-- Qual é o problema de vocês? – Uma voz que eu reconheci como Ângela perguntou, bufando novamente. Então alguém, que presumi ser ela, pegou o meu lençol e o puxou para fora da cama. Bem, considerando o calor que eu estava senti, o máximo que poderia fazer era agradecê-la e voltar a dormir. – É sério, já estamos saindo, sabia? Até a Samantha já está presente.

-- Tudo bem, tudo bem. – Daniele murmurou. – Já estou de pé.

-- Não está não. – Ângela rosnou. – Ainda está tentando se levantar. Vamos lá, vamos lá. – Abri meus olhos, vendo que ela parou de tentar nos acordar por um momento, e colocou a mão na cintura. – O Paul está aí... – murmurou para Dani.

Ao invés de comemorar – coisa que eu presumi pelo tom que Ângela usou. – ela gemeu de frustração: -- Ah não. Ele não.

-- Você não está feliz? – Ângela perguntou.

-- Em ver meu ex-namorado? Nunca. – Resmungou, atirando-se para fora do colchão. Resmunguei algo que nem eu mesma entendi, e me levantei. Dani murmurou algo sobre estar indo para o banho, e eu puxei uma roupa da mochila.

-- Dormiram tarde ontem? – Ângela murmurou, se sentando na sua cama, enquanto me fitava. – Parece estar exausta.

-- Tenho duas ligações pra fazer, e ainda preciso arrumar um meio de entender o que um amigo me disse ontem.

-- Um amigo? – Ela perguntou, desconfiada. Ponderei sobre o quando estranho seria dizer a ela sobre os meus sonhos com Adam e sobre como sua presença me ajudou a salvar nossa vida naquele beco, quando o Moroi dela foi morto.

-- É. Foi enquanto eu estava lá embaixo. – menti.

-- Pensei que tivesse usado seu tempo para falar com seu namorado.

-- Também. – Admiti. – Mas após falar com ele recebi uma mensagem de voz do meu amigo. E então Dani me chamou e eu voltei para o quarto.

-- Tudo bem então. – Ela deu de ombros. – Vou descer. Acha que você e Dani conseguem estar prontas em trinta minutos?

-- Faremos nosso melhor. – Prometi, vendo-a sorrir e então sair, trancando a porta.

Enfiei uma blusa de seda preta, e um short jeans azul escuro, calçando o tênis em seguida. Fui para frente do espelho, penteando o cabelo – e o deixando solto. Quando me dei por satisfeita, Dani estava saindo do banheiro, de forma que pude fazer minha higiene matinal que fora adiada devido à ocupação do lugar.

Quando voltei para o quarto, vi que Dani já estava arrumada. O visual era parecido com o meu, se não fosse pelo fato de que o dela era mais confortável e básico, além de ter prendido o cabelo. Descemos em direção ao saguão, e assim que deixamos a chave ali, ajeitei a mochila no ombro e então saí, vendo todo o grupo reunido na praça.

-- Vocês não poderiam simplesmente ter esperado do lado de fora do hotel? – Resmunguei. – Pouparia esforço.

-- Olha quem fala. – Amanda deu um sorriso sarcástico. – A guardiã famosa por participar de várias batalhas.

-- Toda guardiã tem seus momentos de sonolência. – Dei de ombros. – Realmente, estamos esperando o quê?

-- Os meninos chegarem. – Uma voz mais gentil respondeu, e então eu vi Samantha de pé ao lado de Amanda, como se estivessem conversando algo muito empolgante antes que eu interrompesse. – Sinceramente, eles conseguem ser mais enrolados do que nós, mulheres.

-- Diga isso por eles. – Jared protestou.

-- E por você também. – Dani advertiu. – Não é como se você fosse o rei da praticidade.

-- É isso aí. – Amanda apoiou. – Doutor Macarrão Frito.

-- Oi? – Acompanhei as risadas que se prosseguiram. – Como é isso?

-- É que o nosso protegido não tem jeito algum na cozinha, sabe, Rose? – Dani comentou entre as próprias gargalhadas. – Então uma vez ele inventou de fritar o macarrão ao invés de cozinhá-lo devidamente.

-- Vocês não encomendaram a comida, então eu tive que me virar. – Tentou se defender. – Nunca mais dou folga para as duas no mesmo dia.

-- Quanta embolação. – Exclamei, exasperada. – Acho que até eu me saio melhor na cozinha. E olha que sou um desastre natural. – Acrescentei, me lembrando da vez em que Ian teve que cozinhar para mim, na Itália, porque eu estava completamente distraída e dentre outras coisas.

-- Já era hora! – Samantha comemorou em meio às risadas. Acompanhei seu olhar, vendo três homens e uma mulher chegarem com mochilas de diferentes cores nas costas. – Entregaram a chave?

-- Sim senhora, mamãe. – A menina debochou. Ela tinha olhos violetas e um cabelo loiro sedoso que escorria até meados das suas costas. – Sou Talita, e vou ajudá-los nas buscas. Morei um bom tempo em Vitória. – A menina que agora tinha um nome se apresentou. Continuei encarando-a. – Algum problema comigo, Hathaway?

-- Você me lembra de alguém que eu conheço. – murmurei. E era verdade. Se não fosse pelos olhos violetas, eu juraria que ela era alguma parenta próxima de Lissa. A diferença era que os músculos eram perceptíveis em Talita, e ela parecia ter um humor negro assim como o meu anos atrás.

-- Que novidade. – Ela murmurou. – Todos dizem isso. Então eu estou acostumada. – Me lançou um olhar que me analisava de cima a baixo, e quando pareceu que eu passei no seu teste, voltou a direcionar o olhar para mim. – Então, com quem eu me pareço agora?

-- Lissa. – murmurei. – Rainha Vasilisa, na verdade.

-- A rainha? – Samantha tossiu.

-- Se deu bem, Talita. – Um dos meninos que estava próximo dela murmurou, passando o braço pela cintura da garota. Presumi que eles eram tipo namorados, porque o olhar que Talita lançou para ele era um tipo de irritação fofa. Quase como o que eu lançava para Ian.

Só que esse garoto não se parecia em nada com Christian ou Ian – na verdade, ele mais se parecia com um Ken em versão humana. Os olhos mais se pareciam com fendas azuis, pouco parecidos com os de Ian, e o cabelo era um louro platinado. Porém ele tinha um forte bronzeado, porém mais claro que o meu. E tinha um sorriso que parecia fazer parte da sua expressão.

-- Vá se ferrar. – Ela resmungou, tentando se afastar dele, porém sem deixar que o braço que estava na sua cintura saísse. Como se percebendo meu olhar, Dani se aproximou de mim:

-- Caso antigo. – Sussurrou. – Eles só não dão o braço a torcer. – Pigarreou, elevando o tom de voz. – Então tá. Esse que está provocando a Talita e a deixando de mais mau humor ainda é o Stefan, e aqueles – apontou para os outros dois. – São Lucas e Gabriel.

Segui seu dedo enquanto ela fazia as apresentações, identificando Lucas como o ruivo de olhos pretos – e Gabriel como o moreno de cachos pretos e olhos cinza.

-- Eu não estou de mau humor. – Talita protestou.

-- Claro que não. – Stefan cantarolou. – Só está checando o território. Não é mesmo, marrentinha?

-- Já disse para não me chamar assim. – A garota rosnou.

-- Muito lindo o amor de vocês... – Jared interrompeu, fazendo com que todos o fuzilassem com o olhar. – Mas estamos atrasados, já. E há uma pessoa para ser salva. Se é que me entendem. – Lançou um olhar significativo para mim. E apesar de Jared ser um completo canalha, fiquei feliz por ele não ter se preocupado com a breve aproximação do casal.

Eles teriam todo o tempo do mundo – mas Dimitri não. Não se eu demorasse ainda mais.

Então lançou um olhar para as SVU que estavam estacionadas rente à calçada, e como no automático, todos seguimos para os carros.

Eu fui no primeiro, juntamente com Samantha, Daniele, Amanda e Jared. Os outros meninos ficariam no segundo, sendo importante manter a descrição. Segundo Samantha, eles conheciam outro caminho – porém mais longo – para chegar à capital, então não iríamos pela mesma estrada. Isso poderia levantar alarmes.

O trajeto, em si, foi rápido. Uma vez que eu coloquei os fones no ouvido e me desliguei do mundo apenas ouvindo o solo de Fix You, duas horas passaram com mais rapidez do que quando chegamos.

O hotel era pouco diferente do habitual – a fachada azul era extremamente atraente, e ela possível visualizar o pouco movimento nas estradas daquela cidade. Quero dizer, não é como se fosse deserta, mas comparado ao que eu estava habituada? Esse lugar era praticamente uma vila pacífica onde todos os vizinhos adoram fofocar sobre a vida dos outros, porém são extremamente acolhedores.

Organizaríamos-nos em duplas – e como Sydney havia se dado bem com Amanda, uma vez que pareciam ter um gênio similar – elas ficariam em um quarto, enquanto eu ficaria com Talita. Daniele havia escolhido ficar com Samantha dessa vez.

Acabei ficando no primeiro quarto do corredor, onde tinha um beliche branco com detalhes entalhados e uma pequena escrivaninha ao lado, com um tapete separando ambos móveis, e uma janela branca com cortinas bordadas.

Larguei minha mochila na cama debaixo, uma vez que Talita já havia pulado na de cima, e tirei o fone do meu celular. Por um milagre divino, ainda tinha bateria – o suficiente pra fazer uma única ligação. E apesar de também precisar falar com Abe, meu assunto com Ian era prioridade. Eu poderia questionar Abe a qualquer minuto.

Sendo assim, disquei o número de Ian enquanto me sentava contra a parede lisa atrás de mim. Apoiei a cabeça na mesma, colocando os joelhos rentes ao peito enquanto esperava que ele atendesse.

-- Rose? – O tom severo me surpreendeu. – Eu estava prestes a ligar para você.

-- Conseguiu as informações? – Me sentei ainda mais ereta, e logo Talita emitiu algum gemido como se tivesse tentando entender o que falávamos. Em um salto, ela estava sentada ao meu lado, me fitando ansiosamente.

-- Você está lidando com um grande perigo, Americana. – Ele advertiu. – Estão lidando com opositores.

-- E como você sabe disso?

-- Eu já fui um, lembra? – Ele deu um suspiro. – E já pertenci a esse grupo, em especial.

-- E...?

-- Você está lidando com o pior tipo de gente possível. E se eles ainda não mataram Dimitri, é porque querem outra coisa. – Fez uma pausa. – Ou pessoa.

-- Eu. – Soprei.