Abri o livro na metade, para ver o que me esperava escondido no meio daquela poeira de letras;

“Ayil por ser tão independente e livre, afirmava nunca se apaixonar, até um anjo profético afirmar, que esse dia iria chegar.”

Legal! Um livro de poesias era tudo o que eu não esperava - e me encantei- em encontrar. Mas, quem é Ayil? Fui para o começo do livro e havia nomes hebraicos, nomes de anjos, em ordem alfabética. Procurei por cinco páginas até achar “Ayil - anjo do Sagitário signo do zodíaco.” Meu signo! Isso está até parecendo filme (risos). Levantei da cadeira e fui até o balcão onde parecia ter interrompido uma conversa muito séria da minha tia e Marianne, sendo que as duas empalideceram quando cheguei perto. Tia Francis deixou um suspiro sair pondo a mão no peito.

- Não flutue dessa forma Morga, nos assustou. – me disse com a cor voltando ao rosto Tia Francis.

- Eu apenas caminhei de vagar tia... Enfim, quero levar esses três livros, se não for pedir demais.

Marianne sorriu novamente doce para mim, porém quando pegou Il Potere Dellamore sua face se tornou um misto de confusão e surpresa.

- Porque eu sinto que conheço esse livro? – disse para si mesma.

Esperei paciente ela tirar sua própria conclusão, tia Francis tinha conta na biblioteca, então apenas coloquei os livros em uma sacola retornável e caminhamos de volta para casa.

Um garoto moreno de olhos cor mel passou por mim e me avaliou da cabeça aos pés, italianos. Continuei andando quando percebi que tia Francis havia parado, e oh que surpresa, ela conhecia o garoto de mel, digo, olhos de mel. Respirei fundo e dei alguns passos para trás, o garoto sorriu torto e me olhou profundamente nos olhos, senti minhas bochechas corarem e um aperto no peito, mas o que diabos?

- Prazer, eu me chamo Gianluca Boschetto Barone. E a sua adorável sobrinha é...? – ele disse com uma voz musical.

- Esta é Morgana, dê um olá para o filho dos meus amigos de faculdade! – disse tia Francis exultante.

- Olá. – falei sorrindo fraco.

Eu posso não ser especialista em garotos, mas eu sei que os italianos se divertem seduzindo as mulheres – principalmente as estrangeiras - com sua voz sensual, seu olhar de matar, seu sotaque romântico, seu idioma... Oh céus, se controle mulher!

- O Gianluca é filho dos meus queridos amigos Eleonora e Ercole, eles estudaram comigo na faculdade sabia? Grandes pessoas! E tive uma idéia dos anjos agora, porque você e sua família não jantam lá em casa hoje Gianluca?

- Bem – ele vacilou o olhar para mim – eu acho grandíssima a sua idéia, comunicarei aos meus pais e aviso mais tarde, pode ser?!

- Mas é claro que sim meu querido, esperamos vocês ás 20h caso puderem ir.

Tia Francis deu um beijo estalado na bochecha do menino e me deu um cutucão, eu lhe dei um abraço rápido de despedida, por mais que eu não faça isso com as pessoas que acabo de conhecer, foi um pequeno impulso que não vou – não posso – repetir. Se bem que... Não poderia ser ele o italiano lindo que me bajularia nesses três meses de férias aqui?! Não sou nenhuma vadia, mas o garoto era muito bonito e educado... Pensarei no assunto.

Andamos uma quadra e tia Francis pegou meu braço, ela sorriu delicadamente apontando com a cabeça onde estávamos, “Il sapore Del’Itália”  - O sabor da Itália -, o tal restaurante que ela havia dito. Entramos lá dentro e o cheiro de comida invadiu minhas narinas dando água na boca, eu podia sentir o gosto da pasta e seu molho na minha garganta, logo procurei uma mesa disponível, porém estava lotado. Minha tia pos a mão no meu ombro e me apontou uma mesa perto dos refrigeradores com sorvetes e refrigerantes, o lugar não aumentaria nem diminuiria meu frio então fomos sentar lá. Um garçom de pele alva e olhos azuis – e uma boca que nossa! – por volta dos seus 30 anos veio nos servir.

- Ciao Francis! Que bom que veio almoçar aqui, e trouxe uma acompanhante. – disse sorrindo de orelha a orelha.

Sinto feromônios no ar?! (risos). *Feromônios = Hormônios do amor*

- Sim Marcelo, esta é minha sobrinha, Morgana. – suas bochechas coraram.

Meu faro para romance não falha, minha tia e esse cara tem alguma coisa! Ele sorriu cortês para mim e pos os cardápios em cima da mesa, falou que era só chamar depois que pedíssemos e com um aceno de cabeça saiu. Minha tia pegou o cardápio e pos na frente do rosto, provavelmente para esconder um sorriso, a adolescência é algo que continua viva dentro de todos os adultos, apenas com mais responsabilidade.

Eu dei um chute de leve no pé dela por baixo da mesa e segui avaliando o meu cardápio, ela olhou para mim e não me agüentei e comecei a rir, logo estávamos as duas rindo da situação. Tentei prestar atenção no cardápio que era variado até, sendo que sempre tive em mente que em restaurantes italianos só serviam pasta, já que eu sabia que na Itália não existem churrascarias. Decidi-me por uma Bruschetta, que segundo o cardápio é a especialidade da casa. Tia Francis pediu o mesmo e conversamos um pouco enquanto esperávamos, ela me falou sobre o tal Gianluca e a família dele, deu um discurso de como eram bons e como eu devia me envolver com aquele tipo de gente que ela confiava e principalmente, falou que eu e Gianluca fazíamos um belo par, porque eu já esperava por isso?!

Marcelo trouxe a Bruschetta e comemos tomando um vinho – como ninguém ali sabia que eu tinha menos de 18 eu bebi junto com a minha tia – muito bom, um almoço típico italiano, segundo minha tia. Quando íamos pedir a sobremesa eu deixei o copo que eu segurava cair no chão, um garoto ruivo de olhos azuis impenetráveis entrou no restaurante e focou seus olhos em mim.

“Não devia ser tão gentil com o seu assassino.”

Sim, era ele, eu podia sentir nos ossos do meu corpo que era o garoto do meu sonho.