“Vamos voltar pra Nashville!”

Minha mãe disse isso pra mim animada até demais, dois meses atrás. As vezes ela parece mais adolescente que eu, apesar de ter 36 anos. Nashville é uma pequena cidade ao Norte do Tenessi. Foi onde passei a minha infância. Odeio aquele lugar. Prefiro ficar aqui, em Atlanta. Agora to no aeroporto esperando anunciarem o voo.

– Jennifer? - Minha mãe me chamou. - Vamos? - Assenti e embarcamos. A muito contra-gosto. Odeio aquele lugar. Desde os meus 8 anos até os 11 um idiota chamado Jason Turner e os outros dois amiguinhos dele fizeram da minha vida um inferno. Nem amigos eu tenho lá. Alias, 6 anos depois, to voltando pra que? Não tem ninguém que eu goste lá! Com exceção dos meus avós. Mas mesmo assim. Nao quero morar lá. Resolvi dormir.

Acordei quando quase todos os passageiros já tinham saído. Levantei e guardei meu celular e meu livro dentro da bolsa. Saí com a minha mãe, pegamos nossas malas e fomos de carro até a casa dos meus avós.

– Como você cresceu, querida! - Minha vó disse me abraçando. Sorri pra ela.

– Fiquei com saudade de você, mocinha. - Meu avô disse me abraçando também.

– Também fiquei. - Eles sorriram pra mim, cumprimentaram a minha mãe e entramos.

(…)

– Animada pra voltar pra escola amanhã? - Minha mãe perguntou.

– Muito. - Disse irônica e ela riu.

– Vai lá no mercado comprar fermento pra mim. - Ela disse e me deu dinheiro. Peguei meu skate e fui. Cheguei lá e perguntou pra um moço que trabalhava no mercado onde tinha. Ele me respondeu e eu fui até o corredor. Procurei nas prateleiras e tava lá em cima. Com esse meu “mini tamanho” ia ser difícil pegar aquilo. Fiquei na ponta dos pés e não consegui alcançar. Dei um pulo e nada. Bufei. Dei outro pulo e uma mão entrou na minha frente.

– Era esse? - Olhei pra ele. Era um menino de altura mediana. Até que era bonitinho.

– Era sim. Obrigada. - Peguei o troço.

– Jason Turner. - Ele disse me estendendo a mão. Fechei a cara na hora.

– Jennifer Porter. - Disse com um sorriso irônica e ele arregalou os olhos. Me virei e saí dali. Fui pra casa bufando de raiva daquele garoto. Quase atropelei um casal no caminho, mas isso não vem ao caso. Cheguei em casa, entreguei o pote de fermento pra minha mãe e peguei um copo pra beber água.

– Nossa. Viu quem pra tá irritada?

– Jason Turner. - Ela me olhou com a sobrancelha arqueada.

– Quem é esse?

– Ninguém, mãe. Ninguém. - Disse e fui pro meu quarto. Lá eu fiquei a tarde toda. Não tinha o que fazer, mesmo. Minha mãe me chamou pra jantar e eu fui.

– Não vai me contar quem é esse Jason? - Fazia um tempo que a gente já tava comendo quando ela me perguntou. Parei o caminho do garfo até a boca e olhei pra ela.

– Contar pra que? Ele é insignificante. - Ela riu fraco.

– Sei…

– To falando sério.

– Acredito.

– Ele estudava comigo quando a gente morava aqui. Ele me odiava, eu nunca soube o porque, e me infernizada. Acabei odiando ele também. Pronto.

– Ele tá bonitinho?

– Mãe! - Pude sentir minhas bochechas esquentarem e ela riu.

– Ele é ou não?

– Não! - Ela me olhou como quem quer dizer “fala sério”. - Um pouco. - Ela continuou olhando pra mim. - Ok. Ele tá muito lindo. Mas isso não quer dizer que eu o odeio menos.

– Ele falou com você?

– Ele que pegou o fermento pra mim. Tava no alto.

– Ele te reconheceu? - Fiz que não com a cabeça.

– Não de primeira.

– Não precisa odiar o garoto pra sempre. Vocês tinham só 11 anos.

– Mãe, ele fazia todo mundo rir de mim.

– Ele já bateu em você?

– Não.

– Ah, esquece isso. Lembro que você fazia isso com a Julie. - Olhei incrédula pra ela. Julie é uma prima minha um ano mais nova que eu.

– Era diferente.

– Diferente em que?

– A Julie é uma chata e ela adorava quebrar minhas coisas.

– Ainda assim, dá no mesmo. - Olhei feio pra ela e ela riu. Terminamos de jantar e eu ajudei ela a lavar louça. Subi, tomei banho e deitei na cama. Amanhã eu ia voltar a estudar na mesma escola que antes.