Innocence escrita por Enid Black


Capítulo 4
Tod


Notas iniciais do capítulo

E esse é o capítulo final de Innocence! *suspirando cansada* Sério, cara, não sei por que eu quebrei a cabeça para esse final, fiquei sentada umas boas horas só para conseguir acabar essa fic o_o E mesmo assim pressinto que ela não ficou tãaaaaao boa D: Mas sei lá, né. Enfim, calei a boca, e boa leitura!



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Um grito subiu à minha garganta, porém antes que eu pudesse rasgá-lo no ar repentinamente frio as luzes foram acesas, e eu me deparei sozinha no meio da sala, com meus pais encarando-me estranhamente e a televisão gritando suas propagandas fúteis como trilha sonora. 

- O que aconteceu, querida? - minha mãe perguntou, chegando perto de mim e colocando a mão em minha testa, procurando indícios de febre com um olhar preocupado. 

- E-Eu - tentei dizer, procurando minha voz que parecia ter se enterrado no fundo de minha garganta - Não sei. 

Meu olhar denunciava meu desespero, porém meus pais não pareciam entendê-lo do modo que eu queria. 

- Mãe, nós precisamos sair daqui! - eu disse, minha voz tornando-se mais forte - Por favor, nós não podemos ficar aqui! 

- O que está dizendo? - meu pai indagou, parado ao meu lado - Nós acabamos de nos mudar, querida. Essa casa é linda. Por que sairíamos daqui? 

Abri a boca para contar o que acontecera, mas fechei no mesmo instante, eles nunca acreditariam em mim. 

- Apenas vamos passar agumas noites fora. - eu disse, tentando soar convincente - Por favor, vocês precisam acreditar em mim. Não estamos seguros aqui. 

- O que é isso, Linda? Como não estamos seguros aqui? Essa casa é afastada de todos os problemas que poderíamos ter, nós estamos mais seguros aqui do que nunca - meu pai disse, sua voz elevando-se. 

- Acalme-se, George. Linda só deve estar cansada da viagem, não é mesmo, querida? - minha mãe disse, olhando para mim e afagando meus cabelos com carinho - Vá descançar um pouco, amanhã conversamos. 

- Não, por favor, não me faça voltar àquele quarto! - disse, as lágrimas turvando minha visão, porém eu as limpei antes que elas pudessem se evidenciar. 

- Por quê? Ele está lindo, como você sempre quis - ela respondeu, sorrindo calmamente enquanto empurrava-me escada acima. 

Pude ver o olhar desaprovador de meu pai enquanto subia os degraus. Um ódio subiu ao meu peito, e eu senti vontade de gritar tudo o que estava ocorrendo, mesmo que eu passasse por louca aos olhos de todos. Chegamos ao meu quarto, e minha mãe puxou a colcha para que eu pudesse deitar em minha nova cama, porém essa era a última coisa que eu queria fazer. 

- Mãe, acredite em mim. - eu disse, implorando enquanto ela alisava o colchão já alinhado. 

- Eu acredito em você. A mudança é algo muito difícil para alguém da sua idade, eu entendo. Conversarei com seu pai para que passemos a noite em outro lugar algum dia desses. - ela disse, sentando-se na cama. 

- Não, mãe - respondi, sentando-me ao seu lado - Precisamos ir hoje, aqui é perigoso. 

Minha mãe apenas negou com a cabeça, com um sorriso amável no rosto. 

- Vocês está cansada - ela disse, e beijou minha testa - Durma, e amanhã tomaremos o assunto, ok? 

Ela piscou, e depois saiu do quarto, deixando a porta aberta atrás de si. 

Ouvi seus passos ecoando pela madeira da escada, e também ouvi a voz zangada de meu pai dizendo que eu era uma ingrata por tanta insatisfação com algo tão bom quanto aquela mudança, enquanto ela tentava acalmá-lo, como sempre. 

Encolhi-me a ponto de abraçar minhas pernas, e meu queixo encostar em meus joelhos, e fiquei olhando para a porta escura à minha frente. O medo crescia dentro de mim a cada vez que as palavras da garota sussurravam em minhas memórias, e eu tentava refreá-lo com a conversa calma que meus pais tinham na sala, e com o barulho constante da televisão. 

Aquilo fora minha imaginação pregando peças. Só podia ser aquilo. Fantasmas não existiam, e se existissem, eles nunca iriam se importar com os humanos que não os atrapalham. 

Foi com esses pensamentos que comecei a sentir meu coração voltando a um ritmo normal, e minha respiração começou a ser calmamente constante. Ouvi o estalido distante da televisão sendo desligada, e os passos vagarosos de meus pais se dirigindo ao quarto. Agora todos iriam dormir, e nada mais iria acontecer. 

As luzes foram apagadas, naquele momento apenas meu quarto se iluminava nos cômodos escuros da grande casa. Leantei-me e desliguei a lâmpada, tateando o caminho de volta a minha cama, deitando e cobrindo-me até o queixo com um cobertor que minha mãe deixara aos pés do colchão. O contato macio do tecido com minha pele era calmante, e eu repetia em meus pensamentos a inútil frase de que aquilo me protegeria de tudo que pudesse haver naquela casa. 

Repentinamente, um leve ruído mecânico começou a se propagar, baixo o bastante para deduzir-se que sua origem era no andar abaixo. Ouvi os pés arrastados de minha mãe saindo do quarto, deixando um leve resmungo sair de seus lábios sonolentos, enquanto ela descia a escada. 

Tentei fechar os olhos, aceitando o sussurro do vento fraco batendo em minha janela. Foi quando senti uma luminosidade diferente passar por entre minhas pálpebras, abri os olhos e percebi que a luz estava acesa. Estranhei aquilo, porém deduzi que fora minha mãe que acendera para me ver e deixara de apagar, ou algo assim.

Levantei-me novamente para apagá-la, e percebi que a porta estava fechada. Revirei minhas memórias, porém eu realmente não me lembrava de tê-la fechado, um arrepio familiar percorreu meu corpo quando eu lembrei de meu sonho, porém eu afastei a lembrança no mesmo momento. 

- Fantasmas não existem - murmurei para o quarto silencioso, sentindo-me ainda mais idiota por falar tal coisa em voz alta. 

Dirigi-me ao interruptor, pronta para voltar para a cama, quando algo incomum destacou-se em uma das paredes do quarto. Percebi linhas escarlates em volta do desenho que gritava em um canto do cômodo. 

Fui até o canto, tentando ignorar minha mente estérica que gritava que aquele lugar era o mesmo de meu sonho. Observei as letras rasgadas novamente, porém agora havia algo diferente escrito.

"Eles existem, sim. E eles querem brincar."

No mesmo momento senti meu corpo pesar, eu não precisava ler novamente aquelas palavras para perceber seu significado. A garota era real. E ela estava atrás de mim. 

Ouvi um grito romper com a silenciosa noite, um som agoniante, que denunciava um terror completo sem expressar nenhuma palavra. Tão de repente quanto ele começou, o barulho torturante cessou, deixando uma quietude vazia e aterrorizante no seu lugar. 

Sentindo meu sangue fluir gélido sob minha pele, percebi que o grito havia sido próximo demais para ter sido fora da casa. Percebi com um terror cada vez maior pesando em minha alma que o som veio do andar anterior. Minha mãe estava lá, e eu não sabia o que estava acontecendo com ela.

Lágrimas vieram aos meus olhos quando imagens trágicas e sangrentas iluminaram minha imaginção masoquista, mas eu não queria acreditar em nenhuma delas. 

Aproximei-me da porta de meu quarto, pedindo desesperadamente para que esta não estivesse trancada como em meu sonho. Foi com um pequeno alívio quando senti a passagem cedendo enquanto eu movia a madeira, e em poucos instantes eu me encontrava no corredor, as portas encaravam-me na escuridão, e um frio crescente inundou meus pés ao colocá-los no piso estranhamente gélido. 

Eu tinha que ir para o quarto de meus pais, pelo menos meu pai estava ali, e ele me acalmaria e ajudaria a minha mãe se fosse preciso. Essa era a única alternativa que eu podia pensar. 

"Sua mãe está morta, nada vai mudar isso." 

Ouvi uma voz rasgando em minha mente, o tom áspero ecoando por minha cabeça a ponto de causar dor. Neguei com a cabeça e fui para o quarto, encontrando a porta fechada e trancada. 

"Sabe, foi muito prazeroso ver seu sangue escorrer por entre sua pele tão branquinha." 

A voz continuou torturando meus pensamentos, fazendo-me criar imagens agonizantes. 

"Seus olhos estavam em pânico pouco antes de ficarem parados como um belo vridro azul."

Comecei a negar com a cabeça, lágrimas descendo por meu rosto sem controle, enquanto eu implorava por paz em minha mente. 

- Eu preciso entrar aqui - sussurrei, empurrrando a passagem com força, porém minha ação era inutil. 

"Você acha mesmo que ele sobreviveu?" 

Agora o tom era estranhamente alegre, quase infantil. Reconheci a voz da garota com um tremor invadindo todo meu corpo. 

"Você não vai gostar do que tem ai."

Ela continuou, seu tom quase amigável, não fosse a risada baixa que acompanhara sua frase. Continuei empurrando a porta com força, não querendo acreditar no que ela dizia. 

"Vermelho. Apenas vermelho. Quer mesmo ver?" 

Como um último ato, joguei todo meu corpo contra a porta, e essa repentinamente se abriu, fazendo-me perder o equilíbrio e quase cair no chão escorregadio que me recebera. 

O luar agora parecia mais brilhante que o normal, de modo que seu manto prata iluminou todo o cômodo escarlate que me era exposto. Quase cai de joelhos quando vi toda a cena, porém parecia que nenhuma parte de meu corpo me obedecia para tal ato. 

A cama estava desarrumada, uma mistura de lençois brancos e escarlates depositadas nela, parecendo ter se juntado depois de uma árdua luta.  Riscos vermelhos estendiam-se por todas as paredes claras, pequenas linhas rubras escorrendo como teias até que seu desenho chegasse ao chão ensopado da cor escura. 

Mal contive um grito ao perceber a figura sentada desajeitadamente embaixo das cortinas que roçavam levemente sob sua pele maltratada, tingindo suas pontas claras com seu sangue. O corpo de meu pai era cercado pela luz prateada do luar, todo ele estava machucado, rasgos extensos e outros mais tímidos cobriam seus braços e pernas, e sua camiseta azul virara uma poça escarlate sobre seu peito. Seu rosto me encarava em sua agonia, os olhos vidrados em algum ponto perdido de sua tortura. 

- E é isso o que pessoas que não querem brincar recebem - ouvi uma voz próxima ao meu pai dizer, olhei novamente e percebi que a garota estava agachada observando meu pai, a barra de seu vestido rosado adquirindo o tom avermelhado. 

- Pena que ele não quis brincar - ela disse, acariciando o rosto torturado dele, quis chutá-la dali naquele momento - Pena maior ainda é você se recusar a me fazer companhia. 

Ela virou-se para mim, e seu rosto era pior do que a mais vívida lembrança que eu poderia ter do pesadelo. Linhas de sangue cobriam toda a pele branca, emoldurada pelo liso cabelo loiro preso pelas duas mesmas fitas. Seus olhos azuis tinham um tom psicopata que eu nunca pensara que poderia existir, e sua boca era rasgada de canto a canto por seu sorriso sangrento que a caracterizara, um filete vermelho descendo de seus lábios até seu queixo delicado. 

Percebi que ela se levantava, e antes que ela pudesse vir atrás de mim eu corri para fora do quarto, indo desesperadamente para a escada e descendo seus degraus aos tropeços. Sua risada cobria todos os sons atrapalhados de meus movimentos, e tudo o que eu queria era sair dali. 

Pisei em algo quando cheguei ao fim da escada, e antes que pudesse correr para a saída a luz se acendeu, parando-me repentinamente. 

- Pelo menos olhe o lindo trabalho que eu fiz antes de ir embora - a menina gritou, e pude notar sua figura no alto da escada, o sorriso ainda escorrendo por seus lábios. 

Olhei para os últimos degraus, e gritei em desespero. O corpo de minha mãe estava deitado em uma estranha posição sobre a escada escura, notei sua mão aberta ao lado de seu corpo, e percebi que fora nela em que eu havia pisado em minha fuga descontrolada. 

Comecei a chorar desesperada, de pesar e de medo, enquanto corria para a porta que dava a saída daquela casa horrível. 

- Você acha mesmo que estará aberta? - a garota perguntou, rindo baixinho pelo meu fracasso. 

A porta estava trancada, eu estava morta. Comecei a bater repetidas vezes na madeira, sentindo minha mão doer pela força, porém ninguém me escutaria naquele lugar no meio do nada. 

- Sabe, eu fui muito boazinha - disse a garota, descendo as escadas calmamente - Eu te dei chance de fugir, eu te avisei, porém você não me escutou. Eu realmente pensei que você iria brincar comigo. 

Olhei para ela novamente, encolhendo meu corpo o máximo possível para longe dela. A garota chegou aos últimos degraus, chutando as mãos inertes de minha mãe para longe dela com seu sapatinho rosa. 

- Não toque nela - eu disse entre dentes, recebendo um olhar surpreso da garota, enquanto ela inclinava levemente a cabeça. 

- Estranho você dizer isso agora, quando eu já a matei - ela estava perto o suficiente para que eu visse todas as pequenas sardas que ela tinha nas bochechas desenhadas por sangue. 

- Agora é a sua vez, vamos bricar - ela disse, abrindo o enorme sorriso que horrorizava sua delicada pele de porcelana, revelando seus dentes pontiagudos e ensanguentados. 

Uma dor lacinante atingiu-me na barriga, porém eu não tinha força o bastante para olhar o estrago. Eu só conseguia encarar os olhos vidrados que sorriam diante de minha tortura. Minha visão escureceu lentamente, aliviando minha mente da terrível imagem que ali ficaria gravada, enquanto uma doce risada infantil ecoava em meus pensamentos. 

"Innocence", fora a última palavra que viajara por minha mente atordoada pela fraqueza que se apoderava de tudo. A morte me aguardava pela inocência de uma garota de sorriso cruel e risada doce. 


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Notas finais do capítulo

EEEEEEEEE acabou *-* Cara, como eu estou cansada! Mas acho que ficou bom, tirando algumas partes incoerentes e muito rápidas... O melhor é que eu faço essas histórias ouvindo kpop O_O Como você pode escrever sobre menininhas sangrentas enquanto ouve SHINee cantando alegremente? Também não sei G_G Só sei que parece que funciona! Ah, eu quero agradecer à Light Angel, à Bluee e ao Veloi Arender, pelos reviews que sempre me motivam a escrever. Eu adoro vocês, seus lindjos! E é isso, deixem reviews, onegai? *-*



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