Indiana Jones e o Mistério do Báltico escrita por Goldfield


Capítulo 6
Capítulo 5




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Capítulo 5


Rumo ao Báltico.

 

Indiana – cansado, sujo, com o corpo dolorido e, pior de tudo, sem seu estimado chapéu – seguia pelos estreitos corredores do submarino, escoltado pelo mesmo combatente que viera buscá-lo em seu cárcere, rumo ao local onde deveria encontrar a ranzinza tenente-coronel Vogel. Conforme percorria o interior do U-Boat, passando por alguns marinheiros que o encaravam com semblantes ameaçadores, o arqueólogo se deu conta de como a embarcação alemã era apertada e gerava sensação de intensa claustrofobia. Não havia espaço para praticamente nada, os marujos se apinhando aqui e ali, de pé, sentados ou deitados, dividindo espaço com equipamento, maquinário, armas e víveres. Estes últimos, aliás, eram precários: pedaços de carne em conserva que balançavam pendurados quando, quase sempre, alguém neles esbarrava com a cabeça, e pães duros e velhos, alguns inclusive já embolorados. A vida a bordo de uma daquelas máquinas de guerra aquáticas não era mesmo nada fácil.

O nazista por fim parou diante de uma porta, indicando-a a Jones com um rápido gesto. O prisioneiro fitou seu inimigo com a cara fechada durante alguns segundos e por fim girou a tranca do obstáculo, liberando-o sem dificuldade. Foi sob a mira da submetralhadora que Indy adentrou o novo compartimento...

A primeira coisa a concluir foi que, apesar das acomodações da comandante possuírem dimensões igualmente pequenas, ela soubera muito bem como aproveitar aquele limitado espaço. O local que servia de dormitório e área de trabalho à oficial seria facilmente confundido com o aposento de uma casa em terra firme se não fossem as paredes de metal. Além de uma rica estante de livros contando com no mínimo uma centena de volumes e o quadro de uma bonita paisagem da Baviera, ambos próximos à cama, havia também uma mesa contendo máquina de escrever, anotações e obras abertas – certamente junto à qual Vogel realizava boa parte de seus estudos – sem contar as pequenas cômodas e móveis de maior requinte que, contrastando com os tons cinzentos do submarino, portavam objetos de ricos detalhes e dedicada fabricação.

O norte-americano viu primeiramente um lindo abajur cuja base fora pintada com várias gravuras remetendo a temas nórdicos, como Thor fulminando o solo com seu martelo e um navio viking desbravando águas desconhecidas. Depois notou, em cima de um pequeno suporte, uma réplica exata do modelo de submarino no qual viajavam, o U-Boat tipo XXI em miniatura fiel ao original em todas as suas minúcias, ostentando seus canhões na parte superior e uma reduzida bandeira vermelha retratando a suástica em seu centro, num círculo branco. Finalmente, e o professor deteve sua visão por mais tempo na admiração de tal peça, ali se encontrava também uma boneca de porcelana de cerca um metro de altura, seus cabelos prateados lisos e compridos lhe caindo até as costas, uma tiara negra bordada e contendo uma minúscula rosa adornando-os acima da cabeça. Usava um vestido cuja cor pendia entre o azul-escuro e o roxo, impecavelmente tecido, possuindo, na altura das pernas, cruzes alvas costuradas junto às bordas. Parecia bastante real, na verdade...

         Não está velha demais para brincar com bonecas, senhorita? – indagou Indiana.

A jovem loira, que se encontrava sentada atrás da mesa de trabalho envolvida com alguns escritos, ergueu então a face e respondeu, enquanto retirava seus óculos de leitura:

         Meu pai era um grande amigo da família Brunwald, descendentes da antiga nobreza austríaca. Infelizmente, seus últimos representantes faleceram quando o Hindenburg caiu na América em 37. Como eram grandes simpatizantes de nossa causa, legaram o castelo na fronteira austro-germânica que a eles pertencia a nós, que o transformamos num centro de inteligência e contra-espionagem. No entanto, os Brunwald também eram assíduos colecionadores de arte. Destinaram várias de suas aquisições a conhecidos na Alemanha, inclusive Ernst Vogel. Algumas dessas peças estão diante de seus olhos, herr Jones.

Nisso, Indy ouviu um som pesado atrás de si: a porta do recinto era fechada por fora pelo guarda no corredor. Estava sozinho com a fera da Ahnenerbe. Esta se ergueu em silêncio da cadeira e, após alguns passos, parou diante da estante de livros. Examinou uma das fileiras de exemplares por um momento, tateando com a ponta de um dos dedos indicadores as capas conservadas, e por fim apanhou um volume de revestimento azulado, título escrito em alemão através de chamativas letras douradas:

 

Vinte Mil Léguas Submarinas – Júlio Verne

 

         Aprecia literatura vitoriana? – ela perguntou ao prisioneiro, dirigindo-se em sua direção segurando a obra.

         Fico surpreso de não terem queimado esses livros também... – provocou Jones, sempre insolente.

         Esta é minha história favorita do período... Simplesmente amo o drama vivido pelo capitão Nemo e como no desfecho, num ato de profundos desespero e arrependimento, ele atira o Náutilo e toda sua tripulação contra um redemoinho, visando o suicídio e a expiação de seus crimes. Um intenso e inescapável redemoinho, doutor Jones. Maelstrom. Estou certa de que conhece a palavra.

         Maelstroms são poderosos turbilhões aquáticos formados pelo choque de correntes marítimas, ocorrendo principalmente na costa dos países escandinavos – o arqueólogo foi breve e didático em sua réplica. – Onde quer chegar?

         Segundo se diz, maelstroms são tão violentos que seus cernes podem tragar qualquer coisa para as profundezas mais obscuras do oceano. Barcos, navegadores... Uma cidade. Minha teoria é de que esse peculiar fenômeno natural, ocorrendo em algum lugar na costa germano-polonesa por volta do ano 1000, foi responsável pelo fim de Vineta e seu esplendor.

         Um fenômeno causado por Deus? – Jones foi irônico e ao mesmo tempo mordaz em sua colocação.

         Não creio em folclore ou superstições, herr Jones. É certo que em toda a Europa a ansiedade em relação ao término do primeiro milênio da Era Cristã, que supostamente traria consigo o julgamento final, afetou a mentalidade e cotidiano das pessoas. Tal desgraça, porém, parece ter se abatido somente sobre Vineta... Devido a uma infeliz coincidência climática e geográfica. E agora cabe a nós encontrarmos os vestígios de sua existência e provar que somente a raça ariana teria conseguido erguer uma metrópole de tamanha prosperidade.

         Conversa fiada...

         O professor Kriegüer não pensa assim. E os conhecimentos dele sobre Vineta serão muito úteis a nós. Quando o capturamos, fizemos uma vistoria em seu chalé à procura de algo que nos interessasse...

Enquanto falava, a tenente-coronel voltou para junto da mesa, apanhando de cima dela um caderno de capa um tanto surrada. Foi mostrando-o a Indy que ela continuou sua explicação:

         Acabamos encontrando isto: uma compilação de todos os símbolos e descrições de Vineta presentes nos relatos escritos sobre a cidade. O trabalho da vida de Kriegüer e um guia para qualquer um que deseje encontrar as ruínas. Agora eu poderei cruzar essas informações com uma outra fonte à qual tive acesso...

Pegou então algo mais que se encontrava em cima do móvel... Uma transcrição datilografada de algum tipo de documento antigo. Revelou então ao arqueólogo do que se tratava:

         Um mercador genovês chamado Giovanni Brazzi teria estado em Vineta no ano de 999. Ele descreveu com detalhes as soturnas expectativas de seus moradores em relação à chegada do Milênio. Achou-as, porém, infundadas, já que a população da cidade temia a fúria de um deus pagão ao qual teriam desrespeitado, e Giovanni era cristão.

         Deus pagão... – repetiu Jones, guardando aquela informação em sua memória, já que poderia se mostrar valiosa mais tarde.

         Graças a nossos aliados italianos, consegui obter essa fonte há dois anos, e venho-a estudando desde então. A pesquisa de Kriegüer só lançará mais luzes sobre meu trabalho. A localização da cidade já é quase certa, pois encontramos três de seus doze portões em alto mar, quilômetros acima do estuário do Oder. Assim que conseguirmos atravessá-los, as verdades e os tesouros de Vineta serão nossos.

         Só há algo que não entendo... Heinrich é útil a vocês. Mas por que ainda me mantêm vivo?

Nisso, o olhar de Vogel mudou subitamente. De um entusiasmo agressivo devido à cidade perdida do Báltico e seus mistérios, ganhou uma conotação de fascínio, astúcia e, por que não, luxúria. Indiana sentiu seu coração palpitar nervoso quando a oficial nazista aproximou-se de si fitando-o nos olhos, passos firmes e decididos, como dotados de um insano desejo. Ela se deteve a poucos centímetros do norte-americano, seus rostos quase colados, enquanto lhe dizia num tom de voz que até então ninguém, nem mesmo seus comandados alemães, já ouvira:

         Antes de conhecê-lo pessoalmente, pensava apenas em matá-lo, para vingar meu pai... Mas, depois que o vi... Forte, corajoso e provido de uma força de vontade inabalável... Acabou me seduzindo completamente, doutor Jones.

Num movimento rápido de seus braços, a tenente-coronel envolveu o prisioneiro pelos ombros, unindo-o ainda mais junto a si. Moveu então os lábios finos para roubar-lhe um beijo, porém Indy, pego de surpresa e mesmo estando com um verdadeiro incêndio em suas partes baixas, livrou-se da loira num empurrão. Ela recuou trôpega até a mesa de trabalho, nela apoiando o corpo e em seguida sentando-se sobre sua superfície. O aventureiro, por sua vez, encontrava-se ofegante, coração ainda disparado. Já estava ficando velho para viver emoções como aquela!

         Mas o que foi isso? – ele inquiriu, atordoado.

         É apenas a maneira como faz com que eu me sinta, doutor Jones... – ela respondeu num sorriso malicioso. – Será que resistirá a mim por muito tempo?

         Meu tipo de mulher é outro...

A porta do aposento voltou a se abrir, o carrancudo soldado fazendo um sinal com sua arma para que Indiana o acompanhasse. Antes de sair, todavia, ele olhou para a comandante uma última vez e perguntou, curioso:

         Pode ao menos me dizer como se chama?

         Sophia – e o arqueólogo se surpreendeu devido a ela ter o mesmo nome que a querida ruiva que ficara para trás naquela jornada. – Sophia Vogel. E, depois que encontrarmos Vineta e eu comprovar minha tese, poderá me chamar de doutora Vogel.

Indy deu um risinho sem graça e foi agarrado à força pelo guarda, que o puxou de forma brusca para o corredor. A porta foi novamente fechada e a tenente-coronel, sozinha e ainda acomodada em cima da mesa, passou uma das mãos pela boca sedenta de paixão...

 

Conforme guiava o caminhão pela estrada montanhosa, Myrvang dividia sua atenção entre o volante do veículo, seus companheiros a quem oferecera transporte – Sophia e Mac – acomodados na carreta que compunha um compartimento coberto anexo à cabine, e o rádio instalado junto ao painel, o qual transmitia, entre chiados, alguns trechos de frases e palavras. A dupla de agentes estava especialmente atenta a esses fiapos de comunicação, mesmo não compreendendo quase nada da língua do país e tampouco o código utilizado pelos falantes, pois a Resistência norueguesa tentava rastrear a localização do U-Boat no qual fora levado Indy, o que era facilitado pelo fato de vários dos membros se encontrarem a bordo de seus barcos de pesca em alto mar.

         Algum progresso? – indagou Hapgood ao motorista, enquanto este efetuava uma curva fechada no trajeto, fazendo o veículo e seus ocupantes sacolejarem.

         Nada ainda... – murmurou o loiro em resposta, sem mover a cabeça. – Mas nós logo conseguiremos encontrá-lo. Nenhum submarino pode ser tão difícil assim de descobrir.

Eles prosseguiram por cerca de mais um quilômetro, Sophia envolvida por pensamentos preocupados que cada vez mais se focavam na figura perdida de Jones e nos possíveis perigos pelos quais poderia estar passando. A ruiva se repreendia devido ao arrogante arqueólogo lhe ser alvo de tamanha consternação, mas era algo que não conseguia evitar. Ele fora e continuava sendo uma variável marcante em sua vida. E “variável” certamente era uma boa palavra para descrevê-lo. Mesmo com toda a inconstância e imprevisibilidade que predominavam nele e suas ações, Indiana ainda mexia muito com seus sentidos, anseios... e desejos.

A jovem foi mais uma vez retirada de forma abrupta do mundo das idéias quando Myrvang aumentou o volume do rádio. Mantendo apenas uma mão no volante, com a outra apanhou afobado um pequeno bloco de notas que trazia em seu colo e, apoiando-o como podia acima de uma das pernas, passou a nele registrar coordenadas usando uma caneta que apanhara de um bolso. Permaneceu em seguida atento a mais algumas informações fornecidas através do aparelho e por fim relaxou no assento, pegando as anotações e estendendo-as aos dois estrangeiros na carreta enquanto dizia:

         O U-Boat está na altura de Bergen, não se distanciando muito da costa. Nessas condições, não será difícil acompanhar seu rastro com um bom barco. Conheço um local perto daqui onde podem arranjar um o quanto antes.

         Muito obrigada por tudo que vem fazendo! – Sophia agradeceu sorrindo e colocando ternamente uma das mãos sobre o ombro esquerdo do norueguês.

         Disponha. Nós estamos lutando pelo mesmo lado nesta guerra.

Pouco depois Myrvang direcionou o caminhão por um acentuado declive, guiando, em meio à fantástica paisagem de um novo fiorde, na direção do nível do mar. Ao longe o frio oceano, em sua majestosa extensão, já podia ser visualizado como um monarca nórdico pronto para saudar seus súditos. Ao passarem por algumas cabanas isoladas pelo caminho, Mac disse à colega:

         Espero que o Jonesinho esteja bem...

         Tenho certeza de que está... – Hapgood respondeu com relativa segurança. – Ele sabe se cuidar!

 

A porta do escuro compartimento foi novamente aberta e Indy atirado com violência para dentro pelo soldado no corredor. Caiu de joelhos no chão, por pouco não batendo a cabeça contra o casco logo à frente. Ergueu-se enquanto o cárcere tornava a ser trancado e, suspirando, ouviu de Kriegüer, ao mesmo tempo em que se sentava em meio ao ambiente úmido:

         E então, como foi o encontro com a “Senhorita Frankenstein”?

         Um pouco produtivo, eu diria... – replicou o aventureiro, ajeitando-se como podia envolvido pelo breu. – Deve saber que ela está fazendo uso de sua pesquisa, e chegou a algumas conclusões interessantes comparando seus escritos aos de uma outra fonte, professor...

         Que outra fonte? – a voz de Heinrich demonstrava um interesse carregado de desconfiança.

         O relato de um mercador genovês, Giovanni Brazzi.

         A carta de Brazzi? Já ouvi falar dela, mas é quase um consenso que se trata apenas de uma falsificação produzida no século XIX. A maioria dos estudiosos de Vineta não a considera uma evidência confiável, apesar de que eu adoraria tê-la em mãos para averiguar seu conteúdo...

         Vogel não me falou muito a respeito, mas mencionou que, de acordo com o documento, em seus últimos dias a população da cidade temia a fúria de um deus pagão.

         Deus pagão? Ora, isso me é uma novidade. A não ser que...

Kriegüer calou-se por um momento e, apesar de não conseguir vê-lo, Jones sabia que ele estava pensativo, tentando construir um raciocínio a partir da nova informação que acabara de receber. Por fim o norte-americano ouviu-o socar o revestimento do submarino, aparentemente devido a uma certa frustração em obter boas conclusões, e falar:

         Isso não faz o menor sentido. Por que um deus viking desejaria destruir Vineta?

         Parece estranho a mim também! – Indiana afirmou bufando.

         Um julgamento efetuado pelo Deus judaico-cristão é muito mais coerente. Desse modo ele teria arrasado a cidade devido à ganância e à avareza de seus habitantes, assim como varrera Sodoma e Gomorra na Bíblia por conta também de suas faltas. A punição viria através das águas assim como o Dilúvio. Isso tudo se encaixaria muito bem na mentalidade predominante no homem da época, sem contar a crença de que esse mesmo Deus traria o fim dos tempos com a chegada do ano 1000. Mas será que estou enganado?

         Não que eu dê muito crédito a todo esse misticismo envolvendo Vineta, professor... Mas havia alguma divindade do panteão nórdico em especial que era mais digna de veneração na cidade?

         Sim... Njord, o deus do mar. Como os habitantes de Vineta eram muito ligados ao Báltico para efetuarem suas transações comerciais, presume-se que ele era bastante cultuado dentro de seus muros. Porém Njord sempre foi visto como um deus pacífico, protetor dos pescadores e caçadores, que lhe ofereciam em gratidão parte do que obtinham em tais atividades.

         Será que então o povo de Vineta não temia sua destruição pela fúria de Njord devido a não mais destinarem parcelas do que pescavam em sua honra ou dinheiro ganho pelo comércio para a manutenção de seus altares?

         Não sei... Não me parece que uma divindade desencadearia o fim de uma metrópole de maneira tão trágica somente devido a isso... Preciso refletir mais a respeito. Nunca havia considerado tal possibilidade.

Indy encolheu-se em seu canto. Acreditava que debater a cólera dos deuses não era lá muito produtivo, mesmo com tudo que já presenciara em suas expedições e aventuras. Todavia, no íntimo do arqueólogo estava latente a certeza de que, ao fim daquela missão, o que encontraria novamente abalaria suas crenças e convicções...

 

Completando a descida pela encosta de um monte, o caminhão aproximou-se do pequeno estaleiro quase escondido em meio à costa recortada da Noruega. Myrvang dirigiu na direção de um posto de guarda, pelo qual passou sem problemas após acenar para o vigia, seu conhecido, e finalmente estacionou junto a uma construção de dois andares, adornada com estátuas de madeira e outros objetos referentes à navegação. O loiro deixou o veículo junto com Sophia e Mac, o céu do final de tarde já ganhando aos poucos um tom alaranjado.

A dupla acompanhou o rapaz até o interior do lugar, onde, com outros integrantes da Resistência, foram acertados rapidamente os detalhes para o fornecimento de um barco aos agentes. Logo estes, ainda guiados por Myrvang, voltaram para fora e, percorrendo o tablado da doca, rumaram até uma embarcação a motor bastante satisfatória, equipada, a pedido da ruiva, com escafandros, uma máquina de bombeamento de ar e outros equipamentos para mergulho, já que não sabiam ao certo quando e se teriam de imergir nas águas marítimas em busca das ruínas de Vineta ou Indy.

Dentro de poucos minutos os dois estrangeiros já se encontravam a bordo, o inglês preparando tudo para zarparem. Antes que deixassem o improvisado porto, no entanto, o jovem nórdico permaneceu de pé próximo a Hapgood, admirando todos os seus movimentos, sua fibra e, principalmente, sua encantadora beleza. Assim que notou estar sendo observada, a mulher enrubesceu de leve e, encarando o rapaz, disse a primeira coisa que lhe veio em mente, tentando escapar àquela situação um tanto constrangedora:

         Se houver uma forma de retribuirmos sua ajuda...

         Na verdade há sim!

E, sem mais nem menos, o norueguês tomou Sophia em seus braços, beijando-lhe a boca com enorme fascínio. Permaneceram unidos por vários instantes, suas mãos tateando as costas um do outro num agradável reconhecimento, enquanto seus lábios se movimentavam de acordo com a prazerosa sincronia do desejo. Mac logo percebeu a cena e, um tanto desconcertado, foi obrigado a pigarrear para que os dois se desatrelassem.

         Eu não sei o que dizer... – oscilou a ruiva, com os olhos arregalados e totalmente sem palavras.

         Não diga nada! – Myrvang replicou sorrindo. – Apenas quero que seja esta a recordação que guarde da Noruega!

Ela assentiu desajeitada com a cabeça e, pouco depois, já deixava o país no barco, acenando para o loiro no píer em meio a um lindo pôr-do-sol tornado único pelo cenário oceânico. O britânico ajustou o trajeto da embarcação de acordo com um mapa e uma série de coordenadas fornecidas anteriormente, em seguida deixando a cabine e deparando-se com Sophia a contemplar o mar com a mente longínqua.

         O amor está no ar... – ele afirmou, logo depois retornando à sua tarefa.

Hapgood, por sua vez, limitou-se a um suspiro, olhos perdidos no horizonte. Concordava com Mac. Ainda com o gosto do beijo de Myrvang em sua boca, pensou em Indy, desejando que houvesse sido ele, ao invés do simpático norueguês, quem a tivesse presenteado com tamanha demonstração de carinho. Por fim, perguntou-se se todo aquele sentimento de paixão que os dominava não estaria relacionado à verdade por trás da lenda de Vineta...

 

 

Glossário – Capítulo 5:

 

Baviera ou Bavária: Estado e região da atual Alemanha, fronteiriça com a Áustria. Tem como capital a cidade de Munique.

 

LZ 129 Hindenburg: Dirigível ou “Zeppelin” alemão. Até os anos 30, foi o maior transporte de seu gênero já construído, realizando viagens através do Atlântico. Em maio de 1937, quando efetuava as manobras para pousar em Lakehurst, Nova Jersey, EUA, vindo de seu país natal, o Hindenburg foi tomado por um incêndio, que vitimou cerca de 36 pessoas, num dos mais marcantes acidentes aéreos da História.

 

Ficção Vitoriana: Denominação dada às obras literárias escritas durante o reinado da rainha Vitória (de 1837 a 1901) no Reino Unido, período conhecido como “Era Vitoriana”, não apenas dentro como também fora do país. Dentre tais criações, pode-se destacar os livros de Sir Arthur Conan Doyle (criador do personagem Sherlock Holmes), Bram Stoker (“Drácula”), Oscar Wilde (“O Retrato de Dorian Gray”, entre muitos outros), Lewis Carroll (“Alice no País das Maravilhas”), Júlio Verne (“Vinte Mil Léguas Submarinas”, “Viagem ao Centro da Terra”, “A Volta ao Mundo em 80 Dias”), entre outros.

 

Continua...


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