Sentia a chuva fina molhar meu rosto enquanto eu caminhava sem pressa alguma para o interior do Independent. O vento gelado me fazia arrepiar. Era isso ou o medo de encontrar Jack, que provavelmente estaria com Anna.

Quando adentrei o colégio, tirei o capuz do casaco e tentei enxugar parte do meu rosto com a manga. O corredor principal era largo e estava abarrotado de gente.

Comecei a andar entre toda aquela gente para tentar encontrar meus amigos. Me sentia extremamente desconfortável quando estava no meio de uma multidão como aquela, mas ficar sozinha seria pior.

Encontrei somente Anna com alguns livros nas mãos e olhos como os de águia percorrendo todo o local. Ela estava procurando alguém, e eu sabia muito bem quem era.

– Procurando o Jack?

– Não. – Respondeu sem graça. Ela era uma péssima mentirosa. – Estava só olhando... por ai. Por que eu iria procurá-lo? Mas cedo ou mais tarde ele vai acabar nos encontrando, não é? E, falando nisso, você por acaso o viu? – A loira parecia nervosa.

– Ainda não. Se não chegou até agora é sinal que nem deve vir mais. – Me acalmei um pouco ao pensar nessa possibilidade. Ainda mais depois de ver o estado de desespero da menina querendo encontrá-lo.

–Por que ele não viria? – Ela parecia bastante desapontada, mas eu sabia que assim seria melhor pra nós três. Pelo menos naquele dia.

– Não sei. – Dei de ombros.

O sinal logo tocou e fomos andando em silêncio junto a multidão em direção a sala de aula.

Avistei Jean andando contra o fluxo de pessoas. O professor atrapalhado pedia licença e se espremia nas brechas que apareciam entre os alunos para poder seguir o seu caminho. Como Anna, ele também olhava atento para todos os lados procurando alguém e quando seus olhos nos encontraram ele pareceu encontrar o que procurava.

– Lucy! – Gritou. – Espera ai. – Dizia enquanto era empurrado por alguém apressado.

– Estava me procurando? – Perguntei rindo assim que ele se aproximou.

– Imagina. – Respondeu irônico. – Estava te gritando para ter certeza se esse é o seu nome de verdade.

– Depois de uma ressaca como a que você estava ontem, a pessoa é capaz de esquecer algumas coisas mesmo. – Brincou Anna.

– Chega de brincadeira, fala logo o que você quer comigo porque a gente tem que ir pra aula. – Eu já estava ficando aflita.

– Hm... Preciso conversar com você. – Disse meio relutante.

– Não gosto dessa frase. – Murmurei.

– Não acredito que você se meteu em problemas. – A menina olhava para mim incrédula e depois se virou para Jean. – Isso é por causa de alguma nota baixa?

– Não, não. – O professor puxou o colarinho da camisa para baixo, como se a mesma estivesse o sufocando. – O assunto é particular. Vamos até a sala dos professores, Lucy.

– Que história é essa? E a aula?

– Vamos logo, Lucy. Você está com um professor, não está? Quando acabarmos você vai pra aula. – Por fim, me pegou pelo braço e começou a me puxar pelo corredor. – E você, Anna, vai pra aula agora.

Olhei para trás, para a direção de Anna, enquanto eu era arrastada e encolhi os ombros, em sinal de que não estava entendendo nada. Ela riu começou a caminhar também e logo abriu uma porta e entrou na sala.

Jean largou meu braço, ele não precisava mais me puxar, eu já o seguia de bom grado, mas com medo. Fiquei pensando no motivo pelo qual eu teria de ser levada a sala dos professores com tanta urgência. Não sei se por acaso, mas me lembrei da ligação que meu pai recebera no dia anterior. Meu coração acelerou.

– O que houve Jean? Agora você pode falar.

– Calma, menina. – Jean riu do meu desespero.

– Como posso ter calma? Eu nunca fui chamada por professores antes. – Fiquei quieta, olhando pra ele e esperando que ele falasse alguma coisa. Jean devia ter uns trinta anos ou mais, mas as vezes ele agia como se tivesse a minha idade, dezoito anos.

– Ta olhando o que? Eu sei que você já tinha notado a minha falta de cabelos. – Passou a mão nos cabelos cortados bem baixo.

– Não, eu quero que você me explique essa história. – Estava tão distraída com a preocupação que não percebi que tinha que virar a direita para entrar em outro corredor que dava na sala dos professores; Ele segurou meu braço de novo para me puxar para o caminho certo. – Quais professores querem falar comigo? – Perguntei quando já conseguia ver a tal sala.

– Ah, só eu estou lá. No primeiro tempo todos os outros professores estão dando aula.

– Então quem quer falar comigo é você? – Perguntei sem entender o que estava acontecendo, mas ele não respondeu, somente abriu a porta e entrou no locar e eu fui obrigada a fazer o mesmo.

A sala era clara e no centro, como destaque, tinha uma mesa enorme com livros em cima e varias cadeiras que para mim, pareciam ser bem desconfortáveis.

Jean seguiu em direção a essa mesa e pegou um livro bem volumoso com o marca texto indicando que ele já havia passado da metade.

– Pronto, agora não lhe devo mais favor nenhum. – O professor disse sorrindo e me deixando mais confusa ainda.

– Que raio de ... – Parei no meio da frase quando percebi que ele não estava olhando para mim, mas para algo atrás de mim e resolvi seguir seu olhar.

Quando o fiz eu simplesmente gelei. Parecia que meu coração havia parado de bombear sangue para os meus braços e pernas, ele devia estar muito ocupado dando piruetas dentro do meu peito.

Jack estava atrás de mim, com seu cabelo ruivo ligeiramente bagunçado e seus olhos azuis bem atentos em mim. Estava encostado na parede com as mãos nos bolsos da frente da calça. Adotando a posição mais despreocupada e natural possível.