Vários Caminhos, Um Destino escrita por Hinalle


Capítulo 17
Capítulo 16




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Capítulo 16


Jéssica sentou-se à mesa, ao lado de Henrique. Passou os dedos pela taça de champanhe a sua frente, porém não tirou-a do lugar.

"Não gostou?"

Ela voltou-se para a voz. Edward, com a recém-esposa, estava a seu lado, passando os olhos da taça para ela, transpassando uma ligeira expressão de preocupação. O casal passava de mesa em mesa, cumprimentando a todos os convidados.

A mais nova sorriu, sem graça. Retirou o cálice do lugar e levou-o aos lábios, sentindo a efervescente bebida descer-lhe até o estômago. Quando a taça voltou à mesa, o casal já estava cumprimentando Henrique e, em seguida, Carolina, ao lado deste. Gisele, ao seu lado, tentava saborear a irresistível comida do casamento, entretanto, algo a afligia: Marcos.

Edward não pudera mudar o dia de seu casamento, pois a data estava muito próxima, e remanejar todos os preparativos para um próximo mês ou ano custaria-lhe (ou melhor, custaria a Jéssica) muito. Gisele comparecera pela consideração ao filho, apesar de este insistir que não guardaria rancores da mãe caso ela não aparecesse; ele próprio sentia muito a falta do irmão, que fora preso há três semanas.

Em contrapartida, Carlos ao menos dera-se ao trabalho de uma explicação para sua ausência. Talvez, até ele soubesse que, independentemente do que falasse, todos saberiam que estava mentindo e que não compareceria à festa simplesmente porque não gostava de tumulto.

Jéssica percebera que a mãe ficava muito mais radiante sem o marido. Sua beleza envelhecida brilhava, como se fizesse parte da festa, e não apenas uma intrusa, como alguns lá dentro pareciam. No entanto, havia se acostumado a vê-los sempre juntos. Era como ver dois irmãos gêmeos enfim separados.

Francisco mandara lembranças da França. Mudou-se para a Europa há menos de uma semana antes do casamento de Edward. Jéssica insistira para Francisco mudar o dia de sua ida, porém as aulas já começariam, e faltar nas primeiras aulas era, a Francisco, algo impensável.

Pelo menos, era esta a justificativa do irmão. Jéssica bem sabia que Francisco não simpatizara com a noiva de Edward, e viajar para a França seria uma ótima desculpa para fugir daquela festa. O sorriso calmo, a voz melodiosa, a atenção carinhosa; ela sentia falta de tudo em relação ao irmão.

Agora tinha Henrique, era verdade, porém não era sempre que podiam conversar, se encontrar, se ajudar. Ele lançara-lhe, dias após a prisão de Marcos, a proposta de morarem juntos. E, antes de dizer-lhe que adorara a idéia, lembrou-se de Gisele que, provavelmente, ficaria ainda mais abalada e desconcertada com a ida de mais um filho; primeiro Marcos, depois Francisco, Edward e, agora, ela.

Também sentia-se no dever de ajudar Edward e Francisco. Marcos sacrificara-se por eles, sendo o bode expiatório daquele crime. Convenceu os policiais que apenas ele planejara os dois assassinatos, e levou os vinte e nove anos de cadeia para si. E os outros dois, que livraram-se da pena, sentiam a alma corroída por uma culpa redobrada, por causar tal crime e por não arcarem com as conseqüências junto ao irmão.

Caso morasse com Henrique, Jéssica tinha certeza de que Francisco e Edward evitariam ao máximo de falar com ela, pois o remorso do assassinato os impedia de ouvir ou ver Henrique. Sem contar o medo que sentiam deste, de uma ideia de vingança.

A música fazia os talheres sobre as mesas tremerem. Jéssica e Henrique estavam calados desde o começo da festa, pois não achavam confortante conversarem aos gritos. As pessoas que não os conheciam estranhavam um casal se amar daquela forma; na certeza do silêncio. Jéssica não necessitava, como a maioria das mulheres, de diárias declarações de amor. Talvez não fosse sempre segura sobre seu relacionamento, mas a plena confiança que tinha em seu namorado dava-lhe certeza de que não estava sendo enganada.

Sentiu a mão de Henrique, sobre sua coxa, contrair-se discretamente. Ela elevou o olhar do enfeite no centro da mesa, que observava detalhadamente, deparando-se com os olhos castanhos do rapaz sentado ao lado de sua irmã.

Jéssica não perguntara, mas deduzia que aquele era o namorado de Carolina, com o qual a loira havia se comprometido fielmente. Henrique já lhe sussurrara, porém, que não simpatizara como rapaz, pois já o tinha visto olhar Jéssica furtivamente mais de três vezes àquela noite. Quando Carolina resolvera ser leal, o namorado como qual legitimara-se queria traí-la. Pensou que deveria avisar a irmã mais velha antes que algum desastre acontecesse, mas, apaixonada que estava, talvez nem a ouvisse.

Em um modo desafiador, a mulher de cabelos negros sustentou aquele olhar inexpressivo por alguns instantes, até que ele sorriu, virou Carolina em sua direção e beijou-a na boca. Jéssica franziu a testa, voltando os olhos para o amado. O que o namorado de sua irmã adotiva queria dizer com aquele gesto abrupto? Henrique deu de ombros, beijando a namorada carinhosamente nos lábios, como se alertasse o outro rapaz dos riscos que tomava ao flertar com Jéssica.

Ela levantou-se, puxando seu irmão de consideração consigo. Sentia-se despida com aquele olhar descarado a percorrer-lhe o corpo. Seguiram para um jardim, fora do salão. Naquele local, a música chegava-lhes como um som abafado e distante, e o som da água da fonte tranqüilizou-a.

"Você viu que galinha?" Perguntou ela, enraivecida.

O namorado apertou-lhe a mão com mais força, compartilhando de sua raiva. Ficaram algum tempo em silêncio, ouvindo a música da festa bater violentamente contra as portas de vidro, como se debatesse para sair de dentro daquele lugar, e olhando a paisagem ao redor.

O local era surreal; assemelhava-se com um jardim de um grande castelo, com flores de diferentes tipos, cores e tamanhos, espalhadas pela grama bem aparada. A luz prateada da majestosa lua fazia-os sentir em um mundo paralelo às suas vidas. A festa poderia não estar divertida, mas a ida àquele jardim fizera com que a noite valesse a pena.

Distraída, ela voltou-se a Henrique e, parecendo pensar em outra coisa, perguntou:

"Você lembra da Kamila?"

Ele, sem a olhar e sem hesitar, meneou a cabeça afirmativamente.

"O que você sentia por ela?"

O rapaz voltou sua atenção para ela, pego de surpresa. No entanto, não viu ciúmes em seus olhos, apenas uma infantil curiosidade. Ele ponderou. Havia de admitir que Kamila, sua ex-namorada, engravidara sem planejamento. Iria casar por consideração ao bebê, mas não que não gostasse de Kamila. Porém, seria mesmo amor?

"Por que esta pergunta agora?" Indagou, dando-se tempo para pensar.

Ela deu de ombros:

"Lembrei dela agora."

"Pra falar a verdade," Sorriu, sem graça, "Não lembro o que sentia por ela, só lembro do meu amor pelo bebê." E enrubesceu, envergonhado com a confissão.

Jéssica soltou uma risada reconfortante e disse:

"Eu mal me lembro do rosto dela."

"Então por que a pergunta, amor?"

Deixou que um sorriso maroto desenhasse em seus lábios, sem dar resposta. A verdade era que gostava de vê-lo sem jeito e desarmado.

"É só uma curiosidade."

Após fitá-la por um longo instante, pousou sua mão sobre seu rosto e, hipnotizado, afagou-o.

"Rique?" Chamou em um sussurro, encarando-o.

"Já disse que te amo, Jessie?"

Uma brisa fria, naquele instante, veio-lhes envolver e ela não soube dizer se fremera devido ao frio ou se fora causado pela declaração repentina. Não encontrou coragem para negá-lo, portanto, manteve-se de lábios cerrados, contornando, com os olhos, a face inerte dele.

"Eu te amo." Murmurou, antes de pousar seus lábios sobre os dela, em um leve roçar.

"Eu também" Falou, quando se afastaram, com as pálpebras trêmulas de emoção, "te amo, amor."

Henrique, sorrindo para a irmã, voltou o rosto para a fonte.

"Já parou para pensar como chegamos até aqui?"

Ela calou-se novamente, sem entender.

"Tivemos de nos separar e" Ele abaixou os olhos, "Talvez, se sua família não nos tivesse unido de novo, acho que não estaríamos juntos..."

Jéssica voltou os olhos para as estrelas que encobriam o céu negro, pensativa. Agora, os rumos que sua vida tomara faziam sentido, as escolhas, as quais pareciam inconsequentes, agora davam-lhe razão. Sua história turbulenta tinha, enfim, uma direção.

"Então" Começou ela, sem olhá-lo; "Quer dizer que, se minha família 'verdadeira' não viesse, trazendo dor e dúvida, não estaríamos juntos?"

Henrique sorriu, distraído. Voltou-se a ela, puxando-a contra si pela cintura. Acariciou-lhe os cabelos negros, antes de tomar, com movimentos carinhosos, seus lábios, aprofundando o beijo.

"Como é irônico, não é?" Disse quase em um murmúrio, "Você tinha tantos caminhos, mas só um destino."

"E esse destino era ficar com você?" Sorriu, entrelaçando seus dedos com os dele.

"Não." Retribuiu o sorriso, abraçando-a e dizendo em um sussurro, "Seu destino era ser feliz."


~ FIM ~


Nota da autora: Aiii, snif snif... Chegamos ao final! ;_; que triste...
Tchau, Jessie. Tchau, Rique. Tchau, Carol...

Gente, espero que vocês tenham gostado de ler a “Vários caminhos, um destino” tanto quanto eu gostei de escrevê-la.

Muito obrigada, a todos: Aos que não comentaram, mas principalmente aos que comentaram, que ajudaram a me reanimar, quando pensei que esta história não teria quem a acompanhasse.

Obrigada por terem sido tão fiéis, lido-a até o final, e por estarem, agora, se despedindo dos nossos personagens, os quais espero que tenham ganhado vida na mente de cada um, e um espacinho, pequeno que for, para lembrar-se deles de vez em quando.

Conto com vocês na minha próxima original, numa fanfic de algum anime doido, ou quem sabe eu me encontre embrenhada em uma história de vocês ^-^ aí, trocaremos de papéis; quem estará comentando e se emocionando serei eu.

Então, é isso. Obrigada, pessoal, por terem sido tão árduos e bons leitores.

Um abraço quebrei-sua-costela para todos!

Hinalle Kinomoto Li


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