- Harry querido, poderia buscar o correio?

O garoto que estava tomando seu café da manhã na cozinha, saiu em disparada, quase derrubando tudo que via pela frente, para chegar à porta do pequeno apartamento onde ele e a tia estavam morando há mais de um mês. A tia do menino tinha se irritado tanto com tio Válter e suas provocações sobre Harry, que ela resolveu morar sozinha com o sobrinho.

Quando chegou lá, pegou as cartas e começou a conferir os remetentes: uma do tio Válter, uma da amiga de tia Petúnia e uma da Sra. Figg. A euforia de Harry murchou completamente.

- Obrigada, querido. – tia Petúnia apareceu do lado de Harry, pegando as cartas da mão do garoto – Se Válter estiver querendo que eu volte para casa... Que foi Harry?

O garoto finalmente despertou-se do transe que estava.

- Ahn... Nada, tia Petúnia.

Por mais que ele já devesse ter se conformado com o fato que Hogwarts fora apenas um sonho, ele ainda tinha uma pontada de esperança. Esperança que a cada dia mais diminuía.

Já estavam no início de setembro, e nada de carta nenhuma aparecer. Harry deveria estar na escola secundária, mas acabou tendo que repetir um ano. Além disso, a tia do menino se recusara a mandar ele para a escola de novo, segundo ela porque “Você não merecia ir para aquele lugar”.

- Tem certeza, querido? Vamos, venha continuar a tomar seu café.

A relação dos dois havia melhorado ainda mais depois do episódio do cemitério. Os “queridos” aumentaram, e ela parecia ainda mais preocupada com o menino. Harry, por sua vez, finalmente percebeu que agora tinha uma tia de verdade, uma tia que havia virado sua segunda mãe.

A cozinha era minúscula em relação à da casa na Rua dos Alfeneiros. A geladeira ficava imprensada entre o fogão e a pia. Tinha uma mesa para quatro pessoas no centro, bem simples e de madeira. Havia uma janela acima da pia e uma bancada do lado da mesa.

O café da manhã nunca era uma refeição silenciosa desde que os dois se mudaram para aquele apartamento. Ao contrário do que era na Rua dos Alfeneiros que o momento era só preenchido por provocações de tio Válter, tia Petúnia adorava falar sobre qualquer coisa naquela e em outra qualquer refeição do dia.

- Ah sim, hoje eu precisava ir até Londres para resolver algumas coisas, aí eu resolvo e enquanto isso você fica na loja de brinquedos, sim?

Era sempre assim. Toda a semana a tia tinha algo para resolver em Londres, e ele tinha que ficar na loja de brinquedos. E por mais que ele perguntasse inúmeras vezes o que ela sempre tinha que resolver, a mulher apenas mudava de assunto.

Às duas da tarde Harry e a tia já estavam prontos para sair. Petúnia estava procurando algo na bolsa enquanto resmungava baixinho.

- Harry, poderia ir até meu quarto buscar um colar? Ele deve estar em cima da escrivaninha...

O garoto se dirigiu a um dos dois quartos do apartamento. Como tudo naquela casa, o quarto era minúsculo e continha apenas uma cama de solteiro, um guarda-roupa e uma escrivaninha, onde uma corrente de ouro cintilava. A pressa na hora de pegar o colar foi tanta que Harry acabou esbarrando em uma pilha de revistas que estava em cima da mesa, derrubando todas no chão. Resmungando, o garoto se abaixou para pegar e quando recolheu todas levantou a cabeça e acabou batendo-a na escrivaninha, derrubando a única gaveta que tinha. Resmungando agora pela dor que estava sentindo, foi pegar a gaveta, mas algo o intrigou.

Um fundo falso.

A gaveta que antes estava lotada de mais revistas, tinha uma abertura no fundo que fora aberta com a pancada. Curioso, Harry retirou o fundo e se deparou com várias cartas. Não poderiam ser da Sra. Figg, de sua amiga ou do tio Válter, porque essas eram guardadas em uma caixa dentro do guarda-roupa... Mas Harry nunca viu a tia Petúnia receber alguma carta de outro remetente. Curioso, o garoto pegou uma e abriu.

Cara Petúnia,

Está tudo ocorrendo bem, mas tome cuidado. Quinta-feira, na mesma hora, no mesmo local.

Confusão. Era o que estava tendo na cabeça de Harry naquele momento.

Ele ficou parado ali durante vários minutos, apenas tentando raciocinar o que ele tinha acabado de ler. Virou o papel na esperança de que encontrasse o nome do remetente, mas não havia nada escrito. Então ele continuou parado tentando entender o que aquelas palavras queriam dizer, até ouvir passos de tia Petúnia se aproximando do quarto.

- Harry?

Rapidamente, Harry colocou todas as coisas dentro da gaveta, encaixou-a no lugar, arrumou as revistas em cima da mesa e pegou o colar que havia caído no chão.

- Harry, está tudo bem querido? Faz tempo que você entrou aqui, fiquei preocupada...

- Ah... Nada, é que eu estava procurando o colar...

- Mas eu jurava que havia deixado em cima da escrivaninha...

- É, estava mesmo. Meus óculos que estão meio embaçados.

A tia continuou a encará-lo com desconfiança, mas deu um sorriso e saiu do quarto, com Harry em seu encalce, pensando do que se trataria aquela carta.