indy encerrou a análise.

Vogel reclinou-se na cadeira, segurando o queixo e olhando o teto como quem tenta montar uma teoria a partir de várias hipóteses. Instantes depois disse, braços esticados sobre a mesa:

         De acordo com o relato de Giovanni Brazzi, a população de Vineta em seus últimos dias temia a represália de um deus nórdico. Levando em consideração também estas moedas, podemos ter quase certeza de que seus moradores sabiam do fim que os aguardava!

Jones e Kriegüer assentiram com a cabeça, porém preferiram não compartilhar com a comandante a idéia de que o tal “deus pagão” seria Njord. Se dependesse deles, manteriam essa informação oculta dos inimigos o máximo de tempo possível.

A militar, no entanto, percebeu que havia algo errado, captando um sutil clima de cumplicidade entre os dois prisioneiros. Franziu as sobrancelhas, desconfiada. Eles, notando a mudança na expressão da “Senhorita Frankenstein”, ficaram preocupados e seus olhares acabaram denunciando com maior clareza que compartilhavam um segredo. Foi num sorriso maligno que Vogel perguntou, aparentemente tranqüila, enquanto apanhava de volta a moeda examinada por Indy, retornando-a ao interior do vaso junto com as demais:

         É apenas impressão minha ou vocês estão escondendo algo de mim?

         Talvez seja nosso fascínio pela cultura nórdica! – Jones deu uma resposta cínica.

         Está brincando comigo? – a voz de Sophia ganhava tom cada vez mais hostil.

         Não estamos escondendo nada de você, e mesmo se estivéssemos, não teríamos a menor obrigação de lhe revelar o que é! – Heinrich afirmou de modo firme e desafiador. – Nós servimos a Clio, não à suástica!

Indy sorriu diante da poética frase do amigo. Clio, segundo a mitologia grega, era a musa inspiradora da História. Em seu íntimo, concordou totalmente com a corajosa sentença, porém Vogel demonstrou não a ter apreciado nem um pouco. Num movimento veloz, sacou sua pistola Luger, apontando-a imediatamente para a cabeça do compatriota do outro lado da mesa. Kriegüer, imóvel, passou a suar frio conforme ouvia a tenente-coronel falar:

         Ainda ousa ser petulante assim, traidor maldito? É bom lembrar que aos poucos seus conhecimentos sobre Vineta estão deixando de ser tão necessários. Assim que não precisarmos mais de seus serviços, pagará caro por toda essa pose de valente!

         Mas você ainda precisa dele, Vogel! – lembrou Jones, usando um tom sereno para acalmar a oponente e assim preservar a vida do companheiro. – Não suje suas mãos agora. Elas terão de estar limpas para verificar o que há dentro do baú.

A loira fuzilou o norte-americano com um olhar feroz, porém lentamente retomou o controle sobre seus sentimentos – o que foi facilitado pela sensação que o aventureiro lhe provocava – e abaixou a arma, colocando-a em cima da mesa para caso mudasse de idéia. Heinrich suspirou de alívio, fitando Sophia puxando o misterioso recipiente ainda fechado para perto dela. Ela permaneceu vários instantes observando-o fixamente, imaginando o que continha, que pista poderia fornecer. Os outros dois especialistas, por sua vez, eram invadidos por incômoda tensão. Acompanhavam cada movimento da jovem com certa angústia, uma expectativa difícil de descrever.

Ela todavia logo se deparou com o obstáculo antes constatado: o cadeado selando a tampa. Tateou-o de forma breve, analisando-o com cuidado. Em seguida fez um sinal para o soldado junto à porta do local. Ele, já conhecendo o desejo da superiora, aproximou-se retirando das costas um pé-de-cabra que trazia preso ao uniforme. Entregou-o a Vogel e esta, sem perder mais tempo, passou a utilizá-lo para pressionar a desgastada tranca. Teve de exercer uma força maior do que todos julgaram necessária para conseguir romper o objeto, o clima de suspense apenas aumentando diante da inesperada dificuldade. Por fim conseguiu cumprir a tarefa, a parte superior do baú sendo impelida violentamente para trás, por pouco não destruindo as debilitadas dobradiças que a prendiam.

Nesse momento, Indy e Heinrich, movidos por uma inexplicável curiosidade carregada de receio, aproximaram-se do recipiente e lançaram os olhares para seu conteúdo, atitude que Sophia, atônita e boquiaberta, já efetuava há quase um minuto. O que viram desafiou suas razões, suas capacidades de compreensão. De início não creram ser verdade, julgando-se imersos num pesadelo ou no mínimo um sonho deveras estranho. Porém era real, tocável, mesmo não fazendo nenhum sentido para eles. Ainda.

Parcialmente enterrado em meio a uma camada de terra escura que revestia o fundo do baú – o qual se mantivera por séculos inexplicavelmente seco, sem qualquer indício da entrada de uma única gota de água – existia um coração humano, vermelho. Pulsante. Sim, o órgão ainda batia como se nunca houvesse sido retirado do organismo ao qual um dia pertencera. Como? Difícil dizer.

         Mas o que é isto? – indagou Kriegüer, confuso e impressionado. – O que isto significa?

         A chave! – exclamou Vogel, olhos arregalados num repentino lampejo de loucura. – A chave para Vineta está bem aqui, ao alcance de nossas mãos!

Dizendo isso, a alemã tomou o coração em sua mão direita, sacudindo levemente os grãos de terra que ainda o cobriam, e ergueu-o diante dos prisioneiros e do guarda como se fosse um troféu. Indiana recordou-se de imediato dos terríveis sacrifícios realizados pelo sacerdote Mola Ram e sua seita Tugue à deusa Kali na Índia, as vítimas tendo os corações arrancados de seus corpos e brandidos pelo líder fanático de maneira praticamente idêntica àquela. Depois de tantos anos, voltava a contemplar cena igualmente perturbadora.

De alguma forma, Jones acreditava que estavam importunando algo que deveria ter sido mantido em paz nas entranhas do navio naufragado. Um artefato mágico, divino. E agora estariam sujeitos às conseqüências de terem se envolvido com uma coisa que não compreendiam...

O primeiro indício de comprovação dessa suspeita veio quando a luz do alojamento subitamente oscilou.

         O quê? – estranhou Sophia, tirando os olhos do coração por um instante.

A lâmpada tornou a piscar mais duas, três vezes. O guarda, assustado, recuou até a porta e, com os dedos trêmulos, passou a tentar liberar a tranca de modo desajeitado. Foi quando, para pavor da tripulação, toda a estrutura do submarino começou a ranger de forma intensa e medonha, o casco forçado de tal maneira que parecia gemer de dor. Algo comprimia a embarcação violentamente, uma pressão irresistível surgida do nada, como se de repente o mar houvesse decidido esmagar o U-Boat com todo o seu volume. Os ocupantes passaram a correr desesperados entre os compartimentos, alguns tropeçando conforme as luzes se apagavam por tempo cada vez maior, anunciando que logo deixariam de funcionar totalmente. O rangido do envoltório do transporte só crescia, tornando-se ensurdecedor, insuportável.

         Nós acabaremos morrendo! – exclamou Kriegüer, mãos tampando os ouvidos enquanto o interior do recinto começava a ser abalado, livros despencando da estante próxima da mesa e as peças de arte de Vogel igualmente ganhando o chão.

         O coração! – berrou Indy, praticamente sem ser escutado. – O coração é o motivo disso tudo!

A comandante, no entanto, voltara a ficar hipnotizada pelo órgão, ainda ostentando-o no alto de sua mão direita. Seu pulsar a maravilhava, seu encanto místico a envolvia. Que tipo de aura ou entidade permitia que continuasse vivo, mesmo fora do corpo do qual era originário? Teriam os antigos habitantes de Vineta desvendado esse mistério?

O casco do submarino, por sua vez, apresentava indícios de que logo seria rompido pela fúria das águas. Por toda parte parafusos, zunindo, começaram a ser projetados para fora do revestimento metálico, tão rápidos quanto balas, alguns chegando até a ferir integrantes da tripulação. E foi para desespero desta que os primeiros filetes de líquido salgado brotaram na carapaça julgada indestrutível. O U-Boat encontrava-se em vias de afundar, sua estrutura comprimida como uma lata de sardinha amassada!

         O coração! – Jones bradava o mais alto que conseguia, na esperança de que sua voz superasse o predominante som de esmagamento e se fizesse ouvir pela Vogel em transe. – Guarde o coração de volta no baú!

         Ele é a chave para Vineta! – ela afirmou com olhar distante, pronunciando cada palavra maquinalmente.

         Pode até ser, mas é ele quem está causando a nossa desgraça! Coloque-o de volta no maldito baú!

Súbito, a expressão facial da moça se alterou. Pareceu removida de seu estado de contemplação por sua própria consciência e, apesar do que acontecia ao seu redor, estava excessivamente calma. Fitou uma última vez o coração pulsante, o qual, em seu ritmo lívido, também pedia, de algum modo, que fosse retornado ao interior da caixa. Assim Sophia o fez, cobrindo-o novamente com uma camada de terra antes de finalmente fechar o recipiente e erguer a cabeça, olhando para os ofegantes prisioneiros. O soldado já havia abandonado o alojamento, tendo deixado a porta semi-aberta.

E eis que, como Indiana previra, o processo imediatamente cessou. O rangido do casco se extinguiu, a estrutura do submarino sendo deixada em paz. As luzes lentamente voltaram ao normal, e os ocupantes, aliviados e ainda perplexos, seus rostos assustados se alternando entre os buracos pelos quais vertia água e os corredores em desordem, pararam para raciocinar acerca do que ocorrera. No compartimento de Vogel, a atenção dos três especialistas se focava no baú fechado. Mas afinal, que artefato poderoso e atroz seria aquele?

A loira resolveu pensar nisso depois. A passos rápidos, dirigiu-se até a saída e, com o tronco pendendo para o corredor, ordenou aos comandados:

         Verifiquem e reparem os danos no submarino, depressa! Temos de seguir viagem!

Nada parecia abalar o ímpeto da jovem. Ela estava decididamente disposta a encontrar Vineta, mesmo depois de sinais tão aterradores. Indy e Heinrich permaneceram imóveis e calados, tentando ainda assimilar o que havia acontecido. A lendária tragédia que teria destruído a cidade que buscavam tornara-se inesperadamente real diante de seus olhos. E, em suas mentes, a certeza de que o deus Njord estava a ela relacionada só se tornava mais clara.

 

Entardecia na superfície do mar. Sophia Hapgood e George McHale, a bordo do barco cedido pela Resistência norueguesa, prosseguiam em sua rota pela costa inimiga no encalço do U-Boat no qual Jones e Kriegüer estavam sendo mantidos. A ruiva, debruçada junto à proa da embarcação, logo notou uma súbita agitação nas águas marinhas, que passaram a se chocar contra o casco em ondas mais altas que o normal, inclusive invadindo o interior do mesmo e molhando as vestes da moça. Ela logo recuou até a cabine de controle para manter-se seca e, atordoada, falou a Mac, o qual, junto ao leme, também sentia a inesperada mudança no oceano:

         Acho que o Báltico não gosta de nós!

         Acredito apenas que ele está tendo um dia ruim! – murmurou o inglês, mordendo os lábios. – Essa revolta no mar começou do nada! É como se ele possuísse personalidade!

Manejando o timão, o agente do MI6 lutou contra as tempestuosas ondas e correntes por mais alguns minutos, os violentos jatos de água atingindo cada vez mais a parte de dentro do barco e já ensopando os pés dos viajantes na cabine, quando de repente tudo se acalmou. Aparentemente sem uma explicação física coerente, as águas assumiram uma tranqüilidade ainda maior do que aquela nelas presente antes da turbulência, como que demonstrando alívio. Sem entender nada e apenas feliz devido ao suposto fim da ameaça marítima, Mac sorriu e continuou guiando o transporte pelo curso planejado. Sophia parecia mais confusa ainda, olhando em volta e para o companheiro de forma perplexa, até que resolveu indagar:

         Você consegue me explicar isso?

         Acho que o ataque de nervos dele passou... – o britânico replicou de modo divertido.

         É um mar bastante temperamental... Espero não termos problemas com isso.

         Nós não teremos. Somos amigos dele.

Hapgood deu uma risadinha sem graça e voltou para seu costumeiro posto junto à frente do barco. Tentava afastar os pensamentos a respeito de Indiana, já que estes só lhe causavam preocupação e embaralhavam ainda mais seus sentimentos. Ficar tanto tempo afastada da ação começava a incomodá-la. Esperava chegarem a Vineta logo, com sorte antes dos nazistas.

 

Dentro do submarino, Indy e Heinrich eram mais uma vez atirados ao interior do compartimento úmido que lhes servia de cela. O ambiente, porém, estava um pouco diferente, já que o casco fora ligeiramente amassado pela misteriosa pressão que quase esmagara o U-Boat; mas, para felicidade dos prisioneiros, nenhum borbotão de água do mar ali entrava devido a alguma eventual brecha que os tripulantes houvessem esquecido de fechar. Num suspiro de cansaço e insatisfação, o norte-americano sentou-se junto à parede fria enquanto ouvia o guarda que os escoltara dizer, antes de trancar a porta:

         Ficarão sem comida até revelarem tudo que sabem. Ordens da comandante!

Jones respondeu com uma careta que acabou não percebida pelo soldado inimigo devido às sombras do recinto. Em seguida foram selados e, em meio à quase completa ausência de luz, o aventureiro perguntou ao amigo alemão:

         O que acha daquele coração?

         Não tenho hipóteses no momento, porém estivemos diante de uma clara manifestação sobrenatural! – a voz de Kriegüer denotava assombro. – A quase destruição deste submarino que presenciamos há pouco não pode ser explicada pela lógica. Foi Njord, Indy! Njord usou o mar para tentar acabar conosco!

         Mas por quê? Tem algo a ver com o coração, por certo, tanto que a fúria cessou quando Vogel inseriu-o de novo no baú... Entretanto não consigo estabelecer uma relação entre as duas coisas. E, julgando a intensidade das águas quando o órgão foi perturbado, Vineta pode ter afundado em circunstâncias semelhantes...

         Eles cometeram o mesmo erro da tenente-coronel! Envolveram-se com poderes avassaladores além da limitada compreensão humana! Aquele coração realmente está ligado a Vineta e seu trágico fim!

         O que cabe a nós, agora... É estabelecermos qual é essa ligação.

Então voltaram a se calar, saboreando o silêncio enquanto tentavam elaborar teorias plausíveis sobre aquilo tudo. Exercício, aliás, um tanto complicado para Indiana, pois na visão dele o envolvimento de entidades ou eventos sobrenaturais sempre rompia a barreira do plausível. Levou os braços à nuca, cruzando-os e neles encostando a cabeça, imaginando o que ainda os aguardava. A ansiedade por mais pistas daquele intrincado mistério contagiava cada vez mais seu coração ávido por descobertas.

 

 

Glossário – Capítulo 7:

 

Runas: Letras que compunham diversos alfabetos para a escrita de línguas germânicas antes da adoção do alfabeto latino com a cristianização. Possuem variantes escandinavas e anglo-saxônicas conhecidas respectivamente por futhark e futhorc. As mais antigas inscrições em runas datam de 150 d.C., e seu uso entra em declínio nos últimos séculos antes do ano 1000. Nos tempos modernos, foram e são utilizadas com fins específicos como símbolos da ideologia nazista (em referência à herança dos povos nórdicos), em obras de fantasia medieval (como a de J. R. R. Tolkien, autor de “O Senhor dos Anéis”) e em movimentos como Neopaganismo e Nova Era.

 

Continua...

 

 


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