Vários Caminhos, Um Destino escrita por Hinalle


Capítulo 13
Capítulo 12




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Capítulo 12


Antônio encostou a cabeça no banco, com as feições levemente empalidecidas. A moça, sentada atrás do volante, não o encarou; Continuou tamborilando os dedos nas coxas, nervosamente. Perguntava-se porque deixara-o entrar em seu carro e sentar-se no banco, ao seu lado. Aquele perfume inebriava-lhe os sentidos e suas atitudes pareciam erradas e irracionais.

"Você vai fazer o quê?" Indagou ele, ao recuperar-se, parcialmente, do susto.

"Já fiz." Corrigiu, ainda de cabeça baixa.

"Você é louca!" Exclamou, mas Jéssica não sentiu raiva nem nervosismo na voz. Estaria ele... preocupado?

"Eu faço o que bem entender da minha vida!" Rebateu, tentando livrar-se daquela dúvida que a atormentava há tempos.

"Olhe pra mim."

Ela não olhou.

"Olhe pra mim!" Ordenou, pegando-a pelos ombros.

Jéssica ainda não o fitava. Parecia inerte em seus próprios pensamentos, mas ele insistiu:

"Me diz, o que passa na sua cabeça, sua doida?!"

No meio de seu desespero, sua emoção tomou conta de si. Aproximou-se dela e tomou-lhe os lábios em um delicado beijo.

Não passou de um inocente roçar de peles, porém fora o bastante para paralisá-la.

Antônio afastou-se, envergonhado. Soltou-a lentamente e, com um suspiro, falou, em um fio de voz:

"Eu me preocupo com você."

Agora, sim, ela o olhava nos olhos. Não conseguia disfarçar seu espanto. Seu coração acelerara, podia senti-lo reclamando por mais espaço.

"Me desculpe."

A moça não disse nada. Todo seu corpo estava imóvel, não obedecia aos seus comandos. Por algum motivo, aquele beijo fora diferente do primeiro que fora roubado, meses atrás. Ela pôde sentir, desta vez, a preocupação, o carinho, o amor. Tudo isso, em apenas um encostar de lábios.

"Eu não devia ter feito isso, me perdoe." E, de cabeça baixa, abriu a porta do carro. Antes que colocasse os pés na calçada, uma mão trêmula pousou em seu braço.

"Por que..." Começou ela, com a voz trêmula e baixa pelo susto; "Por que fez isso?"

Ele a fitou com seus olhos desiludidos, os quais não passaram despercebidos por ela.

Manteve a mão no braço forte e o rosto erguido. Não podia recuar. Não àquela hora.

"Porque..." ele hesitou, em duvida se diria a verdade ou não, "Eu te amo."

A surpresa fora tanta que Jéssica soltou uma exclamação e apertou, com mais força, o braço dele. Lembrava-se, vagamente, de quando ele havia ido até ela pedir desculpas pelo ocorrido em sua casa, e de ele ter dito que a amava, mas não tão diretamente.

"Você é louco!" Exclamou, com a mesma entonação de como ele o havia feito minutos atrás.

Antônio sorriu cansadamente. Ela ainda não soltara seu braço, como se tivesse medo de perdê-lo. Talvez, fosse isso mesmo o que sentia.

"A gente não manda no coração." E, com essas palavras, saiu do carro.

Jéssica fez o mesmo, apressada. Correu até ele, que já se distanciava do veículo, e puxou-o pelo ombro.

"Me desculpe." Pediu, em um murmúrio.

O rapaz sorriu novamente. Desta vez, não foi sarcástico ou irônico, mas gentil, meigo.

"Pelo quê?"

"Por..." Inspirou fortemente, "Por eu ser eu."

"Não peça desculpas por isso." Ele pediu, carinhosamente.

"Não queria que me amasse."

"Não se sinta culpada por isso. Só quero que pense, por mim, por você e por seus irmãos de consideração, se é mesmo seguro continuar morando naquela casa."

A moça abaixou a cabeça, sentindo a dúvida voltar a lhe rondar. Insegura, murmurou:

"Mas não me abandone."

Antônio sentiu ímpetos de abraçá-la, protegê-la de todo o mal. Era estranho amar. Porém não era ruim. Não abraçou-a. Não disse palavras de incentivo. Não se mexeu. Apenas falou, fraternalmente:

"Não vou te abandonar. Nunca vou te deixar só."

Ela ergueu a cabeça, com um leve e frágil sorriso.

"Obrigada."

"Não há o que agradecer." E sorriu de volta, "Agora vá para casa. Descanse e pense melhor."

"Sim."

Os dois despediram-se com um sorriso e seguiram seus caminhos.

ooo ooo ooo



Girou a chave na fechadura e, ao pisar em casa, ouviu a voz que tanto a irritava:

"Oi, cunhadinha!"

Jéssica apenas direcionou-lhe um olhar inexpressivo antes de deixar sua bolsa sob a mesa da sala de jantar. Como odiava sua cunhada. Edward, o irmão mais insuportável, tinha de ter uma namorada insuportável.

Os dois estavam sentados no sofá, em um terno abraço. Jéssica tentou não contrair o rosto de nojo ao passar por eles para ir às escadas.

"Agora vá para casa. Descanse e pense melhor.", foi o que Antônio dissera. Mas sentia que se pensasse mais, sua cabeça entraria em curto-circuito.

Antes de dirigir-se a seu quarto, observou que a porta do quarto dos irmãos estava aberta. Interrompeu-se e, olhando melhor, notou Francisco sentado em frente ao computador. Aproximou-se, curiosa.

"Francisco?"

Ele parou o que fazia, olhou para trás e, ao vê-la, sorriu.

"Oi, Jéssica!"

Ela, estranhando o isolamento do irmão que, sempre que podia, saía com amigos, indagou:

"O que está fazendo?"

O rapaz pareceu hesitar. Passou os olhos da tela do computador para a irmã, para responder, receoso:

"O roteiro de um filme."

Jéssica soltou uma exclamação, surpresa.

"Um filme?" E, animada, aproximou-se ainda mais, "Posso ler?"

Tanto tempo longe de sua profissão, por causa dos problemas acarretados com a nova família, fizeram-na esquecer do gosto da arte.

Francisco franziu o cenho, duvidando das palavras da irmã.

"Quer mesmo? Você sabe que não sou muito bom nisso."

Um silêncio crucial instalou-se. Os dois pensavam na mesma coisa: no assassinato. Sim, pois a morte dos pais de criação da jovem fora consequência do "mau roteiro" dos irmãos.

"Não me importo." Disse enfim, chegando ao lado dele e inclinando-se para ler as palavras contidas na tela.

"Não, Jessie!" Exclamou, aflito.

A moça, surpreendida pelo apelido que ele usara, encarou-o, com feições de uma criança que não entendia o que acontecia.

"Desculpe! É que seus irmãos te chamam assim, achei que..."

Jéssica interrompeu-o com um sorriso gentil.

"Não há o que se desculpar. Pode me chamar assim."

Ele sorriu, visivelmente aliviado. Foi nessa hora que Jéssica compreendeu: Aquela distância que criara dos irmãos havia de ser rompida. Pois, além de tudo, eram seus irmãos. Tinham seu sangue, provinham dos mesmos pais. Aquele receio que ambos sentiam ao conversarem era inaceitável. Eram irmãos! Não podiam se temer.

"Então, posso ler?"

"Talvez mais tarde."

"Talvez?"

"Vai depender do meu humor."

Ela mostrou-lhe a língua como uma garota infantil. Francisco não conteve o riso e, após alguns instantes, Jéssica acompanhou-o na risada.

Foi então que percebeu o verdadeiro significado de família.


Continua...


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