Aonde você pensa que vai? Por que você escolheu o meu quarto para isso? — Falei para a Inês antes que ela saísse do meu quarto. Todos já estavam deixando-o. Ela tinha mania de arrancar fios de cabelo e come-los. Inês sentou-se na poltrona, arrancou um fio, encarou-o alguns segundos e falou: - Lembra aquele dia que você estava chegando aqui? Eu estava na sala da diretora porque tinha sido pega verificando o seu histórico, sabendo os seus podres. Antes de você chegar aqui, eu era a comparsa da Lana. Estava tudo pronto para que pudéssemos destruir a vida do Carlos. E você sabe o que aconteceu? Eu me apaixonei pelo Carlos e a Lana se apaixonou por você. Pode imaginar a loucura que isso virou? Quando a bomba da morte da Violet estourou, comprei duas passagens aéreas para o Brasil. Na hora do embarque, os policiais chegaram e nos trancafiaram em uma cela alegando que tínhamos matado três pessoas. Você já esteve em uma cela, Richard? Aposto que não. Quanto a sua pergunta: Escolhi o seu quarto porque eu queria que você visse até onde a loucura da Lana foi capaz de ir e eu sabia que iria pedir a ajuda dela. Você precisava assistir. Você é tão vítima quanto todas essas pessoas que morreram. Você é tão vítima quanto eu. — Inês se levantou e caminhou até a porta. Na hora que girou a maçaneta, ela virou para trás e sorriu suavemente enquanto enxugava algumas lágrimas com um lenço. Antes de sair, ela falou: - Esse lugar destrói a cabeça das pessoas. Esses alunos vão precisar de um novo rei. Alguém bom para que se inspirem. É de você que eles irão precisar.

“Eles podem precisar de mim o quanto quiserem, vou embora desse lugar agora”, pensei. Comecei a arrumar as minhas malas para ir embora da Suíça. Já estava mais que na hora. Uma voz suave e serena falou no meu ouvido atrás de mim: - Aonde você vai? Me sinto só Rich. Não me abandone você é a coisa mais próxima da Lana que eu tenho por perto. Não me deixe. — Tomei um susto, não havia visto a Vivien entrar no meu quarto. Ela acariciava as minhas costas levemente com as suas unhas. Tirei suas mãos de mim e falei: - O que você faz aqui? Preciso ir embora. Esse lugar vai se tornar um trauma para mim. Preciso ir! — Ela se afastou um pouco, sentou-se em uma das camas e começou a chorar. Acariciei seus fios de cabelo e falei: - Você é maravilhosa, mas eu não posso ficar. Não posso mesmo. — Ela segurou o meu rosto firmemente e me beijou. Abraçou-me e começou a acariciar meus ombros só com a ponta dos dedos: - Fica comigo. — Empurrei-a e andei rapidamente até a porta, abrindo-a. Sem meias palavras falei: - Por favor, me deixe em paz. Saia daqui, preciso ficar sozinho. — Ela passou a mão nos cabelos chorando e aparentemente desesperada: - Você vai se arrepender de ter me tratado assim. Eu só precisava de um colo amigo. — Empurrei ela para fora do meu quarto e fechei a porta na cara dela. Na hora que estava fechando a minha mala, o celular do Jimmy começou a tocar. Era o Robert, meu irmão. Respirei fundo e atendi sem falar uma palavra: - Jimmy? Como está indo o plano? Preciso que você mate o Richard logo, quero limpar meu nome. Lembre-se, tem que parecer acidente. Depois disso, iremos ficar juntos oficialmente, eu juro! — Desliguei o telefone na cara dele e um arrepio percorreu a minha espinha. Sentei na cama, desnorteado. Estava dormindo ao lado do meu inimigo. Senti muito ódio. Ninguém me trai assim. Precisava dar um jeito no Jimmy antes de partir. Mas como? Os dois que foram acusados pelos crimes que eu cometi e estão presos. Como eu faria isso?

O que está fazendo com o meu celular na mão? — Falou o Jimmy enquanto tomava ele de mim e mexia nele. Ele olhou para mim em pânico e disse: - O que o Robert falou pra você? — Respondi quase sussurrando: - Não ouvi, atendi e desliguei logo em seguida. — Jimmy respirou aliviado e me deu um abraço. Ele sorriu e falou segurando o meu pulso: - Quero que você saiba que estou do seu lado agora. O que o Robert fez com você foi um absurdo. Sou seu amigo, você precisa confiar em mim. Certo? — Balancei a cabeça em sinal de confirmação e dei um sorriso "amarelo". Jimmy me abraçou e continuou: - Você precisa sair daqui Richard. Esse lugar vai destruir você, tudo isso está virando uma bola de neve. A maré está subindo e uma hora você vai morrer afogado. Tem uma vingança esperando por você em Westview. Não coloque tudo a perder por causa de assassinatos que você cometeu devido a caprichos de uma adolescente igual ou pior que a Julie! — Aquilo fazia sentido. Lana era igualzinha a Julie, usava o sexo e a manipulação pra conseguir o que queria e sempre conseguia. A ficha caiu, juntamente com outra interrogação: - Como você sabia que tem o dedo da Lana por trás disso tudo? — Jimmy balançou a cabeça enquanto sorria ironicamente e disse: - Sabe como é a Jenny, não é? Ela descobre tudo. Ela sabe de tudo! — Ele sacudiu-me pelos ombros e prosseguiu: - Você precisa dar o fora daqui agora! Entendeu? Agora! — Ele pegou a carteira dele e enquanto tentava achar alguma coisa dentro dela, falava: - Não vão deixar Richard Rhodes entrar em um avião, mas com certeza deixarão o Chuck Kubrick entrar. — Jimmy me deu uma identidade falsa e uma passagem aérea e me abraçou. Pela primeira vez em muito tempo senti um abraço sincero e amigável. Antes que eu pudesse comemorar, a diretora Jenny entrou no meu quarto: - Vivien acabou de se suicidar. Se matou enforcada! Richard, você precisa dar o fora daqui o quanto antes! — Foi tudo minha culpa.

Continua...