- Hey, e a menina lá? - Charles me perguntou. Fiz cara de confuso apenas pra disfarçar. Já sabia de quem ele estava perguntando.

- Que menina?

- A tal Jenny. - Ri fraco.

- O que tem ela?

- Você tá querendo... - Cody disse.

- To nada.

- Tá sim. - Revirei os olhos. - Pega ela no show amanhã. - Não respondi. Ouvi a campainha tocar. A essa hora só pode alguém ter morrido. Desci as escadas e quando abri a porta, eu quase levei um susto. Não, a pessoa não é feia. Mas é a ultima que eu pensaria em encontrar aqui. Vestida assim. E ainda mais esse horário.

– Ér... oi. – Jenny disse sorrindo sem mostrar os dentes. Sorri também, mas acho que ela não percebeu.

– O que aconteceu com você? – Disse rindo fraco. – Foi a tal festa? – Abri espaço na porta pra ela entrar.

– É né.

– E o que aconteceu?

– Aquele cretino me deixou lá! E ainda me sujou inteira. - Sabia que ia acontecer algo parecido.

– Por que ele te deixou lá?

– Sei lá. Ele tava bêbado. E eu não tenho como voltar pra casa e se eu for pra casa dos meus avós eu vou ficar de castigo. Eu só conheço você. – Suspirei.

– Vem. – Disse subindo as escadas e ela me seguiu. – Ó, acho que só tem isso que te sirva. – Entreguei uma camiseta e uma box ainda lacrada pra ela. Os meninos ficaram olhando como se ela fosse algum bicho de espécie estranha que acabou de chegar no zoológico.

– Eu juro que não queria dar trabalho pra você.

– Relaxa. Vou pegar uma toalha pra você. – Entreguei-a pra Jenny e ela entrou no banheiro.

- O que ela tá fazendo aqui? - Cody me perguntou e dei um tapa na cabeça dele. Obviamente ela ouviu. - Ai. - Ele disse fazendo massagem no local.

- Hoje tem hein! - Charles berrou e eu taquei todos os travesseiros nele.

- Filho da puta! - Ele deu de ombros continuando a olhar pra TV.

(...)

– Ér... tem uma sacolinha? – Olhei pra ela.

– Se juntar o que eu vi outro dia e hoje, já dá pra ver como você fica de lingerie. – Ela corou na hora. Os meninos olharam um pouco assustados pra gente.

– Cala a boca, seu pervertido. – Ri entregando uma sacola pra ela colocar as roupas. – Obrigada. – Deitei na cama e ela sentou do meu lado.

– Quer dormir agora?

– To sem sono. Mas se quiser, eu posso ir pro quarto de hóspedes agora e...

– Tudo bem. Relaxa. E não tem quarto de hóspedes aqui. Mas me explica o que aconteceu na festa?

– Eu já te falei. Ele me largou lá!

– E por que tu tava fedendo? – Cody perguntou.

– Tava tão forte assim?

– Era vodka.

– Eu sei. Esbarram nele e ele derrubou em mim. - Ele é um otário. Sim ou claro?

– Esse menino tem merda no lugar do cérebro pra fazer isso e te largar lá. – Cody disse ainda jogando.

– Rolou beijo pelo menos? – Charles perguntou. Realmente espero que isso não tenha acontecido. Tudo bem que a Jenny não é nada minha. Nem amiga minha ela é! Mas ela tá gata e gos... e gata demais, né gente.

– Não. - Sorri de canto. Charles pausou o jogo e olhou pras pernas da Jenny. Tarado!

– É, ele tem merda no lugar do cérebro. – Ela corou.

– Tá legal. Já que vocês vão ficar conversando, deixa eu jogar. – Empurrei o vagabundo fura-olho pro lado.

– Hey!

– “Hey” nada. - Charles não parava de falar cantadas de pedreiro pra ela. Vagabundo. Só tá fazendo isso porque sabe que eu to afim da Jenny.

– Turner, você vai morrer. - Ela disse fazendo ele parar de defecar com a boca.

– Vou nada. - Respondi.

– Vai pela esquerda. - Jenny tá tentando me ensinar a jogar vídeo game ou...?

– Eu não vou morrer.

– Olha no mapa. Tá cheio de gente desse lado.

– Shiu. - Corna! - Ah, merda!

– Eu te avisei. - Como eu to afim de uma menina tão chata assim?

– A culpa é sua que não parou de falar no meu ouvido. - Ela revirou os olhos.

– Se você tivesse ido pra esquerda, você ainda tava jogando.

– Então, tenta aí, senhorita sabe-tudo. - Entreguei o controle pra ela. Ela chegou na mesma parte e passou! Ela me entregou o controle reprimindo o riso.

– Hey! Pode tirar esse risinho da cara. Você me confundiu.

– Confundi nada. Você que é muito ruim. - Olha que insuportável!

– Mas sou ótimo em outras coisas. – Ela me deu um tapão na nuca! – Credo. Guria agressiva.

– Meu cabelo ainda tá fedendo? – Ela perguntou pra mim e eu arqueei uma sobrancelha. – Tá ou não? – Peguei uma mecha do cabelo dela. Aproximei meu rosto do cabelo dela, fazendo ela se arrepiar.

– Ahn... não. – Corei de leve. Jenny sorriu sem mostrar os dentes. Eu poderia beijá-la se os dois babacas não estivessem aqui. Pigarrei. – Amanhã a gente vai passar na sua casa pra você se arrumar?

– Eu vou ver se tenho roupa na minha vó. – O celular dela tocou. – Oi mãe. – Pausa. - Eu não vou dormir lá. – Pausa de novo. - Calma. Aconteceram algumas coisas na festa e eu achei melhor não dormir lá. – Pausa. - Aquele corno me levou pra festa e me largou sozinha lá! Eu nunca tinha visto aquele povo na minha vida! E eu não tinha pra onde ir. Aí eu... – Ela pigarreou – vim pra casa do Turner. - Pausa. – Mãe, não começa. - Pausa. – Óbvio né. Você falou pra vó que eu ia dormir lá? - Pausa. – Tá, mas eu não quero irmãos, ok? - Eu, Cody e Charles olhamos pra ela na hora. Muito normal dizer isso pra uma mãe. Claro.

– Que foi? - Ela perguntou.

– Você manda sua mãe usar camisinha?

– Lógico. Ela é problemática. Vai saber... e foi assim que eu nasci. – Ri fraco.

– Ela falou o que de você dormir aqui? – Perguntei.

– “Eu te falei que preferia ele ao invés desse Tyler”. – Ela disse fazendo careta e eu ri.

– Tua mãe me ama!

– Pior que ama mesmo. - Ela revirou os olhos.

– Como tua mãe conhece ele? – Charles perguntou.

– Ele foi em casa pra fazer um trabalho.

– Eu to indo já. – Cody disse.

– Por que?

– Meu irmão me mandou mensagem falando que se eu não chegar em casa até as 04h00, eu to fudido. – Ri fraco. – Vai comigo, Charles?

- Vou. To sem carona. – Eles deram tchau pra Jenny e descemos. - Vê se pega a mina hoje.

- Parem de ser chatos.

- Chatos não. Você é o único menino que... - Cody disse tentando não me constranger.

- E daí que eu nunca transei? Tem alguma lei que diz que preciso fazer isso?

- É estranho. - Charles disse me observando.

- Já te disse que eu não sou gay! To esperando a menina certa.

- Ah, pelo amor de Deus! Vai ter uma garota bonita, com uma bunda bonita e gigante dormindo no seu quarto hoje! E além disso, você tá afim dela! O pior: você não quer! - Charles estava revoltado. Acho um absurdo e vocês?

- Hey! Eu nunca disse que eu não quero!

- Ah é. - Charles cutucou o Cody. - Sabia que ele já teve sonho erótico com a Jenny? - Eles riram e eu corei.

- Vão tomar no cu vocês dois! Saem daqui! - Disse empurrando eles pra fora. Subi e eu ainda sentia as minhas bochechas quentes. Entrei no quarto e a Jenny estava sentada na cama parada.

– Tá com sono? - Perguntei.

– Mais ou menos.

– Pode deitar. – Joguei um travesseiro pra ela.

– E você vai dormir onde?

– Posso dormir no sofá. - Disse quase choramingando. A minha cama era grande, macia e bom... Tinha a Jenny lá né.

– A cama é de casal. Se quiser dormir aqui... – Arqueei uma sobrancelha.

– Achei que você iria me socar se eu sugerisse isso. – Rimos fraco.

– É só deitar longe de mim. – Ela deitou e eu deitei ao seu lado ligando a TV, deixando num filme qualquer. Não estava nem prestando atenção. Ouvi a respiração dela ficar pesada e me virei devagar pra não acordá-la. Ela parecia um anjo dormindo. Embora fosse mais pra filhote de capiroto quando acordada. Acariciei os cabelos dela e ela se mexeu. Trouxe minha mão de volta rapidamente e vi que ela não acordou. Juntei minha mão na dela. Quando dei por mim, eu já estava abraçado a Jenny. Fiquei a observando. ""Ela é pequena, mas forte" - Digamos que forte até demais. - "e seus olhos brilhantes pedem atenção. Olhar para ela é como despertar."* Eu to completamente fudido. Não vou esconder isso de mim. To apaixonado por uma menina que odeia!