Loves Ways escrita por lollyb


Capítulo 24
Sombra e escuridão




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'-Vá passear, sua vadia.' – ela disse furiosa para Parkinson, que não ousou desobedecer.

Serena respirou fundo e só então fitou Draco nos olhos.

'-Você é um completo idiota.' – ela começou, calma. Malfoy porém sabia que a serenidade com que ela falava era pior do que berros de raiva.

A garota olhou-o com nojo, como se ele fosse pior do que o grão de poeira que grudara no chiclete na sola de seu sapato.

'-Eu não vou ficar aqui falando, gritando ou me rebaixando a você. Poderia te dar um tapa, mas nem isso você merece.' – ela empinou o nariz e o gelo nos olhos azuis voltou com toda força – 'Espero que tenha valido a pena.'

Serena disse e saiu vitoriosa, como uma rainha.

~"~

A coroa serviu apenas no jardim. Ao chegar no Salão Comunal da sonserina vazio, Serena sentia-se uma fada mordente pisoteada. Abalada, dolorida, confusa. Usara toda sua coragem e força para falar com Malfoy e agora estava exausta.

Tirou o vestido e jogou de qualquer jeito no malão. Arremessou os sapatos; um deles voou para fora da cortina verde fechada. Tanto fazia naquele momento. O colar de pérolas que ganhara de Eliza tinha sido nada delicadamente acomodado no criado mudo.

Tudo estava uma bagunça. Serena estava uma bagunça. Por fora e por dentro, o que era pior.

Apenas usando apenas a lingerie preta rendada que escolhera para esta noite, Serena encolheu-se na cama sob as estrelas que brilhavam em sua janela. Tinha tudo acertado para esta noite e tinha dito a si mesma que se houvesse uma oportunidade de fazer amor com Draco, ela o faria; não diria não à nada.

Porém, estava tudo indo água abaixo. Tudo começara a desmoronar.

Não chorou; estava mais confusa do que triste. Parecia que tudo estava tão bem... Bem até em demasia. Queria apenas, naquele momento, esfolar a cara maquiada de Parkinson nos muros do castelo até a pele sair.

Vadia. Era tudo que Serena conseguia pensar.

~"~

Os dias que se seguiram foram tranquilos, mas nem por isso menos tristes. Algo em Serena se apagara, aquela alegria que andava sentindo, aquela alegria, que não era dela, tinha se esvaído. Agora ela era novamente a fria sonserina que adentrara em Hogwarts.

Novembro começou chuvoso e frio, e espelhava o que Serena era por dentro. Apesar de não falar mais com Malfoy, Blaise Zabini a procurava sempre em busca de respostas para seus deveres de casa.

A morena ajudava-o, naturalmente, repreendendo-o sempre.

Nesses momentos, Eliza sempre fingia perfeitamente bem ter algo melhor para fazer, seja ler um livro no Salão Comunal – no lugar mais afastado que encontrava – ou seja antecipar sua ida ao Salão Principal para as refeições.

E Serena ficara naquela corda bamba até a metade de novembro. A garota achara que tinha chego ao fundo do poço, mas apercebeu-se que ele tinha subsolo.

~"~

Numa trégua da chuva, os estudantes todos correram para os jardins, mesmo com o ar frio. Serena descansava e lia um dos livros que Snape lhe dera de presente de aniversário quando um Zabini cheio de pergaminhos e penas, atrapalhado como sempre, apareceu vindo do castelo.

'-Sereninha, minha querida...' – Blaise sorriu amarelo por entre livros e pergaminhos. Agora uma pena voara e repousava na cabeça morena do rapaz.

'-O que você quer, Zabini?' – ela suspirou, cansada, colocando o livro no colo e fitando-o.

'-Snape passou um dever impossível, mesmo.' – ele sorriu torto, galante, tentando convencê-la – 'Nem Draco conseguiu e, na verdade, eu vim pedir ajuda para nós dois.' – o sorriso caiu e ficou amarelado. Serena pensou que Zabini era mesmo cara-de-pau.

Serena olhou feio para ele quando pediu para ajudar Malfoy também.

'-Olhe aqui, Blaise. Eu vou te ajudar com isso, aí você se vira se quiser passar para aquela doninha, digo, Malfoy.' – ela retrucou, brava.

'-Obrigada, Serena! Já lhe disse que você é a melhor Snape dentre todas as Snapes do mundo?' – ele sorriu e a abraçou, derrubando-a na grama gelada, ela reclamou – 'Seu papai Snape ficaria orgulhoso. Argh, foi aquele carrasco do seu pai que passou essa merda de dever!' – ele resmungou, voltando ao seu lugar e passando um pergaminho para Serena analisar

Uma presença loira não tinha se feito notar e, do lado de Serena – oposta a Zabini – Eliza Duncan falou, inocente: - 'O que você sabe sobre o pai de Serena?'

'-Gulp.' – Blaise engoliu em seco e arregalou os olhos para Serena.

'-Que história é essa? Você sabe quem ele é?' – perguntou a loira, esperançosa – 'Vamos, conte-nos!'

Serena respirou fundo e levantou a cabeça para poder olhar a prima que não entendia o que estava acontecendo nos olhos.

'-Eu posso te contar, Eliza.' – a morena disse e as pernas de Elizabeth amoleceram com o choque – 'Eu sei quem são meus pais já faz um tempinho.'

'-O que?' – Eliza disse, atônita e desacreditada – 'Você sabe quem eles são?'

'-Meu pai se chama Severo Snape, e creio que você o conheça bem.' – ela disse baixo para apenas Blaise e Eliza ouvirem, afirmativamente, e Eliza tinha as mãos na boca, em choque.

'-E... E eu com pena de você durante este tempo todo porque você não conhecia seus pais! Que ingenuidade a minha! Você faz comprinhas com sua mãe por aí também? O que mais, Serena? O que mais você escondeu de mim este tempo todo?' – ela explodiu como Serena nunca vira nem imaginara e as lágrimas da traição começaram a verter – 'Por que você não me contou?' – ela completou, limpando as lágrimas, decepcionada.

'-Eu não pude, Eliza. E não poderia, na verdade, se o panaca aqui não tivesse dito nada.'

'-Até Zabini sabe e eu não podia saber?' –ela questionou, sentindo a traição doer em seu peito – 'Isso está ficando confuso, Serena.'

'-Blaise sabia porque... Porque... Ah, Merlin. Porque eu meio que estava com Malfoy.' – ela desembuchou, coçando a lateral da cabeça, nervosa e mordendo os lábios.

'-O que mais, Serena?' – ela urrou, e mais lágrimas caíram de seus olhos verdes – 'Você estava com Malfoy... O que mais eu não sei? Hein, Serena? Por acaso sua mãe é a Madame Malkin?' – ela debochou, apontando um dedo acusador para a garota – 'O mais engraçado é que eu te contei tudo, tudo, Serena. Sobre mim, sobre minha vida, meus pais...' – ela completou, tentando segurar alguns soluços que ameaçavam irromper de sua garganta.

'-Eliza, você é a pessoa em quem eu mais confio no mundo. Se eu não te contei era porque não podia. E não, minha mãe não é a Madame Malkin' – Serena pediu, os olhos suplicando à Eliza e continuou séria – 'Minha mãe morreu quando eu nasci. O nome dela era Alexandra. Alexandra Spring. Acho que você conhece essa história, não é mesmo?'

Eliza colocou ambas as mãos sobre a boca e as lágrimas vieram novamente. Serena fitava-a apreensiva, a boca semi aberta aguardando a amiga processar as informações.

'-Isto é, é impossível, Serena.' – Eliza disse, quase num sussurro – 'O bebê de tia Alexia morreu naquele dia, junto com ela, em jan...'

'-Dia 13 de janeiro de 1981.' – ela declarou, dando de ombros.

'-Não pode ser, Serena, simplesmente não pode... Com Snape? Não.' – ela disse, tentando recordar dos detalhes da história de sua tia, tão tristemente relembrados por sua mãe e avó.

'-Eu definitivamente não herdei os olhos azuis do meu pai.'

O modo como Serena se referiu à Severo Snape como seu pai foi como uma facada no estomago de Eliza. Tudo aquilo era verdade, estavam no mundo real.

'-Então... Então quer dizer que nós somos, somos primas?' – Eliza perguntou, soluçando.

'-Parece que sim.' – Serena sorriu torto, ainda temerosa.

'-Merlin, eu tenho que escrever para minha mãe. Vovó vai ter um infarto quando souber.' – ela disse, calma, mas não parecia a Elizabeth Duncan que Serena conhecia bem, havia algo errado.

'-Não, Eliza, não! Mais ninguém pode saber! Já tem gente demais sabendo... É um segredo extremamente importante para o meu pai.'

'-Ah, é importante para o seu pai? Bem, para minha família também é. Você não sabe quanto esse segredinho afetou minha família, Serena! Minha mãe ficará tão surpresa...' – ela suspirou.

'-Sua mãe já sabe, Eliza. Mas faça o que eu estou dizendo pelo amor de Merlin. Ninguém mais pode saber. E meu pai,apesar de tudo, é a chave para a vitória de Potter na guerra, acredite em mim.'

'-Minha mãe já sabe? Como ela poderia?' – as lágrimas queimaram pela face alva, deixando rastros vermelhos – 'Eu não acredito em mais nada que venha de você, Serena Snape. Depois de tudo, tudo isso, não.' – ela cuspiu, com mágoa.

'-Naquele episódio do Baile de Inverno. Sua mãe viu Snape na Ala Hospitalar comigo e deduziu certo. Ela sabia que ele era o marido de Alexandra.' – Serena declarou, não digerindo ainda as últimas palavras de Eliza – 'E se você não acredita em mim, acredite em Dumbledore. Ele confiava em Snape acima de tudo.'

'-Céus, todos resolveram me trair. Blaise' – ela apontou o moreno recostado à uma árvore, seguramente distante da discussão acalorada – ', você, até minha mãe.' – ela chorava descontroladamente – 'Dumbledore confiava tanto que foi morto por Snape, ou você pensa que eu não ouvi os boatos? Não sou tão boba quanto pareço. Francamente, Serena. Não sei o que você espera de mim, mas isto acaba aqui, por enquanto. São coisas demais escondidas de mim.' – ela fungou alto e tentou se recompor – 'Não sei se poderei voltar a falar com você algum dia, quanto mais confiar novamente.'

Eliza fungou alto e tentou respirar fundo.

'-Só preciso saber de uma única coisa...' – a loira disse – 'Você soube disso o tempo todo? Desde antes de Hogwarts?'

'-Não, descobri nos primeiros meses.' – Serena respondeu, cabisbaixa.

Elizabeth saiu correndo com as mãos no rosto, rumo ao dormitório.

Serena se deixou cair sentada no chão e não muito tempo depois lágrimas também começaram a brotar e a escorrer, silenciosas. Tudo tinha, enfim, desmoronado.

Não tinha mais ninguém, pensou.

Então Blaise se aproximou.

'-Vá embora, Zabini' – ela disse, escondendo o rosto e tentando limpar as lágrimas. Se havia uma coisa que ela odiava é que a vissem chorar.

'-Eliza estava furiosa, não é mesmo?' – ele disse, dando o típico sorrisinho galanteador.

'-Eu disse vá embora, Zabini.' – ela fungou – 'E não venha com o papo 'eu avisei'

'-Calma, garota' – ele pediu, colocando as duas mãos no ar – 'O papo será: sou um bom amigo.' – dizendo isso ele a abraçou desajeitado enquanto ela se debatia e o empurrava.

Quando Serena venceu, Zabini apenas sentou-se ao seu lado de pernas cruzadas, fingindo não ver as lágrimas incessantes.

'-Dia difícil, han?' – ele perguntou, dando um soquinho no braço de Serena – 'Ainda bem que você tem um amigo lindo, sonserino e cheio de amor para dar.' – ela riu baixinho do amigo, que prontamente se lembrou – 'E cheio de dever difícil para fazer! Que tal distrair-se com Poções?' – perguntou, arqueando uma sobrancelha, malandro.

'-Vá se ferrar, Zabini.' – ela disse, dando um peteleco na cabeça do rapaz.

'-Ela vai te perdoar' – ele disse, compreensivo – 'Acho que só precisa de um tempo.'

'-Isso vale 'pra você também, Blaise.' – ele olhou para ela, como quem não sabe de nada – 'E não faça essa cara. Eu sei que você se arrependeu, seu trasgo montanhês alado.'

Ele não discordou.

~"~

Aquilo só podia ser o mísero final do fundo do poço, pensou Serena. Não havia definição melhor. Blaise fazia companhia à ela, certas vezes, mas na maior parte do tempo estava com seu amigo inseparável, Draco Malfoy.

Eliza passava por ela como quem passa pelo Barão Sangrento e aquele peso na consciência era a pior coisa que Serena já sentira desde a sensação de abandono.

Malfoy olhava-a furtivamente de quando em vez, mas Serena jurava que ele fazia piadinhas sobre ela naquele canto da mesa sonserina.

Ela estava, sem mais palavras, acabada. O término com Malfoy fora difícil, mas superável. A perda da amizade de Eliza, porém, fora um baque maior do que o esperado. Não era para ter acontecido naquele dia, daquele jeito.

Severo Snape observava atentamente a garota remexer o jantar, apática. Quando Serena deixou a mesa, empurrando o prato intacto, ele rabiscou um pergaminho e chamou uma coruja.

No Salão Comunal, Serena estava sozinha. Jogou-se num divã e ali ficou, pensativa.

Uma coruja piou e soltou o pergaminho enrolado sem esperar resposta.

Snape estava pedindo para ela visitar seus aposentos. Serena foi, sem pestanejar. Pelo menos ainda tinha o pai, ela pensou.

'-Hum, Prof. Snape?' – ela chamou, dando batidinhas na porta do escritório e já adentrando-o em seguida. Não viu o professor, mas adentrou o cômodo e bateu novamente, desta vez porém na porta que levaria aos aposentos.

'-Pai?' –ela chamou, novamente.

'-Serena, entre.' – ele chamou, lá de dentro.

Serena entrou e aceitou o chá que Snape lhe ofereceu. Continuava calada enquanto bebericava o chá, fitando os próprios pés.

'-Alguma coisa errada?' – Severo lhe perguntou, a testa franzida fazendo-lhe parecer irritado.

Serena apenas balançou a cabeça, não dando uma resposta de verdade, apertando mais a xícara de porcelana nas mãos.

'-Eu tenho notado você quieta demais durante as aulas e as refeições, Serena. O que está havendo?' – ele perguntou, sentando-se no mesmo sofá que a garota, ao seu lado – 'Você está sempre sozinha. O que aconteceu com a Srta. Duncan?'

'-Eliza descobriu, pai.' – Serena disse baixinho.

Snape franziu o cenho, não compreendendo imediatamente – 'Descobriu o qu...' – ele começou, mas parou – 'Como?' – perguntou ele, descrente.

'-Zabini.' – ela disse somente, mas quando o pai estava prestes a sair atrás do garoto, ela completou: - 'Ele não sabia que ela estava ouvindo. Nem eu.'

'-Merlin.' – Snape urrou baixo, com fúria – 'Ela contou à alguém?'

'-Eu não sei.' – Serena disse, mordendo o lábio, totalmente ao contrário da garota prepotente de um mês atrás – 'Eu espero que não. Implorei à ela para que não o fizesse.'

Snape balançou a cabeça, irritado. '-Quanto ela sabe?'

'-Agora? Tudo.' – Serena disse.

'-Argh.' – ele colocou as mãos nas têmporas, pensando – 'Eu sabia que não deveria ter confiado em Draco e naquele maldito amigo dele!'

'-Eu não acho que Eliza seja o maior de nossos problemas. Apesar de tudo, acho que ela não diria.' – Serena disse, fitando o pai pela primeira vez. Snape estreitou os olhos, sem entender – 'Eu briguei com Malfoy. Tenho medo que ele dê um jeito de contar.'

'-Serena, por que raios você foi brigar com Draco de novo? Com tudo isso em jogo?' – Snape disse, um tom de voz mais alto que o de costume, fazendo Serena estremecer.

'-Malfoy é um... um parvo!' – ela exclamou – 'E não foi culpa minha. Nós apenas... Apenas... Deixa para lá.' – ela deu de ombros.

'-Ah, Serena, agora que falta tão pouco! Lord está apenas tentando localizar Potter, ou atraí-lo para cá. É uma questão de meses. O que aconteceu?'

'-Não é nada; nada que você precise saber, confie em mim.'

'-Eu confio. Só não sei se confio mais naquele loirinho que cresceu me chamando de tio.' – ele admitiu.

'-Está tudo dando errado na minha vida, pai.' – uma lágrima escorreu enquanto Serena se virava para abraçar o pai – 'Simplesmente tudo. Como se eu já não tivesse problemas suficiente.'

'-Vai passar, Serena, tudo isso vai passar' – ele a acalmou – 'E a Srta. Duncan parece mesmo gostar de você, ela vai entender algum dia.'

'-Ela nem olha mais para mim, pai.' – Serena explicou, com olhos marejados, mais indefesa do que Snape jamais a veria em sua vida toda.

'-Ela sabe sobre a sua mãe?' – Severo perguntou, atencioso, afastando o cabelo preto de Serena dos olhos azuis.

A garota apenas acenou afirmativamente.

'-Então é compreensível. Ela deve estar achando que você a traiu, ou algo do tipo. Algum pensamento muito lufa-lufa. Quem mesmo concordou que essa garota fosse para a sonserina?' – ele franziu os lábios em seu último questionamento retórico e Serena riu baixinho, concordando.

'-Eu espero que ela me perdoe logo.'

'-Ela não tem que te perdoar, Serena, tem que entender. E crescer o suficiente para saber que certas coisas não podemos partilhar.'

'-Você fala como se a conhecesse.' – ela arqueou uma sobrancelha duvidosa.

'-Conheço-a desde que entrou em Hogwarts. Com doze anos, imagino. Mas conheço muito bem a mãe dela, e elas parecem ser incrivelmente parecidas.'

Serena sorriu – 'Sim, elas são.'

Severo acomodou a garota melhor no abraço. Já passara do toque de recolher e Serena cochilara no sofá dos aposentos do pai.

Ou talvez não tivesse sido um cochilo, pois se encontrava numa cama de casal alta quando acordou e não reconheceu o ambiente até abrir a porta do quarto e visualizar o pai dormindo no sofá.

~"~

O feriado de natal de Serena e Severo foi passado em Hogwarts, já que ele era o novo Diretor. Malfoy voltara para casa dizendo à Blaise que iria passar o Natal junto à Narcisa, mas a verdade é que ele queria ficar longe de Serena, sem vê-la durante todos os míseros dias.

Elizabeth também fora para casa; era apegada demais à mãe para passar o Natal em Hogwarts e, se passasse, seria extremamente solitário. Poucos dias antes de voltar para casa, Eliza tornara-se colega fiel de Luna Lovegood. Conhecera-a melhor durante uma aula dupla de sonserina e corvinal. Fora a garota, Eliza não tinha mais nenhum amigo e sentia incrivelmente a falta de Serena.

Blaise ficara no castelo. Seus pais tinham viajado para algum lugar muito exótico no Oriente Médio, num cruzeiro excêntrico e o moreno escolheu não os acompanhar.

A noite de Natal tinha sido tranqüila até demais para aquela era tenebrosa que Hogwarts enfrentava. Jantaram calmamente, e Serena e Blaise brindaram à estupidez humana, rindo, até que a garota partiu para uma comemoração particular com o pai.

Serena e Severo trocaram presentes naquela felicidade derradeira que antecedia os tempos de guerra aconchegados junto ao fogo, mais próximos do que nunca.

~"~

Na semana entre Natal e Ano Novo, Serena e Blaise caminhavam pelo jardim, fazia frio e nevava pouco.

'-Qual foi o lance com Draco?' – perguntou Blaise – 'Apesar de eu ser o melhor amigo dele no mundo inteiro, e mais lindo também,' – ele explicou, presunçoso – 'ele não me contou. Disse que era coisa dele.'

'-Ele realmente não te disse?' – Serena arqueou a sobrancelha, surpresa – 'Wow, essa é nova. Ele e Pansy estavam se pegando no Baile de Halloween; pra valer. Encontrei os dois aqui fora.'

Blaise arregalou os olhos e depois franziu o cenho. Sabia que Draco nunca gostara de Pansy, que apenas a usava. Havia algo extremamente errado naquela história para o amigo deixar Serena ver ele e Pansy se amassando em algum canto.

Sim, Draco deixara a morena vê-los, Blaise pensou. Ele conseguia se esconder de qualquer um quando queria e, afinal, ele e Serena estiveram namorando secretamente por vários meses.

'-E você tem certeza que eles estavam se pegando?'

'-Absoluta. Eles estavam se amassando 'pra valer' – comentou Serena, sem expressão e com a típica fala mansa e fria, mas Blaise percebeu que havia ali um pouquinho de tristeza – 'Ela estava com a boca toda inchada e com os peitos saltando para fora do vestido.' – ela suspirou.

Zabini ficou ainda mais surpreso. Por que raios Draco Malfoy fizera aquilo?

~"~

Quando os alunos retornaram do gélido feriado, Hogwarts estava nos piores tempos já conhecidos. Os irmãos Carrow salpicavam terror por toda parte, aplicando as detenções mais macabras das quais já se ouvira falar, tudo com o consentimento do novo Diretor, Severo Snape.

'-Por que você está deixando este caos acontecer?' – Serena entrou, estupefata, gritando no escritório de Snape. A mão que ela apoiava na mesa ainda segurava a varinha.

'-Você não deveria, supostamente, estar na aula?' – ele perguntou, sínico, arqueando uma sobrancelha.

'-Eu não ficaria naquela aula nem mais um segundo sem azarar aquele Carrow idiota!' – ela bradou, cruzando os braços e lançando um olhar mortal à Snape.

'-O que você quer que eu faça, Serena?' – ele perguntou retoricamente, dando de ombros e franzindo o cenho.

'-Pare isso, pai, por favor! Você não vê que Carrow estava nos mandando praticar azarações nos alunos mais novos? E quem se recusasse ficaria em detenção. Eu disse que naquela aula eu não ficava e ele gritou comigo e me mandou ir para a sala do Diretor. Respondi que não precisava dizer duas vezes.' – ela contou, brava.

Snape soltou um riso fraco.

'-Fico contente em saber que tudo está indo como Voldemort quer.' – ele comentou somente, sério.

'-Pai!' – ela repreendeu, boquiaberta – 'Isso é ridículo. Nem os trouxas jamais fariam isso!'

Severo suspirou. '-Eu estou apenas fazendo o necessário para dar tempo àquele maldito Potter, sabe-se lá onde ele esteja. E preciso que tudo dê certo para Você-Sabe-Quem por enquanto para nos proteger, Serena.'

Serena apenas revirou os olhos, ainda de braços cruzados.

'-Você está dispensada das aulas de hoje, eu avisarei os Carrow. Não se preocupe, conheço o histórico de detenções deles e fique segura de que você não estará em nenhuma delas.' – ele comunicou, levantando-se da cadeira e abrindo a porta que levava aos seus aposentos – 'Fique aqui, por hoje. Não é bom que aqueles Comensais a vejam andando por aí. Eles fazem perguntas demais. Vou pedir aos elfos para trazerem seu almoço.'

Serena concordou debilmente e foi contrariada até onde Snape estava segurando a porta.

'-Comporte-se' – ele recomendou, arqueando uma sobrancelha para ela.

'-Está bem, está bem, Diretor, digo, pai.' – ela provocou. Severo sorriu fino em resposta, contrariando as expectativas da garota.

Ele apenas deu um beijo no topo da cabeça da filha, acompanhado de um empurrãozinho que garantia que Serena entrasse nos aposentos.

~"~

Serena entrou ofegante no escritório de Minerva McGonagall exatamente como tinha entrado no de seu pai alguns dias antes. A professora de transfiguração olhou assustada para a sonserina, que adentrara subitamente no cômodo.

'-Srta. Snape?' – McGonagall perguntou, tirando os olhos dos pergaminhos em sua mesa e ajeitando os óculos quadrados para olhar para Serena.

'-Professora McGonagall...' – ela ofegou – 'A senhora precisa fazer isso parar! Snape não faz nada... Por favor, eles estão fora de controle.'

E Minerva sabia exatamente à que Serena se referia. Se os Carrow eram ruins no começo, agora eles eram terríveis. Aterrorizavam os alunos mais novos e mandavam os mais velhos o fazerem também, distribuíam detenções à roda, espalhavam terror. Hogwarts estava um caos.

'-Srta. Snape, não há, infelizmente, nada que eu possa fazer. Os Comensais dominaram tudo. E é bom que a senhorita fique longe disso. Você já está envolvida demais com tudo isso, Srta. Snape.' – Minerva disse, cansada – 'Se eu soubesse que você se envolveria com tudo isso não teria... as cartas.' – o que a professora de transfiguração disse ente as palavras Serena não ouviu. Ela falava mais para ela mesma do que para a menina.

'-Perdão, o que a senhora disse, Prof. McGonagall?'

'-Assuntos antigos, senhorita. Nada que importe agora.'

'-Eu estou certa que ouvi a senhora mencionar algo sobre cartas.'

Minerva olhou para o lado, pensativa. Suspirou e revirou os olhos. '-Se eu soubesse que você se envolveria com Severo Snape e se colocaria no meio de toda essa história de Comensais da Morte eu nunca teria interceptado as cartas de Hogwarts.'

Serena engasgou e tossiu.

'-Isso mesmo, Serena. Eu só queria que você ficasse segura e longe de Snape, em memória de sua mãe. Tive medo, também, que você fosse como ele. E você é pior, porque você está dos dois lados.'

'-Você simplesmente não podia ter feito isso, sua bruxa maluca!' – Serena gritou, aproximando-se perigosamente de Minerva.

'-Era melhor que você ficasse lá, com os trouxas onde havia crescido.' – McGonagall disse – 'E não fale assim comigo, Srta. Serena. Serei obrigada a descontar...'

'-Desconte quantos malditos pontos da minha Casa você quiser, mas ninguém tem mais direito de falar assim com você do que eu. Você não tinha direito de mexer com a minha vida!' – Serena urrou, com raiva – 'E tudo debaixo das barbas de Dumbledore?'

'-Sim, de dentro do castelo. Você nunca compreenderá, Serena, mas o melhor para você e para sua segurança era que você tivesse ficado no orfanato.'

'-Sem saber de onde eu vim e o que raios era aquela magia que eu lia em livros e se manifestava em mim? Sem conhecer Hogwarts? Francamente, McGonagall.'

'-Você estaria longe da ameaça que Snape é e representa e não estaria enfiada no meio de tudo isso.' – Minerva disse, séria – 'E eu ainda sou sua professora, Serena.'

'-Garanto que quando Voldemort estiver aqui não haverá distinção.' – foi a última coisa que disse antes de sair furiosa do escritório de McGonagall batendo a porta com força em demasia.

'-Sua mãe iria querer que você estivesse viva!' – Minerva gritou para Serena, com a voz trêmula.

~"~

Aquilo pegara Serena de surpresa mais do que qualquer coisa na vida. Tinha até mesmo esquecido da história das cartas interceptadas. Aquilo só poderia ter sido feito mesmo de alguém de dentro de Hogwarts, de forma a não serem enviadas ao destinatário.

Ela não acreditava. McGonagall era uma que ela descartaria imediatamente da lista. Sempre achou que a professora nem ao menos notasse realmente a existência dela e fora ela quem justamente mudara sua vida para sempre.

E ela sentia uma raiva sem limites. Culpara os pais, por muitos anos, por terem-na abandonado num orfanato trouxa. Depois, quando soube da verdade, culpara Snape. Agora tudo aquilo era direcionado à Minerva McGonagall, uma professora que mal sabia de sua vida e tinha feito a maior decisão dela.

Não importava se McGonagall fora ou não amiga de Alexia, ou qual fora o motivo. Ela, definitivamente não tinha esse direito. Quando Serena contasse a Snape...

Ela cochilou por um tempo e quando acordou, mais calma, decidiu que não contaria ao pai – nem a ninguém – pelo menos por hora. Já estavam acontecendo coisas demais, e Snape ficaria furioso, assim como ela. E misturar Comensais no castelo e a fúria do pai não era exatamente o que a garota tinha em mente no momento.

E, tomada a decisão, Serena deitou novamente a cabeça no travesseiro, desta vez para um sono restaurador naqueles tempos de sombra e solidão.

~"~

As aulas voltaram ao normal após os feriados, mesmo com Comensais circulando por Hogwarts. Serena fora convidada para passear pelos jardins por inúmeros garotos, e quando a visita à Hogsmeade se aproximava o número apenas aumentou, deixando um Draco Malfoy com os nervos úmero apenas aumentou, deixando um Draco Malfoy com os nervos em estado lastimável.

'-Malditos...' – Malfoy deu um soco na mesa – 'Malditos' – outro soco – 'Malditos' – e mais um.

'-Se sua intenção é quebrar a mesa da Sala Comunal, vá em frente. Mas se é ter a Snape de volta, sugiro que você parta para outra tática, Draquinho.'

'-Argh, Blaise! Que tática? Volte 'pra mim, Serena, e me perdoe por querer que você me visse com Pansy para que você terminasse comigo porque eu sou um covarde idiota?' – Draco disse, de uma vez só, como se estivesse falando com Serena.

'-É um bom começo, meu caro amigo da cabeça oca.' – Blaise comentou, cruzando os braços – 'E por que foi mesmo que você fez isso?' – o sonserino balançou a cabeça, como se o loiro fosse completamente estúpido.

Draco sentou num sofá verde musgo e apoiou a cabeça nas mãos. Suspirou e, por fim, mirou Blaise – 'Eu estava com medo porque também já estava há tempo demais com Serena... E estava começando a realmente gostar dela de um jeito diferente, diferente de tudo. Eu não consigo explicar' – ele admitiu – ' E, naquela noite, na festa de Halloween, ela estava tão bonita e era tão minha que eu fiquei com mais medo, porque se ela me chutasse nos próximos dias, meses ou anos eu ficaria acabado.'

'-Então... Você simplesmente decidiu que a chutaria primeiro?' – Blaise concluiu, sem entender. Aquilo não fazia o menor sentido.

'-Sim, mas depois decidi que daria um motivo para ela me chutar, porque eu não teria coragem. Pensei que era melhor que isso acontecesse agora, que eu a esqueceria...'

'-Cara, sai dessa' – Zabini riu de deboche, mostrando os dentes impecavelmente brancos – 'Você não viu o que aconteceu comigo depois de terminar com a Eliza? No final, nós somos dois bundões que perderam as garotas mais bonitas de Hogwarts.' – comentou ele, fazendo novamente uma conclusão sábia.

'-Argh, Blaise, e agora aqueles idiotas ficam convidando-a para sair, para Hogsmeade, para isto e para aquilo e ela apenas dá um sorrisinho! Maldita seja Serena Snape e seus admiradores!' – ele gritou para o ermo Salão Comunal.

'-Foi você quem a deixou livre, Draquinho... É normal que ela voe para outros meninos agora.'

'-Você nem para ajudar, Zabini, nem para isso você é útil!' – ele bradou, franzino – 'Você deveria estar na mesma fossa que eu, seu palerma! Eu soube que a Duncan vai com um corvinal para Hogsmeade.'

'-Você acha que não sei? Só que diferentemente de você, já pensei no que fazer.' – ele arqueou uma sobrancelha sacana e marota para o amigo, que riu – 'Acho bom você mexer essa sua bunda loira e seguir meus passos.'

~"~

Serena, apesar de todos os convites que andava recebendo – dos quais duvidava, pois nunca houvera tantos rapazes no seu pé antes – sentia-se solitária. Eliza continuava fingindo que elas não compartilhavam o mesmo dormitório, Snape estava ocupadíssimo com a nova função e agora era preciso mais discrição do que nunca para falar com o pai, e Blaise acompanhava Malfoy na maior parte das vezes.

Agora, muito mais sonserinas falavam com ela e ela era bastante respeitada no Salão Comunal, até Felícia Conrad trocava ou palavra ou duas com ela no dormitório vez ou outra. Não era falta de pessoas ao seu redor.

A solidão vinha de um lugar mais fundo.

Talvez tão fundo quanto o fundo do poço que Serena atingira.

Permitiu-se deitar na neve como fizera uma vez, antes do Baile de Inverno e suas conseqüências, quando ela ainda não tinha certeza de seu pai, de sua família e de nada. O frio corou ainda mais as bochechas rosadas e cobriu de pontinhos brancos o cabelo negro.

Serena se encaixava ali, talvez no gelo fosse onde ela pertencesse.

Talvez Malfoy estivesse certo, e talvez ela fosse mesmo uma princesa de gelo.


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Notas finais do capítulo

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