POV's Cupa

Mas o que este pestinha está aprontando? Aproximei-me um pouco mais e escondi-me atrás de uma planta quando o Creeper parou. Observei o lugar. Uma clareia abraçada por carvalhos e um pequeno lago, que parece que a água está sendo atingida por raios solares por causa da cor viva e o brilho que sai dela. Um pouco ao fundo, localiza-se uma mesa com vários frascos e dois seres virados de costas.

— Ah... doce criaturinha inocente, parece que conseguiu quebrar meu patente... Tenho que te entregar outra dose, para que eu o tenha em minha posse — Uma voz calma e aconchegante penetrava em meus ouvidos a fora, fazendo rimas sem hora... Espera! Agora até eu estou criando rimas ruins. Que bruxaria é essa? Nunca gostei de coisas desse tipo.

Balancei a cabeça. As duas "coisas" se viraram para a direção do Creeper. Fitei melhor quem falava àquelas rimas ruins. Era... Uma Enderman? Ou melhor... uma Enderwoman? Pensei que só tivesse a Ender nessa área...

Ela têm um cabelo até a cintura, loiro escuro, todo bagunçado que esconde boa parte de seu rosto, mas dá para ver que ela tem uma feição "angelical". Eu acho que ela não é isso tudo. Ela deve disfarçar toda a sua monstruosidade com a aparência dela.

— Não tenha medo... — Falou a criatura, estendendo a mão (mesmo estando uns cinco metros de distância dele). O Creeper foi andando até ela.

Que besta! Se fosse eu, sairia correndo. Hum... pior que agora eu acho que ele está enfeitiçado.

— Garota que está se escondendo, venha também...

Como ela descobriu?

Dei três passos para sair de onde estava com cabeça erguida.

— Você deve estar se perguntando como eu sabia, pois bem, vou responder para sua cabeça vazia. Você entrou em meu feitiço, e só vai sair quando eu terminar meu exercício.

— Como asssim? Eu não caí nesssa ssua macumba não, tia — Ela começou a se aproximar... não, pera... sou eu que estou andando!

Tentei parar, mas não consegui. Malditas pernas!

— Quem escuta minhas rimas, cai em minhas... minhas... oh, tenho que melhorar isso. Enfim, quem escuta minha voz é enfeitiçado — Ela ficou decepcionada consigo mesma e começou a andar em círculos com a mão no queixo, parecendo que estava tentando lembrar algo — Ah! Lembrei. Você deve ter ficado bem confusa quando seus explosivos derreteram, não é?

— Então foi você? — Falei irritada. Meu corpo paralisou.

— Não, não. Foi meu chefe, mas era só para te dar um susto.

— Como assssim? — Falei ainda irritada.

— Calma. Vou explicar: Os Creepers tem um corpo bem interessante. Como eles possuem pólvora dentro deles, eles tem o poder de explodir quando acham que estão em perigo. Essas pólvoras estão ligadas ao cérebro, que, este, manda uma mensagem para esses ''reatores'' explodirem...

— E o que eu tenho a ver com isssso? — Perguntei.

— Continuando... — Ela tentou arquear uma sobrancelha, mas não conseguiu — Os Creepers já tem uma temperatura corporal bem alta, porém, quando se irritam, aumenta ainda mais e podem acabar explodindo também. Meu chefe queria que eu fizesse experimentos, para provar se isso era verdade. Os TNT's foram programados para que, em mudanças de temperaturas, eles ''derretessem''.

— Quem é ssseu chefe?

— Isso é sigiloso. — E sorriu.

— Como você ssabia que eu iria me irritar...

— Bem, Nelly, pegue para mim o ''você-sabe-o-que'' — Combinou ela para a zumbi, ignorando minha pergunta. A serva dela parecia um pouco lenta...

— Sua serva é uma zumbi? — Perguntei, indignada.

— Sim, não parece ser, mas ele são os melhores — Ela piscou para mim — Ah, não a chame assim, ela é minha ajudante — Agora ela pareceu um pouco irritada.

De repente ela voltou a sua feição normal e deu um sorriso. Chegou perto do Creeper, falou algo em seu ouvido e ele apagou. Ela é uma Enderman ou uma Bruxa?

A ''ajudante'' dela segurou o Creeper e o deixou gentilmente no chão.

— Eu sou o verso do meu inverso — Falou ela, indo ver o coitado.

De novo lendo meus pensamentos com essa magia fajuta? Hunf.

— Eu tenho que deixar mais forte. Você viu que quando aquela garota beijou ele na cabeça a poção se quebrou? — A Zumbi balançou a cabeça — Isso não estava em meus planos... mas pelo menos, assim eu posso aprimorar meus estudos.

— Eu não ssei que tipo de monssstro você é, mas não é nada legal fazer issso com osss outross...

— Esse é o meu trabalho — Ela me interrompeu.

— O quê? Apagar as pessoas e fazer experiências doidas com elas? Belo trabalho — Ironizei.

— Não... eu faço bem mais do que isso... posso parecer somente um monstro, mas eu mostro o quão é importante o valor dos outros... — Ela ficou triste — porque alguns não conseguem ter sentimentos fortes e não querem que outras criaturas tenham a mesma infelicidade... — Ela botou a mão na cabeça.

A zumbi veio correndo e cochichou algo, e voltou para perto da mesa. A Bruxa pigarreou e veio andando na minha direção.

— Pode me chamar do que quiser, mas lembre-se de mim como uma guardiã, e não uma bruxa... Nós nos veremos outras vezes, tenho muito a fazer ainda — Ela deu uma pausa, fechou os olhos, mas depois os abriu, em direção ao meus olhos — Será que você viu o...

...

Está tudo escuro... Minha boca, garganta e estômago estão quentes, ou melhor, fervendo. Parecia que eu bebi pimenta com vinho, ou algo do tipo.

Abri lentamente minhas pálpebras e vi que eu ainda estou no mesmo lugar, porém as mesas sumiram, a zumbi, a guardiã e até mesmo o Creeper não estavam mais.

Examinei o pequeno lago. Ele agora estava escuro e parado. Não tinha mais aquela cor brilhante.

Examinei a floresta. Parece bem mais assustadora agora que estou sozinha e não tem mais nenhuma iluminação.

Examinei o céu. Sem nenhuma estrela, sem nenhuma nuvem nem luz de alguma festa.

Suspirei e levantei-me. Um arrepio atingiu meu corpo todo. Senti estar sendo observada. Mas, não ligo. Por alguma razão estou me sentindo horrível, não só fisicamente, também psicologicamente.

A medida que eu ando e me afasto daquele lugar, as cores voltam a aparecer melhor, minha visão fica cada vez mais clara e a sensação de queimação vai passando. Dá até para ver as luzes da festa.

Passei pelas pessoas e entrei na caverna. Vi uma grande placa escrito ''Zombeach'', só podia ser o Zazu mesmo...

Fui até o bar, com o monte daquelas luzes me cegando. Ainda acho que é um exagero, poderia atrair humanos para cá.

Encontrei em frente a mesa a Ender, o Spider e... O Creeper? Acho que ele acordou antes de mim.

— Creeper, você essstá bem? — Perguntei, chegando perto deles.

— Ssim.

— Você ainda está enfeitiçado? — Disse de modo direto mesmo.

— Como asssim?

— Aquela Enderman metade bruxa lá na floresta...

A Ender virou bruscamente da cadeira que estava e o Spider olhou para mim.

— Um... da minha espécie? — Os olhos dela brilharam.

— Quê? Eu não me lembro dissso. Eu fui para floresta porque eu vi um ocelote andando e sssaí correndo — Ele ficou meio envergonhado — Mass, depoiss eu tomei coragem e entrei.

— Mass eu vi uma...

— Aqui o drinque de vocês, desculpe a demora, a casa está cheia — Falou o Zombie.

Os três se viraram novamente.

— Ei! Eu essstou falando com vocêss! — Me irritei.

— Ah, você deve ter batido a cabeça e ter imaginado issso — Falou o Creeper.

— Mass...

A Ender se virou e botou a mão na minha cabeça.

— Esquece isso, senta um pouco. Você está meio confusa, o melhor é descansar — Ela falou com um olhar meio triste por pensar que não era ninguém da espécie dela.

— Está bem... — Resmunguei e ela riu.

Subi na cadeira ao lado dela e debrucei-me na mesa.

— Vai querer alguma coisa? — Perguntou o Zombie.

— Um refrigerante e... o que tem para comer aí?

— Tem frango, carn...

— Carne — Respondi.

— Ok... — Ele ficou com uma cara de vento.

Depois de alguns minutos, apareceu minha comida. Ingeri-as calmamente — mas a comida não tinha gosto de nada. Os três do meu lado estavam conversando com o Zombie, mas eu não estava nem escutando. Minha cabeça está cheia de perguntas sobre aquela criatura que se diz ser ''guardiã''.

Terminei de comer e fui escutar a conversa:

— Como é lá? — Perguntou o Spider.

— Ah, é uma construção toda acabada que está abandonada. Dizem que lá tem algo que todos desejam — Falou uma zumbi que estava do lado deles. Ué, de onde ela apareceu?

— Ssério? — Perguntou o Creeper.

— O que será que é? — Perguntou o Spider.

— Não sei. Isso é um boato que eu escutei, vocês querem ir descobrir? — Perguntou ela.

— Claro! — Pronunciou a Ender.

— Você sabe aonde fica? — Perguntou o Zombie.

— Sim... bem, mais ou menos. Eu já fui até lá com uns amigos meus, mas a gente não entrou, porque as tochas tinham acabado e os pais dos meus amigos acharam-nos e não nos deixaram continuar, méh — Ela fez uma cara feia.

— Do que vocês estão falando? — Perguntei.

— Ah, de um lugar aí que a gente está querendo ir — Respondeu o Zombie.

— Possso ir com vocêss? — Perguntei.

— Pode — Respondeu ele.

Vi que a zumbi fez uma cara feia.

— Quem é ela? — Sussurrei para a Ender.

— É uma amiga do Zazu, o apelido dela é Shadow.

— ''Shadow''? Por que isso? Que apelido estranho...

— É porque eu apareço das sombras... — Ela falou no meu ouvido.

Eu quase pulei. Não esperava por essa.

— Então... vamos? — Falou a Ender animada.

Depois do Zombie deixar a taberna por conta de um funcionário, todos nós seguimos essa tal ''Shadow''. Ela foi em uma parte escondida da caverna, falou com um cara e pegou uns equipamentos e mochilas, distribuindo para todos, menos para mim. A desculpa dela é que não tinha para todo mundo.

Subimos, descemos, andamos, corremos... Já estava com os pés doendo e com meu coração saltando da boca, quando enfim vimos uma parede de gravel impedindo o caminho e duas direções.

— Vamos nos dividir — Falou a Shadow — Aqui já é a construção, ela tem algumas paredes com esse bloco.

— Não ssseria maiss fácil a Ender tirar os blocoss da frente? — Perguntei.

— Claro que não! Isso é gravel, se tirar um, cai todos os de cima! — Bradou ela

— Enfim, vai ser dois grupos: eu, Zazu e Creeper. O outro grupo fica Spider, Ender e essa garota.

— Eu me chamo Cupa — Me irritei.

— Não perguntei nada — Afirmou ela.

— N-Não discutam, por favor — Pediu a Ender.

— Hunf.

Fui direto para esquerda, nem olhei para trás. Quando eu me distanciei um pouco, sentei no chão, encostada na parede.

— Vou desscanssar um pouquinho, tá...?

Não escutei nenhum barulho de gente andando, só uma voz cantando. Olhei para trás e vi os dois parados lá embaixo. Levantei e fui correndo para aonde estavam. O Spider estava cantando...

— ... Eu sabia desde o começo

Desde a primeira vista

Desde a primeira palavra

Que eu não iria conseguir para de pensar em você

Eu tentei, juro que tentei

Mas eu não consegui

Você me atraiu e iludiu com seu jeito de ser

Com seu sorriso mágico

Você me manteve preso a uma jura de amor

Você me enfeitiçou

Me deixou surpreso

Não havia nada que eu pudesse mais fazer

Tudo o que eu conhecia antes não se compara ao que conheço agora

Eu já me apaixonei antes

E você?

Agora estou aqui, perdendo seu tempo

Eu simplesmente não sei o que devia fazer a não ser me declarar para você

É uma tragédia para mim

Ver em seus olhos a dúvida do que realmente sente

Nunca esquecerei o dia em que nos encontramos

Você tirou o melhor de mim

Agora não posso apagar estas memórias

Como num conto de fadas

Você é tão irreal

Você me fez sentir no paraíso

De volta a terra não posso me sentir

Frio como gelo

Vou ficar vazio sem você... — Ele suspirou.

Como assim? Ele devia cantar para mim! E o que deu nas pessoas ficar fazendo poemas ou sei lá o que foi isso aí. Não aguento mais rimas! Alguém mude isso, pelo amor de Notch!

A Ender ficou mais vermelha do que uma maçã. O que será que...

— M-Minha vez! — Ela estalou os dedos e apareceram dois silverfishes fazendo som com a boca.

O Spider ficou pasmo, eu também.

— Spider, eu não sei como te dizer, mas vou simplesmente mandar você ir se fuder.

Não tente sair daqui chorando, vou te chamar de bosta e não estou nem me lixando.

Agora senta aí e vai rezando, é uma rima improvisada , mas vou falar até você ir implorando.

Você se acha romântico, então vai ter que ficar na defensiva. Comecei com palavrão só para fazer uma rima.

Sua canção foi como a de um velho escravizado, então cala a boca, porque quando eu começar vai acabar o seu reinado.

Aonde está com a cabeça? Me pedir para namorar? Só me obedeça. Não faça cara feia não, você não me assusta, meu irmão.

Eu costumo ser passiva, mas agora vou ser hostil: larga do meu pé e vai para puta que pariu.

Ainda tem mais... não vou parar de te humilhar até você me deixar em paz.

Se me perguntar o por quê disso tudo, eu te respondo: o mesmo por quê de o Nether ser o submundo.

Não tô nem aí se você não entendeu, por mim, você já se fudeu.

Você tem cara de tarado, mas você não me engana. Assim como os macacos, você gosta é de banana — Quando acabou, os sliverfishes sumiram entre as pedras.

Eu não sei se choro ou rio, o Spider deve estar na mesma situação. Coitado! Nem eu esperava por essa...

— ... OPPAN MINECRAFT STYLE! — O Spider gritou isso e começou a dançar uma dança estranha até sumir.

Quê?