Diário De Um Pseudopsicopata escrita por Ramon Leônidas


Capítulo 17
O Ócio - Capítulo XVI




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Passaram-se alguns minutos e um frio extremo começou a percorrer o meu corpo. Quando a temperatura começou a ficar insuportável, resolvi sair de dentro da gaveta. Com as mãos na parte superior, empurrei a gaveta para abrir, não estava abrindo de jeito nenhum. Não tinha nenhuma abertura ali dentro, estava escuro e extremamente frio. Meus olhos doíam para fechar, a minha respiração estava lenta e um pouco profunda, sentia meus músculos ficando rígidos. Eram sinais de hipotermia. Se eu não saísse dali o mais rápido possível, morreria em pouco tempo. Meus olhos fechavam-se lentamente, não tinha forças para gritar. Antes que eu pudesse fechar os olhos, ouvi a porta do necrotério abrindo-se violentamente. Não pensei duas vezes, comecei a gritar e me revirar na estrutura férrea do armário de mortos. A pessoa parecia ter me ouvido e abriu a gaveta. Na hora que ela abriu, eu me joguei no chão de cerâmica branca e implorei quase sem ar: - Me tire daqui agora, vou morrer. — Era uma mulher extremamente gorda, mas tinha um rosto muito bonito. Ela sorriu, pegou uma injeção dentro do bolso do seu jaleco e respondeu: - Estávamos procurando você pelo hospital inteiro. Está pronto pra sair daqui pra um lugar pior? — Comecei a chorar e antes que pudesse proferir quaisquer palavra de piedade, ela enfiou a injeção no meu pescoço e eu desmaiei ali mesmo.


Ele acordou, daqui pra frente deixe comigo. Posso resolver isso. — Uma médica falou isso para alguns homens que estavam na porta enquanto fazia algumas anotações em uma prancheta. Ela tinha cabelo muito liso e cortado na altura do pescoço e tinha traços orientais, olhos puxados e uma silhueta muito bonita. Olhei para baixo e percebi que estava amarrado em uma maca. Não podia mexer meu braço e nem cruzar minhas pernas. O quarto em que eu estava parecia ser todo acolchoado e era tão branco que chegava a doer nas retinas. Logo notei que estava em um manicômio. A psiquiatra levantou-se com a prancheta e começou a me observar. Desviou o olhar alguns instantes e tornou a me olhar, mas dessa vez, olhou-me no fundo dos olhos: - Por que você tocou fogo na sua casa, Richard? Quem eram os tais manifestantes que você falava antes de desmaiar? — Estava tudo confuso demais. Eu toquei fogo na minha própria casa? Então, aquilo tudo foi somente coisa da minha cabeça? Não podia ser, tinha sido real demais. Desviei meus olhos de cima dos olhos da psiquiatra e li seu crachá. Ela se chamava Vanessa McClain. Voltei a olhar em seus olhos que eram absurdamente pretos e falei: - Quis matar o meu irmão. Era pra parecer acidente. Não esperava que a fumaça fosse capaz de me fazer desmaiar, não queria morrer ali, queria matar. Matar o homem que destruiu a minha vida e furtou todos os meus sonhos colocando todos que eu amava contra mim. Você imagina o quanto isso dói, Vanessa? — Ela abaixou para olhar seu crachá e eu continuei: - A solidão é a pior coisa que existe. A solidão é vil e má. A solidão destrói seus nervos antes que você perceba. É isso que acontece. E foi isso que aconteceu, a solidão me destruiu. — Ela estava aparentemente neutra com as minhas palavras. Vanessa fechou seu caderno e disse: - Não posso tomar conta do seu caso. Não posso ajudar você, desculpe! — Ela apertou um botão para que abrissem a porta e na hora que se levantou para ir embora, falei: - Você tem medo. Medo de acreditar em mim, se identificou comigo, percebo isso. Sabe que não sou louco, você leu minha ficha? Eles disseram na ficha que fui violentado pelo meu irmão durante vários anos? Falaram que a minha mãe sabia disso tudo e não falava nada por temer desestruturar a família em frente a sociedade? — Ela abaixou a cabeça e caminhou até a saída, antes de deixar o quarto, a moça me olhou nos olhos e balançou a cabeça negativamente.


Não recebi mais visitas de Vanessa e nenhum outro psiquiatra. Meus pais não tinham ido me ver naquele lugar. Só recebia visitas de enfermeiras para me alimentar e me limpar. Eles diziam que eu era um perigo para a sociedade, uma vez que tinha tocado fogo na minha própria casa. As enfermeiras que me alimentavam e limpavam, nem se davam ao trabalho de olhar nos meus olhos. Os dias passaram tão rápido que nem pude contar quanto tempo fazia que eu estava ali. Mas, eu sabia que tinha passado muito tempo. Tudo que eu pensava era no meu filho com a Lana, talvez eu nunca fosse conhecer aquele moleque, ou aquela princesa que ela esperava. Aquilo me cortava o coração, por mais que eu aparentemente não tivesse um. Aquele ócio estava me destruindo, queria me mexer, queria pular, gritar, bater, destruir, andar, ir embora, fugir. Não podia fazer nada disso.


Um certo dia em que eu estava tentando dormir, vi pela janelinha de vidro da porta que Vanessa me observava. Ela sorriu e ordenou que abrissem a porta. Sentou-se em uma poltrona branca que havia no quarto e indagou: - Sabe quanto tempo faz que está aqui? — Não esbocei nenhuma reação. Tanto tempo sem conversar, me acostumou a ser só. Não existia mais solidão, era algo muito além disso. Vendo que eu não iria responder, ela mesma se propôs a responder: - Fazem mais de seis meses. Algumas coisas mudaram lá fora. Fui retirada do seu caso por ter tentado te deixar livre. Mas, agora a diretoria do hospital mudou. É outra pessoa que dá as cartas agora, uma pessoa que não é corrupta. — Olhei para ela e perguntei: - O que você quer dizer com isso? — Ela alisou meu cabelo e respondeu: - Logo saberá. Amanhã pela manhã você poderá sair desse quarto. Poderá interagir com os outros pacientes. Será bom para você. Se tiver bom comportamento, tiraremos você daqui em cerca de dois meses. Tudo bem? — Balancei a cabeça em sinal de confirmação, enquanto ela anotava algumas coisas. As palavras que a Inês havia me dito no aeroporto, voltaram como repente na minha cabeça e involuntariamente, perguntei: - O meu filho já nasceu? — Ela me olhou duvidosamente e perguntou: - Filho? Quem está esperando uma criança sua? — Olhei para a parede e respondi: - Lana Miller. Conheci-a na Suíça, na época que fui para o internato. Quando estava no aeroporto pra voltar, a irmã dela me procurou antes do embarque e afirmou que a Lana havia engravidado de mim. Eu estava cego de saudade de uma família que nem sequer veio me visitar nesse lugar. Deveria ter ficado por lá. Provavelmente estaria mais feliz. — Vanessa continuava a escrever e ouvir atentamente tudo que estava sendo dito. Na hora que ela parou de anotar, me prometeu: - Irei achar essa moça. Ela pode ser fundamental para a sua saída nesse lugar. Ela conviveu muito tempo com você? — Sorri e falei: - Cerca de dois meses. Pensei que fossem ser os dois meses mais insanos da minha vida. Pelo visto, me enganei. — Ela sorriu e olhou para o chão. Seus olhos brilhavam absurdamente quando ela sorria, eles sorriam com ela. A tal psiquiatra era linda.


Continua...


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Notas finais do capítulo

Personagens no capítulo:
Richard Rhodes (Protagonista)
Vanessa McClain (Psiquiatra do manicômio em Westview)
Lana Miller (Garota mais rica e poderosa de Gladstone)
Inês Miller (Irmã de Lana Miller)
Lugares:
Westview (Cidade Natal do Richard)



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