Loves Ways escrita por lollyb


Capítulo 16
Nova perspectiva


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou eu novamente, pessoal... BEM atrasada, eu sei. Perdoem-me, mas eu estava tendo um problema gigaaaaante com os arquivos dessa fic. Agora parece que finalmente consegui consertá-los e vou começar a postar com frequência de novo, prometo. Esse é um capítulo que eu gosto muito... Vocês vão ver, vai valer à pena ;)



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Serena e Elizabeth acomodaram-se em uma das últimas cabines disponíveis do Expresso Hogwarts, sendo seguidas logo mais por um Blaise Zabine ligeiramente atordoado pela confusão. A loira ainda travava impacientemente uma luta com seu malão nos bagageiros da cabine, tentando fazê-lo entrar de qualquer maneira, mas estava abarrotado demais. Enquanto assistiam a luta aos risos, Serena e Blaise acomodaram-se lado a lado, de forma a não perder nenhum gritinho ou soco direcionado a pobre mala.

Quando, finalmente, Eliza limpou as mãos em um gesto de vitória, acomodou-se nos assentos de fronte a Blaise, no canto da janela. O casal conversou descontraidamente até o trem finalmente ganhar velocidade e deixar a pequena estação, rumando para King's Cross. Serena apenas prestava atenção à paisagem que começava a mudar, sentada confortavelmente, quando a porta da cabine abriu-se barulhentamente.

Draco Malfoy entrou arrastando um malão ligeiramente vazio, os cabelos bagunçados e a gravata frouxa.

'-Cabe mais um aqui?' – perguntou, recebendo um aceno de cabeça de Blaise e Eliza, que se acomodou um pouco mais para o canto, dando espaço para o colega sonserino.

O loiro jogou o malão para cima sem cerimônias, acomodando-o facilmente ao lado do de Eliza e em seguida sentando-se displicentemente na frente de Serena, que ignorava a cena como se o dia lá fora estivesse extremamente bonito. Draco deu um pigarro arrogante e passou a encarar a janela também, ao invés dos tentadores olhos azuis.

Elizabeth logo cochilou recostada à janela, Blaise remexia em uma caixa de ferramentas para polir vassouras, aparentemente a procura de algo, levando um manual de instruções na outra mão. Serena lia um livro qualquer que achara no fundo do malão enquanto o arrumava na esperança que a distraísse o suficiente durante a viagem.

Draco Malfoy não parecia o mesmo do começo do ano letivo. O porte arrogante e a língua afiada deixaram poucos vestígios, assim como sua polidez habitual, tanto nas vestes quanto no cabelo. Parecia cansado e mais velho, como se em quatro meses tivesse vivido longos anos e travado longas batalhas, as olheiras fundas ao redor dos olhos evidenciavam noites mal dormidas e o nariz fino e arrebitado, geralmente empinado, agora cabisbaixo mostrava que o garoto tinha outras preocupações.

Tampouco nenhum de seus colegas sonserinos notou. Serena adormecera em uma posição estranha com o livro nas mãos, levemente recostada a Blaise, e ninguém notou quando o carrinho de doces passou por eles.

Serena acordou e espreguiçou-se lentamente, notou que Eliza ainda dormia, e um Blaise semi-adormecido fitava a janela. Pegou o livro que caíra no chão e acomodou-se novamente no banco, agora de frente para Malfoy, que a fitava com algum interesse. A garota sustentou o olhar, tentando ameaçá-lo de alguma forma, e Draco desviou os olhos para a porta fechada da cabine, evitando o olhar gelado que recebia.

Pouco tempo depois, Serena partiu para o banheiro, de forma a trocar suas vestes de escola por roupas trouxas normais. Quando retornou a cabine, todos estavam acordados e agora Eliza ocupava seu lugar ao lado de Blaise, envolvida por seus braços, os três conversando monotonamente, e Serena foi obrigada a sentar-se ao lado de Malfoy, no canto da janela.

A estação de King's Cross logo apareceu pela janela, e com isso uma multidão de estudantes lutando para sair do trem, ou ao menos acenar para seus pais que esperavam do lado de fora. Uma aglomeração de corvinais e grifinórios deixou o trem primeiro, seguidos pelos lufa-lufas e alguns sonserinos, por último saíram os quatro ocupantes sonserinos, entediados e irritados com a confusão.

Serena foi a última estudante a deixar o trem, seu coração martelando no peito, mas sua expressão gélida como sempre.

A garota acenou para Eliza e Blaise, que saiam de mãos dadas procurando seus pais. Malfoy desvencilhou-se logo, e juntou-se ao pai, que o esperava. Serena, se não estivesse em juízo perfeito, teria partido para cima dos dois do modo trouxa ali mesmo.

Caminhando sozinha com seu malão, Serena deixou a agitada plataforma 9 ¾ sem ser notada, rumando à plataforma 7, onde Snape a esperava. Como o homem dissera, não haveria ninguém naquela plataforma àquela hora, e poderiam caminhar tranqüilos.

Encontrou-o mais que rapidamente, a figura de negro fitando o trem parado e a falta de circulação de pessoas naquela área. Andou, então, até ele e foi recebida com um leve menear de cabeça.

'-Fez boa viagem?' – perguntou Severo displicente.

'-Sim, senhor, professor.' – respondeu a menina, um tanto confusa com sua nova situação.

'-Vamos, então, pois sim?' – disse, tomando o malão das mãos da menina e seguindo para a entrada da estação, discretos todo o caminho.

Tomaram um taxi para o subúrbio de Londres, Serena admirando a paisagem já esquecida da grande cidade. O caminho, por mais longo que fosse, pareceu demorar um piscar de olhos e lá estavam os dois, de frente ao orfanato mais uma vez, naquela viela escura e mal cuidada.

Serena teve ímpeto de sair correndo, olhou para baixo evitando não desmoronar ali mesmo. Snape então a segurou firme pelo braço, fazendo-a olhar para ele.

'-Está tudo bem.' – ele murmurou – 'Nós já vamos embora.'

A expressão de desespero amenizou levemente, e Severo passou um braço ao redor dos ombros da garota em uma tentativa desesperada de fazê-la sentir-se melhor.

Juntos adentraram o edifício antigo de cinco andares, exatamente como tinham feito quinze anos antes, quando Serena era somente um bebê recém-nascido.

Serena desvencilhou-se delicadamente do braço do pai, quando reconheceu uma das madres que trabalhava lá, e escondeu-se atrás de Severo.

'-A menina que foi para aquela escola de feiticeiros adoradores de Satanás! Livrai-nos dela, Senhor! Livrai-nos da magia negra que ela tenha feito, perdoa-a, Senhor, e traz de volta a teu rebanho!' – gritou uma das madres, mostrando o crucifixo aos dois.

Severo ignorou-a e foi direto a madre Superiora que agora tinha a direção do orfanato. Entregou a ela os documentos da guarda recém adquirida de Serena e mandou que atestasse sua ciência diante daqueles papéis.

Ela o fez sem qualquer indagação e entregou os documentos de volta. Snape ainda deixara uma via de todos os papéis para que ela arquivasse e para que ninguém nunca questionasse nada sobre o caso de Serena.

'-Qual era o quarto em que ela ficava? Viemos buscar suas coisas.' – perguntou, direto.

'-Quarto 8, senhor. Peça a chave à irmã Dolores, o quarto está trancado, as meninas estão na escola.'

Snape somente acenou para a madre Superiora e em cinco minutos tinha a chave em seu poder e Serena em seu encalço subindo as escadas para o quarto andar.

Sete camas desfeitas se mostraram quando a porta se abriu. Havia apenas uma delas feita, esquecida no canto da janela.

Serena respirou fundou e entrou pela última vez naquele quarto. Puxou um cordão comprido do pescoço, que levava uma chave, e abriu o minúsculo roupeiro de uma só porta que havia ao lado da cama, como em todas as outras sete.

Severo espiou pela janela a abominável paisagem do subúrbio de Londres. Era tudo o que Serena havia visto desde bebê. A garota notou o olhar de Snape para a janela, e lembrou-se, com pesar, de todas as noites que passara olhando para ela, desejando que por algum milagre alguém viesse e a tirasse dali.

Mas ninguém nunca veio, não até aquele momento. As meninas do quarto iam e vinham, a maior parte delas era adotada assim que chegava, ou era transferida para um Lar no centro da cidade. Nunca Serena, e ela não entendia o porquê.

Acomodou as poucas coisas que ainda restavam ali no malão, o pequeno baú deixado por Snape fora a última coisa a ser guardada antes que o roupeiro estivesse vazio e o malão fechado.

'-Pronto?' – perguntou, e Serena acenou com a cabeça, levantando-se do chão e arrastando seu malão rumo a porta – 'Não há ninguém de quem você queira se despedir?Não? Nenhuma amiga?' – Serena acenou negativamente.

'-Nunca tive nenhuma amiga mesmo aqui. As meninas sempre mudavam, sempre eram adotadas ou transferidas antes que pudéssemos realmente conversar.'

A sensação de rejeição por nunca ter sido adotada tomou conta dela como não tomava em anos. Snape, percebendo o pesar da garota, declarou:

'-Você sabe porque nunca foi adotada não é, Serena?'

A garota não respondeu, apenas mordeu o lábio inferior e o encarou.

'-Serena, por favor, você não achou mesmo que ninguém nunca quis adotá-la nesses anos todos, não é? Você sempre foi uma criança muito bonita, e era um bebê quando chegou aqui. As chances de ser adotada tão logo quanto chegasse beiravam a cem por cento.' – a garota fitou-o, confusa – 'Eu expedi um documento, uma condição para que você ficasse aqui, Serena, e a condição era não ser adotada, porque você iria para Hogwarts quando completasse onze anos.'

Ela abriu a boca para responder, mas desistiu, apenas ergueu as sobrancelhas e fitou o chão. Snape, notando o embaraço dela a guiou até a porta do quarto e desceram as escadas em silêncio, ambos refletindo.

Serena cruzou a porta de entrada do orfanato sem olhar para trás, deixando todo o passado doloroso lá. Snape a guiara todo o caminho da saída, uma mão protetora em suas costas.

Quinze anos depois Severo estava consertando o erro mais estúpido de sua vida, deixando aquele lugar horrível na Londres trouxa para trás, mas desta vez levando sua menina consigo, aparatando junto com ela no mesmo beco escuro que aparatara sozinho quinze anos antes.

Aparataram frente a um majestoso portão de ferro que permitia-lhes ver a extensa propriedade. Serena pensou até mesmo que estivessem na famosa mansão de Wiltshire, porém sabia que Snape jamais a levaria até lá.

Observou-o tirar a varinha das vestes e encaixá-la ao portão, que abriu com um clique metálico.

'-Mais tarde me lembre de ligar sua varinha ao portão, para que você possa entrar e sair quando quiser. Eu não estava mentindo quando falei que minha casa não seria uma prisão.' – disse, entrando e inclinando a cabeça para que Serena fizesse o mesmo, porém ela não saíra do lugar.

'-Esta é a sua casa?' – perguntou, atônita – 'Você não me disse em momento algum que morava em uma mansão.'

'-É apenas uma casa grande, Serena, pense assim. Nada disso é obra minha, apenas está na família há algum tempo, e, além disso, faz muito tempo que eu não fico realmente por aqui.'

Serena ainda estava impressionada, mas fez o que era mandado e adentrou nos jardins da mansão Prince, agora secos pelo inverno. Caminharam por uma extensa trilha de pedras circulares que levava ao gramado seco próximo à residência. A garota notou uma estufa próxima da casa, onde era possível ver flores de todas as cores que não se abalavam com o rigoroso inverno inglês.

'-Hum, Snape?' – a garota chamou, tirando-o de seus devaneios.

'-Sim, Serena?'

'-Se faz tempo que você não vem aqui, como a mansão é mantida?'

'-Os elfos domésticos cuidam de tudo para mim.' – respondeu simplesmente, fitando os pés enquanto caminhava.

'-Como os de Hogwarts? Achei que só existissem por lá...' – comentou, distraída com as árvores secas ao redor da propriedade.

'-Existem elfos que trabalham para famílias antigas, como a família Prince, e pertencem a família para fazer todo tipo de trabalho doméstico.'

Serena concordou e continuou caminhando atrás de Snape. Se a mansão parecia grande vista por portão de perto era gigantesca. A construção era majestosa e imponente, com uma longa escadaria e um portal de entrada de mogno, ouro e cristal. A garota nunca tinha visto nada tão bonito em sua vida, nem mesmo os antigos monumentos de Londres se comparavam com a beleza antiga e refinada da mansão Prince.

'-Bem vinda em casa, Serena.' – Snape disse, dando-lhe um empurrãzinho para que fosse a primeira a adentrar o ambiente.

O interior contrastava gritantemente com o exterior, observou Serena. As paredes da sala de estar eram claras, e os móveis eram adornados com alegria e bom gosto, pareciam bem mais novos que a construção. Havia um ou outro objeto antigo, mas todo o resto da sala parecia ser quente e cativante, não de uma beleza fria e pálida como o exterior.

Havia uma enorme lareira em canto da sala, e a garota aproximou-se com cuidado. No console, diversos porta-retratos abrigavam fotos de Alexia e do casal, em uma delas Alexia estava tentando fazer o marido sorrir, e Snape a observava com ar mortífero, outra deveria ter sido tirada no dia do casamento, já que uma noiva ruiva sorridente limpava as lágrimas enquanto Severo a admirava e sorria de leve. Outra foto mostrava os dois em Hogwarts, provavelmente em um baile, pois Alexandra trajava um lindo vestido azul e Snape roupas de festa; nesta foto a ruiva estava surpreendentemente feliz enquanto bailava com o marido, e este ostentava uma carranca.

A foto que mais lhe chamou atenção estava meio escondida entre as demais, e mostrava os pais extremamente jovens, abraçados.

Serena, após ver as fotos, deu atenção ao resto da sala de estar. O sofá claro era baixo e parecia ser extremamente confortável, havia uma refinada mesa de centro de vidro, uma estante com diversos livros, além de todo o resto da decoração jovial que não combinava com Severo.

A sala de estar era comum com a de jantar, que abrigava um luxuoso conjunto de jantar, assim como uma cristaleira. Entre as duas salas, uma longa e pomposa escada surgia, os degraus de baixo mais largos, se afinando nos de cima, com longo corrimão de prata.

Pelo que Serena podia ver dali, a enorme sala de jantar dava na cozinha, separadas por uma portinhola. Serena, após o momento de observação, virou-se para a porta e viu Snape encarando-a.

'-E então?' – ele perguntou, descontraído – 'Gostou?'

'-É maravilhosa.' – Serena disse somente, seus olhos ainda especulando sua nova casa – 'Posso te perguntar uma coisa?'

'-Certamente que sim' – respondeu com um aceno de cabeça

'-Por que fazia tempo que o senhor não vinha aqui?' – perguntou, curiosa, olhando para as escadas que levavam ao andar de cima, e para a varanda interna que havia no segundo andar, de onde podia-se enxergar as salas de estar e jantar.

'-Alexia era quem preferia vir para cá nas férias e feriados, eu venho somente quando não há nada a ser feito em Hogwarts desde a morte dela.'

Então eles haviam morado mesmo ali, como um casal feliz, pensou Serena, e observou que a decoração da sala provavelmente era obra de Alexia.

'-Quer conhecer o andar de cima?' – perguntou o homem, já subindo os primeiros degraus, a garota seguiu-o displicentemente.

Serena conheceu a enorme área de lazer do segundo andar, uma varanda gigantesca repleta de pufes, sofás e redes sofisticadas, que tinha vista da traseira da propriedade. Em um dos quartos Serena soube que havia uma sauna e uma jacuzzi.

'-Serena' – Severo chamou, prestes a abrir a porta de um dos vários quartos da mansão – 'pedi que os elfos preparassem esse quarto para você, é seu, você pode fazer quantas mudanças quiser. Um dia iremos ao Beco Diagonal e você pode escolher mais coisas para ele.'

Snape abriu a porta e Serena deparou-se com o quarto mais bonito que já havia visto. Havia uma gigantesca cama de casal com dossel, janelas que cobriam quase toda a parede que dava para os fundos da casa e que abertas levavam até a varanda, adornadas com uma cortina clara e leve, um roupeiro cinza claro, e uma lareira de fronte para a cama, assim como uma escrivaninha arrojada e duas poltronas. Tudo no quarto variava do cinza clara para o verde, com alguns detalhes prateados, evidenciando a influência sonserina.

Serena adentrou o cômodo e mirou-se em um espelho que ia do chão ao teto. Era tão estranha aquela nova realidade.

'-Snape, eu não precisava de um quarto tão grande.' – ela disse, não em tom de reclamação, mas sim estupefata.

'Você pode escolher outro, se quiser, temos vários quartos vazios, mas achei que iria gostar desse em especial porque Alexia o tinha escolhido para você.' – ele declarou, dando de ombros.

'-Tudo isso, tudo isso é magnífico' – ela exclamou, indo até a janela – 'Eu não sabia que sua família era assim, importante.' – ela exclamou, confusa, admirando o que parecia ser um campo de quadribol mais à frente no gramado.

'-Não é importante, Serena, é apenas tradicional.'

Serena deu de ombros – 'Nunca imaginei que o senhor morasse em um lugar como esse, Eliza me falava que o senhor sempre permanecia na escola durante os feriados. Por que professor?'

'-Doía demais voltar aqui sem Alexia' – ele declarou simplesmente, fitando a enorme janela aberta, a carranca ainda fixa, mas a voz suave – 'Agora vou deixar-te para arrumar suas coisas, os elfos já devem ter trazido seu malão para cima. Estarei em meu quarto, ajeitando também as minhas coisas, caso precise de mim. Os elfos estão preparando alguma comida, você deve estar com fome; podemos descer para comer depois que tudo estiver arranjado.'

Serena concordou com a cabeça e notou que seu malão tinha sido deixado na porta do quarto. Arrumou vagarosamente suas coisas na esperança de que tudo se tornasse mais real, o grande roupeiro ficou quase totalmente livre, já que as coisas de Serena eram realmente poucas, portanto o trabalho não foi demorado.

A garota abriu a porta dupla que levava até o banheiro e admirou-se com um enorme espelho e uma banheira requintada. Parecia-se com as suítes dos filmes trouxa que Serena costumava assistir no orfanato. Decidiu-se por tomar um banho antes de comer, precisava tirar a poeira da viagem e pensar um pouco para tentar assimilar todas as coisas novas.

Surpreendeu-se com a maciez das toalhas brancas que haviam sido deixadas no banheiro, e vestiu o roupão branco que estava pendurado atrás da porta.

Em um momento de infantilidade, atirou-se na enorme cama nova, alta e macia. Tudo aquilo era seu, por direito, ela quase não conseguia acreditar. Era tão lindo ver a paisagem invernal da janela de seu quarto, ao invés das ruas imundas do subúrbio.

Serena colocou uma roupa quente e limpa, secou os cabelos com ajuda de magia e, por fim, desceu as magníficas escadas rumo ao andar térreo, sem saber bem o que fazer em seguida.

Severo Snape estava acomodado confortavelmente em uma cadeira na ponta da mesa repleta de comida, lendo 'O Profeta Diário' com desgosto evidente.

'-Sente-se, Serena' – ele sugeriu, indicando a cadeira ao seu lado quando notou a presença da garota.

Ela o fez, displicente, e viu um exemplar do 'Semanário das Bruxas' logo abaixo do jornal, segurou o riso, o que não passou despercebido por Snape. Ele encarou-a, sério, ao notar a pequena risada de deboche. Serena calou no mesmo momento e olhou para ele, temerosa.

'-É bom manter-se informado.' – foi a única coisa que ele lhe disse. A garota suspirou, aliviada, agora notando a grande quantidade de comida na mesa, reservada somente para os dois.

Severo fez o jornal e a revista levitarem até um elegante aparador, aparentemente ele estivera esperando a filha para a refeição. O homem serviu-se e indicou para que Serena fizesse o mesmo.

Comeram fartamente, e com um estalo um pequeno elfo doméstico apareceu para retirar a mesa. Snape contou a menina que a cozinha onde essa comida era preparada e o alojamento dos elfos ficava no andar subterrâneo, e Serena ficou curiosa para conhecer toda a propriedade.

Em dois dias Serena havia conhecido o terceiro andar da mansão, o sótão, tinha visitado o campo de quadribol, a enorme piscina da propriedade, os jardins secos, uma área de lazer externa e até mesmo a cozinha subterrânea da qual Severo havia falado.

'-Hum, Snape, onde nós estamos, exatamente? Isso aqui não parece Londres...'

'-Estamos no condado de Hampshire, ainda é na Inglaterra.' – ele respondeu somente, desviando de um pergaminho que lia atentamente.

Serena concordou e rumou para a porta, ainda indagando mentalmente sobre o lugar.

'-Está de saída?' – perguntou Severo, encarando-a enquanto abria a porta – 'Leve uma capa, o dia está realmente frio.' – aconselhou ele, indicando uma porta semi escondida próxima a porta principal – 'Ali, no armário, pegue uma.'

A garota obedeceu, intrigada com a preocupação de Snape, seguindo para a estufa que tinha-lhe chamado a atenção logo que chegara à Mansão Prince.

Severo observara Serena deixando a casa, a capa avermelhada que ela escolhera esvoaçando com o vento. Naqueles longos quinze anos nunca imaginou que sua menina estaria em casa, com ele, como uma pequena família.

Pensou em Alexia, e em como ela estaria feliz com isso. Fazia exatamente quinze anos desde que ele e a esposa estiveram ali, juntos, pela última vez, naquele feriado de natal antes do nascimento de Serena.

Flashback on-

Severo e Alexia desciam a escada para o andar térreo juntos, a esposa enganchada no braço do marido, verdadeiramente feliz por estar em casa, e o homem carrancudo, o cenho franzido.

Abruptamente Alexandra o parou no meio das escadas, ficando um degrau acima dele, deixando-os quase da mesma altura.

'-Amor' – ela disse, a voz arrastada e brincalhona, suavizando as linhas de expressão da testa do marido com suas mãos pequenas – ', nós estamos em casa.'

Ele franziu o cenho mais uma vez, apercebendo-se do que ela queria mesmo dizer. Eles estavam em casa, ele não precisava manter aquela carranca que sustentava em Hogwarts, na frente dos outros.

Admiravelmente, Severo olhou para ela e sorriu, um sorriso cansado, mas verdadeiro. Puxou-a para mais perto e colou os lábios carinhosamente.

'-Somos só você e eu aqui, querido.'

Ele então afagou as madeixas ruivas e suspirou, carregando-a até o andar térreo com um pouco de esforço.

'-Você está pesada.' – ele torceu o nariz.

Alexia sorriu, ainda no colo do marido '-Eu estou grávida, Sev. Me espantaria se você não dissesse isso.'

Ele balançou a cabeça, concordando com a afirmativa. Alexandra deixou os braços dele cuidadosamente e o puxou pelas mãos até a sala que ela mesma havia decorado.

'-Alexia, eu ainda tenho coisas a resolver...' – ele disse, tentando levantar-se do sofá, mas mãos delicadas o seguraram.

'-Severo, só um pouco, por favor...' – ela pediu, olhando tentadoramente – 'Em Hogwarts nós já não podemos ficar juntos, por favor, amor.'

'-Está bem, está bem.' – ele considerou e puxou a esposa para seu colo, a barriga já proeminente não os permitindo ficar tão perto quanto gostariam.

'-Você está preocupado... Ainda é sobre os Potter?' – Alexia perguntou com certa tristeza na voz, enrolando o cabelo do marido na ponta dos dedos e olhando em seus olhos.

'-Sim, nada está resolvido ainda... Dumbledore precisa de mim.'

'-É uma lástima... eles eram mesmo tão jovens!' – ela exclamou visivelmente abalada com o ocorrido – 'E Harry? Para onde o mandaram?'

'-Hagrid levou o menino para os tios, junto a Alvo e Minerva.' – ele também falava com pesar.

'-Lily ficaria doida. Ela e a irmã nunca se deram bem.'

'-Era a única opção.' – Severo disse, dando de ombros.

Alexia recostou-se o quanto a barriga permitia no marido e ali ficaram, abraçados. Severo deu um beijo rápido na testa da esposa e pensou no que tinha que fazer; talvez tudo poderia ser adiado para depois do feriado. Naquele momento eram ele e Alexia. E só.

–Flashback off-

Severo suspirou e subiu para seu quarto, rumando para o laboratório que tinha ligação com ele. O homem ouviu o soar da aldrava do portão, o som magicamente ampliado para que pudesse ser ouvido em todos os cômodos da casa, e partiu ligeiro para as escadas, encontrando com a filha no trajeto.

'-Serena, vá para seu quarto e não saia de lá até que eu a chame, está certo? Ninguém pode saber que você está aqui.'

A garota concordou, confusa, e seguiu para seu quarto.

Severo abriu a porta para as visitas, depois do longo caminho até o portão. Narcisa Malfoy entrou com seu porte altivo e sentou-se sem cerimônias no sofá claro da sala de estar, visivelmente nervosa. Draco Malfoy seguiu seu padrinho na entrada, mas não sentou-se como a mãe.

'-Diga, Narcisa, o que traz sua ilustre figura até mim?' – perguntou, tentando desvendar nos olhos da mulher.

'-Eu preciso falar com você, Severo, e é de máxima urgência, senão eu lhe teria mandado uma coruja antes de vir. Draco veio comigo porque queria ver o padrinho antes do natal.'

Severo deu tapinhas nas costas do afilhado e indicou-lhe o sofá para que se sentasse.

'-Hum, tio Severo, prefiro usar o banheiro antes de me sentar' – disse, caminhando rumo ao conhecido banheiro do andar de baixo.

'-Então use o do andar de cima, Draco, para que eu e sua mãe possamos conversar a sós e em paz. Visite a minha biblioteca depois, faça o que quiser lá em cima, eu mando lhe chamar quando acabarmos por aqui.'

Draco sabia que havia um banheiro no andar superior, já havia entrado lá uma vez, mas eram tantas portas que ele estava confuso sobre qual abrir. Testou uma, era um quarto vazio. Ele sabia que a mansão mantinha muitos quartos, e sabia também que o padrinho morava sozinho, então não havia problema algum.

Testou mais uma. Outro quarto. Draco já estava se irritando e quase gritou para que o padrinho mostrasse a porcaria da porta do banheiro. Respirou fundo e testou mais uma. Abriu-a com um estrondo, revelando uma jovem deitada na cama com um livro grosso na mão. Ela assustou-se e subitamente pulou da cama, ficando de pé.

'-Snape?' – ela perguntou, aproximando-se para ver quem entrara sem bater.

Draco Malfoy estava estagnado na porta, analisando Serena Snape incrédulo. O que aquela insolentezinha estava fazendo na casa de seu padrinho?

'-Malfoy? O que você pensa que está fazendo aqui?' – ela indagou, encarando-o arrogante e debochadamente.

Draco estufou o peito e gritou por seu padrinho, fazendo um alarde. Serena corria atrás dele, gritando insultos.

'-Severo, você deve estar ciente da missão que Lord incumbiu a Draco.'

'-Certamente que sim, Narcisa.'

'-Eu estou com medo, Severo. Se Draco falhar... não sei o que Lord poderá fazer a ele, ou a mim e a Lúcio. Eu preciso que você me diga, Severo, que você jure, que completará a missão se ele não conseguir.'

'-É tarefa dele, Narcisa, você sabe que Lord não perdoará a falha.'

'-Eu sei, Severo, eu sei... Mas eu temo que Draco não consiga realizar, é arriscado demais... E preciso estar certa de que se ele falhar haverá alguém que o fará por ele. E você é a pessoa em quem eu mais confio para isso, eu confiei meu filho a você quando ele nasceu e o confio novamente agora. Você é um dos servos mais leais de nosso Lord, Severo, e é também o amigo mais próximo de meu marido.'

'-Está bem, Narcisa.' – ele disse por fim – 'Eu prometo que o farei.'

'-Então jure, Severo'

Eles apertaram o antebraço um do outro, prestes a realizar o Voto Perpétuo, quando dois adolescentes desceram as escadas correndo e gritando.

Os dois adultos na sala rapidamente viraram-se e deram com Serena e Draco. O rapaz correu até a mãe e o padrinho, indignado, mas parando de frente a eles, quieto depois do olhar reprovador que ganhara de Snape.

Serena estacou no pé da escada ao notar Narcisa Malfoy ali, com seu pai. Ela não deveria ter descido.

Narcisa Malfoy admirava a menina com espanto. Não estava Severo sozinho?

'-Tio, o que essa garota está fazendo aqui?' – Draco apontou Serena, incrédulo e ainda mais pálido que o habitual.

'-Narcisa, conheça Serena Snape, minha filha.' – declarou Snape, ignorando a pergunta do afilhado.

A mulher surpreendeu-se e levantou-se num salto, se aproximando de Serena para vê-la melhor. A garota não se movia.

'-Mas, Severo como? Alexandra se foi há tanto...' – ela interrompeu-se – 'Oh, não. Ela é mesmo parecida com a mãe. Onde a manteve durante este tempo todo?'

'-Ela foi criada com trouxas, Narcisa. Sei que você deve compreender os motivos.'

'-Sim, sim.' – ela avaliou maternalmente –'O Lord não pode exigir o que não sabe que existe, não é, meu caro?'

Severo acenou calmamente, indicando que ela estava certa.

'-Escolha esperta, Severo, muito esperta.'

Draco estava boquiaberto, e estava irritado por não entender a conversa entre a mãe e o padrinho.

'-O que está acontecendo aqui?' – o rapaz bradou – 'Como o meu padrinho pode ter uma filha que nós não conhecemos, mãe? E por que a senhora está falando como se fosse plenamente normal?' – ele disse, irritado, olhando da mãe para o padrinho, ambos com feições calmas – 'E justo ela na sonserina inteira, tio, tinha que ser sua filha?'

'-Draco, recomponha-se e por favor não insulte minha filha.' – pediu Severo, sério e rígido.

Narcisa ignorou o filho e voltou-se para Severo – 'Seria mesmo uma perda muito grande, mulher e filha, ao mesmo tempo. Fico feliz que a menina tenha sobrevivido.' – declarou a mulher, docemente.

'-Você já foi casado, tio?' – Draco indagou, tentando se controlar após o ataque de nervos.

'-Pois sim, Draco.'

'-Como meu pai nunca comentou nada?'

'-Simples. Seu pai nunca soube.'

'-Mãe, como você sabia?' – Draco tentou, incapacitado de entender a loucura daquela situação.

'-Eu e Alexandra freqüentamos a escola no mesmo ano e nos dávamos bem, apesar de eu ser sonserina e ela grifinória. Ela era de uma importante família de sangue puros, por isso seu pai não se incomodava com nossa amizade.'

Draco assentiu, desorientado ainda.

'-Olá, meu bem.' – Narcisa aproximou-se de Serena, que continuava estática ao pé da escadaria, admirando a beleza da menina.

'-Oi, sra. Malfoy.' – Serena respondeu baixo, encarando os olhos claros da mulher.

'-Sinto em dizer que a única coisa que a menina herdou de você foram os cabelos, Severo.' – Narcisa brincou, virando-se para Snape.

'-Agora, Narcisa, também precisarei de um favor seu. Lúcio, e muito menos Lord das Trevas, podem saber da existência de Serena. Jamais. Você não poderá falar ou sugerir a alguém que ela tem alguma ligação comigo, tampouco Draco.' – Snape disse, sério, acabando com a sutileza do momento.

'-Está certo, Severo. Talvez eu tivesse feito o mesmo que você fez com Serena com Draco, se tivesse tido a chance.'

Deram as mãos novamente e duas chamas irradiaram e cruzaram o braço de ambos, selando o Voto Perpétuo. Juraram pela vida, e então estava feito.

Draco e Serena olharam somente, abismados, os pais protegendo a vida deles com as próprias vidas. Dali nascia um laço forte entre as duas famílias.

'-Tio, eu simplesmente não acredito que ela é sua filha!' – disse Draco, soando como uma criança mimada.

Snape deu de ombros e convidou a todos para o chá que os elfos serviam.

'-E então, querida?' – perguntou Narcisa após um gole de chá – 'Interferiu muito ter entrado em Hogwarts no quinto ano? Você já terá de prestar os exames no fim do ano, não é mesmo?'

'-Não muito, sra. Malfoy' – Serena respondeu, percebendo que Draco a encarava enquanto ela respondia – 'Os professores dizem que estou acompanhando muito bem a minha turma.'

'-E você gosta de Poções, como seu pai?'

'-Ela é realmente boa em Poções.' – Snape respondeu por ela, que olhou intrigada.

'-Você nunca me disse isso, Snape.' – ela observou, magoada, mexendo distraidamente o chá.

Draco estava sufocado por aquelas conversas de pai e filha, e pelo modo protetor com que Severo olhava para Serena. Ele era seu padrinho, o solteirão amargurado e sem família!

'-Tio Severo, se você é o pai de Serena, por que vivia colocando-a em detenção?' – perguntou o rapaz, curioso –'Não era suposto que você a favorecesse?'

'-Não, Draco, acredito que ela possa responder pelos próprios erros quando necessário.' – ele afirmou. O rapaz, enciumado, não percebia que existia ali uma linha tênue entre Serena e Severo que poderia ser desmanchada com suas perguntas inapropriadas.

'-Bem, você nunca me deixou em detenção, tio.' – Draco falou, estufando o peito e olhando para Serena, esperando que ela sentisse o mesmo ciúmes que ele.

Serena olhou magoada para o pai e com ódio para Draco, limpou a boca em um guardanapo alvo e saiu em disparada pelas escadas, direto para seu quarto.

A garota adormeceu olhando as estrelas da janela de seu quarto, pedindo a Merlin para que o feriado acabasse logo, sem Malfoys ou confusão.

Acordou cedo, e quando desceu para o café Snape ainda não estava lá. Comeu pouco e remexeu nos ovos que os elfos haviam preparado para ela.

Quando a figura esguia e vestida de negro de Severo apareceu no topo da escada, o estomago de Serena embrulhou. Simplesmente não queria vê-lo naquele momento.

'-Bom dia.' – ele disse cordialmente, sem nenhum traço do bom humor dos últimos dias; Serena acenou com a cabeça, concentrada nos ovos em seu prato.

'-Serena, sua atitude ontem foi deplorável, e claramente irresponsável' – Severo começou – 'E se fosse Lúcio, ao invés de Narcisa que estivesse aqui? Sua sorte foi que Narcisa sempre prezou muito Alexandra, e que ela gostou de você.' – ele a encarou, forçando os olhos azuis a encontrarem os seus – 'Você quase colocou em jogo todos estes anos que eu lhe escondi para seu próprio bem!' – ele bradou, dando um tapa na mesa e assustando a filha.

'-Eu? O seu querido afilhado abriu a porta do meu quarto e desceu correndo para contar à mãe dele... eu só fui atrás! Que culpa eu tenho disso? Ele quase estragou tudo!' – Serena ficou de pé diante da mesa

'-Eu tinha deixado bem claro: não era para você deixar seu quarto enquanto eu não lhe chamasse!' – Severo também pôs-se de pé.

'-Não tenho culpa se o Malfoy estúpido foi até lá me azucrinar!' – Serena disse, e viu Severo pronto para rebater – 'Mas não é culpa dele, não é mesmo? Nunca é. Eu sei o quanto você gosta dele e o defende, Snape. Ele fez questão de deixar claro ontem.'

'-Serena, não...' – Severo começou, passando a mão nervosamente pelos cabelos, notando somente naquele momento o quanto a garota ficara chateada.

'-Eu sei que não tem lugar na sua vida para mim, Severo, não sei realmente o que eu estou fazendo aqui... Malfoy fez questão de deixar claro que eu não caibo na sua vida. Mas também pudera! Deve ser horrível olhar para mim e pensar que se eu não estivesse aqui Alexia estaria!' – uma lágrima ligeira escapou, seguida por várias outras – 'Você acha que eu também não penso isso quando me olho no espelho? Que eu matei a minha mãe! Eu não mereço nada disso, Malfoy estava certo. Eu mereço detenções, como bom empecilho que sou!' – ela gritou, se afastando da mesa, falando tudo desorientadamente.

Severo foi atrás dela, Serena esquivou-se.

'-Eu sei de tudo. Sei que o quanto Malfoy acha que eu não devo ser sua filha, e sei que talvez você gostaria de ter alguém como Malfoy como filho. Ele é seu afilhado, pai, ele te conhece e eu não.' – Serena disse isso em um fio de voz e saiu correndo pela porta principal, deixando Severo atônito lá.

Depois de alguns poucos minutos olhando fixamente para o chão, pensando em tudo que Serena dissera, ele pegou uma capa pesada e saiu para procurá-la. Começara a nevar e a temperatura caíra drasticamente. Onde Serena havia se metido, naquele frio? Mais de uma hora mais tarde ele a achou encolhida atrás da estufa, tremendo de frio. Os lábios rosados estavam arroxeados e tiritavam, a neve cobria agora boa parte da blusa fina que ela tinha escolhido pela manhã.

Severo tirou sua capa e envolveu Serena, que olhava fixamente para ele, ainda magoada, ele a ajudou a levantar e a guiou até a casa, preocupado com a saúde dela. Ela poderia pegar uma pneumonia.

Cuidadosamente, ele sentou a garota em uma poltrona e acendeu a lareira com um gesto da varinha, pedindo aos elfos que trouxessem cobertores.

'-Serena, olhe para mim' – ele pediu, desesperado, ela desviou o olhar do fogo e atendeu seu pedido – 'Nunca mais faça isso, entendeu? Você não sabe o quanto eu fiquei preocupado' – ele declarou, sem nenhuma preocupação com esconder sentimentos – ', está muito frio lá fora, você simplesmente não podia ter saído assim!' – ele exaltou-se.

A garota voltou a mirar o fogo.

'-Eu não vou lhe dar outro sermão, Serena, só me escute por favor.'

Enquanto Snape não falava ela moveu-se da poltrona para o sofá assim que os elfos trouxeram cobertores, e o pai acompanhou-a.

'-Diga, então' – ela pediu, encarando-o.

'-Primeiro: eu não quero nunca mais que você repita o que disse antes de sair.'

'-Você sabe que é verdade.' – ela disse em um muxoxo rouco.

'-Não, Serena não é. Você não matou sua mãe, de forma alguma, e se ela achasse que sua vida não valia a pena não teria escolhido você ao invés dela mesma.'

'-Você não me odeia por isso?' – ela perguntou, inocentemente.

'-Não, Serena, claro que não. Você é minha filha, como eu poderia te odiar?'

Serena ficou feliz com a resposta, e tocada também.

'-E Malfoy é meu afilhado, por mais que eu o conheça há muito tempo, ele não é meu filho, e nunca será. E nem prefiro ele a você, Serena. Draco tem mais defeitos que eu repugno do que qualidades que eu admiro. E, sobre ele, eu gostaria que vocês não brigassem tanto, até mesmo sua mãe gostava dele, você sabia?'

Serena torceu o nariz – 'Então por que você só o defende? Ele disse que nunca tomou uma detenção nesses anos todos e eu mal entrei na escola e já ganhei uma porção delas.'

'-Malfoy é um aluno mediano, principalmente em Poções, e continuará sendo, não há o que mudar. Mas no seu caso é necessário preparar as Poções de acordo com os livros, Serena, para que sejam aprovadas para os exames, não que eu não admire seu talento excepcional para essa matéria. Você sempre esteve certa, um Mestre de Poções experimenta novas maneiras, mas uma estudante tem que seguir os livros.'

Serena deu um sorrisinho torto, encolhida nos cobertores.

'-Você não precisa discutir comigo por causa de Draco, ele só falou aquelas coisas porque estava enciumado. Ele odeia não saber segredos.'

Serena concordou e bocejou longamente.

'-Consegue andar até seu quarto?' – ele perguntou ajudando-a a levantar-se do sofá.

Os dois subiram juntos as escadas e Severo ajudou-a a ajeitar-se na cama.

'-Descanse agora, Serena, mais tarde os elfos lhe trarão seu almoço,' – ele apagou a luz e saiu.

Em seus aposentos Severo se recordava da última frase que Serena dissera antes de sair em meio à neve. Ele é seu afilhado, pai, ele te conhece e eu não. Ele é seu afilhado, pai. Seu afilhado pai. Pai. Pai. Pai.

Aquela palavrinha não lhe escapara. Ele sentia-se completo, sua filha estava bem e em casa, e tinha acabado de derreter mais um pouquinho o coração de Severo que havia congelado.

Agora Severo entendia o que as pessoas queriam dizer com mudar tudo com apenas uma palavra. Ele, em seu ceticismo, nunca acreditara naquilo. Até aquele dia.


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Notas finais do capítulo

E aí, galera, o que acharam? Já dá pra me perdoar? Ou vou ter que postar mais alguns pra me redimir? rsrsrs

Beijo, L.