Marca Negra

Por Rebeca

Bellatrix Black

Bellatrix Black! Você amava quando alguém a chamava assim, pois dava uma impressão de impacto e respeito. A sonoridade das duas palavras lhe deleitava e você possuía uma altivez enorme em relação a elas. Sempre gostou de ser o centro das atenções, desde pequenina, pois era a primogênita dos Black. Havia nascido em berço de ouro e se julgava desde então rainha, achando que podia mandar em qualquer um, afinal, todos aqueles abaixo de si eram seus meros súditos. Mimada, impaciente, petulante, teimosa e provocativa. Cinco características que a marcaram quando começou a demonstrar sua real personalidade forte. Indomável era como seu pai a caracterizava. Geniosa era o modo como sua mãe a via. Irritante era como seu melhor amigo a descrevia. E para você, Bellatrix? Ah, você se autodenominava aquela que algum dia seria grande e que conquistaria o mundo, deixando sua marca.

E você conquistou tudo aquilo que desejou um dia, ou melhor, quase tudo. Aos 11 anos entrou para Hogwarts e honrou seu sobrenome, indo para Slytherin. Aos 14 anos descobriu ser uma amante nata da tortura, rindo abertamente ao ver um pequeno pássaro se debater na água até a morte. Aos 16 anos você estudou e se aprofundou nas artes das trevas, vindo a ficar fascinada com isso. Aos 18 anos você, corajosamente ou estupidamente, se permitiu levar pela sede de poder ao escutar as palavras daquele que prometeu limpar o mundo bruxo da escória, Lord Voldemort. Você era nova demais, Bellatrix, não percebeu a cilada em que se colocou. Foi instigada a matar alguém para provar que merecia fazer parte dos comensais e assim você o fez, não da forma como ele esperou, que seria pelo uso da Maldição da Morte. Você assassinou aquela trouxa enfiando em seu pescoço, seguidas vezes, a sua varinha, o sangue impuro dela lhe tingindo a face e lhe sujando as vestes de primeira mão. A principio, você sentiu remorso, mas depois aquilo lhe esvaiu da mente tão logo quanto veio. Sua primeira morte de outras tantas que viriam pela frente.

Aos 20 anos você se submete ao Lord, entregando-se a ele, permitindo que fosse deflorada, afinal, sua honra não mais importava. O sobrenome que você tanto amava estava sujo, fora jogado na lama pela sua irmã do meio, a ovelha negra. Andromeda desonrou toda a família ao fugir com aquele sangue-ruim do Tonks, casando-se com ele e parindo uma aberração. Seu ódio pelos trouxas aumentou a partir desse momento e você queria matar todos eles, você desejava vê-los gritar em dor e suplício, gargalhar enquanto os observava pedir pelo seu perdão em meio a uma tortura prazerosa provocada pela maldição que mais lhe aprazia, a Cruciatus. Você se entregara ao homem frio e despudorado apenas para virar comensal e você conseguiu, tornou-se a primeira mulher a ganhar a marca negra no braço, digna de ombridade, vindo a recuperar um pouco da honra de sua família. Mas isso lhe custou muito caro, Bellatrix. Sua virgindade e seu orgulho. Não foi uma noite prazerosa, foi uma noite torturante, repleta de violência e agressividade, os minutos pareciam-lhe horas, não é mesmo? Pelo menos você não proferiu som algum, estava morta afinal e mortos não emitem nada, são silenciosos e frios.

Você não queria tanto aquele homem, Bellatrix? Ele não lhe causava arrepios só de lhe sussurrar ao pé do ouvido uma ordem para matar algum inocente? Então! Você teve o corpo que sempre cobiçou desde o primeiro dia que pôs seus olhos nele. E você sabia que ele a desejava de maneira luxuriosa, pois era uma mulher dotada de belas curvas que tinha o dom da sedução. Conseguia provocar qualquer homem apenas com um morder sensual do lábio inferior. Entretanto, você se negou ao Lord várias e várias vezes, cutucando a onça com vara curta sem medo algum e com uma diversão transparecendo nos lábios levemente repuxados em um sorriso de vitória por deixá-lo louco de tesão por você, uma proeza perigosa e idiota. Voldemort sempre tem aquilo que quer. Ele havia avisado-a que só seria comensal quando se entregasse a ele e que não casaria contigo, uma vez que mulheres apenas serviam para tornar o homem fraco e satisfazê-lo de maneira bem submissa, além de gerar herdeiros férteis que pudessem passar o sobrenome a frente, o que não estava na lista de prioridades de Tom Riddle, pois ele repudiava o passado vergonhoso que o assombrava diariamente, querendo assim apagá-lo da memória e o primeiro passo era ignorar a existência do sobrenome que ganhara de seu pai. Machista. E você odiava machistas, porém, admirava o Lord de um jeito doentio e sádico, julgava ser amor. No fim, descobriu que era somente uma devoção cega e anormal. Mas você o teve, tal qual ele a teve. E você nunca gostou ou se orgulhou disso, levando esse segredo para o túmulo consigo. Seu maior arrependimento: entregar-se a Voldemort, não é verdade Bella?

Aos 21 anos você veio a se casar com o cara que mais a irritava, Rodolphus Lestrange, seu melhor amigo desde a infância. Ele nunca lhe mimou, não é verdade? Ele nunca a tratou como os demais faziam, por isso o achava irritante e chato. Pode ter certeza de que era recíproco, Bellatrix. Vocês formavam o casal perfeito. Havia ali valores e ideais semelhantes. Não continha amor, não precisavam disso mesmo, era só mais uma fraqueza humana. O que necessitavam era de companheirismo e fidelidade. Um ajudava o outro a crescer. Em um primeiro momento, você se recusou casar com Rodolphus, ainda que soubesse que ele lhe fora prometido quando tinha cinco anos de idade. Ninguém lhe impunha ordem alguma, você fazia o que bem entendia e não queria se casar com ele. Entretanto, não pôde fugir do seu destino, não é verdade? Você estava fadada a se tornar uma Lestrange e a sonoridade deleitosa do seu nome com o sobrenome se esvaíra. Bellatrix Lestrange era apático, não soava de forma impactante como outrora em sua época de solteira.

Bellatrix Lestrange... Quem diria que aceitaria o pedido de Rodolphus. Não foi nada forçado, você aceitou se sucumbir ao matrimônio por vontade própria, afinal, ele era o homem ideal para ser seu marido. Seu melhor amigo era o general dos comensais, braço direito de Voldemort, tinha grandes chances de chegar ao poder e ser reconhecido. Ainda que ele a irritasse e a provocasse em demasia, retrucando tudo aquilo que você dizia, contestando-a e não a obedecendo - ao contrário, lhe atirando ordens e mais ordens, como se você fosse obedecer a cada uma delas, doce ilusão, ele lhe seria útil futuramente, além do que, ele era demasiadamente atraente e quente. Aquele ar arrogante e prepotente; seu toque urgente explorando cada milímetro de seu corpo curvilíneo, não se preocupando em apenas satisfazê-lo, queria também lhe proporcionar prazer, lhe fazer ir do inferno ao céu, alcançar o ápice e delirar de deleite; tudo isso a encantava, a atava a ele em uma necessidade insana e totalmente desconexa sem precedentes. Você não o recusaria e sabia disso, só não admitiria para si e tão pouco para os outros. Ademais, você não possuía condições de dizer não ao homem de aparência augusta e semblante fechado, pois qual bruxo se casaria com uma impura pecadora? Tinha sorte de Rodolphus ainda a querer como sua esposa. Ele compartilhava dos mesmos pensamentos que você. Sabia que juntos vocês se tornariam bruxos poderosos e dignos de respeito. Ambos juraram fidelidade, comprometendo-se a fazer tudo um pelo o outro e assim se deu. Ele era somente seu, corpo e alma, tal qual você era apenas dele, corpo e alma.

A noite de núpcias foi incrível, não foi Bellatrix? Totalmente diferente da sua primeira vez. Rodolphus era incrível e você se viciou nele, precisando dele e de seus toques ardentes e pecaminosos todos os dias. O que possuíam um com o outro era um desejo platônico e incrivelmente ardente. Eram o fogo que consumia qualquer coisa que visse pela frente. Formaram um casal poderoso, ambos seguidores fieis do Lord, a quem ele confiava. Torturaram os Longbottom juntos, ele induzindo Frank a vários castigos físicos e mentais por meio da maldição Imperius, a favorita de Rodolphus, cujos olhos hipnóticos e incrível lábia moviam multidões. Ele sabia conduzir as pessoas, a perscrutar cada centímetro do corpo do individuo, lendo seus movimentos e descobrindo suas fraquezas, utilizando-as a seu favor, executava a Imperius com maestria. Ao passo que você, Bellatrix, com sua impulsão e loucura, tinha a maldição Cruciatus como sua diversão pessoal, vindo a ser a maldição mais forte dentre àquelas lançadas pelos outros comensais. Você amava presenciar a dor alheia. Alice sofreu em suas mãos. E você degustou do prazer ao torturá-la. Você gargalhou perante aos gritos de sofrimento dela. Você queria saber a localização de Neville Longbottom, o filho deles, bem como descobrir onde se encontravam Andromeda e Tonks, pois seriam os próximos a experimentar o doce sabor da sua Cruciatus. Entretanto, ela nada lhe disse, indo a loucura em um silêncio mórbido.

Você queria matar todos os trouxas, porque foram eles os culpados pela sua desgraça. Eles foram os responsáveis pela fuga de Andromeda, a irmã que seria sua madrinha de casamento, vindo a ser substituída no altar por Alecto Carrow – sua melhor amiga – e Bartemius Crouch Jr – seu melhor amigo quando entrou para os Comensais e se mostrou digno de seu respeito. Foram os trouxas os culpados por Lord Voldemort tê-la deflorado violentamente. Eles foram os responsáveis pelo seu casamento com Rodolphus Lestrange – não que você tenha se arrependido disso, porque foi a primeira escolha acertada, mas ainda assim, não era o que queria. Eles foram os culpados por tudo de ruim que lhe aconteceu e você os puniria. E você mataria todos eles e você realmente matou, não todos, porém, muitos.

Você sonhava em ser grande e realmente você foi, Bellatrix. Ninguém se esqueceria de você, afinal, os Longbottom estão vivos para lembrar a todos, dia após dia, quem você foi. A bruxa vadia e louca, dona da maldição da tortura mais poderosa já vista. Você foi para Azkaban, juntamente com seu marido, quando seu tão amado Lord decaiu pelo poder do amor, sentimento que você desconhecia e jamais entenderia, assim como Voldemort. Não era sinônimo de fraqueza? Ledo engano, Bellatrix. Jamais foi uma fraqueza, pelo contrário, é a maior força existente no universo e você nunca compreenderia isso. Naquela prisão infernal, jurando lealdade e acreditando no retorno do mestre, você enlouqueceu mais e mais, permitindo que o resto de sua sanidade mental fosse sobrepujada pela insanidade que sempre a acompanhou desde o dia em que você nasceu. Você abraçou a loucura de frente, como uma velha amiga. Perdeu a noção do tempo lá dentro. Não sentia falta de muita coisa, apenas de seu marido lhe tocando ardentemente e do prazer que a maldição Cruciatus lhe proporcionava quando lançada. Não ter nada disso lhe foi a maior tortura, o resto era resto.

E como seguidores fieis e braços direitos de Voldemort, você e seu marido foram os primeiros a serem libertos de Azkaban quando ele retornou. E cegamente você o seguiu novamente, matando mais trouxas e torturando inocentes, menos aquele que tanto queria: Tonks. Este foi assassinado por outro comensal, o qual você fez questão de torturar por tamanha audácia. Havia avisado a todos que ele era seu e somente seu. E já dizia o ditado: Quem avisa, amigo é. Você amou castigar o Comensal insolente. Hermione também foi uma de suas vítimas que com sorte sobreviveu a sua tortura poderosa, sangue-ruim ridícula. Dobby, o elfo que se achava livre, morreu por suas mãos e você sorriu divertida com isso. Matar era gratificante e você não se saciava, queria cada vez mais e mais! Tão logo a segunda grande guerra apareceu e você lutou pela causa que julgava ser a correta, vindo a morrer por ela. Quem diria que esse seria o seu fim! Molly Weasley - a traidora do sangue - a venceu e ela seria vista como uma heroína por isso. Todavia, não importava, porque você, ainda que vilã, não teria seu nome extinguido do mundo, pois você matou e torturou. A sua morte foi apenas uma conseqüência de seus atos. Você precisava ser punida também e assim o foi.

Mas você morreu satisfeita, não foi, Bellatrix? Porque você fez tudo aquilo que queria.