Loves Ways escrita por lollyb


Capítulo 32
BÔNUS - Uma nova vida


Notas iniciais do capítulo

Pois é, pois é, LW acabou, galera... Vocês gostaram? O que acharam? Esse bônus era pra ser uma prévia curtinha da vida da Serena e do Draco... Mas de curtinho não tem nada, hahaha. É O MAIOR CAP. DA FIC! Ops!

Enjoy, guys! Espero de todo coração que vocês curtam...



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Draco Malfoy dirigia um porsche preto até o centro de Londres, rumando para um apartamento luxuoso. Estacionou na rua. O prédio era uma antiga construção londrina de cômodos grandes, portanto não possuía estacionamento, mas, naquela parte de Londres e com um pouco de magia, nada aconteceria ao veículo.

'-Eu ainda não sei como você foi convencido a comprar um carro, Draco' – ela debochou, pegando a bolsa e esperando o namorado para entrarem juntos no prédio que abrigava o apartamento de Serena.

'-Parece que os trouxas tem invenções mais interessantes do que imaginamos, não que eu tenha me tornado amante de trouxas ou algo do tipo... Mas esta belezinha adaptada com magia é realmente útil.' – ele concluiu, apontando para o carro.

Serena riu e foi até o elevador de mãos dadas ao loiro.

Tinham saído para jantar, e estavam cansados pelo dia estressante de trabalho que ambos tiveram naquela sexta feira de novembro. Serena suspirou no elevador, fechando levemente os olhos.

'-Cansada, ruiva?' – ele perguntou, massageando de leve as costas dela com uma mão – 'Quer uma massagem?' – sorriu malicioso.

'-Muito. Podemos deixar para quando chegar em casa, amor.' – ela sorriu, bocejando.

'-Acho que não dará tempo nem de chegar até a cama e você estará dormindo.' – ele debochou.

Finalmente o elevador parou no último andar, que era ocupado todo pelo apartamento de Serena.

Sacando a varinha para tirar as proteções, ela abriu a porta. Os dois penduraram os casacos no armário escondido próximo à porta de entrada e Draco, com um aceno de varinha, fez o sistema de aquecimento funcionar.

'-Finalmente em casa.' – ela suspirou, livrando-se dos sapatos de salto que escolhera para aquela noite.

'-Dia difícil?' – ele perguntou.

'-Quase impossível. Estamos tentando rastrear seu pai, Lúcio Malfoy. Parece que ele resolveu reaparecer, e Harry quer ir atrás dele.'

Draco espantou-se e ergueu ambas as sobrancelhas.

'-Imagino que seja difícil para você, Draco, mas ele é o Procurado Número Um, desde a Guerra.'

'-Quero mais é que eliminem mais essa praga, esses Aurores de merda que não tiveram capacidade de...'

'-Ei, não fale mal dos Aurores.' – ela resmungou, interrompendo-o.

'-Estou falando mal dos Aurores que não são você, amor' – ele beijou o rosto dela – 'Agora que você finalmente está no Ministério da Magia daqui tenho certeza de que vão encontrá-lo.'

Serena sorriu de lado – 'Harry está realmente disposto a pegá-lo. O Ministério vai oferecer uma recompensa alta para quem o encontrar. Vivo ou morto.' – acrescentou, arqueando uma sobrancelha.

'-Ótimo.' – Draco resmungou com ressentimento do pai.

Ela massageou os próprios pés por cima da meia-calça que usava e suspirou enfadadamente. Draco sentou-se ao lado da namorada e puxou os pés dela para o seu colo, começando ele a massageá-los.

Ele colocou as mãos por baixo do vestido e começou a tirar as meias dela, beijando-a ao mesmo tempo. Quando a retirada da peça virou mais carícia do que qualquer outra coisa, Serena parou o beijo.

'-Vamos deixar isso para depois, Loiro.' – ela sorriu torto, mas ele viu um traço de preocupação ali. Ela levantou-se.

'-Tem alguma coisa errada, Serena?' –ele puxou-a pela mão de forma que ela caísse em seu colo, não a deixando ir.

'-Não, Draco... Só, bem, estou cansada. Vou tomar um banho, depois conversamos.' – ela completou sem emoção, e seguiu para a suíte do casal.

'-Quem sabe não podemos tomar esse banho juntos?' – ele sussurrou no ouvido dela, abraçando-a por trás e sorrindo torto, maliciosamente.

'-Agora não. Preciso tomar uma ducha rápida. Nós realmente precisamos conversar depois, Draco. Sobre uma coisa séria.' – ela disse baixinho antes de fechar a porta do banheiro na cara do loiro.

Ela tomou o banho, tensa, e vestiu um baby doll preto, colocando um robe cinza claro por cima. Draco, sentado na sala, mirava o nada.

Quando Serena aproximou-se, o loiro saltou do sofá e foi ao encontro dela.

'-Você quer terminar comigo, não é mesmo, Serena? Pode falar, eu não ligo. Depois desses três malditos anos juntos!' – ele exclamou, exaltado, o rosto adquirindo um nada costumeiro tom purpúreo.

'-O quê?' – foi a única coisa que ela perguntou, confusa.

'-Você disse que tinha um assunto sério para tratar comigo. Eu achei mesmo que nós não iríamos durar, porque tudo o que você sabe, Serena, é dizer adeus!' – ele continuou. Serena estava em choque, apenas observando-o.

Ela não disse coisa alguma, apenas estacou.

'-Não me olhe com essa cara!' – ele pediu, irritado – 'Qual é o seu problema com a felicidade, me diga? Porque sempre que as coisas estão estupidamente bem você vem e faz isso!'

Serena parecia surpresa e abalada pelo o que o loiro dissera. Ela semicerrara os olhos e olhava para ele com desdém.

'-Você quer terminar comigo, não é mesmo, Serena?' – ele perguntou, mais calmo, afoito com a falta de reação da mulher. As palavras agora tinham uma nota de fundo triste e insegura.

Serena suspirou e levantou o nariz para ele, arrogante.

'-Eu estou grávida, Malfoy!' – ela disse com a voz embargada, mordendo os lábios como Draco não a via fazer há dez anos.

Foi a vez dele de estacar. O maxilar do loiro cedeu e os olhos fitavam um ponto fixo atrás da cabeça da namorada. Ele não disse nada, apenas ficou ali, parado, o semblante vazio.

O sangue de Serena ferveu.

'-Malfoy idiota!' – exclamou entrando no quarto e batendo a porta.

Draco ficara ali, parado, ainda encarando um ponto fixo, o que ela dissera rodando em sua cabeça. Grávida.

Serena jogou-se na cama e abraçou um travesseiro fofo. Não acreditava em Draco, simplesmente não. Uma confusão acontecia dentro dela; estava tudo errado. Chorou como não chorava há dez anos, desde aquela Guerra.

Acabou por dormir daquele jeito mesmo, sobre as cobertas e usando o roupão, toda torta na cama; ainda soluçava quando finalmente pegou no sono. Havia coisas demais ocupando seus pensamentos para que ela tivesse um sono tranqüilo.

Serena acordou esfregando os olhos, um braço forte estava em suas costas, segurando-a protetoramente. Ela primeiro virou com a barriga para cima, afastando o braço como se aquele fosse um dia normal, mas o dia anterior veio a sua mente.

Não era para Draco estar ali e ela enfureceu-se.

'-Draco' – ela cutucou-o, irritada – 'Draco' – chamou novamente.

Ele semicerrou os olhos, sonolento, passando a mão pelos cabelos e olhando no despertador bruxo ao lado da cama.

'-É sábado, Serena. Porque você está me acordando às nove da manhã?' – ele perguntou, bocejando.

'-O que você está fazendo na minha cama?' – Serena perguntou bruscamente, abrindo a janela com um aceno de varinha, fazendo o homem puxar os cobertores para evitar a claridade.

'-Como assim o que eu estou fazendo na sua cama? Estou na nossa cama.'

'-Não depois de ontem' – afirmou, decidida, levantando da cama e prendendo o cabelo ruivo.

'-Por que não?' – ele torceu o nariz, sem entender nada.

'-Você disse que queria terminar comigo, não sei por que dormiu aqui esta noite.'

'-Serena, você está grávida...' – ele começou, ainda sonolento, mas levantando-se também.

'-Isso não é motivo, Malfoy... Eu vou dar um jeito nisso sozinha' – exclamou, brava.

'-O que você quer disso com 'dar um jeito'?' – Draco perguntou atônito, piscando os olhos e acordando realmente apenas com a última sentença proferida pela namorada – 'Você está pensando em aborto?'

'-Claro que não, seu Malfoy idiota' – ela resmungou baixo, chocada com a possibilidade, colocando, sem perceber, uma das mãos no ventre liso – 'Vamos fazer isso como pessoas adultas, por favor.' – pediu, séria – 'Eu decidi que vou passar um tempo na casa do meu pai enquanto você tira suas coisas do apartamento; tire tudo com calma e não esqueça nada.'

A frieza com que ela proferia as palavras assustou Draco. Ele realmente não queria aquilo.

'-Eu não quero terminar com você, Serena, por Merlin!'

'-Então por que essa foi a primeira coisa que você me perguntou ontem? Por que raios você me disse tudo aquilo, Malfoy?'

'-Porque era o que eu mais temia, maldição!' – ele bradou, assustando Serena ligeiramente – 'Eu sempre acho que você vai dar um jeito de terminar comigo mais cedo ou mais tarde.'

'-Eu prometi da última vez, não prometi, Draco?' – ela suspirou, cansada, colocando uma das mãos na testa – 'Eu prometi que não iria embora de novo. E não vou, a não ser que você me peça, o que achei que tinha sido o caso de ontem' – ela fez uma pausa e ele coçou a cabeça –'E por que você não disse absolutamente nada? Ficou parado feito uma gárgula!'

'-Eu fiquei assustado, eu não esperava isso... E nós tínhamos combinado que não teríamos filhos, você mesma...'

Serena o interrompeu, quase à beira de lágrimas novamente – 'E você acha que eu não estava, que não estou assustada, Malfoy? Eu sei o que nós combinamos, mas não foi culpa minha. Você acha que eu quis ficar grávida?' – ela desabafou, com medo nos olhos.

'-Eu realmente não esperava essa notícia...'

'-Eu fiquei aqui, chorando, ontem a noite toda, sua doninha albina, e você nem pra me dizer alguma coisa, ver se eu precisava de alguma coisa.' – disse, magoada.

'-Você odeia que te vejam chorar, Serena, eu te conheço bem.' – ele sorriu torto – 'E você brigaria comigo se eu tivesse vindo.'

'-Você tem certeza que não quer terminar isso aqui, Malfoy? Eu não quero que você fique comigo por essa criança; eu posso muito bem me virar sozinha.'

'-Claro que eu não quero terminar com você, Serena, é o que eu menos quero, caramba!' – ele resmungou, nervoso, passando a mão pelos cabelos platinados.

'-Sua reação ontem foi péssima, Malfoy.' – Serena falou, ainda fria, mas Draco percebeu que nem ela mesmo sabia o que estava sentindo.

'-Pare de me chamar de Malfoy, por Merlin!' – pediu, indo para perto dela – 'Me perdoe, ta bem? Eu nunca achei que...'

'-Nem eu' – ela mordeu o lábio inferior – 'Não sei, sinceramente, o que faremos com um bebê. Eu e você' – ela deu uma risada alta de deboche, desacreditada – 'E eu ainda nem acredito.' – ela suspirou, olhando para baixo.

Draco segurou a mão dela e beijou.

'-Quando você soube?'

'-Ontem' – disse, engolindo em seco – 'Eu estava realmente nervosa, porque tinha acabado de descobrir. E sua reação não ajudou muito.' – ela riu baixo, ironizando.

Draco também riu, no ouvido da namorada.

Lembrando-se de algo, foi até o closet deles e murmurou algo para uma de suas gavetas. Ele estava convocando alguma coisa.

Achando, voltou para Serena. '-Eu comprei isso há alguns meses, mas ainda não tinha tido coragem pra te dar...' – ele pegou uma requintada caixinha azul de veludo e abriu – 'Talvez este seja o momento. Quer casar comigo?' – perguntou, esperançoso e nervoso.

Serena ficou boquiaberta. O anel era uma safira discreta, incrustada por várias fileiras de pequenos ônix e feito de ouro branco.

'-Eu sei que este não é o melhor lugar, nem o melhor momento para te pedir isto, mas...' – ele foi interrompido pela namorada.

'-Draco'

'...E eu acho que deveria ter pedido na frente de seu pai...'

'-Draco, eu não estou pronta para isso' – ela falou de uma vez, tocando de leve no braço dele.

O loiro desabou. O sorrisinho que antes pairava no rosto sumira e o maxilar caíra um pouco.

'-Você não gostou do anel? Nós podemos trocar por outro, se você quiser. Diamantes, talvez.' – ele ponderou, chateado.

'-O anel é lindo, Draco. É maravilhoso, e você sabe que eu não ligo para essas coisas' – disse, consoladora – 'Eu amo você, mas não acho que eu consiga lidar com essas mudanças' – admitiu – 'Eu não estou pronta nem para ser mãe, eu não sei como vou fazer isso... Não posso ser esposa também. Eu nunca quis nenhum dos dois, você sabe. Quanto à criança, não tive escolha... Mas não quero me casar agora, Draco, por favor.'

Ele respirou fundo e encarou Serena profundamente. Balançou a cabeça, virou de costas, coçou a lateral dos cabelos.

'-Fique com o anel. Ele é seu mesmo.' – ele entregou a caixinha para Serena e saiu do quarto ainda coçando a cabeça, nervoso.

Serena ficou lá, com a caixa na mão, olhando para onde Draco tinha acabado de sair.

Sentou-se na cama, emocionalmente cansada. Amava Draco, com certeza, mas aquele era um passo grande demais para se tomar, não é mesmo? Não estava pronta para ser mãe, como seria mãe e esposa ao mesmo tempo?

Draco ficara chateado, ela sabia, mas passaria. Abriu novamente a caixa e brincou o com anel que deveria ter custado uma fortuna. Ele realmente queria casar-se com ela, não era apenas pelo bebê.

'Ainda não tinha tido coragem de te dar...', ele dissera. Malfoy covarde, Serena pensou, sorrindo torto.

Talvez casar com ele não fosse tão mau assim. E eles teriam um bebê juntos. Mesmo Serena tendo mais medo daquelas coisas do que já tivera em toda sua vida, queria Draco junto dela. Talvez para sempre. Ela prometera, afinal.

Ponderou mais um pouco na cama, brincando com a colcha de tecido nobre que a cobria. Sua vida tinha virado de cabeça para baixo desde o dia anterior. Logo que decidiram ficar juntos, Draco e Serena combinaram que não teriam filhos – nenhum deles prezava por isso – nem se casariam. Ela achava desnecessário.

Levantou-se e foi atrás de Draco. Ela tinha precisado primeiro se resolver consigo mesma para depois ajeitar as coisas com ele. Procurou-o na sala primeiro, mas de relance viu que estava no escritório.

Ele também estava precisando pensar.

Serena empurrou de leve a porta, Draco não olhou para ela; parecia chateado.

Ela se aproximou sem dizer nada e tocou de leve um dos ombros. Ele olhou, também parecia cansado.

'-Não vai colocar o anel no meu dedo?' – perguntou, oferecendo a caixinha com um meio sorriso.

'-Então quer dizer que você...?'

'-Sim, Draco. Parece que vai haver um casamento.' – ela sorriu de verdade desta vez.

Quando o loiro devolveu o olhar, ela decidiu que aquela tinha sido a melhor decisão da vida dela. Draco ficara realmente feliz. Colocara a aliança no dedo anelar de Serena e sorrira de volta, beijando-a calorosamente depois.

Acabaram na cama, numa comemoração íntima.

Serena tomara banho e estava colocando uma roupa quando lembrou-se de algo.

'-Precisamos contar aos nossos pais. Principalmente sobre... o bebê.' – ela disse, mirando um ponto fixo no closet.

'-Você não está bem com isso, não é mesmo?' – ele entrou no closet com ela.

'-Ah, Draco, eu nunca quis... Você sabe. Eu nunca quis ser mãe' – ela deu de ombros – 'É tudo muito estranho.'

Ele concordou e deu um beijo na testa dela.

'-Se alguém me dissesse que com vinte e oito anos eu ficaria grávida e casaria, eu não iria acreditar.' – ela comentou, sem emoção.

'-Bem, mas temos que ir a um lugar primeiro, antes de Hampshire.'

Serena franziu o cenho – 'Onde?'

'-Você não se lembra? Você e Ginevra marcaram um chá hoje.' – ele deu de ombros. Serena fez uma careta; o estomago revirava só de pensar em contar para mais alguém – 'E é melhor que você vá, porque Lily já está suficientemente brava com você por aquele dia em que você teve que sair correndo para uma missão.' – Draco deu um beijo rápido nela.

Ela apenas concordou, escolhendo roupas que definitivamente não seriam de grávida. Afinal, ela não precisava parecer grávida, não é mesmo?

Serena no closet, coçou a nuca e respirou fundo. Estava nervosa demais. Simplesmente não estava pronta para sair contando para Merlin e o mundo que teria um filho. Filho. Com esse pensamento, correu para o banheiro da suíte e livrou-se de todo seu almoço.

Draco, ao ouvir, ficou preocupado e segurou os cabelos da ruiva. Ela respirava pela boca, os nervos a mil.

'-Eu não me lembro de você ter passado mal em qualquer outro dia...' – ele ponderou, ajudando-a a se levantar para lavar o rosto e escovar os dentes.

'-Isso não tem nada a ver com a gravidez, fisiologicamente falando' – ela suspirou – 'Eu só não estou pronta para admitir isso' – ela fez um gesto circular englobando a região do ventre – 'para ninguém. Nem eu mesma quero admitir...' – ela suspirou.

'-Nós não precisamos contar à Potter, ou a Ginevra. Não hoje.' – ele deu de ombros, sentando a agora noiva na privada que tinha a tampa fechada para certificar-se que ela estava bem.

'-Eu não quero um filho, Draco...' – ela resmungou baixo, agarrando-se às vestes dele, deixando algumas lágrimas escaparem.

Aquele não era definitivamente o projeto de vida de Serena Snape.

~"~

Draco e Serena aparataram no enorme jardim gramado da casa dos Potter. A casa era definitivamente grande, talvez do tamanho da Mansão de Hampshire, mas não era tão luxuosa quanto e não era dividida em alas; era uma construção contemporânea, projetada para crianças.

No quintal, James e Alvo brincavam no balanço trouxa, James empurrando o mais novo. Eles riam na brincadeira e acenaram de longe para o casal que seguia a trilha de pedras que levava até a porta principal da casa.

Harry veio recebê-los com o entusiasmo da família Potter num fim de semana sem missões. Não era sempre que o moreno estava em casa com a esposa e os filhos.

'-Serena, como vai?' – ele cumprimentou-a, sorrindo – 'Ginny está lá dentro e Lily mal pode esperar para te ver.' – ele deu uma risada paterna, o típico orgulho de pai estampado nos olhos de esmeralda.

'-Tudo certo, Harry. Os meninos parecem outros quando você está aqui' – ela comentou cordialmente, fitando as crianças.

'-Potter' – Draco cumprimentou-o cordialmente com um aperto de mão camarada, apesar de ainda se tratarem pelo sobrenome. Serena e Harry tinham se tornado bons amigos, portanto há três anos o loiro frequentava aquela casa.

'-Malfoy.' – ele devolveu, ainda com ar de riso – 'Entrem, vou chamar Lily lá em cima.'

Serena entrou puxando Draco pela mão e encontraram Ginny na majestosa cozinha dos Potter. Ela espiava um bolo no forno quando eles adentraram o cômodo.

Ginevra sempre parecia jovial e despojada, mesmo sendo mãe de três filhos. Trajava roupas trouxas que lhe caíam excepcionalmente bem e tinha os cabelos ruivos soltos.

'-É bom que vocês tenham vindo' – a ruiva disse, rindo – 'ou eu teria que aguentar os genes Weasley da Lily com todo fervor'

Serena também riu da afilhada. E Draco a acompanhou com um sorriso fino.

'-Como vão, Serena, Draco?' – perguntou, por fim – 'Faz um bom tempo que vocês não aparecem por aqui.'

'-Está tudo' – ela deu uma pausa, lembrando por um segundo de seus pequenos probleminhas –' tudo bem' – sorriu fracamente depois.

'-Ginevra.' – o loiro cumprimentou com a cabeça.

'-As crianças estão deixando Harry louco este fim de semana' – ela comentou, olhando pela grande porta de correr de vidro que levava ao quintal – 'Quase não conseguimos dormir de ontem para hoje, imaginem esses três amontoados na minha cama, comigo e Harry?!' – riu felina, com uma malícia escondida – 'Entendo perfeitamente porque minha mãe sempre dizia que não via a hora em que fôssemos todos para Hogwarts.'

'-Os meninos estão quietos brincando agora, Ginny. Não reclame.' – Serena recomendou, rindo.

'-Melhor não dizer nada mesmo. Vou fingir até que não vi que eles finalmente estão quietos.'

Nisso, uma garotinha ruiva de três anos desceu correndo as escadas, descalça e serelepe.

'-Tia Serena.' – ela vibrou, sorrindo para a madrinha.

Serena pegou a menina no colo no ato.

'-Como vai, Lily? Fiquei sabendo que se eu não viesse aqui você iria me transformar num sapo!' – ela brincou e a menininha riu.

Draco lançou um olhar preocupado para ela, afinal Lily já tinha três anos, não era muito leve.

Foi tirado dos pensamentos por Potter, que lhe oferecia um copo com firewhisky. Ele prontamente aceitou.

'-Com esse friozinho o que as meninas vão querer?' – o moreno perguntou, separando duas taças para elas – 'Um funcionário do departamento me trouxe um vinho excepcionalmente bom esta semana, e sei que Serena é uma boa apreciadora de vinhos.'

Ginny sorriu, concordando e recebeu uma taça.

'-Para mim não, Harry, obrigada' – ela sorriu fraco, afastando os cabelos de Lily para que ela pudesse ver o moreno.

Potter e a esposa trocaram um olhar desconfiado, sem entender. Serena sempre aceitava uma bebida. Ginny pediu baixinho para que ele não questionasse.

Serena colocara a ruivinha sentada no enorme balcão de mármore da cozinha, deixando Ginevra sozinha no lado em que havia os apetrechos domésticos. Harry e Draco conversavam banalmente, cada um com um copo contendo líquido avermelhado na mão.

Ginny cutucava o bolo com a varinha e Serena achou engraçado.

'-Vamos lá ajudar sua mãe, Lily' – Serena disse e fez menção de pegar a garotinha no colo – 'Parece que ela não conhece o garfo.

'-Deixe que eu a pegue, Serena.' – o loiro se prontificou, autoritário. Serena bufou, irritada.

'-Eu posso perfeitamente pegá-la, Draco.' – falou entre dentes, pegando Lily.

'-Ora, não seja teimosa!' – ele resmungou – 'Venha aqui, Lily' – Draco chamou, encarando a futura esposa.

A ruivinha era realmente a única criança da qual Draco gostava.

'-Eu não sou uma inválida' – disse ferozmente para o noivo.

Ginevra e Harry agora observavam atentamente a discussão.

'-Por acaso você está grávida, Serena?' – Ginny perguntou calmamente, tirando as luvas de culinária e ela mesmo pegando Lily de cima do balcão.

Serena arregalou os olhos para ela, estupefata. A naturalidade com que a ruiva falava daquilo quase a incomodava.

Potter sorriu, também ligando os pontos.

'-Er...Digamos que... Sim.' –Serena respondeu, ainda em choque.

'-Parabéns'– Harry desejou a Draco, que recebeu bem as congratulações; notava-se que o moreno estava sendo extremamente sincero.

O loiro murmurou um obrigada receoso, preocupado com Serena.

'-Ei, acontece.' – Ginny disse para a outra, dando de ombros e lhe dispensando o sorrisinho felino.

'-Não poderia ter acontecido comigo, Ginny' – ela suspirou.

'-Hum, Lily, por que você não fica com o papai? Mamãe e tia Serena tem que conversar.' – ela passou a menina para o colo de Harry – 'Nós vamos lá para cima, querido.'

Serena assentiu somente, assim como Harry.

'-Eu queria brincar com a tia Serena.' – a pequena bufou, cruzando os bracinhos.

'-Você pode brincar com tio Draco.' – Ginny considerou para a filha, que prontamente aceitou – 'E parabéns, Draco.' – ela emendou com um sorrisinho.

'-Obrigada, Ginevra.' – ele agradeceu com as mãos no bolso das calças pretas, preocupado com Serena. Acompanhou a noiva com o olhar até que ela tivesse desaparecido pelas escadas de madeira clara.

Ginny sentou-se em um dos sofás claros da sala de visitas do segundo andar e Serena ocupou outro, o que ficava mais próximo à janela.

'-Quando descobriu?' – a ruiva Potter perguntou, chamando um conjunto de já com um aceno de varinha.

'-Ontem.' – foi quase um sussurro – 'Ginevra, eu simplesmente não posso fazer isso. Eu nunca quis crianças e você sabe disso.' – disse, afobada.

'-Merlin sempre dá um jeito.' – ela riu, sarcástica.

'-Não brinque com isso. Eu estou ficando maluca desde ontem.'

'-Serena, existem coisas que a gente simplesmente não pode planejar.'

'-Claro que existem. Não podemos planejar uma geada bem no dia de Natal, ou uma missão no aniversário da afilhada.' – ela ironizou – 'Nem um acidente de vassouras. Mas um filho é definitivamente algo que tem de ser planejado.'

'-Não sei se você sabe, mas Lily também não foi planejada.' – Serena abriu os olhos, em surpresa evidente – 'Harry e eu tínhamos decidido que ter os meninos estava mais do que bom, mas ela simplesmente veio. E nós não podemos imaginar nem por um segundo uma vida sem ela.'

Ginny agora tinha perdido o tom irônico, e a seriedade tinha tomado conta de sua voz.

'-Ginny, vocês já tinham dois filhos e eu sei que vocês sempre quiseram crianças. E vocês são ótimos pais, nasceram para isso.' – ela começou, o nervosismo visível – 'Eu e Draco nunca quisemos filhos, Ginevra, me diz o que eu e ele faremos com um bebê?!'

'-Vai dar tudo certo, Serena. Vocês são ótimos com Lily, e adoram ela, como não vão gostar do próprio filho de vocês?' – inquiriu, arqueando uma sobrancelha ruiva para a amiga.

'-Eu gosto de Lily, apenas de Lily. Por isso estou dizendo, Ginny, eu não posso ser mãe.' –o medo era visível nos olhos de Serena.

'-Mas parece que vai ser. Como Malfoy reagiu?'

'-Bem mal.' – ela disse, novamente irritada com o noivo – 'Simplesmente não disse nada e me deixou chorando sozinha. E achou que eu iria terminar com ele, então armou um circo na minha casa.' – ela sorriu com ironia.

Ginny deu um sorrisinho fino, achando graça.

'-Eles nunca sabem o que fazer, não se preocupe. Tenho seis irmãos e só Charlie não tem filhos; todos os outros surtaram e continuam surtando toda vez que as esposas ficam grávidas.' – ela colocou uma mão confortadora no ombro de Serena.

'-Ginny, o problema é que eu não quero. Não consigo aceitar, mesmo que eu tente...' – Serena prosseguiu, nervosa – 'Ninguém pode ter um filho assim.'

'-Quando eu soube que teria Lily, também chorei, me descabelei e sabe Merlin mais o que. Eu realmente não queria um terceiro filho, Serena. Eu disse coisas para Harry que não gosto nem de lembrar.' – contou, a xícara de chá segura na mão –'Mas não viveria sem Lily; nem ninguém aqui, nem Harry nem os meninos ou a minha família. Dois meses depois eu já me arrependia profundamente de tudo que eu tinha falado.'

Serena suspirou e passou a mão pela cabeça. Bateu os sapatos de salto nervosamente no assoalho dos Potter.

'-Não sei o que fazer, Ginny...'

'-Se acalme, ficar nervosa desse jeito não faz bem.' – Ginevra recomendou, olhando para amiga desesperada –'E o que Draco fez depois?' – mudou o rumo da conversa.

Serena respirou fundo e mostrou o anel de noivado.

'-Casamento? Malfoy é mesmo uma doninha esperta.' – Ginny riu, lembrando dos tempos de escola.

'-Eu nunca quis casar, por Merlin!' – ela riu com certo nervosismo na voz.

'-Você vai se dar bem com tudo isso, tenho certeza.' – a ruiva Potter riu, descontraída, bebericando o chá – 'Talvez esse fosse o único jeito para que você não abandonasse Malfoy a cada ano.'

'-E eu achando que agora era só trabalhar – fazer o que eu gosto – e relaxar.' – ela balançou a cabeça negativamente.

'-É impressão minha ou você está com medo?' – Ginny perguntou, estreitando os olhos com a atitude atípica da outra ruiva.

'-Morrendo de medo.' – Serena respondeu quase num sussurro.

'-Serena Snape, uma das melhores Aurores do mundo, com medo de um bebê? Que eu saiba isso nunca foi uma coisa comum em você. Essa é nova.' – Ginevra riu gostosamente.

'-Eu preferia matar cinquenta Comensais de uma vez só' – admitiu, olhando para os jardins pela janela.

'-Não é tão ruim assim.' – a mulher a confortou, ainda rindo.

'-Não para quem planeja ter filhos. Eu estou apavorada, Ginevra.' – Serena suspirou, se acalmando.

'-Pelo menos Draco tomou uma atitude corajosa, uma vez na vida.'

As duas riram. A covardia do loiro era sempre motivo de piada entre eles.

'-Acho que nós já podemos descer, Ginny. Eles estão nos esperando lá embaixo.' – Serena falou, sinalizando o pórtico com a cabeça – 'E ainda tenho que brincar com Lily; sei que ela ficou realmente chateada pelo aniversário.' – ela bufou de leve, divertida.

'-Tome cuidado, Serena. Você está nervosa, com motivo, e isso não é o que você queria' – Ginny começou, ficando séria – ', mas você vai se arrepender profundamente se alguma coisa acontecer com este bebê.'

Com isso, Ginevra Potter começou a descer as escadas, sendo seguida por uma Serena quase mais confusa do que a que subira.

'-Tia Serena, agora nós podemos brincar?' – Lily, ainda descalça, disse, vindo do quintal e puxando a mulher pela mão.

'-Podemos, Lily. Claro que sim.'

Draco lançou um olhar inquisitivo para Serena quando ela passou por ele. Ela murmurou um está tudo bem e ele assentiu, aliviado.

'-Então vai haver um casamento, Srta. Snape?' – Harry questionou, divertido.

'-Você não achará tanta graça quando seu lindo pescocinho estiver separado do corpo, Potter.' – ela resmungou e Lily riu; estava acostumada com essas atitudes da madrinha.

'-Eu realmente achei que você nunca a convenceria disso, Malfoy' – Harry disse, surpreso – 'Meus parabéns'.

Draco riu fraco.

'-Foram as circunstancias que a convenceram, Potter. Nem o mérito é meu.'

Serena sentiu enjoos com a fala de Draco. Estava extremamente envergonhada.

A menininha aproximou-se e brincou um pouco com a madrinha.

Estava sendo um dia cansativo.

'-Pai, o James me derrubou da vassoura!' – Alvo Potter entrou falando, apesar de estar brigando com o irmão, o tom de voz ainda era calmo.

James vinha atrás, coçando a cabeça e esperando por uma bronca.

Os dois meninos estavam sujos de terra dos pés à cabeça e a única coisa que podia ser vista no rosto de Alvo eram os olhos iguais aos do pai.

'-E o que vocês estavam fazendo com as vassouras, posso saber, James Sirius e Alvo Severo?' – Harry falou autoritário e Serena achou-o muito parecido com o que ele costumava ser no Ministério.

'-Foi ideia do James!' – Alvo se defendeu, apesar de todos ali saberem que definitivamente tinha sido ideia do mais velho.

'-Vocês simplesmente destruíram a grama dos jardins!' – Ginny gritou da cozinha, e os dois já sabiam o que os esperava quando a ruiva foi para o quintal bufando e com as orelhas vermelhas – 'Sem vassoura nem quadribol – não, Alvo, nem com o papai' – ela evitou ser interrompida – 'E vocês terão que recolocar a grama, meninos. Nem eu, nem o pai de vocês ajudará com magia, estão entendendo?' – ela disse, furiosa, com as mãos na cintura, parecendo a Sra. Weasley.

'-Sim, mamãe.' – os dois prontamente responderam.

'-Agora, James' – Ginny chamou – 'Por que você derrubou seu irmão da vassoura?'

'-Não foi culpa minha, mãe!'

E a discussão se alongou, todos os Potter – menos Lily – discutiam fervorosamente sobre o incidente. Depois de todas as broncas possíveis, Ginevra passou a examinar minuciosamente o corpo de cada filho para ver se estavam bem e dando lhes poções para certificar-se disso.

'-Para o banho, já.' – Ginny gritou; eles não ousaram desobedecer.

'-Quase que eu fui junto, Ginny' – Harry provocou – 'É impossível não obedecer essa ruiva esquentada.' – comentou para os amigos.

Serena riu, mas a preocupação ainda podia ser notada em cada linha de seu rosto.

Despediram-se amigavelmente. Ainda precisavam ir para Hampshire.

~"~

Apartamento de Serena Snape – 04 de março de 2010

'-Pronta?' – Draco perguntou para ela, sorrindo fino, com malícia.

'-Para o que?' – retorquiu, nervosa, enrolando os cabelos ruivos nos dedos.

'-Para o que será, Serena Snape?' – ele bufou, revirando os olhos – 'Para se tornar a Sra. Malfoy.'

'-Para mim a Sra. Malfoy será sempre sua mãe, Draco...' – Serena suspirou, sorrindo com preocupação.

'-Agora ela voltou a ser uma Black, você sabe... Está usando o nome de solteira'

'-É, eu sei... Mas soa tão, tão... Narcisa Malfoy.' – ela riu de leve no colo de Draco, acomodados no enorme e macio sofá da sala de estar, a mesma sala em que tinham se reconciliado há quatro anos.

'-Você não respondeu minha pergunta...'

'-Sinceramente, eu não sei' – Serena deu de ombros. Draco perdeu o ar de graça e ameaçou tirar a noiva de seu colo.

Ela deitou no ombro do loiro, impedindo-o de levantar.

'-Não fique bravo. Eu não estou pronta, Draco, claro que não...' – ela disse, fitando os olhos cinza – 'Mas estou mais pronta para isso do que para ter um bebê. E estou incomodada porque todos vão olhar para mim.'

'-Por acaso amanhã você será a noiva' – ele ironizou.

'-Mas não por isso, Draco. Por isto.' – ela apontou a barriga de seis meses com o indicador.

'-Serena, eu não entendo... Você está com seis meses e ainda estamos discutindo sobre isso.' – ele suspirou, encarando-a seriamente.

Serena passou a mão pela testa e saiu do colo do noivo, levantando-se.

'-Nós vamos casar amanhã, não vamos?' – ela perguntou, enfadada – 'Só quero que tudo acabe logo...'

'-Eu quero que acabe logo para estarmos em Paris, onde você será só minha...' – ele também levantou e abraçou a noiva por trás, falando em seu ouvido, e sorrindo depois.

Quase treze anos atrás Draco tinha prometido que eles voltariam à Paris. Juntos. Estava cumprindo a promessa.

'-Mal posso esperar pela nossa lua de mel, Serena' –ele completou, sussurrando e beijando o pescoço da quase esposa.

'-Teremos um intruso entre nós' – ela disse, amarga, fitando o ventre.

Draco soltou o abraço. Respirou fundo,colocou as mãos na cintura e encarou Serena de frente.

'-Eu não posso fazer nada sobre isso agora, está bem, Serena?' – ele começou – 'Você não passou um dia aceitando bem esse fato. Eu simplesmente não entendo o que você quer. O que, Serena, me explique? Isso é tão culpa minha quanto é sua!' – ele pediu, aborrecido – 'Tem sido assim desde que você descobriu essa maldita gravidez!' - Draco suspirou languidamente - 'Nós nem precisamos casar amanhã se você não quiser. Mas me avise, assim cancelamos tudo hoje e eu não serei abandonado no altar, como é bem provável que aconteça.' – ele completou, nervoso.

Serena apenas saiu em disparada para o quarto e Draco pôde ver os olhos marejados que ela não queria mostrar.

Suspirou e se jogou no sofá. Como os dias estavam sendo difíceis desde aquela sexta feira de novembro.

Draco ia em rumo à suíte do casal quando a campainha soou. Mais cansado do que nunca, ele foi atender.

Severo Snape entrou calmo e seguro no apartamento da filha.

'-Draco' – ele cumprimentou com um esboço de sorriso.

'-Tio Severo, como vai?' – Draco foi cordial, mas não pôde disfarçar o cansaço e aborrecimento na voz.

'-E Serena? Não está em casa?'

'-Está no quarto. Tem sido cada vez mais difícil. Ela simplesmente não aceita o fato de que está grávida.' – ele suspirou, recostado à parede.

'-Vocês discutiram?'

Ele acenou positivamente.

'-E eu falei em cancelar o casamento. Sei que não ajuda, mas não sei mais o que fazer.' – Draco respondeu.

'-Vou falar com ela.' – Snape disse, dando tapinhas nas costas do afilhado.

'-Nunca pensei que seria tão difícil ter uma Snape grávida em casa.' – Draco suspirou

'-Serena?' – Severo perguntou, batendo na porta – 'Sou eu.'

'-Entre.' –ela disse somente.

Draco esperara na sala, transtornado.

Serena, sentada desajeitada na cama – sem o porte altivo e elegante que ostentava desde que seu pai a vira depois da temporada na França – chorava abraçada a uma almofada fofa.

Fitou o pai e tentou sorrir, ainda com lágrimas nos olhos.

'-Ei, Serena, o que está acontecendo?' – ele perguntou, a voz aveludada, tentando confortá-la como só ele sabia fazer.

Severo aproximou-se da cama e fitou a filha. Via a filha constantemente, mas há muito não a via nesse estado. Ela não estava nem um pouco bem.

As lágrimas silenciosas escorriam e uma mão pousava na barriga dilatada. Tão parecida com Alexia, ele pensou.

'-Está tudo errado, pai.' – ela suspirou, tentando conter as lágrimas – 'Draco está chateado comigo, pensa que eu abomino a ideia do casamento e que odeio o bebê. E nós vamos nos casar amanhã.' – quando terminou de falar, começou a soluçar.

Ele sentou na enorme cama da filha, junto à ela.

'-Draco está preocupado com você, Serena' – disse, tentando acalmá-la – 'Agora me diga: você realmente quer se casar amanhã?'

Serena pensou. Casar a assustava – e muito. Mas a idéia de não casar com Draco agora parecia irreal. Apesar de tudo, ela sabia que aquilo era o certo a se fazer. Não simplesmente porque ela esperava o herdeiro Malfoy, e sim porque amava Draco, e o amava há vários anos, apesar de não admitir.

'-Quero, pai.' – ela disse, mais calma – 'Mas esse é o menor problema agora, o casamento.' – ela suspirou, mexendo nervosamente nos cobertores da cama para que as lágrimas não escorressem – 'Draco acha que eu não quero o bebê.' – e uma a uma as lágrimas voltaram a cai - 'Só porque eu não fico falando disso o tempo todo, ou colocando a mão na barriga...' – Serena falando parecia cansada – 'Eu apenas... Apenas não posso...' – ela respirou fundo tentando novamente conter as lágrimas mas foi inútil. Elas vieram de qualquer forma.

'-Não pode o que, filha?' – perguntou Severo, atencioso, com uma mão nas costas da filha.

'-Draco não entende' – ela disse, perdendo-se do foco da pergunta – 'como eu posso não gostar de alguém que está dentro de mim? Eu sei que não sou a pessoa mais amável do mundo, e não gosto de melação... Mas como eu poderia não gostar, pai?'

Severo abraçou a filha, tão apertado quanto o ventre de seis meses permitia.

'-Shhh, não chore' – ele disse, afastando os cabelos ruivos dos olhos dela – 'Eu entendo, Serena; vivi a mesma situação que você.' – ele a trouxe para mais perto, e ela recostou-se ao peito do pai – 'Como, afinal, eu poderia não gostar de você antes de você ter nascido se você estava dentro da mulher que eu amava? Você era uma parte dela.'

Serena chorou mais envolvida pelo abraço paterno.

'-Draco simplesmente n...'

'-Eu entendo, fique tranqüila. E ele também, só está preocupado, como eu já disse. Nós dois conhecemos você muito bem para acreditar em qualquer coisa contrária ao que você disse.'

'-Ele não entende, pai... E eu sei que às vezes eu exagero, mas não posso me apegar...' – ela disse num sussurro e os olhos estavam mais tristes do que Severo já havia visto na vida - 'O que minha mãe teve quando eu nasci' – explicou – 'é genético. É um gene ruim. Eu pesquisei sobre isso ainda na França. Eu tenho o mesmo gene, e ele pode se manifestar ou não.'

'-Você já contou isso à Draco?' – Severo perguntou, preocupado também com o genro.

Serena balançou a cabeça em negativa.

'-Eu não queria que vocês ficassem preocupados. A porcentagem de que eu e o bebê sobrevivamos ao nascimento dele é baixíssima. O mais provável é que um dos dois morra, mas também há possibilidade de que nós dois...' – Severo não a deixou terminar.

'-E não há a possibilidade de que nada aconteça? De que tudo corra bem?' – a preocupação estava ali, estampada nos olhos negros.

'-Sim, sempre existe...' – considerou, cabisbaixa, sem esperança – 'Mas é muito baixa, pai. Eu tinha escolhido não ter filhos porque nunca gostei muito de crianças e por isso também. Quando descobri, durante o treinamento de Auror, eu decidi definitivamente que eu não teria filhos; pedi para que amarrassem as minhas trompas para que isso nunca tivesse a chance de acontecer, mas todos os medibruxos se recusaram. Eu era muito nova pra esse tipo de procedimento, e nem era casada.'

'-Serena, nós temos que acreditar que dará tudo certo' – ele disse, segurando a mão da filha – ' Eu sei que você não queria crianças, assim como eu, mas agora não existe essa possibilidade.'

'-Talvez eu seja mesmo muito mais parecida com você' – ela fungou num sorrisinho torto – 'Eu não consigo ter esperanças, pai. Eu simplesmente não sei o que eu farei se o bebê...' – as lágrimas começaram a escorrer sem cessar – 'Se o bebê não sobreviver. Eu não vou aguentar, pai, ter alguém dentro de mim por nove meses e simplesmente perdê-lo...'

'-Isso não vai acontecer, Serena.'

'-Não há garantia. Eu entendo a minha mãe. Agora eu entendo.' – ela admitiu, lutando contra as lágrimas – 'Quando descobri como ela tinha morrido, achei que Alexia tinha feito a maior besteira do universo, em trocar a vida dela – que valia muito mais – pela frágil vida de um recém nascido. Mas eu entendo. Porque eu faria – e farei, se puder escolher – a mesma coisa.'

Snape segurou firme a mão da filha, pensando nos longínquos fatos que tinham ocorrido vinte e nove anos antes. Toda aquela dor e angustia pareciam ter ficado no passado, mas elas estavam vindo novamente para a vida de Severo.

'-Eu sei que fará. Não duvido nem minimamente disso.' – ele sorriu fino – 'Você é muito mais parecida com sua mãe, Serena. Mais do que você possa imaginar ou admitir.' - Severo tirou os cabelos da filha do rosto dela - 'As coisas são tão diferentes agora...Pense que, primeiro, sua mãe não sabia que podia ter esse problema durante o parto; que ela tinha apenas Madame Pomfrey para controlar a saúde de vocês duas durante a gravidez, com a infra-estrutura de uma enfermaria de Hogwarts, e ela sendo apenas uma enfermeira escolar. Isso tudo vinte e nove anos atrás.'

Ele explicou, tentando dar esperança à filha.

'-Vai dar tudo certo' – ele encerrou o discurso.

'-Eu não queria me apegar a este bebê por medo de que acontecesse alguma coisa. De que eu levasse aquilo pelo resto da vida.'

'-Isso não ajudará em nada, Serena. Você sabe que não. Eu te mantive longe de mim durante quinze anos para tentar te proteger e não pensar em você e não resolveu em nada. Você ocupava meus pensamentos todos os dias, quando não também as noites durante os sonhos.'

'-Eu sei que não... Mas eu queria tentar... Tenho medo do que eu vou me tornar se acontecer alguma coisa. Prefiro um milhão de vezes que seja eu, não o bebê.' – ela admitiu tristemente.

'-E por que você não contou tudo isso à Draco? Nenhum de nós estava entendendo, filha.'

'-Eu não quero preocupá-lo tão cedo. Tenho medo das reações que ele pode ter, e tenho medo que ele, sabendo disso, vá embora. Draco não é corajoso o suficiente'

'-Ele não vai ir' – Severo segurou o queixo da filha com segurança e a fez olhar em seus olhos – 'Draco lhe esperou por sete anos, Serena. E não importa o que ele fale ou no que você acredite, ele esperou. Você sabe que ele saía com uma diferente a cada dia, porque ele não poderia se apegar a ninguém – no fundo ele sabia que você voltaria. E você voltou.' – ele continuou – 'Ele te merece por isso, Serena. Nunca mais tive dúvidas do que Draco sentia por você, e você sabe que se eu tivesse vocês não estariam se casando amanhã.'. – ele arqueou a sobrancelha para ela.

'-Ainda assim tenho medo, pai. Não quero que ele sofra mais do que o necessário, ainda mais se a sorte não estiver do nosso lado...'

'-Você tem que contar a ele, Serena.' – orientou o pai.

Ela concordou debilmente, o rosto vermelho e marcado pelas lágrimas.

'-Vamos, ele já deve estar preocupado.'

Saíram do quarto. Draco imediatamente veio ao encontro deles.

'-Serena, me perdoe. Eu estou nervoso porque vamos casar amanhã, com medo de você me largar no altar, preocupado com você. Me desculpe.' –ele pediu, olhando nos olhos dela.

'-Eu vou embora' – Snape anunciou – 'Passei para ver como vocês estavam e para lembrar à Serena que Narcisa quer você na Mansão ainda hoje. Ela não acha bom que você durma com Draco esta noite.'

'-Eu vou ficar por aqui mesmo, pai.' – disse, firme – 'Bem cedo vou para Wiltshire, e Narcisa pode me encontrar lá. Quero passar a última noite de solteira com Draco.' – ela sorriu fino para o noivo – 'Diga à Cissa que eu quero mesmo é ficar ao lado do filho dela. E, de qualquer forma, não dormirei bem se não dormir aqui.'

'-Eu vou falar' – ele sorriu fino e acenou, desaparecendo pela lareira.

'-Draco' – ela voltou-se para o loiro assim que o pai saiu – 'eu prometi a você que eu não vou a lugar algum; nem hoje, nem amanhã, nem depois. Nem no nosso casamento' – ela sorriu fino, igual ao pai – 'E você me prometeu que brigaríamos até ficarmos velhos e esclerosados. Eu cumpro as minhas promessas, Draco.' – Draco também sorriu.

'-Agora você vai me contar o que está acontecendo, ruiva?'

Serena suspirou e ele a puxou para seu colo.

'-Eu estou pesada, Draco' –ela resmungou, tentando desvencilhar-se dos braços dele.

'-Você está perfeitamente bem acomodada aqui. Pronta para me contar.' – Ele roubou um beijo antes que ela pudesse começar a falar.

Serena contou a história toda. Chorou mais. Também pediu desculpas. Justificou-se.

Depois de findada as explicações, Draco enxugou com o dedão as últimas lágrimas que rolaram pelo rosto rosado da noiva.

Ela, cansada, encostou-se ao peito dele, a respiração se tornando profunda. Draco segurou uma das mãos dela.

'-Você realmente tem certeza sobre o casamento, Serena?' – ele finalmente fez a pergunta – 'Não quero que você se case comigo apenas porque tem medo que eu deixe vocês. O que eu não vou fazer.' – garantiu, temeroso.

'-Tenho, Draco Malfoy.' – ela disse, convicta – 'De repente, é tudo que eu quero fazer.'

'-Mesmo que nossa lua de mel tenha um pequeno intruso?' – ele arqueou as sobrancelhas loiras – 'Se você quiser, podemos fazer isso mais tarde, quando o bebê já estiver maior.'

'-Não é necessário.' – ela deu um beijo no pescoço do loiro – 'Teremos que fazer isso, cedo ou tarde. Talvez seja melhor cedo.' – ela considerou, dando de ombros e apoiando uma mão no ventre. Draco a acompanhou.

Raras vezes ele tinha chegado a tocar realmente a barriga de Serena durante aqueles meses. Nem ela o fazia, afinal, e ele tinha receio.

Quando ele estendeu, vagarosamente, a mão sobre a protuberância, Serena assustou-se um pouco.

'-Draco, eu sei que está sendo difícil. Sei que você não gosta de crianças...' – ela começou, acariciando a mão dele com movimentos circulares.

'-Não gosto do filho dos outros. Este é o herdeiro Malfoy.' – ele disse, sorrindo de lado.

'-Não meta meu filho nessas histórias' – ela pediu, surpresa consigo mesma em conseguir falar com naturalidade sobre a criança depois de dadas as devidas explicações –'Não precisamos de mais um Malfoy metido em casa. Um é o suficiente.'

Draco, contrariando as expectativas da noiva, sorriu.

'-Você vai ver quem é o Malfoy metido.' – ele sussurrou no ouvido dela enquanto a carregava até a cama deles.

Ele beijou a ruiva até que ficassem corados e sem ar. Deitado de lado, ele admirava Serena. Abraçou-a por trás e distribuiu beijos pelo pescoço dela, quando sentiu algo vibrar de leve bem abaixo de sua mão.

Acompanhou o movimento, seguido por outros. Chutes e pequenas ondulações. Draco parecia surpreso e sentiu tudo com curiosidade evidente.

'-É sempre assim quando a gente se beija,ainda mais desse jeito.'

'-Você acha que... o incomoda?' – perguntou, desconfiado.

'-Pelo contrário. Acho que ele fica... Hum... Feliz. Ou bem acordado, pelo menos.'

Draco sorriu na orelha dela, dando um beijinho leve no maxilar da ruiva.

Acabaram adormecendo rapidamente e Serena teve a certeza de que tinha mesmo que ter passado sua última noite de solteira com o futuro esposo. Era ali que ela pertencia. Não àquela casa, mas a ele.

Quando voltara, Serena estava buscando seu lar. E curiosamente não foi na Mansão Prince que ela o encontrou. Fora em Draco. Lar não era necessariamente um lugar, afinal. Porque casa, para ela, era onde o coração estava.

Mansão Malfoy, Wiltshire – 05 de março de 2010, 09:42

Serena trajava um robe longo por cima do vestido de noiva, exatamente do mesmo comprimento deste. Narcisa Malfoy escolhera um modelo belíssimo, simples e refinado, que tinha custado muito mais do que o salário anual de qualquer bruxo comum.

Ela tinha deixado todos os preparativos da cerimônia para a sogra, inclusive a escolha de seu vestido. Serena não era dada à essas coisas e confiava no bom gosto de Narcisa. Não poderia ter acertado tanto.

De uma janela do terceiro andar, no enorme quarto que a mais velha tinha escolhido para a noiva se arrumar, Serena tinha uma vista panorâmica dos jardins da mansão. Fileiras de cadeiras brancas tinham sido milimetricamente arrumadas, uma passarela coberta de pétalas entre elas: por onde os noivos entrariam, e inúmeras flores e velas, tudo ao estilo requintado de Narcisa Malfoy – que agora preferia ser chamada de Narcisa Black.

A ruiva não podia negar o frio na barriga que estava sentindo, enquanto se mirava num espelho antiquíssimo que havia no quarto. Os cabelos estavam presos em alguns bobes grandes – sugestão de Serena para economizar tempo com o penteado, já que cachos feitos com magia demoravam em demasia.

Já podia observar os jardins se enchendo de convidados. Reconheceu, lá de cima, alguns amigos de Narcisa, que faziam parte da aristocracia bruxa; pôde reconhecer também o cabelo ruivo de Ginny, acompanhada de Harry e das crianças – as quais eles tentavam fazer permanecerem sentadas.

Alguns minutos depois, os jardins estavam repletos de gente que conversava amenamente e ria com o clima calmo de março.

Serena fitava-se no espelho mais uma vez, pensando em começar a maquiagem sem a sogra quando uma batida na porta do quarto interrompeu seus pensamentos.

'-Serena' – ela atendeu imediatamente, reconhecendo a voz.

'-Não era para o senhor estar nos jardins, Draco Malfoy?' – ela arqueou a sobrancelha para ele, e foi puxada para um abraço delicado.

'-Passei antes para te ver, sabe. Antes que a noiva chegue.' – proferiu, um sorriso brincando nos lábios, levando um beliscão da noiva.

'-Vá antes que sua mãe te veja aqui. Ela vai simplesmente surtar e é provável que cancele o casamento.' – Serena sorriu de lado para ele.

'-Nos vemos lá embaixo, então.' – ele segurou ambas as mãos dela e beijou-as.

'-Eu serei a de branco.' – ela relembrou, brincando.

'-Não vou me esquecer, Srta. Snape.' – ele fez um gesto brincalhão e saiu às pressas.

Logo em seguida, Narcisa entrou no quarto e começou a fazer as coisas funcionarem em Serena, com ajuda de magia. Cabelo e maquiagem ficaram prontos em questão de instantes assim que a jovem senhora adentrou aqueles aposentos.

'-Você está maravilhosa, meu bem.' – sorriu ela, presunçosa por seu trabalho.

Serena virou e fitou-se no espelho. Parecia outra pessoa. A maquiagem discreta ressaltava seus olhos azuis e o colo que o vestido deixava exposto por não ter alças, o cabelo caía em camadas ruivas e onduladas, preso estrategicamente em algumas partes de forma a delinear os traços marcantes da jovem.

Ela suspirou, temerosa, e sorriu de leve para a sogra.

'-Ah, Elizabeth Zabini deseja te ver antes da cerimônia, querida' – anunciou Nacisa, ajeitando um grampo no cabelo da nora – 'Eu disse que ela poderia subir assim que eu terminasse com você. Vou chamá-la.'

E saiu, deixando Serena com um frio maior na região do ventre. Fazia tempo que não via Eliza, tempo demais. Estava saudosa da prima, mas também envergonhada pelos anos que passara fora, pelo casamento que perdera.

Respirou fundo e encarou a si mesma novamente no espelho. O feitiço não repare que o dono do atelier onde o vestido fora comprado colocara funcionava perfeitamente bem. Não havia vestígios de que Serena estava grávida.

Narcisa havia concordado sutilmente com a nora quando ela demonstrou preocupação com o fato e tratou de resolvê-lo. O feitiço agia apenas na região do ventre e, se algo era colocado próximo ao tecido, esvaia-se.

Elizabeth abriu uma fresta da luxuosa porta do quarto e perguntou pela prima. Quando Serena levantou-se da banqueta que acompanhava a penteadeira, a loira entrou.

Mais bonita e mais mulher do que nunca, Eliza abraçou a prima com fervor e saudade.

'-Serena, você está maravilhosa!' – Eliza exclamou, mostrando os dentes incrivelmente brancos – 'Quanto tempo, sua ruiva de uma figa! Desde quando nós não nos vemos? Você sumiu!' – ela tentou recordar-se da data, mas o tópico foi esquecido pelas duas.

'-Elizabeth, céus' – a ruiva exclamou, emocionada – 'Você está diferente.'

'-Você não mudou muito desde a última vez em que nós nos vimos. E a última vez que eu lhe vi realmente diferente foi no meu casamento. Você ainda estava morena.' – ela sorriu triste.

'-Eu sinto muito, Eliza...' – Serena segurou a mão da prima, num gesto totalmente atípico, os olhos transmitindo as desculpas.

'-Eu sei, eu sei, Serena. Não importa.' – ela apertou a mão da ruiva, compreensiva – 'Acho que no fim das contas essa é a vida certa para você não é mesmo? Você é completamente louca!' – ela disse, rindo despretensiosamente, mas a mágoa podia ser notada ali – 'Quem diria que você sairia procurando por ex-Comensais depois de tudo?!'

'-Ei, claro que importa. Eu me senti a pior pessoa do universo por não ter podido aceitar ser madrinha, e depois...' – Serena suspirou – 'E depois ainda ter que sair no meio da cerimônia, sem nem mesmo falar direito com você. Eu nunca vou me perdoar, Eliza.'

'-Eu já te perdoei, se você quer saber. O que importa é que hoje é o seu casamento, e você está esplêndida.' – a loira sorriu, doce – 'E eu ainda não entendi como Draco conseguiu te convencer a casar... Em todas as corujas que trocamos falando sobre casamento você me garantiu que não casaria nem que tivesse que mandar Malfoy embora.'

Serena estacou diante da pergunta, acomodando-se na banqueta que acompanhava a refinada penteadeira. Tinha vergonha de estar grávida, ainda mais por um descuido.

'-As circunstancias nos obrigaram.' – ela considerou, e não planejava mencionar a gravidez até que apoiou uma mão no ventre devido ao costume.

Eliza ia começar a tagarelar sobre o casamento quando notou a proeminência na região do ventre da amiga.

'-Serena?' – perguntou, espantada e feliz ao mesmo tempo.

Ao vê-la embasbacada Serena também olhou para baixo, o feitiço tinha sumido com o toque.

'-Oh, sim' – a ruiva respondeu somente, não imaginando que teria de tratar disso com a prima tão cedo.

'-Merlin, você está grávida' – a loira exclamou, sorrindo verdadeiramente e colocando uma mão contra o ventre cheio de Serena.

'-Parece que sim' – ela resmungou, sem saber direito o que fazer.

'-Eu nunca imaginei que chegaria este dia' – disse com franqueza e continuou a sorrir – 'Sempre achei que você não quisesse crianças...' – Elizabeth considerou, acreditando que a prima tinha mudado de idéia durante os anos.

'-E eu não queria, Eliza' – cortou, fazendo o sorriso sumir dos lábios da outra – 'Na verdade, eu achei que não pudesse ter filhos, além de tudo.'

'-Você não está... feliz?' – Eliza inquiriu, chocada.

'-É complicado. E eu realmente não imagino o que Draco e eu faremos com um bebê. Deveria ser proibido que pessoas como nós se tornassem pais.'

'-Você vai se acostumar, eu tenho certeza.' – ela sorriu, otimista – 'É só o medo da descoberta ainda.'

'-Você não está entendendo, Eliza. Nós não queríamos filhos.' – ela suspirou e a mão foi até a perna, fazendo o feitiço voltar e a barriga desaparecer.

'-Por que raios você está usando esse feitiço, afinal?' – a loira perguntou, indignada.

'-Não quero que fiquem olhando para mim, principalmente para isto.' – apontou a região do ventre que, no momento, estava liso.

'-Você está grávida, todos vão saber, uma hora ou outra. Como você vai fazer quando ele simplesmente nascer?'

'-Eu tenho a mesma coisa que minha mãe teve. É um defeito genético. Pode ser que ele nem nasça.' – ela explicou rapidamente, evitando que lágrimas viessem aos seus olhos.

Os olhos de Eliza ficaram vidrados e a boca abriu-se em choque.

'-Serena...' – foi tudo que a prima pôde dizer.

'-Assim que fiz o teste de gravidez pensei em aborto' – ela admitiu, séria, tentando esconder a dor por trás das palavras – ', para não passar por tudo isso que estou eu simplesmente não pude.'

A ruiva olhou para baixo, engolindo em seco.

Eliza abaixou-se ao lado dela e fitou-a nos olhos.

'-Isto é uma tortura, Elizabeth.' – suspirou.

'-E o que pode acontecer?' – inquiriu a outra, tentando ser prática.

'-Podemos morrer os dois; só eu, ou só o bebê. Há uma porcentagem pequeníssima de que nós dois sobrevivamos ao parto.' – Serena disse, os olhos azuis profundos e tristes.

'-E você está levando a gravidez assim porque tem medo que só o bebê morra?' – ela deu um sorrisinho cúmplice. Não precisou esperar Serena acenar para saber a resposta.

'-Tudo terá sido inútil, então.' – ela deu de ombros como se não tivesse importância.

'-Você já comprou algo para a criança? Roupas e coisas do tipo?'

A ruiva acenou negativamente.

'-Escolheu algum nome, ou pensou se acha que é menino ou menina?'

Outro aceno negativo.

Eliza afagou a mão da prima, compartilhando aquele momento difícil.

'-Aposto, então, que as coisas não estejam sendo fáceis com Draco também.'

'-Não, não estão.'

'-Serena, você está focada na possibilidade de o bebê não sobreviver. É claro que eu acredito que é sim possível que vocês dois resistam ao nascimento dele, mas você já pensou na possibilidade de que aconteça exatamente como sua mãe?' – ela lançou um olhar inquisitivo – 'Em como isso será para o bebê? Tia Alexia, que não sabia da existência desse gene ruim, te protegeu e amou desde que soube que você existia, e ela estava plenamente feliz em ter uma criança. Ao saber de tudo isso, foi muito mais fácil para você acreditar no amor de sua mãe. Agora, se o mesmo acontece a você, o que seu filho vai pensar de você? Aí sim tudo terá sido em vão.' – Eliza segurou mais forte as mãos da prima quando a ruiva mordeu o lábio inferior que tremia – 'Não há como se proteger desta situação, Serena. Desta vez o destino ganhou de você.' – ela completou, afagando as costas da prima.

Serena encolheu-se e deixou as lágrimas rolarem, uma após a outra, até caírem torrencialmente. Eliza abraçou-a e confortou-a.

A loira nunca – em toda a vida dela – havia visto a prima chorar. Nem uma vez sequer. Serena não deixava. Sempre fora mestre na arte de esgueirar-se pelos cantos feito um gato, fugindo das situações e nada mudara depois que se tornaram adultas.

Daquela vez, porém, Serena não se importava. Estava triste e preocupada de todo o coração.

'-Ei, calma' – Eliza pediu – 'Você tem que aceitar o que está preparado para você, Serena. E viver em paz até lá. Esta situação toda deve estar sendo um inferno.'

Serena chorou mais um pouco, os ombros pálidos e ossudos tremendo. Levantou-se repentinamente, limpando as lágrimas com as costas das mãos, e indo até o gigantesco banheiro da suíte.

Voltou com a maquiagem em ordem novamente e o rosto sereno.

'-Você realmente quer se casar com Malfoy?' – a loira inquiriu, preocupada.

'-Sei que pode parecer que não' – começou com um sorrisinho de deboche – ', mas eu e Draco gostamos muito um do outro. Apesar de tudo.' – sorriu verdadeiramente, então – 'Não me imagino mais sem aquele loiro aguado.'

Elizabeth sorriu também.

'-Era inevitável, não é mesmo? Depois de sete anos separados... Enfim, o destino realmente não deixa ninguém escapar.' – ela sorriu como a loirinha inocente que era há dez anos.

'-E Blaise, como está?' – lembrou-se do amigo de muitos anos. Ele realmente fazia falta em sua vida.

'-Blaise está ótimo. Está trabalhando de verdade uma vez na vida, o que é realmente bom. Trabalhar constrói o caráter.' – disse, sorridente.

'-Não sou dramática como você, Eliza, mas eu sinto muito a falta de vocês dois nas nossas vidas.' – considerou, com um olhar significativo para a prima.

'-Nós também sentimos. Vocês precisam ir nos visitar mais.'

A ruiva concordou apenas.

'-E Elena e tia Olívia? Onde estão? Queria vê-las antes da cerimônia!' – ponderou, olhando os jardins pela imensa janela.

'-Mamãe estava vindo. Ficou de pegar o Thomas, mas pelo jeito Blaise não está facilitando.' – ela sorriu, espiando também.

'-Thomas?' – a noiva franziu o cenho, não lembrando desse nome em particular.

'-Hum, sim. Eu tenho um filho de quase um ano, Serena.' – ela sorriu de leve ao pensar na criança, um sorriso travesso.

Serena estreitou os olhos para a prima, sem entender.

'-Wow, Elizabeth Zabini. Agora você me surpreendeu. Não estou nem me sentindo mal por não ter te contado sobre isto antes.' – ela apoiou uma mão no ventre, realmente surpresa.

'-Todos os dias eu queria lhe mandar uma coruja, acredite. Mas a gravidez era de risco e Blaise e os medi-bruxos me fizeram repousar durante todo o tempo. Quando ele nasceu, separei imediatamente uma foto dele para vocês, junto a um bilhete, mas o correio coruja da França simplesmente enlouqueceu naqueles meses. E eu queria que você o conhecesse pessoalmente.' – acrescentou, sorrindo o sorriso de Alexia.

'-Eu simplesmente não posso acreditar que você tenha um filho de quase um ano, Loira. Merlin!' – ela exclamou, ainda espantada.

Ela sorriu orgulhosa.

'-Digamos que ele também tenha sido um pequeno acidente, ainda que eu sempre tenha querido ter filhos.' – completou, dando de ombros – 'E foi o melhor acidente da minha vida.'

Serena sorriu de leve ao ver o carinho nos olhos de Eliza. Queria acreditar que ela mesmo seria capaz daquilo no futuro.

Mas queria ainda mais acreditar que existiria um futuro para ela e aquele bebê.

Colocou despreocupadamente uma das mãos no ventre, num carinho despercebido, fazendo com que a imagem fosse novamente da barriga de seis meses de gravidez.

Elizabeth aproximou-se e colocou a mão na protuberância. Pontapés indicavam que alguém especialmente ativo crescia ali.

'-Você não fica curiosa para saber o sexo?' – fez a pergunta tipicamente materna.

'-Não, na verdade. Pouco importa.' – Serena respondeu, mas Eliza percebeu que o tom não era de desdém e sim de esperança. Pouco importava, se a criança sobrevivesse.

'-Acho que ele também está nervoso com o casamento dos pais.' – Eliza comentou devido a agitação do bebê.

Serena ia responder quando a porta foi delicadamente aberta por Elena Duncan.

Elena brilhava como sempre, e trazia no colo um menininho de dez meses, curioso e com ar de riso. Thomas Zabini tinha olhos azuis como os do pai, cabelos castanhos cor de chocolate e a pele nem tão clara quanto a de Eliza e nem tão morena quanto a de Blaise. Era uma mistura perfeita dos dois, que estavam reunidos nos traços daquela criança que poderia ser um modelo infantil.

A avó o segurava com orgulho e atenção, e Serena aproximou-se deles, juntamente com Eliza.

'-Serena!' – Elena exclamou ao ver a prima – 'Simplesmente linda.' – murmurou, abraçando-a depois de entregar a criança à filha.

'-Obrigada, Elena. Acabei de saber que você já é avó.' – debochou de leve.

Ela riu – 'Tom tem dez meses e ainda nos encanta com qualquer bobagem.' – ela balançou a cabeça em descrença – 'Sean é quase pior do que eu. Ele te mandou um beijo, querida.'

Serena agradeceu e fitou o bebê nos braços de Eliza.

'-Olá, querido' – disse, mediante o olhar profundo que recebeu da criança.

Thomas sorriu para ela e Serena também ficou encantada. Como que para mostrar que também estava ali, o bebê dentro dela virou. Ela apoiou, sorridente, uma mão na barriga lisa, fazendo o encanto sumir.

Elena ergueu as sobrancelhas em surpresa e sorriu abertamente. O pequeno Zabini brincou com os anéis e pulseiras prateadas de Serena, e estendeu os bracinhos para a ruiva.

'-Merlin. O único bebê que segurei foi Lily' – disse, um pouco amedrontada, pegando a criança.

'-Não é bom que você o pegue, Serena. Este rapazinho já é bem pesado.' – Eliza comentou, preocupada.

Serena rolou os olhos.

'-Ele está bem aqui.' – disse, com ar de irritação –'Não é mesmo, Tom?' – o garotinho sorriu em resposta.

Thomas encantou-se com o cabelo de Serena e ela não resistiu a rir com ele.

'-Mamãe disse que vai esperar até que a cerimônia tenha acabado para te ver. Acomodou-se em uma das cadeiras dos jardins e não quer perder nada do casamento.' – Elena contou rindo.

A loira mais velha observou as duas. Agora o bebê já tinha retornado ao colo da mãe e o feitiço que escondia a gravidez de Serena funcionava novamente. Eram duas mulheres; o coração dela apertou no peito e deixou uma lágrima escapar.

'-Vocês estão tão lindas, vocês duas' – disse, limpando as lágrimas cuidadosamente – 'Parece que foi ontem mesmo que vocês eram duas garotas travessas combinando as férias na volta do expresso de Hogwarts.'

Elizabeth riu abertamente da mãe, abraçando-a em seguida. Serena reservou-lhes um sorriso ladino, relembrando a adolescência. E, no final das contas, estava mesmo se casando com Malfoy. Como o destino era travesso!

Justo Malfoy.

Severo bateu na porta alguns minutos mais tarde, abrindo-a cuidadosamente. As três mulheres fitaram-no, cumprimentando o homem com a cabeça, e ele dirigiu o olhar à filha com um sorriso paterno.

Serena Snape estava parecendo uma deusa romana.

'-Serena, a cerimônia já começou e Draco está entrando. Acho que é sua vez.'

Ela concordou com um menear de cabeça nervoso e as outras duas mulheres saíram apressadas, deixando-os sozinhos.

Draco Malfoy alisou o cabelo extremamente loiro pela milésima vez. Todo aquele ambiente de casamento o estava deixando nervoso. Avistou, então, Blaise em uma das fileiras, pomposo como sempre.

Sorriu como se tivesse dezesseis anos novamente e aproximou-se do amigo.

'-Draquinho!' – ele gritou, abraçando o amigo com saudade. Blaise segurava um menininho bastante parecido com ele no colo.

'-Como vai, Blaise?' – respondeu com entusiasmo.

'-Hum, você está muito elegante, Draco.' – o moreno piscou os olhos de um jeito afeminado – 'Tive uma ideia. Larga essa Snape azeda e foge comigo, bonitão.'

Os dois riram e o loiro deu um tapa na cabeça do amigo, que acabou em outro abraço tipicamente masculino.

'-Ei, não posso brincar tanto com isso. Que exemplo vou dar para o moleque?' – Blaise riu, apertando uma das bochechas de Thomas.

'-Quem é esse, Blaise?' – o loiro questionou, desconfiado. Nunca havia visto Blaise com um bebê tão pequeno no colo.

'-Esse?' – Blaise começou em tom de riso – 'É Thomas Zabini.'

Draco olhou de lado e franziu o cenho.

'-Não' – ele acenou com a cabeça – 'Impossível, babaca. Conta outra.'

'-Estou falando sério, Draquinho.' – o moreno disse, rindo – 'Este é o herdeiro Zabini.'

'-Claro que é. E eu sou Salazar Slytherin, você não sabia?' – debochou Draco, rindo – 'De quem é essa criança, Zabini? É melhor que você o devolva aos pais.'

'-Eu sou o pai dele, Draco!' – ele tentou, mas acabou caindo na risada de novo.

'-E onde está Elizabeth, então? Ela jamais deixaria você sozinho com uma criança.'

'-Draco Malfoy, Tom é meu filho!'

'-Blaise, como nem eu nem Serena ficamos sabendo disso então? Além de amiga, Serena é prima de Eliza.'

'-O Correio Coruja da França é péssimo, se você quer saber. Nem a mãe de Eliza teria ficado sabendo se já não estivesse por lá.'

'-Blaise, sério. De quem é essa criança?'

Zabini passou a mão pelo rosto, sem saber mais o que fazer. Quando ameaçava chacoalhar Draco até que ele acreditasse, o bebê falou:

'-Pá-pai' – e passou uma das mãozinhas nada delicadamente pelo rosto de Blaise, imitando o gesto anterior do pai.

Malfoy ficou boquiaberto diante da cena.

'-Eu não disse, seu palerma?' – perguntou, dando um peteleco na cabeça do amigo – 'É, filho, seu futuro padrinho é um idiota.' – e Thomas riu, sem saber do que se tratava.

'-Você simplesmente não pode ter um filho, seu panaca!' – o loiro sorriu, sem acreditar.

'-Ele tem quase um ano, Draco.' – disse, ainda tentando fazer o amigo se acostumar com a ideia.

'-Olhando bem ele se parece um bocado com a Duncan... E com você.' – Draco analisou o pequeno, que o olhava com receio –'Por Merlin, Blaise, é humanamente impossível que um filho seu tenha saído bonito.' – disse, brincando.

'-Puxou a beleza inigualável do pai.' – Blaise sorriu, presunçoso, apertando o menininho.

'-Wow, esse fato é difícil de digerir.' – o loiro admitiu num suspiro – 'Você é pai de alguém!'

'-Agora acredita que essa belezinha aqui é minha?' – perguntou o moreno, orgulhoso da criança.

Draco abaixou-se um pouco para ficar da altura da criança.

'-E aí, rapazinho?' - perguntou ainda receoso para o bebê.

Thomas se afastou, desconfiado, e segurou-se mais no pai.

'-Ei, cara, olhe aqui. Esse é o tio Draco' – Blaise explicou para o menininho – 'Ele pode ser um babaca e não ser tão lindo quanto o papai, mas é gente boa. E vai se casar com a tia Serena, que é uma mulher e tanto. Ele conseguiu domar aquele dragão, dá uma chance para ele.' – disse, rindo e atraindo a atenção do pequeno, mesmo ele não fazendo ideia do que o pai estivesse falando realmente.

Draco sorriu. Blaise era bom com crianças, e parecia ser um ótimo pai.

Ficou imaginando-se no futuro. Será que ele seria como o próprio pai? Como Lúcio Malfoy? Ou como Blaise? Eram dúvidas novas para o coração sonserino do loiro.

'-Falando em dragão... Que poção você deu à nossa querida Serena para que ela se casasse com você?'

O loiro respirou fundo e encarou o menininho brincando nos braços de Blaise antes de responder. Contaria a Blaise. Ele fora seu melhor amigo durante a vida inteira, e lhe fazia falta.

Antes que abrisse a boca, Thomas ficara encantado com a reluzente gravata de cetim preto que Draco usava e ofereceu os bracinhos.

Blaise o enfiou no colo do loiro, então.

Nunca tinha segurado um bebê daquele tamanho, nem Lily – que ele pôde bem recusar. Tom acomodou-se nos braços do futuro padrinho e brincou com a gravata, feliz.

'-Serena está grávida' – respondeu sem olhar para Zabini.

O moreno urrou em alegria, abraçando o amigo de lado depois.

'-Então quer dizer que você será papai, Draquinho?' – questionou retoricamente com um sorriso largo estampando seu rosto.

'-É o que parece' – o loiro deu um sorriso nervoso, se concentrando em Tom, que olhava de um para o outro sem entender.

'-E Serena? Estou até com saudade do azedume dela.' – brincou.

'-As coisas estão complicadas' – admitiu, passando uma mão pelos cabelos – 'Nós tínhamos um trato que ela levava muito a sério: não casar, muito menos ter crianças.'

O sorriso do moreno morreu.

'-E cá estamos, fazendo uma coisa para tentar remediar a outra.' – Draco disse.

'-Eliza também surtou por alguns dias quando descobriu; este aqui também foi um acidente' – sorriu para o filho, bagunçando os cabelos lisos do pequeno – 'Pelo que parece, é normal.'

'-Blaise, Serena está com seis meses.'

'-Boa sorte, então, campeão.' – o moreno deu tapinhas no ombro do amigo – 'E você? Nervoso com o casamento?'

'-Nervoso com tudo, ultimamente.' – ele sorriu de leve.

Thomas se remexeu e choramingou.

'-Venha com o papai. Tio Draco assustou você, rapaz?' – disse Zabini, tirando a criança dos braços de Draco.

O bebê voltou a sorrir assim que chegou ao colo do pai. E pela primeira vez o loiro teve medo de como seria quando fosse o seu filho. Será que ele iria chorar também, como Thomas? Se assustar? Os pensamentos fizeram Draco ficar agitado.

Pela primeira vez teve inveja do amigo. Queria que fosse simples daquele jeito.

Elena Duncan se aproximou, sorridente como sempre. Draco ainda se encantava com o brilho da mãe de Eliza toda vez que a via. Imaginava que Alexandra Snape tivesse sido assim, um dia, pelas fotos que Serena e Severo guardavam.

'-Querido, Eliza pediu para que eu levasse Tom quando fosse me juntar a elas. Ela quer muito que Serena o conheça.' – pediu gentilmente ao genro.

'-Ah, lá vem elas tirando o moleque de mim.' – Blaise brincou, passando a mão pelos cabelos do menininho e o abraçando – 'Mande um beijo para a mamãe e para a tia Serena.' – ele riu de leve e entregou o bebê para a avó.

'-E se comporte, hein, carinha? Juízo.'

Draco riu. Blaise tinha se tornado uma pessoa invejável, apesar de ainda ser um pouco irresponsável e brincalhão até demais.

'-Nervosa?'

'-Extremamente.' – ela suspirou, tentando se acalmar.

Pegou o buquê de dentro de uma refinada caixa que repousava sobre a penteadeira e uniu seu braço ao do pai. Desceram um lance após o outro até chegarem ao térreo, e o coração de Serena batia mais forte a cada degrau.

Já na porta dos fundos, que dava para os jardins e não permitia que os convidados a vissem, Severo parou de caminhar.

'-Eu sei que já perguntei isso antes, Serena, mas sinto que é minha obrigação perguntar novamente... Você tem a certeza?' – ele mirou-a nos olhos, e o olhar negro era profundo e preocupado.

'-Eu tenho, pai. Aqui, hoje, nunca tive tanta certeza antes.' – ela sorriu fino, lembrando muito a mãe.

Engoliu em seco, os nervos a mil.

'-Cuide-se.' – ele sussurrou e deu um beijo quase de despedida na testa da filha.

Severo estendeu um braço para ela, que segurou firmemente.

'-Vejo que o feitiço do alfaiate realmente funciona.' – ele notou, com um menear de cabeça.

'-Sim, funciona.' – Serena respondeu, um pouco incerta.

'-Serena' – o pai chamou, com um certo receio.

'-Sim?' – respondeu, distraída, virando-se para ele.

'-Você está maravilhosa.' – ele sorriu de leve, e Serena sabia que era um sorriso verdadeiro – 'Nunca imaginei que eu pudesse te levar para o altar algum dia, muito menos que você seria a noiva mais linda que eu já vi.'

Severo considerou, sorrindo para baixo. Ter a filha de volta em sua vida fora o maior e melhor presente que o destino poderia ter lhe dado. Até mesmo ele achava que Serena era bonita demais para ter vindo dele.

'-A única coisa que eu queria era que minha mãe estivesse aqui também.' – ela suspirou, mordendo o lábio inferior. Serena falara pouco da mãe em todos aqueles anos, mas Severo tinha a certeza de que ela sentia a mesma falta que ele – que conhecera Alexia por muito tempo – sentia.

'-Ela está vendo como você está linda. Tenho certeza.' – respondeu, sério, oferecendo o braço para a filha segurar.

Apertou mais o buquê e seguiu pelo caminho que os levaria até as fileiras de cadeiras brancas cuidadosamente ajeitadas. Respirou fundo e seguiu nervosa até que se aproximasse da primeira fileira.

Draco, lá longe – no altar, sorriu ao ver a noiva. E então tudo mudou para Serena. Só existiam os dois ali. Sorriu de volta para ele, o sorriso que Draco mais gostava e o único que não mudara com o passar dos anos. O sorriso de Alexandra. Ela não sorria assim desde que descobrira estar grávida.

O loiro não podia acreditar que ele finalmente convencera o dragão de Hogwarts a ir para o altar. Aos olhos dele, aquela era a cena mais bonita do mundo. Os olhos azuis de Serena brilhavam – como ele mesmo havia visto raríssimas vezes – e até as covinhas davam o ar da graça.

Ela não conseguia olhar para mais nada, nem ninguém.

Draco estava elegante em luxuosas vestes pretas, do jeito que ela gostava bem. Justo aquele sonserino encrenqueiro. Justo o afilhado de seu pai. Justo o filho do Comensal da Morte. Justo o loiro mais metido do mundo bruxo. Justo aquele covarde. Justo a pessoa que era diferente demais dela. Justo o pegador de Hogwarts. Justo Malfoy. Justo Draco.

O caminho – enfeitado cuidadosamente com pétalas de rosas brancas – não era curto até que a ruiva pudesse chegar ao altar adornado de flores. Reconheceu alguns rostos no meio da multidão, mas não reparou nem minimamente na decoração zelosa da sogra.

Só tinha olhos para um certo loiro.

No meio do percurso, Serena repousou a mão na barriga, e o feitiço se esvaiu. O sorriso de Draco aumentou ao perceber.

Não que ele tivesse sempre querido ter crianças; na verdade, o loiro aceitava bem o acordo sem-filhos dele e de Serena. Mas naquele momento as coisas eram irreversíveis, e – no fundo ele sabia – seu ego era afetado por Serena não aceitar o filho deles. O filho dele, que crescia dentro da futura esposa.

Porém, a ruiva agora parecia tranquila ao enfrentar o tapete negro com passos firmes até o altar. O sorriso relaxado e o visual impecável se opunham, como sempre acontecia com Serena. Ela era uma contradição.

Abriu novamente o sorriso de Alexia Spring quando Draco apareceu para busca-la. Ele estava lindo. Ele também sorriu abertamente ao vê-la ali, tão perto agora.

'-Ei, você vem sempre aqui?' – o sorriso dela mudou e tornou-se ladino, sussurrando no ouvido do futuro marido.

'-Você está estonteante, Sra. Malfoy.' – ele murmurou no ouvido dela, após colarem os lábios de leve.

Severo hesitou ao entregar a filha para o afilhado. Eles estavam juntos há anos, moravam juntos e ela inclusive estava grávida, mas nem por isso foi menos difícil. Abraçou Serena e apertou a mão de Draco realmente como um sogro.

'-É bom que você cuide muito bem dela, Malfoy. Caso contrário, as consequências serão graves. Tudo que você fizer a ela, eu farei a você' – disse, baixo e ameaçador, como o morcegão das masmorras que fora por muito tempo – 'Eu estou confiando em você.'

Draco concordou, temendo a figura de Comensal da Morte que o padrinho adquirira ao falar; Severo fez o discurso de sogro apesar de saber perfeitamente que o loiro preferiria machucar a si mesmo do que a ela.

Serena e Draco fitaram-se de perto, um encantado com o outro novamente, como se eles tivessem dezesseis anos, antes de seguir para o altar meticulosamente decorado pela antiga Sra. Malfoy.

Severo seguiu para o lado de Narcisa, que imediatamente enroscou o braço ao do ex-professor, admirando o novo velho casal. A mulher loira sempre soube que era Serena a escolhida de seu filho, antes mesmo que ele tivesse escolhido.

Desde a primeira vez que os vira juntos, teve certeza. Afinal, Serena era a única mulher a quem ele obedecia, fora a própria mãe, e que o conseguia dominar como ninguém. Narcisa esteve sempre certa.

Mesmo quando a garota fora embora, e Draco ficara desesperado, não parando de gritar ofensas sobre ela, Narcisa não teve raiva. Apesar de o filho ter sido sempre o bibelô de sua vida, quando se tratava de Serena era diferente. Ela era incontrolável, mas colocava Draco na linha.

O casal no altar se olhava de uma maneira que fez Eliza Zabini debulhar-se em lágrimas antes mesmo que o juiz de paz bruxo dissesse alguma coisa. Tanto Draco como Serena mantinham as personalidades difíceis dos tempos de Hogwarts, mas estavam ali, se encarando da mesma maneira que faziam quando tinham dezesseis anos.

Mesmo que o tempo tivesse passado. Mesmo que não fossem mais estudantes. Mesmo tendo ficado separados por sete anos. Mesmo que fossem tão diferentes. Mesmo assim.

A cerimônia foi rápida – exatamente como Serena exigira, e logo os convidados dançavam e comiam na esplendorosa festa na Ala Sul da Mansão, que abrigava um enorme salão de festas e um jardim menor.

Blaise determinara que dançaria uma valsa com Serena, e assim o fez. Os amigos riram juntos, relembrando os velhos tempos. Há muito tempo não se divertia tanto, pensou Draco. E, naquela noite, os dilemas da gravidez não planejada da esposa não tiveram espaço. Nem depois.

A questão resolvera-se sozinha, no embalo do casamento.

Só restou aos dois, então, Paris e um singelo au revoir.

Choro. Choro estrondoso.

Teria ecoado em todas as paredes daquela singela maternidade francesa, se não houvesse uma pessoa a mais naquela suíte especial.

'-Me devolva o bebê.' – pediu a mulher ruiva, que chorava tanto quanto a criança nos braços do homem à sua frente – 'Por favor, eu estou implorando. O bebê está chorando.'

Ela estendia os braços, impotente. Um dos pulsos segurava a varinha nada seguramente. Estava desesperada.

'-Largue a varinha. Ponha no chão, ou serei obrigado a sumir com esta criança antes do planejado.' – disse, autoritário.

Ela segurou um grito. Ao invés disso, mais lágrimas rolaram na face alva.

'-Pronto' – ela colocou vagarosamente a varinha no chão e tornou a querer alcançar o bebê – 'Eu juro que não farei nada, Lúcio. Não vou fazer denúncia nenhuma. Se você me der o bebê, eu sumo com ele para qualquer lugar. Por favor.' – ela tentou chegar mais perto.

'-Está achando que é tão fácil assim, nora querida?' – ele debochou, com um sorriso excêntrico nos lábios – 'A criança é minha. Não existe nada que você ou Draco possam fazer.'

'-Lúcio, uma criança precisa da mãe. Por favor. Estou dizendo que vou embora com o bebê para onde você quiser.' – ela implorou, chorando mais, tentando alcançar o embrulhinho que ainda chorava – 'Ele está chorando.' – Serena pediu, em pura agonia.

'-Mas não há por que chorar, afinal' – ele dispensou um olhar para o bebê e afastou um pouco a manta do rostinho vermelho – 'Ele está com o avô.'

Então Lúcio Malfoy voltou a encarar Serena com um ar amalucado.

'-Você tem noção do que está fazendo, Lúcio? Tudo o que vai conseguir é fazer seu próprio filho infeliz.' – Serena pediu, tentando se acalmar e achar uma solução coerente.

Ele sorriu, alucinado – 'Deixe-me contar uma coisinha para você, querida' – ele balançava o bebê nos braços e o estomago de Serena virava em agonia – 'é exatamente o que eu quero que aconteça. Vovô Lúcio vai destruir uma família feliz. Perdão, vocês nunca chegaram a ser uma família, se eu me recordo bem. Feliz, muito menos.'

Serena desabou novamente. Tapou a boca com a mão, mas as lágrimas a inundaram. O velho Malfoy mantinha uma boa distancia da nora, impedindo-a de chegar muito perto da criança.

'-Me deixe ir embora com o bebê, então' – pediu, séria e se recompondo, mas com os olhos fundos de tristeza – 'Draco nunca saberá para onde fomos, Lúcio, posso fazer um Voto Perpétuo. Eu arrumo nossas coisas antes que ele chegue, e eu e o bebê vamos morar na parte trouxa de algum país.'

Serena Snape nunca se sentira tão infeliz em toda sua vida. Estava nadando em tristeza. Prometera a Draco que não iria a lugar nenhum. Nunca mais. Talvez a vida deles fosse isso: encontros e desencontros.

Lutaria até a morte, se fosse em outro caso. Mas era seu filho que estava em jogo.

Lúcio Malfoy cogitou por um instante.

'-Seu plano seria perfeito, Srta. Snape' – ele articulou – 'Se eu não quisesse que você sofra tanto quanto meu filho, tanto quanto Draco.' – Serena ficou boquiaberta e começou a balançar a cabeça em negação.

'-Por que, Lúcio? Que mal Draco e eu fizemos a você?'

'-Vocês acharam que eu não voltaria, não é mesmo?' – ele fugiu do assunto, com os olhos de um louco –'Ninguém esperava ver Lúcio Malfoy novamente. Mas eu estou aqui!' – gritou – 'E vou me vingar de vocês todos. Para isso, preciso apenas desse bebê.'

Serena olhava o embrulhinho nos braços do avô e sentia um desespero que não conhecia.

'-Primeiro, Snape traidor. Em todos os sentidos que você deve bem saber sendo cria dele; depois, Cissa. Me trocou por quem eu achava que fosse meu melhor amigo. Aí, Draco. Um filho desnaturado que jogou a vida no lixo por uma mulherzinha como você. Não que eu a despreze totalmente. Você é bem astuciosa, Serena Snape.'

'-É Serena Malfoy.' – foi a única coisa que pôde dizer, embasbacada.

'-Que seja' – ele riu de deboche – 'Você nunca será uma Malfoy, de qualquer forma. Onde eu estava? Ah, sim. Em você, Serena.' – ele recomeçou – 'Por último, você. Incrivelmente tudo está ligado a você, minha cara. Meu filho tinha um futuro brilhante como Comensal pela frente, e você o arruinou. Draco Malfoy, um legítimo puro sangue, passou a agir debaixo das barbas de Dumbledore. Tudo porque você o convenceu. Pensa que eu não sei? Agora eu sei da história toda, finalmente.' – sorriu, demoníaco, fazendo o bebê chorar novamente.

'-Se Draco não tivesse sido um agente duplo estaria morto, ou preso.' – ela sussurrou, sem forças para discutir na madrugada fria da França – 'Você gostaria disso, Lúcio?' – ela apelou.

'-Era preferível. Terminar como um Malfoy digno, esse sim era o destino de Draco. Querida, não se engane. Se meu filho tivesse feito tudo conforme deveria ser, eu não iria precisar desse bebê. Agora deixe-me explicar tudo a você para que possa repassar exatamente meus porquês aos outros quando eu me for.' – disse, ignorando o choro da criança – 'O bebê é como eu vou me vingar de todos vocês de uma vez só.'

'-Lúcio, por favor. Me mate, se você quiser, mas não faça nada com o meu filho.'

'-Matar? Não planejo matar ninguém, querida. Aí vocês terão um corpinho para enterrar e vão se conformar um dia.' – ele chegou mais perto de Serena, cobrindo o rosto da criança com a manta novamente – 'O bebê vai estar bem vivo, e será criado por mim; farei com ele tudo o que você não me permitiu fazer com Draco. Vocês terão que viver cada dia da mísera vida de vocês sabendo que essa criança cresce em algum lugar, longe da sua vista, e que pode ser que vocês trombem com ele nas ruas e não saibam quem é. Este, Serena, será o karma de vocês.'

O coração da ruiva apertou tanto que ela não conseguiu nem chorar. Tentou passar a mão no bebê, mas Lúcio não deixou. Ela estava vazia de novo. E viveria uma vida vazia depois daquele dia que era para ser de alegria.

'-O que estamos esperando, Lúcio? Você quer me torturar mais?' – perguntou, a voz rouca e sem forças – 'Me deixe segurar o bebê pela última vez, então. É só o que eu lhe peço.'

'-Estamos esperando Draco, ora. Quem mais?! Ele precisa ver que eu peguei o filhinho de vocês e sumi com a criança. Conheço meu filho: se ele não ver com os próprios olhos, não acreditará.' –explicou, lunático e alucinado, rindo – 'Quer segurar o bebê?' – os olhos de Serena se encheram de esperança – 'Mas parece que você não vai, Serena. Nunca mais.'

Serena não tinha tempo nem ânimo para chorar mais. Tinha que aproveitar aqueles momentos encarando a manta felpuda de hospital que cobria seu bebê.

'-Deixe-me vê-lo, ao menos, Lúcio. Por favor.' – suplicou, chegando mais perto com passos lentos.

Lúcio tirou a varinha da manga e sorriu, louco.

'-Mais um passo e eu não hesitarei em torturar o bebê.'

'-NÃO!' – ela gritou, afastando-se rapidamente – 'Estou aqui, Lúcio; longe de vocês. Não faça nada com o meu bebê.'

'-Seu bebê? Acho que não mais. Meu.' – ele disse, sádico – 'E vejo que você não é mais nem a metade da garota que me descreveram. Muito menos é a mulher que meus antigos aliados temem. Vim aqui esperando sua fama de durona, Serena querida. Vejo, porém, que você é tão fraca quanto seu pai.'

'-Não fale sobre o que você não sabe, Malfoy. Muito menos sobre meu pai.' – ela cuspiu.

'-Eu conheço seu pai, garota. E você?' – arqueou uma sobrancelha loura e deu uma gargalhada louca.

Serena não tinha força para ficar ali ouvindo mais coisas como aquela. Tudo o que desejava era morrer antes de viver o inferno que o sogro descrevera.

'-Você tinha tudo, Lúcio. Mas você foi fraco. Voldemort te corrompeu muito fácil.' – ela disse, num murmúrio.

'-Ah, você então acha que pode me jul...'

A sentença nunca foi terminada. O baque da porta e a sentença proferida vieram em uníssono.

'-AVADA KEDRAVA!' – berrou uma figura que vinha da porta.

Lúcio Malfoy caiu, inerte, soltando o bebê no ar.

Serena, desesperada, disparou para pegá-lo. Correu até uma poltrona no canto do quarto mais afastado de onde jazia agora o Malfoy Sênior. Chorava de alívio ao segurar novamente sua criança, que acompanhava a mãe num choro estridente.

Encolhida na poltrona, Serena chorava copiosamente – como nunca antes – segurando firme o recém-nascido.

'-Serena, amor, o que aconteceu?' – um Draco atônito arregaçou nervosamente as mangas da camisa preta e deixou a varinha num pequeno aparador, indo para perto da esposa.

'-Lúcio... Ia levar o bebê. Só estava... estava esperando você.'

'-Como, como ninguém do hospital ouviu?' – o loiro perguntou embasbacado, tentando acalmar a esposa.

'-Entrou pela janela... Feitiço silenciador.' – Serena resmungou apenas.

Ela e o bebê ainda choravam.

'-Shhh, querida' – murmurou para o embrulhinho – 'Está tudo bem, tudo bem.' – era uma tentativa desesperada de acalmar o bebê depois de toda a confusão.

Draco se dirigiu até um frigobar mágico na salinha que precedia o quarto para pegar alguma água para a esposa enquanto esta tentava fazer o bebê dormir. Chamou a lareira da sala de Potter, no Ministério da Magia, e pediu para que ele mandasse uma equipe para remover Lucio de lá.

'-Ei, Serena, pronto. Já passou. Não precisa chorar' – Draco entregou uma garrafa d'água e abraçou-a desajeitadamente, direcionando-a para a enorme cama hospitalar.

'-Ele ia levar nosso bebê, Draco.' – ela não conseguia parar de soluçar.

'-Ele está morto agora, amor. Esse verme não vai mais incomodar ninguém, muito menos nosso filho.'

'-Foi tão horrível... Eu acordei e ele simplesmente estava lá, segurando a nossa filha...' – o loiro interrompeu-a.

'-É uma menina?' – perguntou, em um misto de orgulho e medo.

'-Sim, Draco.' – ela puxou o marido para mais perto pela mão e afastou a manta branca, revelando um bebê adormecido – 'Ela é tão linda.' – Serena sussurrou, fazendo uma lágrima de remorso escorrer.

O marido tratou de limpá-la com o dedão e deitou a cabeça para poder ver a criança. Tinha os traços firmes e bem delineados, a pele extremamente branca, mas as bochechas róseas. Ao invés dos lábios cheios de Serena, a menininha tinha herdado os lábios finos do pai.

Draco analisava-a com tanto cuidado que a pequena Malfoy parecia uma obra de arte.

'-E ela é uma ratinha albina igual você, amor.' – Serena riu, depositando um beijo na cabeça do bebê, carinhosamente.

'-Ei, não fale assim da minha filha.' – ele pediu, falsamente indignado, colando os lábios aos da esposa e mantendo um sorriso estonteante depois. Ele era pai.

'-Eu estou tão cansada, Draco...' – ela suspirou – ' E não só fisicamente'

'-Posso imaginar' – ele passou a mão pela testa da esposa, que suava frio – 'Durma, querida. Desta vez eu estarei aqui, com vocês.' – o loiro deu um sorrisinho fraco e balançou a cabeça – 'Não na Inglaterra, a não sei quantas milhas daqui, lendo um singelo bilhete de que você veio trabalhar, com nada menos que oito meses de gravidez.'

'-Eu precisava acertar algumas coisinhas com o Primeiro Ministro do Mundo Bruxo francês. É o meu trabalho, e eu não achei arriscado.' – ela murmurou, explicando-se e escondendo o rosto carinhosamente na camisa de Draco.

Estavam agora os três ajeitados na enorme cama hospitalar, Serena com a menininha nos braços e o marido ao lado delas, escorado na beirada do catre.

Draco franziu o cenho; a ruiva não conseguia distinguir se era irritação ou nervosismo.

'-Nem cheguei a vê-lo, se você quer saber. Não deu tempo.' – Serena deu de ombros sem olhar para Draco – 'Ela quis nascer assim que pisei em solo francês.' – ela mexeu delicadamente na manta branca que envolvia o bebê.

O loiro bufou de leve.

'-Serena, você tem noção do quanto eu fiquei preocupado?' – ele disse, baixo e ameaçador – 'E, quando eu finalmente cheguei aqui, chamei a lareira do Ministro e você não estava lá. Graças a Merlin eu consegui te achar a tempo!' – continuou, irritado, cruzando os braços e evitando o olhar da esposa.

'-Me desculpe por não avisar, sabe, mas eu estava tendo um bebê!' – ela replicou alto demais, fazendo a criança choramingar – 'Ei, está tudo bem, querida, não chore.' – pediu de leve, encarando os olhinhos azuis do bebê, depois lançando um olhar fulminante para Draco.

Quando Serena sentou-se para acomodar melhor a menina no colo, o loiro sentou atrás dela, massageando suas costas de leve, quase um carinho.

'-Você quase me fez ter um ataque cardíaco três vezes hoje, querida' – ele falou baixinho no ouvido dela –'Eu surtei quando li seu bilhete; depois imaginei você aqui, tendo uma criança sozinha e com todos aqueles possíveis problemas...' –a frase morreu; ao invés de termina-la, Draco beijou o pescoço da esposa com carinho – 'Eu estava com tanto medo de te perder.'

A expressão de Serena relaxou e ela recostou as costas contra o peito do marido.

'-Foi por um milagre dos céus, mas está tudo certo.' – ela murmurou de volta.

'-Aí chego aqui e encontro aquele bastardo...!'

'-Draco, tudo bem. Ele é seu pai, apesar de tudo; imagino o quanto deve estar sendo difícil.' – Serena disse, mais compreensiva do que nunca, segurando a mão dele com sua mão livre.

'-Se eu não o considerava como meu pai há muito tempo, depois de hoje eu vou fingir que não o conheci. Aquele bastardo ia levar o bebê. Isso é ridículo!' – franziu o cenho novamente, com ódio nos olhos – 'O que ele queria com o nosso filho, Serena?' – perguntou, indignado.

'-Isso é assunto para outra hora, amor.' – ela disse, cansada – 'Eu não suportarei falar sobre isso agora. Mas lhe prometo contar absolutamente tudo em um outro momento.' – ela mudou a menininha de posição em seu colo – 'Agora, tudo o que eu quero é ficar aqui com vocês.'

Draco chegou mais perto e afastou a manta do bebê. A menina ressonava baixinho e ele sorriu.

'-Ela tem seus olhos, não é mesmo?' – perguntou, encantado com a filha.

'-Parece que sim' – respondeu, acariciando de leve as bochechas rosadas – 'Hum, Draco?'

'-Sim?' – respondeu sem tirar os olhos da criança.

'-Você quer segurá-la?' – perguntou, embaraçada, com medo de que ele se sentisse intimidado a segurar o bebê.

Ele não disse nada, apenas sorriu, também confuso com a situação.

Serena então passou a garotinha para os braços do pai, que piscou os olhinhos até fixar o olhar no rosto do loiro.

Definitivamente, Draco já era inteiramente daquela menina recém-nascida.

'-Isso, olhe bem, pequena' – ele aconselhou – 'Você está vendo o homem mais bonito, legal e charmoso que você vai conhecer na sua vida toda. Te garanto. Então, não vai precisar olhar pra mais nenhum garoto do universo, combinado?' – pediu, ciumento.

'-Draco!' – Serena repreendeu-o – 'Você não vai bancar o machista estúpido com a minha filha!'

'-O que eu não vou fazer é deixar a minha filha solta por aí com esses rapazes cheios de dedos! Estou ensinando desde cedo. E ela é mais uma obra prima da família Malfoy, temos que tomar cuidado.'

Serena revirou os olhos, mas achou a cena engraçada, internamente.

Ele voltou a fitar a garotinha, sorrindo de leve para ela. O bebê, então, segurou seu dedo firmemente. O sorriso do loiro alargou.

'-Ah, que nome você deu a ela?' – perguntou ele, devolvendo-a ao bercinho ao lado da cama.

'-Eu ainda não pensei nisso.' – Serena admitiu, indo para perto deles, e analisando bem a filha - 'Mas nós precisamos resolver... Ela precisa de um nome.'

Draco acenou afirmativamente com a cabeça - 'Alguma sugestão?'

'-Victória? Céline? Chloe?'

Draco balançou negativamente a cabeça. Nenhum daqueles nomes combinava com a menininha.

'-Emma?' – tentou ela novamente, franzindo a testa e olhando para o bebê de todos os ângulos, pensativa.

'-Ela tem cara de Charlotte.' – o loiro disse, finalmente, encarando fixamente a criança no berço de hospital.

'-Eu gosto' – Serena concluiu, feliz – 'Charlotte Alexandra Malfoy.'

'-Um nome digno de uma Malfoy.' – ele murmurou, presunçoso, abraçando a ruiva por trás, para os dois admirarem a nova integrante da mansão de Whiltshire.

'-Bem, querida, agora nós temos um nome para você, finalmente' – a ruiva murmurou, acariciando a barriga do bebê com um sorriso culpado no rosto – 'É melhor que eu te avise já, porque nós somos os pais mais desnaturados do universo.'

O bebê segurou um dos dedos da mãe com interesse.

'-Nós não nos sairemos tão mal assim.' – ele disse no ombro dela, beijando o maxilar da ruiva depois.

'-Nós já nos saímos suficientemente mal durante esse tempo todo. Principalmente eu.' – suspirou, concentrando-se na garotinha.

'-Não se culpe, Serena. Por favor.' – Draco pediu, segurando firme uma mão dela –'Você se sairá perfeitamente bem. Você é uma Malfoy agora, lembra? Malfoys sempre se saem bem.'

Ela riu com o marido – 'Infelizmente eu não tenho essa presunção Malfoy. E lembro bem das coisas que fiz e falei.'

Serena pegava o bebê do berço quando bateram na porta da enorme suíte especial. Draco e a esposa espiaram, e, afastando de leve a porta, surgiu a cabeça de Potter.

'-Harry? O que você está fazendo aqui?' –Serena inquiriu, levantando-se subitamente da cama, e foi repreendida pelo marido.

'-Vim parabenizar vocês pelo bebê' – ele deu um sorrisinho típico – 'E agradecer, por finalmente Lúcio Malfoy ter sido capturado.'

O sorriso de Serena quebrou. Ainda tinha medo da reação do loiro. O Malfoy Sênior era pai de Draco, apesar de tudo.

'-Não fiz mais do que minha obrigação, Potter. O mundo bruxo não era obrigado a conviver com esse tipo de gente' – cuspiu, com mágoa.

'-Agradecemos, de qualquer forma. E há uma recompensa realmente grande esperando por você na Inglaterra, Malfoy. A cabeça de seu pai valia muito.'

'-Pois mande que queimem essa recompensa, ou doem. Não precisamos de mais dinheiro, ainda mais dinheiro que remete a ele. Eu fiz o que foi preciso pela minha família. Não foi heroísmo ou nada do tipo' – rasgou, descontando a raiva que sentia do pai.

'-Eu vou avisá-los sobre sua escolha, então' – Harry disse displicente, mantendo o sorriso no rosto. A essa altura já estava acostumado com os chiliques de Malfoy.

'-Ei, Harry' – Serena chamou de lá do quarto.

Draco acompanhou o moreno até lá.

'-Imaginei que você pudesse querer conhece-la.'

Potter olhou para o bebê e sorriu.

'-Ela é linda, Serena. Realmente uma criança linda' – disse, atônito com a beleza da criança – 'Parabéns'

'-Obrigada, Harry.'

'-Já decidiram o nome?'

'-Charlotte'

'-Ginny ficará feliz em saber.'

'-Estamos esperando uma visita de vocês o mais breve possível, não é mesmo, amor?' – Serena concluiu, perguntando ao esposo. Draco acenou positivamente, mas não estava sendo falso. Já estava acostumado a Potter, e respeitava muito Ginevra.

'-Então Ginny e eu passaremos por lá ainda esta semana, mas avisamos antes.' – ele disse, simpático, já deixando o quarto – 'Foi um prazer conhecer essa garotinha, Serena.'

E deixou o quarto.

'-Chame a lareira de Hampshire, Draco' – Serena ordenou calmamente, ajeitando as cobertas de Charlotte – 'E avise ao meu pai e à Cissa. É capaz de sua mãe botar fogo nos elfos domésticos se não avisarmos que a neta dela nasceu.' – brincou, bem humorada.

'-Eu vou.' – Draco assentiu; estivera pensando na mesma coisa – 'Descanse agora, Serena. Essa madrugada foi longa.' – disse, beijando o topo da cabeça da esposa ao notar os primeiros raios de sol na janela.

Ela sorriu de leve para ele. Era mais um dos sorrisos que Serena adquirira ao longo dos anos. Calmo e sereno.

A ruiva colocara o bebê de volta ao berço e dormira rapidamente, atingida em cheio pelo cansaço. E Draco ficou a admirar as duas no sono. Ele não conseguiria pregar os olhos com tantas novidades em sua mente.

Chamou a lareira da Mansão Prince, e depois a de Blaise – para avisar ao amigo e à Elizabeth, voltando, depois, à sua tenra vigia. As duas ressonavam num sono restaurador. E finalmente Draco Malfoy estava em paz.

A paz tão sonhada estava ali, bem diante de seus olhos.

Há muito tempo não se sentia tranquilo, mas completo, como se não faltasse mais nada.

Jogou-se numa confortável lareira próxima do fogo que crepitava ligeiramente, apesar do clima primaveril. O loiro acendera-a para se comunicar e não se dera ao trabalho de apaga-la. Tudo estava bem como estava.

E Serena cedera ao seu destino.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que ficou um tanto quanto tosco, mas Serena merecia um final muito feliz. Não consegui fazer nada diferente disso, mesmo que as minhas histórias favoritas sejam as que terminem de um jeito inusitado.

Foi por isso que decidi dar à Serena dois finais. Em um deles, ela é uma anti-heroína de guerra que vira Auror, e o outro final é este, três anos depois que ela reencontra Draco. Vocês entenderão melhor no epílogo, garanto.

Espero que tenham gostado... Me contem o que acharam!

Beijo, L.



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