Viagem No Tempo HIATUS escrita por Borracha


Capítulo 4
Capítulo 3 - Os 300 De Esparta


Notas iniciais do capítulo

«À frente das várias nações submissas,
Do persa o escravagista intento.
Miríade armada à recusa grega
Partiram da Ásia e a sórdida premissa.
A Europa como meta,
A passagem era a Grécia.
Liberdade não com ouro, mas à espada,
Não concebem rei expulso de Esparta,
Demaratos nem o persa.
Já vendida a grega Jônia;
Do trácio Efialtes a traidora senda.
Por cada míseros metros de terra,
De vermelho tinge o delírio e a escarpa,
A Lacedemônia coesa e austera.
A decisão pelas Termópilas.
Honram o sacrifício os altos estreitos:
As sábias horas de Leônidas
À frente de apenas nove mil gregos!*
Vencem a cizânia após e a ofensiva,
Cem mil gregos livres em Platéias.
Salva a Hélade e a democracia,
Do espelho a dor contida
Daqueles homens as mulheres.»
Heródoto in "Guerras Pérsicas"



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http://www.youtube.com/watch?v=RpKgz8CKeZM

– Vocês devem estar a perguntar - se o porquê de termos feito uma paragem em Roma e só depois nos termos dirigido à Grécia - disse o comandante - provavelmente pensam que foi um erro. Pois se assim pensam, lamento informar - vos de que estão errados. Acontece que a brecha que nos trouxe até à Grécia se localizava em Roma. As brechas que nos dão acesso a mundos mais antigos são bastante imprecisas e algumas, como por exemplo as que nos dariam acesso a tempos mais remotos como a idade da pedra ou até mesmo o mesosoico já se encontram extintas. Há medida que nos aproximamos dos nossos tempos elas vão se tornando cada vez mais precisas. De qualquer das formas aqui estamos, na Grécia. Quem é que vai ser o próximo viajante espácio – temporal?

– Eu senhor. – uma vozinha disse fracamente.

– Quem falou? – o comandante perguntou.

– Eu, chamo – me Samantha Lopez. – disse uma rapariga magra de olhos e cabelos castanhos.

– Muito bem, podes ir vestir – te e sair.

Samantha levantou o assento, e ficou espantada ao ver um único manto branco.

– Senhor… penso que falta aqui roupa. A viajante romana usava mais roupa. E como todos sabemos o vestuário romano é igual ao grego, uma vez eu descende dele.

– Não, minha querida – ele disse com um sorriso malicioso no rosto – não há engano nenhum. Para onde vais, é permitido usar um manto na tua idade, mas a túnica ainda não. Além do mais, só é permitido tomar banho alguns dias por ano.

Samantha tremeu só com a ideia. Ficar fedendo seria o pior dos cenários. Ela ia dar um jeito. Talvez se pudesse atirar a algum rio ocasionalmente.

Quando saiu da nave estava sol e bastante calor. «Devemos estar no Verão», pensou. Pouco depois de andar um homem alto e forte barrou – lhe o caminho.

Vamos, criança. É melhor dares às perninhas, ou serás chicoteada no altar do deus Artémis.

Samantha correu em direcção a um grupo de crianças que estavam bastante sujas e um tanto fedorentas. Na realidade, cheiravam tão mal, que era possível detéctalas à distância. No entanto eram muito encorpadas e deveriam ter o triplo, se não mais da sua força.

– Desculpem – ela disse – estou um pouco perdida. Posso saber em que cidade estou?

– Tu és burra! – um deles rosnou – Deves estar a gozar comigo criatura. Estamos em Esparta, a melhor das cidades estado gregas.

Ok, ele era um espartano e estava a vangloriar – se por isso? Ela tinha lido bastante sobre a Grécia, mas ainda assim, achou que seria pouco provável ir parar em Esparta, por isso quase tinha ignorado esta cidade estado. Mas ela sabia que em resumo, eram o pedaço menos baril do conjunto da Grécia.

No entanto o que se passou nos dias seguintes teria deixado qualquer um boquiaberto.

Os espartanos eram um bocado estranhos. Achavam-se melhores que os outros. Se os espartanos queriam mais terras, bastava mudarem – se para lá. Se já vivesse lá alguém, os espartanos faziam deles escravos. Evidentemente, muitos deles não gostavam de ser escravos. Discutiam com os espartanos na única língua que os espartanos conheciam – a da violência. Eram provavelmente o povo mais duro de toda a Grécia, porque andavam permanentemente em lutas para provarem que eram os melhores. Mas não era suficiente treinar os jovens a lutar. O treino começava no dia do nascimento.

As crianças eram treinadas para ficarem em forma através da corrida, da luta livre, através do jogo da malha e do arremesso do dardo – e isso era só para as raparigas como Samantha. A vida não era nada fácil para elas. Tinham de despir – se nas procissões, danças e serviços do templo, e é claro, ela foi obrigada a fazê - lo apenas para não ser severamente punida. Era, supostamente, uma forma de aprenderem a não se exibirem com roupas bonitas.

Mais tarde acabou por entender o que o homem lhe dissera no dia da chegada. Um método histórico horrível de se provar que se era um bom espartano era ser chicoteado no altar do deus Artémis. O que sofresse mais chicotadas era o mais forte. A sangrar quase até à morte – às vezes mesmo até à morte, mas forte. Ah, sim, um perfeito espartano.

Era difícil sobreviver ao modo de vida espartano. Aliás, era difícil desde o dia em que se nascia. Um recém nascido era levado para ser visto pelos espartanos mais velhos. Se parecesse estar em forma e ser forte, eles diziam «Que Viva.» Se parecesse um bocadinho doente, era levado para uma montanha e deixado lá para morrer. Ela viu, dezenas deles serem retirados aos pais, que choravam inutilmente a sua perda. Parecia que aquele povo não tinha coração. Segundo eles, uma criança não pertencia aos seus pais – pertencia ao Estado de Esparta. Aos sete anos uma criança era enviada para se juntar a uma «manada», como eles mesmo lhe chamavam, de crianças. Era permitido à criança mais forte que mandasse nos outros. Os mais velhos que os observavam incitavam as crianças a lutar entre si para ver quem era o mais forte. Samantha foi obrigada a fazê –lo muitas vezes. Na maioria delas, devido ao seu pouco treino, saía bastante magoada. Um olho negro, algumas costelas partidas e a boca inchada foi apenas o panorama do primeiro dia.

Ao fim de algum tempo ela ía tão cansada para a cama, que nem importava o quão suja ou fedorenta estava. Se é que aquilo se podia chamar de cama. Ali, todos dormiam em camas de juncos que eles próprias apanhavam nas margens do rio. Segundo os seus “amigo”, que nem dignos do titulo eram, no Inverno, se tivessem frio, juntavam silvas aos juncos... pois o picar dava – lhes a sensação de calor.

Durante muito tempo, ela assim como os outros foram mantidos à fome. Depois, disso foram então encorajados a roubar comida – pois saber esgueirar – se é uma boa qualidade quando se está num campo de batalha. Os que foram apanhados a roubas, o que por sorte não foi o seu caso foram espancados. Não lhes batiam por roubar – batiam – lhes porque tinham sido suficientemente descuidados para serem apanhados.

Ela entendeu ao fim de algum tempo, que por vezes os jovens levavam pancada só para ficarem mais fortes. Se a pancada matasse o jovem... azar.

Os espartanos pareciam não conhecer a capacidade de socializar e fazer amigos. Dava para entender o porquê. Se chorasses enquanto lutavas, não eras só tu que eras castigado, mas também o teu melhor amigo.

As injustiças não eram apenas cometidas entre os mais velhos e os jovens. Eram também cometidas pelos jovens entre si. Os rapazes mais novos tinham rapazes mais velhos para os servirem. Se algum rapaz mais novo fazia algo errado, o castigo era uma dentada nas costas da mão.

Ao fim de algum tempo ela conseguiu finalmente, travar amizade com dois jovens. Melos, um pouco mais novo do que ela, que estava no auge dos seus vinte e um anos, mas bastante mais alto e musculado E Paros, um jovem bastante magro, cerca de quatro anos mais velho do que ela.

Certo dia, nos raros dias em que eram alimentados, Samantha deu de caras com a coisa mais nojenta que alguma vez havia visto.

– O que é isto? – ela perguntou nauseada.

– O quê? – perguntou Paros enquanto sorvia aquela “coisa” que parecia que a qualquer momento ía saltar do prato e engoli – los de uma só vez.

– Essa mistela repugnante.

– Oh, referes – te ao “Caldo Negro”. Bem, é uma espécie de caldo de carne. Uma mistura de sangue de carne de porco com sal e vinagre numa espécie de sopa.

– Eu não vou comer isso.

– Que bom – disse Paros – eu fico com a tua parte.

Melos tentavam comer aquilo, mas o aspeto e o cheiro, e possivelmente o sabor não lhe era indiferente.

– Os espartanos gabam – se de que são o povo mais corajoso do mundo. Para comer comida desta, devem mesmo ser. – ela comentou enquanto lhe dava de boa vontade o prato. Desejava ver aquilo o mais longe possivel dos seus olhos e do seu nariz. E acrescentou em tom de troça - Não é de admirar que os espartanos estejam prontos para morrer no campo de batalha – a morte tem de ser melhor que comer comida como a vossa.

Melos, que até então tinha permanecido calado, pronunciou – se.

– Isto não é bom. Estão a alimentar – nos. Isso significa que estamos prontos.

– E porque não seria bom? Vamos finalmente sair daqui. – o amigo respondeu alegremente.

– Paros, seu cérebro de galinha, achas mesmo? Nós nunca sairemos daqui. As coisas nunca irão melhorar.

– Bem, iremos para o exército. Combateremos os persas.

– Sim, e iremos perder, tu sabes bem disso. Talvez percamos antes disso.

– Sobre o que estão a falar? - perguntou ela curiosa.

– Na sociedade espartana não se é ninguém até estrangularmos alguém até à morte. O ritual de passagem, consistem em escapulirmos – nos da cabana à noite e matar – mos um escravo ilota. Mas chega de falar disto. Os persas são mais importantes.

Ela aproximou – se mais deles, que falavam o mais baixo que podiam, com interesse em saber mais, sobre essa guerra que se avizinhava.

– O império persa é enorme e dispões de imensas riquezas. Durante cinco anos o rei Xerxes usou essas riquezas para mobilizar soldados, construir barcos e comprar mantimentos para a invasão da Grécia. Tenciona incendiar a cidade estado de Atenas e destruí – la. Em comparação ao império persa, a Grécia é insignificante.

– Sim, pois é. – Melos foi obrigado a concordar. - O exercito persa é o maior e mais sofisticado do mundo. Diz – se que pode enviar de forma rotineira cem mil soldados terrestres para batalha em qualquer momento. Mas para esta invasão, crê – se que Xerxes mobilizou um número ainda maior de soldados. Achamos que talvez trezentos mil soldados mas alguns acreditam que pode chegar aos dois milhões. É como se o mundo inteiro nos viesse devorar.

Após uma longa conversa sobre guerra, os dois amigos que haviam falado de forma acirrada sobre o assunto, param um pouco. Nessa altura, Paros, decidiu que teriam mais tarde, tempo suficiente para falar sobre o assunto. E decidiram contar carinhosamente a Samantha, uma história sobre o tipo de pessoa que os espartanos costumam admirar.

Era um vez um bom rapazinho espartano. Ele roubou a cria de uma raposa que pertencia a outra pessoa. O rapaz foi visto a fugir do local do roubo e foi apanhado. Mas antes de ser apanhado teve tempo de esconder a cria da raposa na sua túnica. O mestre do rapaz perguntou – lhe onde estava a cria da raposa. O rapaz respondeu «Cria de raposa? Que cria de raposa? Não sei nada acerca disso.» O questionário do mestre durou... e durou. Até que de repente o rapaz caiu. Morto. Quando os guardas o examinaram descobriram que a cria da raposa tinha comido o rapaz até às entranhas. O valente rapaz espartano não tinha dado nenhum sinal de que estava a sofrer e não cedeu, ainda que isso lhe tenha custado a vida.

Nessa mesma noite, Samantha pôs – se a pensar em como vencer os persas. De certa forma, como todos ali, ela queria ser o tipo de pessoa admirada. Queria deixar a sua marca. E pensou... e pensou... e consultou mapas e estratégias... e pensou. E quando amanheceu, ela tinha encontrado a resposta. Ficou preocupada com Paros e Melos e sobre esse ritual que havia ocorrido na noite anterior, não gostava da ideia de eles se tornarem máquinas assassinas. Quando foi procurar os amigos, deparou – se com uma conversa bem alegre entre ambos. Aparentemente, Paros tinha colocado bosta de algum animal na cama de Melos e recusava – se a admitir.

– Não fui eu.

– Quem mais? É óbvio que estás a mentir.

– Eu não estou a mentir. Eu já menti antes. Sou bom nisso. Se eu estivesse a mentir tu nem ias perceber. Isso é um insulto à minha capacidade de mentir.

Antes que ela tivesse tempo de lhes falar sobre o seu plano, eles foram levados à presença do rei que lhes disse que seriam enviados para a guerra. Era a primeira vez na sua história que os gregos se uniam para a guerra em vez de se combaterem uns aos outros. As duas principais cidades estado, Atenas e Esparta, são famosas arquinimigas. Mas neste momento esqueciam as diferenças e uniam – se contra o inimigo comum persa. A comandar o exercito de aliança grego está o grande rei espartano, Leónidas. Ele foi eleito por todas as cidades estado.

Quando foram jantar, ela viu que era o momento propicio e falou a todos do seu plano. Nessa altura, não houve um único que lhe dissesse não. Todos a aplaudiram e momentos depois era levada à presença do rei.

– Quem é ele? – perguntou Leonidas assim que a viu entrar.

– Não é um ele senhor, é uma ela. – disse o general que a acompanhava.

– Agradeço mas eu não preciso de mais mulheres. Eu preciso é de ideias.

– Os atenienses ouvem – na.

– O atenienses ouvem qualquer rabo de saias. É isso que nos distingue deles.

– Não é isso senhor. Ela entende de guerra. Ela fez com que eles acreditassem que podemos ganhar esta guerra. Devíeis escutá – la. Além disso ela é uma das nossas.

– De acordo. Senta – se e fala.

Ela sentou – se confortavelmente e começou a explicar.

– O rei Xerxes, governante do poderoso império persa chegará em breve ao nordeste da Grécia. Este é provavelmente o maior exercito que os gregos algumas vez verão passar no seu território. Uma armada de quase mil barcos de guerra escolta o enorme exercito terrestre. Xerxes irá mobilizar o exército na província persa da Lydia e marchará mil e quatrocentos quilómetros em redor do mar Egeu em direcção à Grécia. Em Agosto chegará a um estreito desfiladeiro, Termópilas. O desfiladeiro tem apenas cento e oitenta metros na zona mais larga. No lado sul do desfiladeiro fica o monte Calidromos com cerca de mil e quinhentos metros. No sopé da montanha há um penhasco quase vertical de noventa metros. Para norte existe uma falésia sobranceira ao mar Egeu. Geograficamente, Termópilas é um ponto natural de afurrilamento entre o Norte da Grécia e o continente a Sul. A Sul ficam as cidades principais. Não há outra forma de ir do Norte para Sul.

– Não preciso de uma aula de geografia. Conheço bem o meu país. Vai directa ao assunto e deixa – te de rodeios. – disse o rei, interrompendo – a.

– Rei Leónidas deveis saber assim como os espartanos e todos os gregos, que é aí que se pode fazer um reducto. Pode ser o local onde estabeleceremos as nossas defesas. Os persas são mais do que os gregos à razão de cinquenta para um. Apesar da inferioridade numérica se os gregos se posicionarem da forma certa poderão fazer frente ao exército persa.

– Seria uma manobra estratégica brilhante e os gregos poderiam destruir a vantagem numérica dos persas, ao escolherem Termópilas como campo de batalha. – o rei disse boquiaberto com tal perspicácia da parte dela.

– Exato. Um desfiladeiro transforma a força em fraqueza. O tamanha torna – se uma desvantagem porque é preciso afunilar para que todos passem o desfiladeiro.

– E mais? – o rei perguntou ansioso.

– Ao lado de Termópilas há um apertado canal, penso que seja chamado de Estreito de Artemisia. Os barcos persas vão tentar navegar para a retaguarda do vosso exército e cercá – lo. Se a armada persa atravessar o Estreito de Artemisia, o que acontece é que enquanto as forças principais de Xerxes lançam uma carga na frente, as forças terrestres podem avançar e apanhá – lo com uma manobra de cerco. Para resistir em Térmópilas é necessário parar a armada persa em Artemisia.

– Bem, acho que podemos mobilizar alguns barcos de guerra gregos para defender o estreito e parar a armada persa. Quantos achas que serão precisos?

– Trezentos deverão ser suficiente.

O rei, ficou estupefacto com o plano dela. Criou um pequeno exército do qual faziam parte soldados por ele próprio escolhidos. A guarda do rei espartano era composta de trezentos cavaleiros, os pares ou iguais. Escolher trezentos bons guerreiros era coisa muito fácil, mas os que foram combater em Termópilas foram escolhidos a partir de suas mulheres, que por serem altivas, fortaleceram o espírito de liberdade helénico.

Paros e Melos, amigos inseparáveis desde a infância, falavam descontraidamente, embora fosse claro a tensão que estava no ar.

– Ele vai matar – nos! – dizia Melos, sempre sensato. Eles faziam um perfeito contraste. Melos era a voz da razão enquanto Paros raramente dizia algo que fizesse sentido.

– Ele e que exército?

– Estiveste a ensaiar essa deixa, certo?

– Sim.

– Mas não foi uma boa altura.

– Porquê?

– Hum... não sei. Talvez porque ele tem mesmo um exército!

Quando Samantha chegou ao barracão dos gregos, tinha à espera uma mensagem de um dos adjuntos do rei Leonidas: poderia assistir se quisesse, mas ficava proibida de se aproximar do centro de comando ou do campo de batalha. E em circunstância alguma interviria fosse de que maneira fosse.

Eram excelentes noticias. Samantha receara que, por maldade, Leonidas, resolvesse inclui – la em qualquer coisa perigosa. Era evidente que, em caso de vitória ou derrota, Leonidas não queria que Samantha granjeasse mais fama para si mesma. Samantha escreveu uma resposta a confirmar a ordem e foi alegremente dormir.

Horas antes tinha partido para Artemisia a armada grega. No navio bandeira ateniense estava o comandante militar Temistocles.

Se Temistocles ou Leónidas falharem, dezenas de milhares de atenienses irão certamente morrer e o resto das cidades estado gregas enfrentam uma possível escravização.

O cenário está montado. Os combatentes estão em posição. O destino está prestes a ser traçado. Leónidas e os espartanos esperaram a vida inteira por este momento. Os espartanos nasceram para combater.

Como acontece sempre antes de uma batalha, Xerxes tenta negociar com Leonidas. Envia – lhe uma mensagem que diz: «Estão em desvantagem numérica. Estão a enfrentar o maior exército do mundo. Não seja estúpido Deponha as armas e viverá. Ao contrário vão morrer todos.»

É claro que Leónidas não gostou.

O mensageiro diz: «Estejam preparados para morrer. As nossas flechas vão tapar o sol.» Ao que Teneses, lugar tenente de Leonidas responde: «Tanto melhor, combateremos à sombra.»

Leonidas e os seus soldados assumem a formação de batalha habitual, a falange. Os trezentos espartanos enviados para Termopilas deveriam defender aquele desfiladeiro ou morrer a fazê – lo. Os espartanos combatiam em plutões de oito homens alinhados em filas de quatro, ombro com ombro, com uma pessoa a espicaçar a outra para manterem os escudos direitos. Forma – se uma barreira de escudos na frente.

Do lugar de onde observava, para Samantha, era essencialmente uma parede em bronze, madeira e músculo ali a brilhar com o sol.

Todos os soldados gregos são infantaria pesada, são chamados hoplitas.

Xerxes cumpre a sua promessa de tapar o sol e ataca primeiro. A cerca de cento e cinquenta metros dos gregos, milhares de arqueiros persas lançam uma carga de flechas. As flechas ressaltam nos escudos e quase não fazem ferimentos. Com as armaduras dos hoplitas, a menos que acertasse num olho, a seta não poderia perfurar.

Depois do fracasso do lançamento das setas, dez mil homens de infantaria ligeira fazem uma carga sobre os gregos. Quando chocam contra a falange, esta nem se move, tal é a união dos gregos. Depois de travarem o inimigo partem para a ofensiva. As duas linhas da frente lançam um ataque coordenado de lanças por cima e por baixo da barreira de escudos. Há gritos e sangue por todos os lados. No primeiro ataque morrem mil homens e a maior parte dos ferimentos torna – se fatal.

A batalha decorre em intervalos ao longo de todo o dia. Os persas são alvos fáceis, quase não usam armadura e têm escudos de madeira toscos. O exercito persa, preso no desfiladeiro não consegue manobrar nem utilizar a cavalaria. O primeiro dia foi uma carnificina.

Equanto isso, os persas tentam tomar a retaguarda através do mar. A grande batalha naval entre gregos e persas está a ensanguentar o estreito de Artemisia.

Ao fim da tarde, Temistocles provoca a armada persa. Tentam abalroar os barcos inimigos e deixá – los inutilizáveis. Os gregos fizeram enormes danos além de terem capturado trinta embarcações inimigas e terem feito imensos prisioneiros. O primeiro dia é um sucesso!

Durante a noite uma enorme tempestade. Raios e trovões. Poucos dormiram e o cansaço fazia – se sentir no dia seguinte.

De certa forma, Samantha sentia – se responsável por aquelas vidas.

Pela altura do pequeno almoço, Paros abraça – a alegremente, dizendo que ela era um génio e não havia forma de perderem aquela batalha.

– Os nossos lindos inimigos persas mataram – se a si próprios. A armada persa foi dar a volta a Euboia e foi totalmente engolida pelo mar.

Nesse dia, Xerxes envia a infantaria pesada. Silenciosa e com máscaras. São conhecidos como Os Imortais.

Quando embatem acontece o mesmo do dia anterior. A força grega não recua. As lanças persas não conseguem perfurar a armadura grega. Mas as lanças gregas atingem facilmente o inimigo, sobretudo tendo em conta que estes tinham como única protecção um escudo de vime. Era evidente que nunca tinha enfrentado um exército de hoplitas.

Ao final de cada embate os mortos e feridos amontoavam –se e os intervalos eram aproveitados para desimpedir caminho e livrar – se dos corpos.

No fim de segundo dia o número de mortos persas continuava a aumentar.

No mar, Temistocles voltava a causar danos nas poucas embarcações que restavam.

Samantha estava infinitamente feliz. Os seus dois amigos estavam vivos e só isso importava. Mas nem ela poderia imaginar que nenhum deles jamais sairia do desfiladeiro.

Xerxes estava envergonhado. O exercito estava a consumir mantimentos e não estava a ganhar em parte alguma. Ao cair da noite do segundo dia de batalha, ao ver que não conseguiria transpor a cerrada defesa grega e ao saber que os mantimentos estavam a acabar, depois de a infantaria pesada ter falhado ao centro, a coberto da escuridão começou a deslocar dez mil homens através de um pequeno trilho que saía do acampamento persa, rodeia o monte Calidromos e continua para lá das linhas gregas.

Mas Leonidas conhecia esta passagem. Sim, caso eles ganhassem, o mérito não seria apenas dela. Até porque ele não iria deixar e além disso também tinha a sua quota de mérito no feito. Antes do primeiro dia do ataque Leonidas tinha estacionado mil homens no topo da passagem. Esta força era contituida por fóssidas. Mas quando os persas se aproximam das linhas fóssidas a força defensiva desapareceu.

Existe uma passagem que conduz a Fóssida através daquele trilho. E por alguma razão os fóssidas pensaram que a invasão seria na sua terra natal e desertaram para puder proteger as suas familias. Que estupidez!

Por esta altura Leonidas, os espartanos e os restantes gregos já estavam condenados. E a falta de cuidado levaria Samantha a seguir o mesmo caminho. E a meio da noite ficaram a saber.

Leonidas anuncia que estão perdidos e ordena a retirada. Assim é feito, no maior silêncio para que o inimigo não o saiba e possa atacar.

Ao nascer do dia já todas as tropas gregas retiraram. Todas exceto Leonidas, os trezentos espartanos e cerca de mil soldados da cidade estado grega de Téspia. Eles podiam ter ido, mas por alguma razão quiseram ficar para trás e lutar lado a lado com os espartanos até à morte. Este pequeno exército havia ficado para ganhar tempo. Para que os restantes homens pudessem se ir juntar a um número maior e organizar as defesas da Grécia.

Xerxes enviou um batedor. O batedor aproxima – se e vê os espartanos a fazerem exercício despidos e a espalharem óleo neles próprios. Depois a limparem – se e a arranjarem os longos cabelos e a prenderem – nos. Os persas olham para aquilo e vêm vaidade pois não sabem que os espartanos estão a preparar os corpos para a morte. Xerxes não acreditou que os gregos fossem imbecis ao ponto de irem combater para morrerem. Xerxes não conhecia os espartanos.

Formaram uma última vez com Samantha a fazer parte do grupo. Não faria diferença de qualquer das formas. Melos havia lhe dito anteriormente: « Mantém – te firme e não saias do lugar. Às vezes temos a falsa ilusão de que se nos movermos poderemos sobreviver. Mas quando estamos em campo com o adversário em cima de nós, já estamos mortos.»

Frente a frente, os bárbaros de um lado comandados por Xerxes e os espartanos e téspios do outro comandados por Leónidas.

Os gregos avançaram como loucos, sentindo a morte nas veias, querendo mostrar toda a sua força e não vivendo mais nada além do momento. Nada mais importava. Com o ataque dos persas a falange abriu. O campo de batalha ficou caótico e foi cada um por si. Muitos optaram pela espada e pelos combates de proximidade Todas as lanças gregas se partiram e lutavam com o que podiam. Era uma chacina. Melos e Paros lutavam lado a lado com Samantha, quando se ouve gritar: «Leónidas está morto!»

– Como? – pergunta Melos.

– Fogo de setas! – respondeu Samantha mas ele já não ouviu pois sofreu o mesmo destino.

Todos estavam caindo, um por um. Houve uma enorme luta pelo corpo do rei. Os gregos fizeram o inimigo retirar quatro vezes antes de conseguirem recuperar o corpo. Juntos recuam para uma zona mais estreita do desfiladeiro.

Xerxes ordena um último fogo de setas. Após este, não restava um único grego de pé.

Mas havia heróis. E Samantha fazia parte deles. Seriam lembrados para sempre. Tinham morrido no desfiladeiro para que os camaradas pudessem viver. Para ganhar tempo para o país. Temistocles também retira. Atenas é evacuada. A vingança porém é breve. Os persas são atraídos para Salamina e Temistocles rebenta com quase tudo o que restava da armada.

Sim, os persas derrotaram os gregos em Termopilas. E sim, destruíram Atenas. Mas a armada grega provocou tantos estragos na armada persa que Xerxes teve de retirar. Xerxes deixa a Grécia e nunca mais regressa. Atenas volta a ser reconstruida, assim como a fé dos gregos. Os persas foram perseguidos até à Ásia. Foi o inicio do declínio do seu império.

A Grécia tornou - se uma nação unida. A sua cultura tornou - se a base da civilização ocidental. E tudo isso começou num importante lugar. E esse lugar foi o desfiladeiro de Termopilas. E Samantha estava lá.


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Notas finais do capítulo

Desculpem pelo tamanho. Eu não tive tempo de revisar por isso é provável haver erros. Termópilas e Leónidas devem ter um monte de erros na acentuação. Acho que a personagem ficou um pouco apagada. Lamento. Como tem havido tanto romance nos outros capitulo, eu decidi criar um pouco de guerra.
Por favor comentem. Dá imenso trabalho escrever para depois só ter 3 ou 4 comentários. Agradeço aos que comentam e espero que os outros façam o mesmo.
Beijos ♥



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