Ele vinha em minha direção. O que diabos Finn queria comigo? A gente nunca conversou, nem nada.

– Ahn, oi. – Ele disse.

– Oi... tudo bem?

– Tudo. – Ele parecia meio perturbado.

– Ahn... e aí, o que me conta de legal? – Eu falei mesmo isso??? Aonde eu tô? No msn?

– Ahh, nada. – Ele deu aquele mesmo sorriso torto do meu sonho, e me arrepiei. – Então, o que achou da apresentação?

– Ficou ótima! Eu amei, sério. Vocês são muito talentosos, e eu amo aquela música. Fiquei cantando junto com vocês lá da arquibancada. Parabéns.

– Obrigado. Que bom que gostou.

E aí veio aquele momento estranho em que nós dois ficamos em silêncio, esperando alguém falar alguma coisa.

– Rachel?

– Sim?

– Eu queria te pedir desculpas, em nome dos idiotas do time que fizeram aquilo com você no refeitório. Eles não tinham o direito. – Finn franzia o cenho, parecendo bastante nervoso.

– Tudo bem Finn, você não precisa se desculpar. Não foi culpa sua.

– Mas eles são meus colegas de time, e provavelmente você deve estar pensando que eu sou um idiota que nem eles, e...

– Eu jamais pensaria isso de você. – Ele me encarou. Acho que falei demais. – Dá pra ver que você é diferente deles. – Vê se cala a boca Rachel Berry, você tá dando bandeira.

Ele sorriu daquele jeito de novo, e quando percebi, também estava sorrindo.

– Ahn, então... Eu preciso ir pra casa... mas... ahn... a apresentação de vocês foi incrível. Tchau Finn. – Entrei dentro do carro e saí daquele lugar o mais rápido possível. Não entendo como e muito menos o porquê, mas aquele garoto me faz sentir... sei lá... diferente. E eu não tô gostando nada disso.

Meu quarto parecia ter sido atingido por um furacão. Preciso arrumar essa bagunça. Liguei meu sonzinho e comecei a arrumar. Já estava quase acabando, quando encontrei o papel que papai me dera a uns dias atrás. Esse show de talentos parecia meio intimidador.

Alguns dias depois, a escola parecia normal, a não ser a dois dias atrás, quando levei outra slushie no rosto. Dessa vez era de uva, o que manchou de roxo a minha blusa que adivinha? Era branca. Me lembrem de nunca mais ir de branco pra escola. Falando nisso, eu tava no meu armário, colocando uma blusa lá dentro, só por precaução, quando Santana apareceu atrás de mim.

– Parece que você finalmente entrou pro McKingley. – Ela disse, apontando para a blusa. – Toda garota esperta nessa escola guarda roupas no armário, pro caso de serem bombardeadas pelo maldito-líquido-gelado-que-mancha-roupas.

– Pois é. – Forcei um sorriso.

– Olha, eu vou dizer isso de uma fez, tá bom? – Olhei pra ela, confusa.

– Ray-Ray, você precisa dar uma turbinada no seu guarda-roupas. É sério. Você é bonita e precisa escolher umas roupas que te valorizam. É pra isso que eu trouxe uma ajuda mais que especial: Kurt Hummel. Olha, dizem por aí, que se seu look for aprovado pelo Kurt, você pode até desfilar pra Vogue com ele.

– Eu gosto do meu estilo. – Olhei pra baixo. Sapatilhas, meião, saia xadrez e blusinha com uma estampa de um filhotinho super fofo.

– Rachel, você se veste como a minha prima. Minha prima tem 6 meses de idade. – Kurt me encarava.

– Hey garotas, o que estão fazendo? – Marley chegou do lado de Santana.

– Estamos ajudando a Berry a mudar de visual. – Kurt sorriu.

– Aii que legal! Adoro makeovers!!

– Então o negócio é o seguinte, Anã... Rachel. Hoje depois da aula nós 4 vamos ao shopping e vamos renovar o seu armário, ok? – Santana estava se divertindo com isso tudo.

– E depois, nós todos vamos ao show de talentos da cidade. – Marley tinha um brilho nos olhos.

– Uhh, é verdade! Tinha me esquecido disso! Vamos sim. Banho de loja e depois show de talentos. Quem tá dentro? – Kurt dava pequenos pulinhos.

– Todos nós, Madonna. – Santana disse. – Não é, Berry?

Os três me olhavam com aqueles olhinhos de cachorros sem dono. Não consegui recusar.

– Claro. – Sorri.

– YAY! Então, tá combinado. No final da aula a gente se encontra no estacionamento. Tchau pelúcia, tchau Rosinha, tchau anã. – Santana saiu saltitando pelo corredor, seguida de Marley e Kurt.

– Que diabos acabou de acontecer?

Mais tarde, no shopping, foi hilário! Santana media as roupas que eu escolhia entre “queimar” “dar pra caridade” “hell to the no” “pra fazer pano de chão” e “lona de circo”. Kurt escolheu algumas roupas pra eu experimentar, e até gostei de algumas. Marley tirava fotos de todos nós em poses engraçadas, e tenho quase certeza que aquela atendente não quer nos ver nunca mais na frente dela.

Marley e Santana foram se arrumar lá em casa, e meu pai estava quase soltando fogos de artifício por eu estar indo ao show de talentos e por eu finalmente ter amigas.

– Eu acho que você deveria ir com esse vestido preto, Rachel. Ele ficou ótimo em você. – Marley dizia, enquanto se maquiava.

– Olhem só meninas!!! – Santana saiu do banheiro e levantou as mãos fazendo “tcharam” com a boca.

– OH MEU DEUS!!! Esse vestido ficou perfeito em você, Santie!! – Marley levou a mão na boca.

– Ficou lindo!!! Vermelho fica muito bem em você, Santie! – Como assim eu já tava chamando ela de Santie?

– Hey Rachel, que remédios são esses? – Disse Marley, com duas cartelas na mão.

Oh. Meu. DEUS!

– Ahn, não são nada... nem são meus.. São do meu pai. – Sorri, tomando os remédios da mão de Marley.

– Okay.... – Ela parecia desconfiada. – Então vamos acabar de nos arrumar e ir logo!!

O show de talentos era em um clube da cidade. Entramos e conseguimos lugares bem na frente, pois Kurt chegou mais cedo e reservou. E assim que sentamos, quem eu vejo na mesa ao lado? Isso mesmo. Finn. Acenei pra ele, por educação. Ele sorriu. Maldito efeito que esse sorriso tem em mim. Virei-me, pra não dar bandeira de novo. Não tínhamos nos falado desde o episódio no estacionamento, mas sempre que nos encontramos, ele sorri pra mim, e eu me lembro daquele sonho macabro.

O show estava bem interessante. Um grupo de sapateado se apresentou, e um grupo de dança também. Até um cara que sabia fazer malabarismo com motosserras ligadas!! Confesso que quase me molhei de medo de uma motosserra escorregar da mão dele e vir direto pro meu pescoço.

O show estava quase acabando, quando de repente meu pai entra no salão. Ele ficava acenando pra mim e falando algo que eu não conseguia entender. Ah! Ele tava falando algo como: Vai! Se apresenta! Canta! Ou algo assim. SEM CHANCE!

Olhei pro lado e encontrei o olhar de Finn. Será que era uma boa ideia? Não...

A última coisa que me lembro foi do locutor anunciando uma inscrição de última hora e a cara de Santana, Marley, Kurt e Finn, de tipo, o que ela tá fazendo lá em cima? Na verdade, eu me perguntava a mesma coisa.

Meu olhar encontrou o de Finn de novo e senti uma paz, a mesma paz que senti quando o vi em meu sonho. A batida da música começou e eu fingi que não tinha mais ninguém na minha frente. Apenas eu, cantando sozinha em meu quarto.

Skies are crying, I am watching
Catching teardrops in my hands
Only silence as it's ending
Like we never had a chance
Do you have to make me feel like
There is nothing left of me?

Abri meus olhos e todos me encaravam, inclusive Finn, com aquele sorriso estúpido que me faz tão bem

You can take everything I have
You can break everything I am
Like i'm made of glass
Like i'm made of paper

Go on and try to tear me down
I will be rising from the ground
Like a skyscraper!
Like a skyscraper!

As meninas estavam boquiabertas e meu pai não parava de chorar. Isso me deu uma certa confiança.

Go run, run, run
Yeah it's a long way down
But I am closer to the clouds up here

You can take everything I have
You can break everything I am
Like i'm made of glass
Like i'm made of paper, Oh

Go on and try to tear me down
I will be rising from the ground
Like a skyscraper!
Like a skyscraper!
Like a skyscraper!
Like a skyscraper!

Todos aplaudiam de pé, e eu só conseguia olhar pra um lugar. Pros olhos acima daquele sorriso torto.