2 de dezembro de 2012

Ponto de vista Anne McBride

DIA 2

Talvez eu estivesse dentro de um sonho. E se fosse um sonho, eu não queria acordar. Eu sempre quis que aquilo acontecesse, mas havia perdido todas as minhas esperanças há uma semana.

Miragem? Alucinação? Talvez. O que importava era que James estava ali, na minha frente, em carne e osso. Seus olhos azuis estavam arregalados, como se ele estivesse com medo. Seus lábios, finos e pequenos, estavam um pouco abertos e eu sei que ele queria falar.

–Eu só posso estar sonhando – sussurrei para mim mesma ainda com a sobrancelha arqueada.

De repente ele desperta do transe e vem dando passos apressados em minha direção.

–Por favor, me ajude – ele disse segurando os meus dois braços – por favor, você consegue me ver? Diz que sim.

O contato da sua pele fria com a minha quente me causou arrepios por todo corpo.

Aquela voz. Por quanto tempo eu tinha perdido noites e noites pensando como seria escuta-la pessoalmente. E agora ele estava aqui, na minha frente, me fitando com aqueles enormes olhos azuis apavorados.

–Por favor – ele implora mais uma vez e eu pisco os olhos insaciavelmente.

–Sim, eu consigo te ver.

Ele de um um suspiro aliviado assim que os seus ombros caíram.

–Graças a Deus!

Eu queria correr para os seus braços e o abraçar forte. Queria dizer o quanto eu era a sua fã e o quanto eu fiquei mal com a sua morte. Mas ao invés disso eu fiquei parada o observando enquanto ele se sentava na minha cama.

–Então… o que você esta fazendo aqui? – pergunto e ele levanta a cabeça para me olhar – quer dizer, eu estou feliz por te ver aqui e tudo mais, mas porque você não está lá em cima fazendo as coisas de anjos? Tocando harpa, todo de branco e com umas enormes asas nas suas costas… você sabe o que eu quero dizer né?

Ele ri e eu percebo que estou falando rápido demais.

–Tudo seria bem mais fácil se eu estivesse lá. Eu não sei como eu vim parar aqui – ele deu de ombros – eu já estive em várias casas, mas ninguém nunca conseguiu me ver… até agora. – Ele sorri pra mim, mostrando todos os seus dentes brancos e retilíneos.

–É, eu sempre soube que tinha algo errado no meu cérebro – digo tentando parecer natural.

–Então, qual é o seu nome mesmo?

Oh Deus, o meu ídolo estava perguntando o meu nome?

Limpei a garganta antes de falar.

–Meu nome é Anne… Anne McBride.

–O meu é…

–James, baterista do…

Ele riu.

–Você é fã da banda?

Não, de jeito nenhum! Eu apenas acordo pensando em vocês, passo o dia pensando em vocês, durmo pensando em vocês. Jimmy, Jimmy. Você sabia que eu já beijei o Riley imaginando você? (risos).

–Um pouco – dou uma piscadela e ele ri, encarando os próprios pés.

–Filha, eu só vim… - a porta se abre revelando a minha mãe com a sua roupa de dormir. Eu e James nos olhamos e logo em seguida olhamos para ela -… ver se está tudo bem. Ouvi você conversando e pensei que o Riley estivesse aqui. – Ela sorri.

Então a minha mãe não conseguia ver Jimmy? James se remexeu na minha cama, mas mamãe continuou olhando para mim.

–Não mãe, eu só tava… orando em voz alta – sorrio e ela parece se convencer.

–Tudo bem meu amor, não durma tarde! Vejo você amanhã.

–Boa noite mãe.

–Boa noite querida.

–Viu o que eu disse? Você é a única que consegue me ver – ele disse assim que ela fechou a porta

–Ok – eu disse pausadamente – mas porque diabos você está aqui?

Ele suspirou.

– Olha, isso parece loucura, mas você terá que me entender. – James se levantou da cama e veio até mim, parando na minha frente – Olha, eu tenho 30 dias, ou melhor, 29 agora para me ajudar a…

–A…

Ele suspirou decepcionado.

–Nem eu mesmo sei – ele deu de ombros. – Só sei que tenho 29 dias pra… entender… o que aconteceu naquela noite e depois eu juro que desapareço da sua vida! – James deixou todo ar de dentro da sua boca escapar e levou as suas mãos até os meus ombros. – Por favor.

Não. Eu não quero que você desapareça da minha vida, eu quero que você fique aqui pra sempre. Eu te amo! Você é o meu ídolo. Fica aqui comigo.

Sorri de lado a lado antes de falar:

–Vou te ajudar no que for preciso, James.

–Cara, como eu posso te ajudar? Me diz qualquer coisa! Qualquer coisa, Ann.

–Ann? – ergui uma sobrancelha. Não pude deixar de conter um sorriso bobo.

–Posso te chamar de Anne, se você quiser.

–Ann tá ótimo – digo um pouco rápido demais. Relaxei os ombros – Mas eu não quero nada em troca, James… nada mesmo.

–Me chame de Jimmy – ele corrigiu dando uma piscadela – James é só pra minha mãe quando esta brava. Ou melhor, era né.

–Jimmy, não fica assim, nós vamos dar um jeito. Podemos começar até amanhã se você quiser.

Ele deu um sorriso de lado.

–Olha Ann, muito obrigado. Você está salvando a minha morte.

Nós dois caímos na gargalhada.

–Não seria salvando sua vida, Jimmy?

–Não no meu caso. – ele ri pelo nariz e eu vou até ele, sentando na cama. James se remexe na cama e fica de frente pra mim. – Agora me conte… Espere, está vindo alguém.

Fiquei sem saber o que fazer, então fiquei do mesmo jeito que eu estava: sentada na cama por cima da minha perna.

Jimmy tinha razão. Depois de alguns segundos, ouvimos duas fortes batidas na minha porta e logo em seguida meu namorado entrou no quarto.

Riley tinha cabelos castanhos claros e encantadores olhos negros que tinha herdado da sua mãe. Seu sorriso era branquíssimo e, diga-se de passagem, era a coisa mais bonita nele. A pele branca – mas com um leve bronzeado – não possui nenhum defeito ou marca, e isso já rendeu a Riley diversos prêmios de rei do baile da escola.

–Oi meu amor – ele veio até a mim e me deu um rápido selinho – passei aqui rapidinho só pra ver como você está. Estou bastante cansado, hoje a oficina estava cheia – rolou os olhos e eu sorri. Eu amava quando ele fazia isso.

–Tudo bem amor, estava com saudades. – digo e ele vem até a mim, passando sua mão pela nuca e me puxando pra mais perto.

Começamos um beijo leve, mas cheio de intenções. Riley distribuía carinhos por toda a extensão das minhas costas e eu enrolava meus dedos em seus cabelos. O beijo foi parando até resultar em leves selinhos.

–Agora eu preciso ir, vou me deitar mais cedo hoje – ele diz se levantando e depositando um beijo na minha testa. – Tchau amor.

–Tchau Riley – digo ainda entorpecida pelo seu cheiro.

Esperei até que não escutássemos mais os passos de Riley e olhei para James.

–Então você tem um namorado? – ele perguntou erguendo uma sobrancelha.