Vários Caminhos, Um Destino escrita por Hinalle


Capítulo 5
Capítulo 4




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Capítulo 4

Não acreditava que estava chorando, mas principalmente, não acreditava que estava chorando em frente a seu irmão. Em frente ao homem que mais amava.

Ela afastou o rosto úmido do peito dele, inspirando fundo. Ele a olhava, preocupado. Não perguntava nada, pois sabia que ela preferia assim. Mas, para sua surpresa, ele abriu a boca para dizer algo. Encolheu os ombros, com medo do que ele viria a falar.

"Você está bem?" Foi a única coisa que saiu de seus lábios.

Jéssica suspirou, aliviada. Secou o rosto com as costas das mãos e meneou a cabeça, em uma afirmativa.

Henrique olhou, discretamente, sua camisa. A irmã havia chorado pouco, mal havia molhado sua roupa. Foi isso e seu instinto masculino que fizeram-no perguntar, novamente:

"Tudo bem mesmo?" E pousou uma das mãos sobre a tez da moça, acariciando-o.

Jéssica hesitou. Fitou, com sua visão turva, por causa das lágrimas, o irmão que mantinha os olhos sobre ela. O que mais a intrigou foi que ele mantinha os olhos em um ponto fixo; Seus lábios. Estaria esperando uma resposta dela?

"Estou com medo." Admitiu, receosa da reação do irmão.

Henrique entendeu, apesar de não saber como, que ela referia-se a Antônio. Escorregou sua mão que estava no rosto da irmã pelo pescoço desta, pelo braço, até chegar a sua mão. Apertou-a levemente, e disse, sem olhá-la diretamente:

"Sinto muito por não ter chegado a tempo."

A jovem de cabelos negros balançou a cabeça negativamente, apresando-se em dizer:

"Não! Não foi sua culpa!" E deixou uma lágrima escapar de seus olhos, "A culpa foi minha. Não devia ter convidado aquele cara pra vir aqui."

"Esse é seu trabalho, tinha sim."

Jéssica limpou a lágrima que escorria pelo seu rosto, solitária, e rebateu:

"Podia ter marcado em algum lugar público, pra evitar ficarmos sós."

"Ia ser pior. Se caso vocês ficassem sozinhos, não haveria ninguém para impedi-lo."

Ela parou para pensar e, segundos depois, sorriu desanimada, com a mente ainda vagando em lembranças.

"Acho que... gostei dele." Admitiu, repreendendo-se: "Me senti atraída por um cara daqueles."

Henrique sentiu repentinamente uma vazia e profunda decepção. Apenas não entendeu o porquê; Sabia que sua irmã não o amava, quais eram as chances? E, tão rápido como renasceu, a chama da esperança apagou-se. O calor que lhe aquecia o peito fora embora mais rápido do que um estalar de dedos.

Percebendo as feições de desapontamento e desânimo do irmão, Jéssica inclinou o corpo para a frente, fitando-o nos olhos.

"Foi só um desejo bobo. Não quero mais nada com ele." Explicou-se, "Sei que ele não é uma boa companhia, e que devo gostar de algo melhor." Sorriu, dizendo: "E que você não o queria como cunhado."

Henrique pensou em argumentar, porém, era melhor que ela pensasse isso do que descobrir que ele a amava. Ele levantou-se, soltando a mão da irmã.

Jéssica olhou-o, curiosa e aflita. Sentia-se sozinha sem ele a segurar-lhe a mão, a abraçá-la, a dizer-lhe palavras reconfortantes.

O rapaz foi até o banheiro e voltou rapidamente, com um pouco de papel higiênico nas mãos. Voltou a se sentar ao lado da jovem, usando o papel para limpar os resquícios das lágrimas que estavam em seu rosto.

"Realmente não aceitaria um cunhado daqueles." Disse ele com uma expressão raivosa, porém, engraçada.

Jéssica sorriu, como se estivesse desculpando-se por ter sentido atração por um homem daquele tipo. Sem perceber, outra lágrima desceu por sua bochecha, a qual seu irmão secou rapidamente.

"Não se sinta mal por ter gostado de alguém. Nós não mandamos nos nossos corações." Falou, reconfortando-a.

"Tem razão. Mas, se mandássemos, talvez não tivesse tantas pessoas sofrendo por isso."

Ele sorriu, distraidamente:

"Nem me diga."

Afastou o papel da tez da irmã e surpreendeu-se com a mudança que avistava. Com "simples" lágrimas, Jéssica parecia ter rejuvenescido. Não a via com as feições tão relaxadas e transparentes desde que seus pais haviam falecido.

Ele ainda se surpreendia com a falta que duas pessoas podiam fazer a alguém. Obviamente, também sentia-se péssimo pela morte dos pais, porém, Jéssica pareceu muito mais abalada do que ele e Carolina.

"É... o que a Kamila fez foi uma surpresa. Ninguém desconfiava que..." ela hesitou, engolindo as palavras que escalavam sua garganta.

"Que ela não me amava?" Adiantou-se ele.

Jéssica meneou a cabeça numa muda afirmativa.

Henrique desviou os olhos da irmã e refletiu sobre o que ela havia dito. Kamila, havia esquecido dela. Será que ele realmente a amara? Ele teria sido capaz de amar duas mulheres ao mesmo tempo? Pela primeira vez, agradeceu por não precisar casar com Kamila. Sim, esse era o verbo exato: Precisar. Ele precisava casar com Kamila por causa do bebê. Não era por ele querer casar.

Ela, ao notar que o irmão vagava em lembranças, desculpou-se:

"Sinto muito. Não queria ter te lembrado disso."

Ele balançou a cabeça com a mesma leveza do sorriso em seus lábios.

"Não estou chateado."

Não foi o bastante para convencê-la.

"Deve ter sido difícil. Digo... ter recebido a notícia... do bebê."

"O importante é que descobri a verdade e não vou ser mais enganado por ela."

Jéssica abaixou a cabeça, tristemente. Henrique colocou seus dedos sobre o queixo dela e levantou sua cabeça, fazendo-a encará-lo.

"Nada é por acaso. Esse bebê veio pra me mostrar que o amor dela era falso e que, se casasse, iria sofrer mais do que a perda do meu filho." Ao dizer a palavra “filho”, Henrique sentiu uma dor imensurável no coração, contudo, não demonstrou-a. Filho... nunca havia pensado deste jeito. E talvez fosse melhor não pensar.

"Rique..."

A voz baixa da irmã trouxe-lhe de volta. Ele a olhou, curioso, esperando que ela continuasse.

"...você nunca vai me abandonar?"

"Nunca." Respondeu rapidamente, sem ao menos pensar.

“Nunca mesmo?" Duvidou.

"Nunca."

Jéssica inspirou fortemente, e inquiriu:

"Não vai me deixar, como meus pais fizeram, e nem vai me assediar, como o Antônio fez?"

Henrique estranhou a pergunta. Ela podia ser traduzida como: "Não vai me deixar sozinha, mas também não vai ficar colado em mim?".

"Sim."

Ela abaixou a cabeça, pensativa.

"Ainda bem que tenho você."

"Tem a Carolina também." Lembrou.

Ela sorriu, distraída.

"Sim, a maninha também."

"Apesar de ela ser um pouco infantil, ela sabe ser madura quando é preciso." Henrique sorriu.

Jéssica apertou a mão de seu irmão que estava sobre a sua, sentindo-se estranhamente só.

Henrique a observou silenciosamente. Nos olhos irritados, por causa do choro, refletia-se uma carência que ele apenas lembrava em ter visto na irmã quando seus pais trouxeram-na para casa.

Hesitante, ela pediu, baixinho:

"Me abraça?"

O rapaz tentou esconder sua surpresa a tal pedido. Aproximou-se lentamente do corpo da moça e, hesitante, contornou aquele corpo com seus braços. Percebia que o corpo dela estava menos trêmulo, passando uma segurança que antes não havia. Percebeu também que não era medo o motivo do abraço, mas sim a solidão que a perseguia. Tal perseguição que começara há três anos, com a morte de entes tão queridos.

"Por que vai me proteger?" Inquiriu, com a voz murmurada.

Ele sorriu carinhosamente, aconchegando-a melhor em seus braços.

"Já te disse... porque você é minha irmã."

"Mas sou adotada... como você pode amar alguém que não tem seu sangue e que te deu tantos prejuízos e está te dando problemas?"

Ele sorriu novamente:

"Quando nossa mãe veio com você nos braços, ela fez eu e Carolina jurarmos que iríamos te amar como uma irmã. E, mesmo tendo menos de um ano, lembro claramente da promessa."

"Mas uma promessa não te impede de me abandonar."

"Jessie, quando nossa mãe te trouxe pra dentro de casa, ela estava jurada a te criar como uma filha. Se ela não te quisesse, teria te deixado aonde tinha te achado."

"Mas... e se ela tivesse só sentindo pena de mim?"

"Ela teria te entregado num orfanato."

Por mais que Jéssica insistisse, Henrique tinha razão. Suspirou, aliviada. Podia agarrar-se a uma certeza: A de que não seria abandonada. Sentiu as pálpebras pesarem e, sem resistir, fechou os olhos.

O rapaz, percebendo que a irmã recuperava o sono perdido, deitou-a na cama, cobrindo-a. Permaneceu sentado ao lado dela por mais alguns instantes.

Passou os dedos suavemente sobre os lábios entreabertos e percebeu que estes estavam ainda um pouco inchados pelo impacto da boca de Antônio sobre eles.

A raiva voltou a fluir em sua corrente sanguínea. Dormindo, Jéssica parecia uma criança indefesa, uma bonequinha que a qualquer hora podia se quebrar. Imaginar que algo tão horrível como o que Antônio fizera veio a acontecer a essa garotinha, era imperdoável.

Henrique cerrou os punhos, controlando sua vontade de socar a parede de ódio. Ao invés disso, levantou-se, dando a volta na cama. Olhou ao redor, como se tivesse medo que alguém o visse, e se deitou ao lado da irmã na cama. Rodeou a cintura da moça com seu braço, aproximando-a mais para si.

"Boa noite, Jessie..." Murmurou, com os olhos fechados. Inalou uma última vez os cabelos sedosos da irmã e adormeceu.

Continua...

 

 


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Notas finais do capítulo

Agradeço pelos comentários, e deixo um pequeno aviso: foram adicionados desenhos no prólogo e nos capítulos 1 e 2. ^_^



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