Loves Ways escrita por lollyb


Capítulo 29
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Notas iniciais do capítulo

E ai, leitores sumidos? Gente, se vocês não estiverem curtindo a história, me avisem... Porque tem uma continuação em andamento (e um prelúdio hehe), aí nem posto aqui (pq dá um trabalhão passar do ff pra cá rs)... Enfim, se tiver alguém lendo e interessado, me dá um toque nas reviews pra eu saber que vocês existem hahah. Espero que gostem do cap!



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Snape estava num lugar claro demais e seus olhos doíam. Estranhamente não podia colocar as mãos na frente do rosto para tapar a luz. Nada funcionava. Sua pele acostumada com a escuridão das masmorras queimava.

Parecia que o próprio sol descera do cosmos e viera até ele.

De tanta luz, Severo caiu ajoelhado no chão, clamando para que o tirassem dali.

Ele gemia pela dor que aquela luz estava lhe causando. A bolinha dourada se aproximara e entrara dentro dele, e como queimava! Suas entranhas estavam em brasa. Tudo incomodava demais.

Porém ele não percebeu que também estava iluminado.

Ainda caído no chão, sentiu um toque quente em seu ombro. A temperatura do toque, apesar de quente, era confortável e fazia cócegas.

Não quis olhar para cima. Não queria que aquela luz que machucava o invadisse novamente.

'–Severo?' – a voz aveludada chamou.

Apesar de todas as sensações e cenários de sonho, a voz era extremamente real e possível.

Teve medo, a princípio. Desde que deixara Serena no orfanato, nenhum sonho com a esposa fora bom. Em todos, ela tentava vingar-se dele, culpava-o e se transformava em criaturas horripilantes.

E se Alexia estivesse novamente ali na forma de um dementador de cabelos ruivos? E se os olhos incrivelmente azuis o engolissem?

'–Querido' – o toque reconfortante voltara e agora fazia uma leve pressão em seu braço direito –'Já passou, venha cá.' – ela acompanhou-o no chão, aconchegando o homem todo curvado em seus braços.

'–Alexia, é mesmo você?' – ele perguntou, e a mulher pôde detectar todos os traços de medo implícitos na voz dele.

'–Sim, Severo. E você já pode olhar. Não vou te devorar nem te acusar neste sonho.' – ela debochou, divertida.

'–Como você...?' – ele começou, mas a esposa não o deixou continuar.

'–Eu estou em outra dimensão. Neste momento posso captar tudo.' – Alexia deu de ombros e afastou os cabelos do marido dos olhos – 'Acho que você já sofreu demais em seus sonhos para que os aceite tão bem quanto Serena, não é mesmo?' – ela beijou a testa dele, acariciando o maxilar depois.

Severo não respondeu. Fitou a esposa pela primeira vez. Estava ainda mais linda, se fosse possível. Os olhos eram do azul mais bonito que ele já vira – exatamente como ele lembrava – e os cabelos pareciam flamas.

'–Os sonhos de Serena eram uma válvula de escape. Eles sempre eram bons, sempre cheios de esperança.' – ela considerou, fazendo movimentos circulares com os polegares nas bochechas de Severo.

Ele franziu o cenho. Não combinava com a sonserina que ele conhecia.

'–Surpreso? Nossa garota é realmente impressionante, não é mesmo? Talvez fosse o único lugar em que ela pudesse ser vulnerável. E os seus sonhos foram sempre tão ruins, meu bem.' – ela começou, franzindo ligeiramente a testa – 'Nada daquilo jamais vai acontecer.'

O jeito que Alexia se referira à Serena como a garota deles era desconcertante. A saudade apertou no peito quando ele se recordou que era apenas um sonho.

'–Isto é somente um sonho. Eu vou acordar amanhã e nada terá mudado. Você não existe.' – ele afirmou, tentando não se deixar dominar por aquele calor reconfortante que emanava dela.

Alexandra pareceu ofendida. Ela franziu o nariz exatamente como Serena fazia e se levantou.

'–Severo, seja cético em todos os outros dias de sua vida, mas não hoje. Eu estou aqui, eu vim lhe ver. Não existe nada mais real do que isso.'

'–Então por que você não veio antes? Todos os dias eu pedia por uma mísera notícia sua, para ver ser rosto novamente nem que fosse por um segundo!' – ele exclamou, exaltado, já de pé.

'–Você nunca deixou! Seus sonhos cheios de raiva, amargura e autopiedade tomaram conta de você! Você se deixou tomar conta por estes sentimentos. Consegui apenas hoje, com você ferido, vir lhe ver. E consegui somente porque você está fraco demais para me barrar.' – confessou, irritada.

Severo ponderou. Alexandra irritada nunca fora uma coisa da qual tivesse gostado muito, mas naquele momento parecia perfeito.

Não se contendo, ele abraçou-a, tão forte quanto poderia, e enterrou o nariz em seu pescoço, inalando aquele perfume natural que ele conhecia bem. Uma lágrima escapou quando as mãos delicadas o envolveram, abraçando-o de volta e enchendo-o de carinho.

'–Alexia.' – ele segurou o rosto da esposa entre as mãos, mirando-a como se fosse a primeira vez que se vissem.

'–Eu estou aqui, amor.' – ela disse num sussurro brilhante que o envolveu todo.

'–Me perdoe!' – ele clamou, ajoelhando-se ante a ela.

'–Levante-se, querido, por favor.' – ela pediu, puxando-o pela mão – 'Eu já lhe perdoei, e sei que Serena te disse.' –beijou-o com carinho – 'Eu amo você.E só.'

Severo suspirou e ameaçou contradizer.

'–Olhe para mim.' – Alexia pediu – 'Eu amo a forma como você tomou a melhor decisão, mesmo que fosse a mais difícil. Amo como você cuidou da nossa filha de longe. Amo como você se aproximou dela em tão pouco tempo. Amo como você aceitou abdicar de tudo que fazia sentido para você para ficar comigo. Amo como você se importa com nossa sobrinha, apesar de não admitir. Amo como você lutou por você, por mim e por Serena nesta guerra. Eu amo você, Severo. Aceite isso de uma vez por todas.'

Severo não podia fazer nada senão abraçá-la e beijá-la com fervor.

'–Eu também amo você, Alexia... Por que você tinha que ir?' – ele inquiriu, com os olhos marejados.

'–A vida quis assim. Talvez, se eu não tivesse ido, você e Serena não tivessem se aproximado tanto, ou talvez nem houvesse Serena. Você consegue imaginar isso?' – Alexandra ficou repentinamente séria demais.

'–Não. Alexia, eu sei que pode ter parecido nesses anos todos... Com tudo o que aconteceu... Que eu não amo a nossa filha, mas Serena passou a ser a pessoa mais importante do mundo para mim. Antes mesmo de eu aceitar que era pai dela.' – ele desabafou num suspiro.

Ele simplesmente não conseguia imaginar-se sem Serena mais. Ela fazia parte dele, de tudo o que ele era e de tudo o que ele precisava.

'–Nem eu.' – ela murmurou, afagando o ombro do esposo – 'Espero que agora você possa entender porque eu a quis tanto, porque eu precisei tanto dela...'

Ele apenas acenou afirmativamente, beijando as mãos de Alexia, totalmente sem palavras.

'–Estou tão feliz que você e ela estejam se entendendo, Severo... Vocês são tão parecidos!'

'–Também eu fico feliz, querida.' – ele admitiu.

'–Vocês têm a vida toda pela frente, Sev, e eu espero que a aproveitem bem. É uma segunda chance para vocês dois.' – ela tocou o lugar exato do pescoço de Snape que estava aberto fisicamente. Ali, porém, o pescoço estava curado, completo – 'Agora que vocês se resolveram, eu tenho que ir, não posso ficar mais entre as dimensões. Eu preciso partir, Severo. Também mereço descansar.' – ela explicou com ternura evidente.

'–Alexia, por favor... Eu simplesmente não posso te perder de novo!'

'–Você nunca me perdeu, meu amor. Eu sempre serei sua esposa, mas é hora de seguir em frente, e quem sabe arranjar uma companheira?' – Alexia sugeriu, já prevendo a reação dele.

'–Você é minha mulher. Ninguém mais será.' – Snape disse, carrancudo.

'–Você não precisa passar o resto da vida sozinho, Severo...' – ela sussurrou no ouvido dele, espalhando beijinhos pelo rosto do marido – 'E eu tenho certeza que as mulheres com quem você já saiu apenas por uma noite nestes anos todos apenas contribuíram para sua solidão. Só pense nisso e eu já estarei feliz.'

Ele concordou, descontente.

'–Agora eu realmente preciso ir, amor.' – ela beijou-lhe os lábios – 'Cuide de Serena por mim, mas lembre-se de que eu vou sempre estar vendo vocês, onde quer que eu ou vocês estejam.' – Alexandra então sorriu aquele seu sorriso glorioso que podia parar o Beco Diagonal num dia extremamente turbulento.

O sorriso que espelhava – raríssimas vezes – o da filha.

'–Eu amo você, eu amo você, eu amo...' – o sorriso continuava no rosto da mulher, mas ela foi sumindo como se brumas a cobrissem por completo.

Severo deixou-se cair de joelhos mais uma vez no chão, o rosto enterrado nas mãos.

'–Alexia...'

~"~

Minerva McGonagall tinha acabado de anunciar que as férias começariam antes naquele ano letivo em especial, devido à guerra, e que os únicos estudantes a regressarem em setembro seriam os que cursaram a metade do sexto e sétimo ano.

Voltariam apenas por um semestre para que já pudessem fazer os exames e concluir Hogwarts. Os outros teriam de esperar pela reconstrução do castelo ou por algum lugar onde pudessem ter aulas – Minerva estava cuidando dessa parte junto à Flitwick.

'-Vamos para casa?' – Severo perguntou para a filha, num meio sorriso, apontando para a lareira enquanto Serena pintava cuidadosamente as unhas do pé de azul, jogada no sofá dos aposentos do pai.

Adorava aquela visão da filha. Tão familiar.

'-Pai, acho que vou voltar de trem para casa. Você se incomodaria de me buscar na plataforma?'

'-De forma nenhuma. Alguma razão especial para o trem?' – Severo perguntou, interessado.

'-É a última vez que verei o Expresso de Hogwarts repleto de estudantes.' – ela deu um sorrisinho fraco e Snape devolveu um olhar compreensivo.

'-Está bem, então, Serena. Eu volto para casa ainda hoje, certo?'

'-Certo, pai. Então nos vemos daqui dois dias.' – ela sorriu para o dedão do pé, concentrada no esmalte.

Serena terminou com os pés e abraçou calorosamente o pai.

'-Estarei te esperando na plataforma.'

'-Eu estarei lá.'

'-Desta vez sem disfarces.' – ela sorriu abertamente, dando um beijo na bochecha do pai – 'Ah' – ela lembrou, antes de fechar a porta do aposentos dele e seguir para o Salão Comunal – 'Você acha que consegue ficar dois dias sem mim?' – sorriu torto depois.

'-Ainda não estou totalmente certo.' – ele franziu o cenho, entrando na brincadeira – 'Mas temo que terei que conseguir.'

~"~

Serena chegou ao Salão Comunal carregando a capa e os sapatos nas mãos. As barras dos jeans estavam dobradas e as unhas azuis metálicas dos pés brilhavam. Ela avistou Blaise, Draco e Eliza num canto distante e foi até eles.

'-Mamãe ficou maluca' – Elizabeth contava para Blaise quando a morena chegou – ', e vovó me manda corujas a cada hora para se certificar de que estou bem. Elas quase não acreditaram que fiquei aqui durante a batalha toda.' – ela revirou os olhos e deu um sorrisinho aliviado.

'-Sua mãe vai me matar, Eliza.' – Serena entrou na conversa e se jogou no mesmo sofá que Draco, saltando para o colo do namorado e jogando as coisas que trazia nas mãos no chão.

'-Ela não vai.' – Elizabeth replicou –'Ah, Serena... Quando você vai conhecer minha avó? Agora que tudo isso acabou...' – a loira ficou séria.

'-Espero que em breve, Eliza.' – o peito dela apertou, queria muito conhecê-los.

Draco puxou Serena mais para si quando o pequeno diálogo entre as duas acabou.

Blaise e Eliza estavam numa felicidade plena, e o loiro e Serena concordavam que a vida com os dois juntos era bem mais fácil.

'-Olha quem temos aqui, finalmente, não é mesmo, Eliza?' – Blaise sorriu, dando um tapinha na cabeça de Serena, saudando-a – 'Você nos abandonou nesses três dias... Minha querida Elizabeth aqui' – ele apontou para a loira – 'quase nem podia dormir sem você no dormitório. Ou você estava nos aposentos do morcegão, ou na cama de Draco.'

'-Ei, não chame meu pai assim!' – ela riu e jogou a capa preta em Zabini – 'E o que você estava fazendo para Eliza não estar na sua cama?'

Elizabeth enrubesceu, e escondeu o rosto no pescoço de Blaise, que ria e ao mesmo tempo confortava-a com uma mão.

'-Essa é minha garota!' – Draco falou, arqueando a sobrancelha para o amigo e dando um beijo na bochecha da morena.

'-Sua garota, Draco?' – Serena arqueou ambas as sobrancelhas para o namorado.

'-Certamente.' – ele deu de ombros.

~"~

O Expresso Hogwarts deixou o castelo exatamente às onze da manhã e Serena soube que a vida nunca mais seria a mesma. Em alguns termos saberia que seria mais fácil com Elizabeth sabendo de tudo e Snape sendo realmente seu pai.

Porém, ela estava a apenas um semestre da vida adulta, e dali em diante não sabia o que faria.

Suspirou contra a janela do trem, o que gerou uma pequena fumaça branca no vidro. Draco passou um braço por cima dos ombros de Serena e ela deu um beijo rápido no rapaz.

'-Então?' – Blaise falou enquanto Eliza se espreguiçava. Estavam quase em King's Cross – 'Quando jogaremos uma partidinha de Quabribol na sua casa, Serena querida?' – o moreno perguntou colocando as mãos sob o queixo feito uma garotinha.

'-O mais rápido possível.' –Serena replicou – 'Temos que aproveitar o verão. Não é mesmo, Eliza?'

'-Não acho que há qualquer chance de eu ir à casa do Prof. Snape.' – ela revelou, com os olhos verdes muito abertos, amedrontada.

'-Ele não é mais o Prof. Snape.' – Serena interveio – 'Ele é só meu pai.'

'-Não é tão ruim assim.' – Blaise admitiu,abraçando a namorada de lado e falando baixinho para ela.

Serena revirou os olhos.

'-Eu não gosto de aparatação e não faço a mínima idéia de onde aparatar.' – ela disse, ainda incerta.

'-Eu passo na sua casa e você aparata comigo, Eliza.'

'-Nós podemos ir para a minha casa. É bem menos arriscado.' – a loira considerou, feliz.

'-Eu só vou até sua casa quando puder esclarecer tudo' – Serena ficou repentinamente séria – ',não quero ter que mentir para seu pai ou para sua avó.'

A loira acabou concordando e os quatro deixaram o trem carregando suas bagagens.

Blaise encontrou a governanta de sua casa esperando por ele e seguiu, despedindo-se de Eliza com um longo beijo.

Severo Snape e Elena Duncan esperavam suas filhas próximos um do outro, porém sem conversarem. A conversa com Alexia – que acontecera há cinco dias, no dia em que a guerra acabou – não saía de sua cabeça ao olhar para a jovem mulher ao seu lado.

Ela era parte de um passado distante e feliz, o que o fazia querer que ela fosse realmente sua sobrinha.

Eliza correu para a mãe, que a abraçou e rodopiou, conferindo cada pedacinho do corpo da filha.

'-Nem mesmo um arranhão, mamãe. Fique tranqüila!' – Elizabeth pediu à mãe.

'-Eu nunca mais quero você metida em coisas desse tipo, Elizabeth Ann!' – Elena vociferou, abraçando a filha desesperadamente depois – 'Estávamos esperando com os outros pais... Esperando os alunos que deixaram o castelo. Você simplesmente não apareceu! A sonserina toda estava lá e eu não te encontrava, querida! Foi o pior dia da minha vida.' – ela confessou para a filha, com lágrimas nos olhos e sem se preocupar se estava sendo ouvida por mais alguém.

Elena Summers era, de fato, uma boa mãe, concluiu Snape. Nem mesmo ele poderia nunca dizer o contrário.

Serena e Draco caminhavam de mãos dadas em direção à Severo vagarosamente, e a garota sorria maliciosamente.

'-Pai. Quanto tempo.' – ela disse, irônica, ao abraçá-lo, sorrindo de leve depois.

'-Tio Severo.' – Draco cumprimentou o padrinho com um abraço camarada, e Snape estava se sentindo internamente leve ao buscar a filha e o afilhado na plataforma principal.

Parecia tão natural, tão corriqueiro; como se tivessem feito aquilo durante a vida toda.

'-Serena, querida, como vai?' – Elena aproximou-se dela, afoita.

'-Bem, Elena, e você?' – respondeu, cordial. Elena notou que ela mancava ligeiramente.

'-Você não lutou realmente, lutou, Serena?' –a mulher arregalou os olhos, temerosa – 'Me diga que você ficou junto à Elizabeth.'

'-Eu lutei, Elena.' – Serena sorriu torto – 'E não seria feliz se não o tivesse feito.'

'-Mas, querida, você não foi gravemente ferida, foi?'

'-Um cortezinho mais fundo na perna e outro no braço; afora isso só arranhões.' – ela sorriu, tentando passar a mensagem de que estava tudo bem, omitindo a parte da tortura.

Elena concordou atenciosa e ternamente, dando atenção aos homens que esperavam pela morena.

'-Snape' – ela cumprimentou cordialmente, oferecendo uma mão – 'E você... Sr. Malfoy?' – Elena perguntou, cerrando ligeiramente os olhos ao tentar recordar-se do nome do loiro.

'-Draco.' – ele apertou a mão que a mãe de Eliza oferecia.

'-É um prazer, querido. Elena Duncan.' – ela sorriu para ele, que também ficou extasiado diante do sorriso sincero da mulher.

Quando Elena, Elizabeth e Serena sorriam, elas eram estranhamente parecidas. Ainda que comparar Serena com uma Duncan fosse uma coisa geralmente inviável.

Serena se deixava ser abraçada por uma Eliza empolgada quando Elena obrigou-se a interrompê-las.

'-É tão bom ver vocês duas juntas assim' – a mulher exclamou, tocando o braço das duas e interrompendo o abraço – 'Eliza me deixou maluca no feriado de Natal. Estava bastante exaltada; gritando coisas e nos acusando como nunca tinha feito. Quase achei que não as veria juntas de novo.'

Elena se referia ao incidente em que a filha descobrira o parentesco entre elas.

'-Eu estava bastante chateada por ninguém ter me contado nada, mamãe' – ela admitiu calmamente – ', mas também estava morrendo de saudade de Serena naquela época. Você acredita que eu perdi o aniversário de dezessete anos dela?'

'-Isso não foi legal, meu bem. Você sabe, e sabia também que ela, nem nenhum de nós, pôde te contar. Sobre o aniversário, precisamos preparar algo estonteante no de dezoito.' – ela considerou, o semblante iluminado pela idéia.

Eliza concordou, empolgada. Serena lançou um olhar apreensivo para Elena, que entendeu bem.

'-Querida, eu estava querendo adiar isso...' – ela começou, chegando mais perto de Serena e sendo observada atentamente por Snape – 'Mas acho que é necessário. Todos nós precisamos conversar, como uma família. Eu só preciso ter preparado minha mãe no dia, senão ela terá um ataque do coração.' – a mulher considerou, passando a mão pelos cabelos de Serena.

A garota estava com medo. Não sabia o que fazer, não era simpática e não sabia ser gentil. Aquilo provavelmente estava fadado a dar errado.

'-Não se preocupe, mamãe vai simplesmente amar te conhecer, assim como eu. Você não consegue compreender o quando isso é importante para nós, Serena.' – ela explicou, fitando diretamente os olhos azuis da prima – 'Nós te adoraríamos mesmo que você fosse uma adolescente esquisita, caolha e um pouco lerda. Mas você não é. É uma menina linda, inteligente e corajosa, só com um gênio um pouco difícil.' – Elena sorriu maternalmente, apertando as mãos de Serena.

Serena sorriu de volta, um sorrisinho torto e fraco.

'-Será difícil explicar tudo isso para sua mãe, Elena.' – a morena considerou.

'-Eu sei, meu bem...' – ela começou, interrompendo a garota.

'-Mas isso não significa que eu não possa tentar.'

'-Daqui a uma semana é muito pouco tempo?' – a mulher perguntou, preocupada.

'-Pai, o que você acha?' – perguntou, sorrindo torto – 'Você pode me ajudar a aparatar daqui uma semana?'

Elena ficou feliz com a forma descontraída com que Serena agora tratava Severo. Apesar do constante semblante sem emoções, o homem não desgrudava os olhos da menina, como se tudo que ela fizesse fosse importante demais para ser perdido.

Conhecia isso. Era sempre assim quando Eliza voltava para casa depois de um ano letivo. Sean passava o verão todo olhando para a garota daquele jeito.

Snape concordou com a cabeça apenas, a atenção toda voltada para a garota.

'-Está bem, então, Elena.' – Serena disse, a voz arrastada e fria de sempre, apesar de estar apreensiva.

A mulher sorriu abertamente e deu um longo abraço na prima.

'-É tão bom ver vocês duas inteiras depois de tudo' – ela sussurrou para Serena – 'Agora não vamos tomar mais o tempo de vocês, não é, Eliza?' – Elena direcionou-se à Snape e Draco.

'-Tchau, Elena. É sempre bom te ver.' – Serena disse, cordialmente, acenando para as primas.

'-Até mais.'

E as duas seguiram pela plataforma apinhada de gente.

'-Prontos?' – Snape perguntou.

'-Onde está Narcisa?' – Serena inquiriu.

'-Está resolvendo algumas coisas. Parece que teremos Draco em casa esta noite.' – Snape sorriu de lado – 'Você acha que consegue aparatar sozinha?'

'-Está duvidando de mim, professor Snape?' – ela provocou, e sumiu rodopiando no ar com um 'paf'.

Os dois reviraram os olhos e a seguiram rumo à mansão de Hampshire.

~"~

O jantar tinha sido servido e Severo, Serena e Draco comiam calmamente, desfrutando a tão sonhada paz. Os adolescentes acompanharam Snape em uma garrafa de vinho, de forma a brindarem.

Depois do jantar, conversaram de forma amena na sala de estar, Serena tentando inutilmente ensinar Draco a jogar Pôquer. Snape ria de deboche com as tentativas fracassadas do rapaz de aprender.

'-Porque vocês dão nomes ao papel? É só um pedaço de pergaminho, não é?' – perguntou, inconformado.

'-São símbolos, Draco!' – Serena tentou explicar, esbaforida – 'Essa carta chama 'As' e essa é a Dama, e esse nem ao menos é o foco do jogo!'

'-Então porque Q é Dam Valete? Nem ao menos começam com essas letras! E por que raios tem arvorezinhas nesta aqui?'

'-Só preste atenção. Arvorezinha com arvorezinha com arvorezinha com arvorezinha com arvorezinha, 5 arvorezinha juntas, de 10 até As é um Royal Flush, mas é uma seqüência quase impossível, já qu...'

'-Serena, se o garoto não consegue simplesmente compreender o baralho, como, por Merlin, você quer que ele aprenda jogadas?' – Snape disse, revirando os olhos e tomando da mão dela o baralho trouxa.

'-Só observe, Draco.' –ele sentou-se e jogaram uma partida.

'-Eu achei que você tinha abolido todos os costumes trouxas, pai.' – ela arqueou a sobrancelha para ele.

'-Esse é um dos que eu gostava de manter. Mas há muitos anos não jogava, estou enferrujado.' – ele resmungou, dando de ombros.

'-Então teremos que jogar mais uma partida. Quem sabe você desenferruje?' – ela desafiou-o, sorrindo de lado travessamente.

Ele aceitou o desafio e jogaram mais algumas rodadas, até que Serena bocejou longamente.

'-Sono?' – o pai perguntou, juntando as cartas da mesa com a mesma destreza com que as embaralhava – 'É melhor que vocês durmam. Fizeram uma longa viagem.'

Os jovens obedeceram e subiram as escadas, acompanhados por Snape e o elfo Kile, que vinham logo atrás.

Serena entrou em seu quarto e trocou suas vestes por pijamas cinza e largos enquanto Snape mostrava o quarto em que Draco ficaria e Kile dava acessoria ao loiro.

A garota ia saindo do quarto – vestira um robe por cima do pijama – quando deu com o pai na porta.

'-Tem um minuto?' – ele perguntou, ponderado, batendo de leve na porta aberta..

'-Você quer conversar?' – ela inquiriu, dando passagem para o pai e encostando a porta.

'-Você está preparada para contar o que precisa para Olívia?' – ele questionou, preocupado – 'Imagino que não deve ser fácil para você falar sobre isso.'

'-É tão fácil quanto é para você, pai. Mas eu preciso fazer isso, preciso consertar as coisas. Quero ter a chance que não tive antes, de conhecer minha família e viver como uma bruxa quase normal.' – ela disse, séria.

'-A Duncan vai entender se você não conseguir' – ele considerou, e um vinco surgiu no meio das sobrancelhas dele.

'-Bem, ela contará a maior parte do necessário. Afinal, ela sabe mais do que eu. Não posso evitar muitas coisas, mas não creio que será tão ruim assim.' – ela deu de ombros, mexendo nervosamente no cordão do robe.

'-Você é quem sabe. Não vou interferir nisso. Você é uma adulta, no fim das contas.' – ele balançou a cabeça, como se não acreditasse no que estava dizendo.

'-Ei, eu sei que passamos muito tempo longe um do outro e que ainda estamos nos acostumando com isso, mas é exatamente esse o porquê de eu querer arrumar as coisas. Quero que tudo seja como era para ter sido.' – ela suspirou, indo para perto do pai – 'Não podemos voltar no tempo, mas quero tudo o que é meu de direito. Voldemort me tirou coisas demais, e eu estou disposta a tomá-las de volta.'

'-Orgulho-me de você, Serena. Se você não sabe, deveria saber.' – ele começou, admirando-a carrancudo .

Serena chegou mais perto calmamente e abraçou-o. Não com o desespero de outrora, quando estavam aliviados somente por estarem vivos, mas com tranqüilidade e carinho, sem pressa de soltá-lo.

Severo ficava encabulado com aquilo, e não sabia muito bem o que fazer. Como Serena havia dito, eles ainda estavam se acostumando com aquela relação. O homem, por fim, suspirou e afagou as costas da garota.

Agora já faziam quase dois anos que tinham se reencontrado.

'-E estou mais do que certo que sua mãe também se orgulha.' – ele disse com aquela voz profunda que antigamente atemorizava Serena. Agora aquele tom grave a fazia sentir-se em casa.

Trocaram um olhar cúmplice e separaram-se num movimento calmo.

'-Eu vou me recolher, se precisar de algo sabe onde me encontrar.' – continuou, sério.

'-Está bem, pai, vou falar com Draco e já vou dormir também. Foram dias longos.' – ela suspirou e deu um sorrisinho torto – 'Tenha uma boa noite.'

'-Boa noite, Serena. Durma bem.' – saiu com um aceno de cabeça.

Serena, esgueirando-se feito um gato, saiu do quarto e apertou mais o robe contra o corpo, deu três batidinhas na porta ao lado, mas não esperou resposta para entrar.

Draco estivera tirando algumas coisas de seu malão e ajeitando-as no quarto de hóspedes enquanto Severo e a garota conversavam. No momento em que ela abrira a porta, ele estava trocando as vestes pelas de dormir, portando trajava apenas a roupa de baixo costumeiramente preta.

A garota sorriu de lado, travessa, ao admirá-lo. O rapaz assustou-se ligeiramente com a batida na porta e olhou para trás. Ao ver Serena ali, e olhando marotamente, ele sorriu malicioso.

'-Então você deixa qualquer um entrar no seu quarto durante a noite, Loiro?' – ela perguntou, aproximando-se.

'-Você sabe como é... Tudo que é bom demais não pode ser de uma pessoa só. É injustiça com o mundo bruxo. Seu pai mesmo, acabou de sair daqui...' – ele disse, presunçoso.

'-Idiota.' – ela riu – 'Agora diga o que acabou de me dizer para meu pai.' – Serena desafiou e caiu na risada.

Draco agarrou-a e jogou uma Serena que gargalhava na cama.

'-Não ria! Você sabe que é verdade, minha cara.' – ele arqueou a sobrancelha loira.

'-Você se acha demais,Loiro!' – ela reclamou, com a voz arrastada, ainda entre os braços dele.

'-Mas você continua gostando de mim.'

Serena revirou os olhos e se ajeitou na cama dele, espreguiçando-se e deitando sobre os travesseiros fofos.

'-Ei, folgada.' – ele repreendeu-a – 'Esta cama é minha, alguém te contou?' – o rapaz falava brincando, mas o tom arrogante surgia quase sem querer.

'-Já, já contaram... Bom saber, Draco.' – ela sorriu, provocando-o.

Ele, então, atirou-se ao lado dela na cama, e Serena teve que desviar para o lado para que o garoto não caísse em cima dela.

Ficaram juntos por um tempo, falando sobre amenidades e trocando carícias.

'-O que meu pai disse é verdade? Sobre sua mãe estar apenas resolvendo algumas coisas?' – perguntou a garota, inquieta, depois de um momento de reflexão.

'-Tecnicamente. Ela me mandou uma coruja antes de deixarmos Hogwarts me avisando. Ao que tudo indica, Lúcio fugiu mesmo. Ela deve estar resolvendo alguma coisa no Gringotes, garantindo que herdaremos a fortuna dos Malfoy.' – ele deu de ombros.

Serena apenas aquiesceu, deitando sobre o peito de Draco e acariciando o tórax do rapaz com o polegar.

~"~

O dia raiava em sua janela naquela manhã quando Serena despertou, certa de que ainda pela tarde teria novamente o que lhe fora negado desde a ocasião de seu nascimento.

Tinha combinado com Elena, na última coruja que recebera da prima, que pelas 10 da manhã ela estaria na mansão da família em Oxfordshire. Despertou um bom tempo antes do necessário, e rolou na cama em busca de mais alguns minutos de sono.

Quando desceu as escadarias da Mansão Prince, Severo já estava sentado à mesa, correndo os olhos pela edição matinal do Profeta Diário e um vinco se formava entre suas sobrancelhas. Provavelmente ele também não tinha conseguido dormir.

Serena desejou bom dia com o semblante cansado e o elfo Kile veio atender a ela. A garota comeu apenas torradas e tomou um pouco de chá; qualquer coisa a mais deixá-la-ia enjoada.

Ela divagou à mesa, levantou-se e olhou pelas enormes vidraças da sala de jantar o tempo lá fora. Tudo apontava para o verão. Com o retorno do sol algumas flores nasciam, a grama brilhava verde e havia até alguns pássaros no canteiro de roseiras.

Severo consultou um relógio de pêndulo do lado oposto à mesa. Eles já estavam atrasados.

'-Está pronta?' – ele perguntou para a filha, já pegando a capa de viagem.

'-Sim.' – ela respondeu, incerta sobre a pergunta. Definitivamente ela estava pronta para ir; sobre estar pronta para aquela conversa, Serena não sabia.

Ela seguiu o pai até o armário do hall e escolheu uma capa vermelho queimado nova, que tinham comprado na última visita ao Beco Diagonal e que não tivera tido chance de usar. Apesar do sol que se instalara no interior, o verão não tinha chego. A brisa soprava ligeira, o que fez Serena adicionar um cachecol fino e uma boina de lã preta às vestes.

'-Você sabe mesmo onde aparatar?' – perguntou, inquieta, para o pai.

'-Certamente, Serena.' – ele respondeu com calma – 'Aparatei com sua mãe algumas vezes até lá, apesar de nunca ter entrado na casa.'

'-Vamos?' – perguntou depois de alguns instantes, a voz grave enchendo o salão que a mesa de jantar ocupava.

Ela acenou afirmativamente e deixou a soleira da porta rumo aos jardins com o pai. Quando rodopiaram, ela não soube dizer se o que revirava seu estômago era ansiedade ou a simples sensação de aparatar.

~"~

Oxfordshire era totalmente diferente de Hampshire, decidiu Serena. Nos arredores da Mansão Prince não haviam muitas propriedades, e todas elas pareciam muito extensas e afastadas uma das outras, apesar de Snape afirmar que o centro do condado era diferente.

A Mansão da família Spring, herdada por gerações e gerações até Olívia, erguia-se como um palacete marmóreo diante de propriedades tão luxuosas quanto, porém menos emblemáticas. Era possível reconhecer um enorme gramado precedendo a casa principal e também alguns balanços muito refinados, que Serena imaginou terem sido parte da infância de Eliza.

Toda a visão da Mansão de Oxfordshire parecia ter saída de um sonho, ou de um dos filmes trouxas que Serena assistia na época do orfanato. O bosque atrás da propriedade era de um verde estupendo e a casa possuía torres altas e vitrais adornados com detalhes dourados.

Serena engoliu em seco e adentraram os jardins sem portões. Pararam diante da porta depois de um caminho que pareceu infinito à menina. Snape fez a menção de bater na aldrava dourada e pomposa, mas parou o gesto.

'-Você tem a certeza, filha?' – ele perguntou pesarosamente – 'Você pode voltar em qualquer outro dia.'

E a carranca que ele ostentara durante o café da manhã se esvaíra, e Snape era todo preocupação com a herdeira.

Serena apenas assentiu. Seu interior estava tão dominado pelas emoções que ela era capaz de chorar ali mesmo, ante a soleira da porta.

Bateu três vezes.

Elena demorou apenas alguns segundos para atendê-los. Seu sorriso se iluminou quando viu a morena; ela também parecia nervosa e tremia um pouco.

'-Como vai, querida?' – a mulher perguntou com os lábios tremendo, abraçando-a fortemente depois, sem conter-se e sem a classe que imperava sobre ela.

'-Obrigada, Snape.' – ela agradeceu antes mesmo de cumprimentar Severo.

O hall da mansão era um cômodo quadrado vermelho e dourado, adornado por objetos vitorianos restaurados, muitas luminárias e um mancebo imponente para capas.

Um elfo sorridente veio e recolheu as capas de viagem de pai e filha e Elena suspirou, olhando para baixo, quase sem saber o que dizer.

'-Eu esperei dezessete anos para poder falar sobre isso. Eu agradeço do fundo da minha alma por tê-la trazido hoje, Snape.' – a loira continuou, olhando com esperança para a porta de duas folhas de fronte à eles.

'-Não há de que, Elena.' – ele concordou cordialmente, sem nenhuma malícia ou deboche impressos na voz.

A mulher surpreendeu-se ao ouvir seu primeiro nome e sorriu, como só as mulheres daquela família faziam. Severo teria ficado orgulhoso se tivesse sido tio dela, mas aquela esperança de normalidade ficara perdida no passado.

'-Ela está nos esperando...' – Elena disse, controlando-se para as lágrimas não surgirem.

Serena respirou fundo e concordou.

Ela e o pai trocaram um olhar e ele deu à ela um sorriso torto, confiante.

Snape acomodou-se em uma chaise lounge e observou a filha dar um último olhar de relance desesperado para ele, enquanto os raios de sol que invadiam o hall deixavam o azul daqueles olhos gelados mais parecidos com os de Alexia.

Elena abriu uma das folhas da porta e entrou antes de Serena. Do outro lado, uma enorme mesa de reuniões, ao estilo clássico, surgia. Um lustre de cristais adornava o centro da mesa e lá estavam Elizabeth, sorrindo discretamente para a amiga, Sean Duncan, Olívia e Richard Summers.

Sean perdeu a cor ao ver a morena entrar e quando encontrou os olhos azuis dela, quase caiu da cadeira. Richard ajeitou melhor os óculos e passou a mão pelo cabelo já quase todo grisalho; se não fosse pelo negro do cabelo da garota, juraria que sua falecida cunhada estava na frente deles.

Olívia, sentada na outra extremidade da mesa, não conteve um gritinho desesperado quando Serena cruzou o pórtico. Ela levou as mãos a boca de forma a refreá-lo, mas lágrimas começaram a cair incessantemente. A Spring mais velha paralisou; aquilo só poderia ser um milagre.

O coração de Serena martelava no peito e ela quase achou que os ocupantes da sala também podiam escutá-lo, de tão rápido que batia. Olívia tinha os traços parecidos com os de Alexia, porém eram menos decididos e agora mais envelhecidos.

Alexandra estaria eternamente presa na doce juventude de suas feições.

O louro avermelhado do cabelo da mulher tinha apagado-se um pouco, mas ela se conservava lindíssima como uma Vênus envelhecida de leve, o corpo ainda esguio e pele com as rugas discretas de quem foi generosamente recebida pelo tempo.

Olívia não conseguia parar de chorar ao fitar a sobrinha, ela pegou um lenço branco de seda e secou os olhos, tentando manter-se calma.

'-Mamãe, esta é Serena Snape.' – Elena sussurrou em meio à lágrimas silenciosas.

A mulher mais velha aproximou-se da garota cautelosamente, mirando-a quase sem pestanejar. Ao chegar perto de Serena, desabou num choro compulsivo novamente.

A morena não sabia ao certo o que dizer ou fazer, mas seus sentimentos a dominavam como nunca antes. Esta era a irmã de sua mãe, e Olívia concretizava o fato, outrora longínquo, de que ela realmente tinha uma família.

A mulher mais velha respirou fundo e chegou mais e mais perto de Serena, temendo que aquela menina tão parecida com Alexia fosse apenas uma miragem, uma alucinação. Lágrimas silenciosas ainda escorriam quando Olívia ficou cara a cara com a sobrinha, hesitando em tocá-la.

'-Eu simplesmente não acreditaria se não visse Alexia em cada traço seu, meu bem.' – foi a única coisa que escapou à boca da mulher, que aproximou uma mão pálida e ligeiramente envelhecida do rosto rosado de Serena, pedindo permissão.

A garota apenas assentiu, mordendo os lábios, sem saber o que fazer diante dessa onda de emoções. O toque quente da tia a fez se acalmar e ela pôde perceber o quanto as mãos de Olívia tremiam.

Não se contendo, abraçou a sobrinha. As lágrimas tinham cessado, mas ela parecia estar em choque permanente. Serena retribuiu o abraço sem nunca imaginar como tinha internamente ansiado por aquilo.

Os braços finos e delicados a envolveram e algumas lágrimas rolaram pelo rosto sem expressão da garota.

Olívia afastou-se um pouco e a examinou bem. Serena continuava sem palavras.

'-Dezessete anos, querida.' – a mulher sussurrou –'Você é nosso milagre.'

A garota não era dada a carícias e demonstrações de afeto como Eliza, mas não pôde deixar de se emocionar ao ouvir aquilo da tia; as palavras eram tão sinceras e tão cheias de sentimento que um nó se formou na garganta de Serena.

'-Quando Elena me contou, eu não acreditei. Era impossível, Dumbledore afirmara que você estava morta.' – ela continuou, segurando com firmeza uma das mãos da sobrinha – 'Eu fiquei furiosa ao saber que minha filha tinha escondido a identidade do marido de Alexia por tantos anos, e que não tinha me contado quando encontrou você. Eu estou uma confusão por dentro, Serena, você não faz ideia do quanto ansiamos por uma centelha de esperança de que você estivesse viva.' – Olívia enxugou pesarosamente uma lágrima e respirou fundo, de modo a continuar – 'E você é uma menina tão linda quanto foi sua mãe.'

Serena apenas concordou, deixando escorrer uma lágrima que foi limpa carinhosamente pela tia.

'-Eu sinceramente não sei o que dizer.' – Serena admitiu, os olhos azuis arregalados – 'Sinto muito por não termos podido contar antes.'

'-Você não precisa dizer nada, meu bem' – Olívia abraçou-a de novo, esfregando um dos braços da menina ternamente.

Serena deixou-se ser abraçada por mais tempo do que tinha sido em toda sua vida, aproveitando o calor maternal que emanava da tia.

'-Elena também me disse sobre seu pai' – a mulher pontuou, incerta sobre o assunto – ', me contou, finalmente, tudo o que ela sabia sobre vocês, sobre como ele tinha lhe mandado para um orfanato trouxa...' – Olívia não conteve as lágrimas e tentava inutilmente limpar o rosto. Aquele assunto era delicado demais.

'-Ei, Sra. Summers, não ouso dizer que essa época foi boa – não chega nem perto disso – mas são águas passadas' – Serena disse, sabiamente, tocando no braço da mulher para que a fitasse – 'Eu entendi e perdoei meu pai; quando compreendi que era o melhor que ele podia fazer para me proteger na época, não tive mais raiva e espero que a senhora também não tenha.'

'-Serena' – ela mirou a menina com intensidade – ', não cabe a nenhum de nós aqui julgar seu pai. Pelo que Elena me disse, ele parece gostar bastante de você, mas imaginar a minha sobrinha num orfanato durante quinze anos dói demais.' – completou, acariciando o rosto da menina – 'E por favor não me chame de Sra. Summers, eu lhe imploro. Pode me chamar de Olívia, apesar de que eu ficaria imensamente mais feliz com tia Olívia.' – ela sorriu de leve em meio às lágrimas.

'-Ele gosta sim, ao jeito dele, mas gosta de mim; não tenho com o que me preocupar mais sobre esta parte. Nosso relacionamento foi bastante difícil' – ela contou, séria – 'e bastante conturbado também, até que eu descobrisse que ele tem seu jeito próprio de se afeiçoar. E ele gostava demais de Alexia, da minha mãe.' – os olhos da tia encheram-se de lágrimas novamente e ela começou a soluçar – 'Eu peço que nenhum de vocês duvidem disso, nem mesmo Elena que o conheceu naquela época. Eu lhe garanto, Olívia, não poderia haver ninguém mais que a tivesse amado tanto quanto ele.'

A mulher desabou num choro incessante e até mesmo Elena aproximou-se para saber se estava tudo bem ou se a mãe gostaria de um copo d'água.

'-Fico felicíssima em saber que Alexandra teve esse tipo de amor, mesmo sabendo que homem algum no mundo a mereceria. Seu pai foi um homem de sorte.' – ela sorriu fino e carinhosa.

'-Sim, ele foi.' – a garota concordou, pensativa.

'-Serena, se não lhe incomoda a pergunta...' – Olívia começou, cautelosa – 'Bem, eu esperei dezessete anos para saber isto, e temo que Elena não tenha tido nem tempo nem ânimo para contar-me.' – Serena acenou para que ela prosseguisse – 'Por que Alexia recusava-se a nos apresentar o marido?'

'-Todo o relacionamento deles era escondido não somente de vocês, mas de todos. Ambos lecionavam em Hogwarts, mas mesmo lá não eram tidos como um casal.' – Serena explicou calmamente – 'Snape era um espião de Dumbledore, e o foi durante todo o tempo que esteve com Alexia e depois, porém era infiltrado no círculo íntimo dos Comensais da Morte de Voldemort.' – Olívia arregalou os olhos e passou a mão nervosamente pelos cabelos – 'Portanto não podia assumir o relacionamento com minha mãe porque temia que ela virasse um alvo caso algo desse errado. Comigo foi a mesma coisa.'

Olívia lembrava de um feriado de Natal distante, o último que passara com a irmã, e justamente no último dia em que a vira. Perguntara, furiosa, se o marido dela era por acaso um Comensal da Morte. Sim, ele era. E agora, tantos anos depois, percebeu que não fazia a mínima diferença.

'-Estamos mesmo falando sobre o mesmo Severo Snape?' – a mulher mais velha sorriu, brincando.

'-Eu sei que ele falava coisas horríveis para Elena no tempo dela em Hogwarts, mas ele é uma boa pessoa.' – Serena deu de ombros.

Elena sorriu no outro canto da sala.

'-E ele dizia coisas assim para você também não é, Serena?' – a loira perguntou, sorrindo sem mágoa.

A garota concordou, sorrindo torto.

'-Ele tem um temperamento um pouco difícil de lidar.' – ela disse.

Elizabeth arregalava os olhos, com medo apenas da menção do professor.

'-E Eliza continua tendo medo dele.' – Elena ponderou e as mulheres riram baixo na sala da expressão de pavor da loira mais nova.

'-Eu fiquei tão feliz em saber que você já era amiga da nossa Eliza antes mesmo de saberem que eram primas.' – Olívia considerou, sorrindo delicadamente.

'-Elizabeth foi a primeira amiga que fiz em Hogwarts e por muito tempo foi a única. Sinceramente, não sei como Eliza é sonserina' – o olhar foi direcionado para a prima – ', ela é a pessoa mais doce que já conheci.'

'-Também eu não sei, querida' – foi Elena quem falou, rindo –'Puxou ao pai.'

Sean passou um braço pelos ombros da filha e murmurou para que não ouvissem o que elas estavam dizendo, brincando. O homem tinha um ar jovial conservado ainda da adolescência. Apesar de ter amadurecido em todos os sentidos, o sorriso travesso sempre seria o mesmo.

'-Não fale assim da nossa garota, Nana.' – ele franziu as sobrancelhas para a esposa, esboçando um sorrisinho depois e apertando um pouco mais os ombros de Eliza.

'-Querida, por favor, só não se distancie de nós novamente. Esses anos foram tão tristes sem vocês.' – Olívia suspirou, segurando ambas as mãos de Serena, implorando com o olhar – 'Nós queremos fazer parte da sua vida, ver você amadurecer, compartilhar momentos como uma verdadeira família deve fazer. Foram tempos muito tristes, Serena, e teriam sido completamente cinza se não tivéssemos tido Elizabeth por aqui; naquele ano tudo o que restava de nossa família se desfez. Você é uma nova esperança.' – dizendo isso, Olívia beijou as mãos da menina com tanta ternura que Serena derrubou um par de lágrimas.

'-Eu não vou a lugar algum, tia Olívia.' – ela suspirou, devolvendo o aperto suave das mãos da mulher.

Olívia se debulhou em lágrimas ao ouvir aquela afirmação e teve que ser escoltada pela filha até uma cadeira próxima, onde não conseguia conter a emoção. Serena não sabia o que fazer, até que Eliza levantou-se e abraçou a prima.

'-Elas não nos deram chance nem de dizer 'olá' – a loira revirou os olhos, apertando a garota entre seus braços de porcelana – 'Estou tão feliz, Serena, tão feliz!'

'-Eu também, Loira, eu também' – a morena sorriu torto, afagando as costas da prima.

Sean levantou-se e foi ao encontro das garotas, sorrindo sutilmente.

'-Agora que essas mulheres finalmente deram a chance de nos apresentarmos...' – ele começou, estendendo uma mão – 'Sean Duncan'

Serena apertou-a cordialmente, quase formalmente, quando um brilho diferente cruzou os olhos do homem. Ele ficou sério por um momento, até conseguir falar.

'-Eliza falou de você o ano todo, mas não podíamos imaginar que, bem, você era você. Eu estou muitíssimo feliz que você esteja viva e tenha encontrado o caminho até nós.' – ele admitiu, sorrindo para a morena –'Alexia foi a melhor pessoa que conheci e já gostávamos de você antes mesmo de você nascer, Serena.' – Sean acrescentou, abraçando-a depois.

Serena estava estática, nunca tinha sido tão bem recebida logo de cara como naquela manhã.

Olívia fitava Sean cumprimentando Serena. Elena merecia um marido tão bom quanto ele, e ela fora tola em acreditar que ele não amaria a mulher nem a filha como deveria, e nem cuidaria delas. O rapaz provara justamente o contrário; ele era extremamente atencioso com a sogra e amava Eliza e Elena mais do que tudo.

Agora recebera Serena tão bem quanto ninguém poderia imaginar.

Richard encarava a menina de uma certa distancia. Havia lágrimas em seus olhos. Quando a vira, apesar da extrema semelhança, quase não acreditara que era sua sobrinha tida como morta.

Aquilo era impossível, afinal. Ele repreendera Olívia em todas as vezes que ela dissera que aquele bebê poderia estar em algum lugar, em que ela imaginara uma vida para o sobrinho. Até que a esposa parou de dizer aquelas coisas.

E ali estava Serena, o olhar felino e desafiador, os mesmos olhos azuis de Alexia, as mesmas feições delicadas impressas numa sonserina.

Ele não conseguira conter a emoção e o sentimento de culpa daqueles anos passados. Talvez se tivesse deixado a esposa procurar, ela tivesse encontrado aquele bebê.

Serena, Eliza e Sean riam, repentinamente. Elena, Olívia e Richard pararam o que estavam fazendo para fitá-la rindo. A garota tinha o mesmo sorriso da mãe, aberto, vívido, que iluminava os olhos e fazia surgir covinhas rasas.

Richard, então, se arriscou em ir até ela. De perto a semelhança com Alexandra era ainda maior.

'-Faltou ser apresentada ao seu velho tio Richard' – ele disse, referindo-se a ele mesmo e apertando sua mão e beijando-a depois, num gesto cavalheiresco– 'Você é uma menina linda.'

Ela sorriu.

'-É um prazer.' – agradeceu com a cabeça, mais educada e gentil do que jamais fora. Eles eram sua família, afinal. Não havia porque esconder-se deles.

Olívia levantou-se da cadeira na qual Elena a havia acomodado e voltou para perto da sobrinha.

'-Meu bem, você acharia impossível você e seu pai ficarem para almoçar conosco?' – perguntou a tia educadamente, com os olhos brilhando de esperança.

'-Eu teria que falar com ele.' – ela considerou, receosa.

'-Esperei quase vinte anos para conhecê-lo, apesar de conhecer bem sua fama.' – Olívia sorriu – 'Peça para ele entrar, por favor, querida.'

~"~

A porta de duas folhas foi aberta e Serena sorria de leve ao reencontrar o pai, que a esperava apreensivo. A garota fechou a porta atrás de si e andou calmamente até ele, que colocou as mãos nos ombros da garota e olhou-lhe nos olhos, certificando-se de que estava tudo bem.

'-Pai...' – ela começou, temerosa – 'Olívia insistiu para que almoçássemos com eles, nós dois.' – os olhos de Severo perderam o foco e o semblante ficou lívido – 'Ela quer muito conhecer, enfim, o marido da irmã.' – Serena cessou a frase acariciando o braço do pai, encorajando-o a aceitar.

'-Serena, eles são sua família. Certamente estão sendo apenas gentis.' – Snape considerou, negando com a cabeça – 'Se quiser ficar para o almoço, eu venho buscar-lhe mais tarde.'

'-Por favor, pai. Eles são a família da minha mãe e também sonham em conhecer você como Severo Snape e não professor. Eles esperaram muito tempo por isso.' – ela garantiu e havia algo nos olhos da menina que não lhe deixava negar o pedido.

Ele estava apreensivo e encabulado. Nunca imaginara que este dia iria chegar.

'-Temo desapontá-la e a eles.' – ele sentenciou, um vinco formando-se entre as sobrancelhas.

'-Você não vai.' – ela enganchou um braço ao dele e acompanhou-o durante o percurso até a porta e depois.

Olívia veio assim que os dois cruzaram o pórtico, ansiosa. Snape nunca entenderia o que aquilo significava para a família; era um passo mais perto do que Alexia escondera por tantos anos e um passo mais perto de Serena.

Pai e filha pararam e a mulher mais velha veio recebê-los com mais lágrimas nos olhos.

'-Olívia Summers.' – ela estendeu a mão.

'-Severo Snape.' – ele apertou-a com cordialidade e insegurança, percebendo que Olívia tremia.

Snape odiava não saber como se portar, e ali – com a família de Alexia observando-o – ele estava completamente desconfortável. Eles olhavam com curiosidade e gentileza.

'-Severo, é um enorme prazer finalmente conhecê-lo. Alexia prometia que seríamos apresentados a você algum dia, mas este dia infelizmente nunca chegou enquanto ela era viva.'

'-Julgo que a culpa neste caso era deliberadamente minha, Olívia. Eu precisava manter discrição, e peço perdão se desapontei-as.' – ele falou, sério.

'-Não há culpa, meu caro. O destino quis assim, e estamos felicíssimos em finalmente conhecer-lhe. Você é o pai de Serena e foi marido de Alexia; isto basta para nós. Confiamos na escolha de Alexandra, ela nunca teria um filho com alguém que não a merecesse.' – Olívia deu um sorriso gentil, e apertou a mão do cunhado.

Severo queria gritar que ele não merecia nada daquilo, que ele era um bastardo infeliz que arruinara a vida das pessoas que mais amava. Queria dizer que não tinha merecido ter uma esposa dedicada como Alexia e que não merecia ter uma filha linda como Serena. Que não merecia a atenção e gentileza que estava recebendo.

Apesar de tudo, baixou a guarda e aceitou uma vez na vida a oferta de tranqüilidade que lhe estava sendo oferecida. Ele estava confuso com seus sentimentos; Olívia não importava-se se ele tinha sido um Comensal e tinha metido a filha num orfanato trouxa. Eles compreendiam que tivera razões para fazê-lo e ninguém iria questioná-lo.

'-Vamos, eles já estão na sala de jantar.' – com um sorriso e um aceno de mão na direção do ambiente, Olívia guiou-os. Severo ainda acompanhava a filha e a cunhada com semblante anestesiado.

'-Severo estes são Richard – meu marido, Elena – que você já deve conhecer, Sean – meu genro e Elizabeth, minha neta.' – a mulher apresentou-os e eles acenaram respectivamente.

Vê-los dispostos daquela forma e com tamanha boa vontade para com ele fez Severo balançar no hall das emoções escondidas. Queria que Alexia também estivesse ali, mas aquele era o pouco que restara de sua vida com ela.

Sean estava mudado, mas ainda tinha o mesmo olhar sonhador do jovem que o tinha enfrentado tantas vezes ao defender a namorada. A culpa inundou-o. O casal estava ali, sorrindo para ele como se fosse um tio esperado que viera de muito longe enquanto ele somente podia se lembrar de tudo o que dissera à mulher naquele tempo em Hogwarts.

Certamente eles tinham mágoa dele, pensou Severo, e foi o que o fez esperar a refeição calado. Serena sorria e conversava com Elizabeth, tão animada como nunca antes.

Severo pediu licença para ir ao toalete e sentiu-se inútil ali, aquele não era seu lugar. Na volta encontrou com Elena e Sean Duncan, que escolhiam um vinho na pequena adega interna que precedia a sala de jantar, enquanto a mulher fazia algumas observações para os elfos.

'-Snape, quanto tempo.' – Sean brincou, quando o ex-professor passava por eles.

Severo parou abruptamente e franziu o cenho. Aquele homem que um dia fora seu aluno tinha direito de fazer qualquer tipo de piada irônica. Se alguém tivesse feito com Alexia o que ele fizera com Elena, ele guardaria rancor eterno.

Naquela época, porém, ele acreditava que os dois eram só jovens brincando de ser uma família.

'-Vocês têm todo o direito de zombar de mim' – ele começou, virando-se para fitar os dois – 'Também eu ainda recordo do último ano de vocês em Hogwarts e de como eu os importunei e humilhei perante os outros alunos.' – ele admitiu. Ele não conseguia aceitar o tratamento que estava recebendo ali, queria que o culpassem, xingassem e fizessem tudo o que tinham direito; ele era um bastardo e não merecia toda aquela recepção digna de gente decente.

Sean mirou-o de volta sem entender nada.

'-Aquilo ficou no passado, Snape' – ele disse, sem rancor algum na voz – 'Nós éramos realmente muito jovens, e acredito que a maior parte de suas atitudes eram desnecessárias, mas fazem dezessete anos.' – ele deu tapinhas no ombro do homem – 'Além do mais, você é pai de Serena e nós agradecemos por tê-la trazido. Sem mágoa.' – Sean ofereceu um sorriso camarada e um aperto de mão.

Severo simplesmente não acreditava; o semblante estava lívido e ele ficara sem ação diante da fala do homem à sua frente.

Elena parou a fala com os elfos a ficou a mirar o antigo professor de Poções. Ela tivera raiva dele durante muito,muito tempo; a raiva aumentou quando soube que ele era o marido de Alexia e ela culpou-o por tudo, depois, com Serena, a raiva atingiu níveis extraordinários.

Agora, fitando-o de perto, ele parecia cansado e devorado pela culpa do que fizera durante todos esses anos.

Eliza lhe contara que ele fora um Comensal, um espião na verdade, e a mulher começou a pensar em que tipo de vida ele tinha levado no meio daquilo tudo, tendo perdido a mulher e a filha.

Talvez aquela amargura toda não fosse somente parte de sua personalidade ou ruindade extrema.

'-Sem mágoas, realmente, Snape' – Elena completou com um sorriso contido e preocupado – 'Na verdade, depois de bastante tempo, eu compreendi que você ter duvidado tanto de nossa capacidade de criar Eliza possa ter ajudado.' – Severo olhou para ela como se ela tivesse vindo de outro mundo, torcendo o nariz avantajado, e Sean passou um braço pela cintura da esposa, apoiando-a – 'Me fez querer ser realmente uma boa mãe, fazer tudo certo, porque todos duvidavam de mim. E você era o que mais o fazia.' – Elena completou com um sorriso intrigante.

O homem não conseguiu raciocinar direito e seguiu sozinho de volta à sala de jantar dos Spring.

Após o almoço, Serena comia a sobremesa tranquilamente, sendo observada atentamente por Olívia, com quem trocava algumas palavras entre as colheradas.

Ele, no lugar que lhe cabia – ao lado da filha – e observava-a também. A garota parecia uma criança encantada com aquela família que lhe esperara e lhe recebera tão bem; os olhos dela brilhavam e o sorriso era fácil.

Fora a primeira vez que vira algum fio de inocência naqueles olhos azuis gélidos e misteriosos.

Para eles, ela não tinha segredos. Tinham chegado na parte já devidamente lapidada de Serena.

O pai sorriu discretamente àquela visão de sua menina.

Desconfiaria de tudo aquilo até, se não soubesse do desespero de Elena para apresentar a prima à família. Se não soubesse o quanto tinham sofrido com a suposta morte de Serena. Desconfiaria se não visse a sinceridade estampada no semblante de Olívia.

Portanto, ele estava aceitando de bom grado a atenção que ofereciam a Serena. Ela merecia tudo aquilo.

Ele não, mas essa era outra história.


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Notas finais do capítulo

E ai? Curtiram? Me contem!

Beijo, L.



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