Vida boa essa viu? Se é posso dizer isso. O melhor seria morte boa? Morte-vida boa? Sei lá! Esse troço filosófico é com o Edward, não comigo. O meu cérebro se agita é com muita ação e adrenalina. Aí sim... Tô dentro!
Mas por falar em adrenalina... Panem anda bem devagarzinha. O que se tem aqui, em forma de agito, são os tais de Jogos Vorazes. Uma judiação. Um monte de crianças humanas tendo que se matarem na Arena. Um massacre! Depois acham que nós, os vampiros, é que somos perigosos. Se bem que tem os sanguessugas de humanos, como o Jacob diz.
Esse ano, eu vou providenciar uma diversãozinha pra mim e pra minha “Macaquinha”. Ah se vou... Preciso só de um sinal verde do Carslile e bum! Panem que me aguarde.
-Só quero ver se ele vai permitir. –Edward me falou, com cara de tédio.
 “-Ei! Sai da minha cabeça. Privacidade! Sabe o que significa?” –Ele deu um sorrisinho torto e eu devolvi com o meu melhor sorriso debochado. Ha ha. Usei a técnica que vinha desenvolvendo há décadas e tornou-se infalível, para aborrecê-lo. Primeiro penso em paisagem. Muuuuuita paisagem. Até conseguir visualiza-lo vestindo de Carmen Miranda fazendo um strep tease bem gay para a Bella. Ha ha ha . Me acabo com a cara que ele faz quando o ponho rebolando de costas pra ela. “–Quer ler meus pensamentos? Taí.” –Debochei e ele revirou os olhos antes de sair resmungando. Ponto para o Emmett aqui! Yessss!
Próxima missão, Carslile.
No caminho encontrei a Nanica me encarando:
-O que você vai fazer? Tô te vendo coberto de sangue? –Ela perguntou afirmando, com cara de susto. –Derramou comida?
-Eu? Derramar comida? Acho que é o meu plano que vai dar certo, Nanica.
-Que plano?
-Secreto.
-Sei. –Ela fechou os olhos e visualizou outra coisa. –Jura? Na colheita? Você vai se voluntariar no lugar daquela criança?
- Vou. Então vai dar certo mesmo? –Animei-me.
-Parece, neh?
Segui para o meu alvo e encontrei-o lendo um livro de zilhões de ano, que ele achou numa expedição que nos obrigou a participar por toda a área Polar. Sorte é que amo urso polar, senão o tédio me mataria.
-E aí? Interessante o livro? –Fui educado.
-Muito. Você acredita que ele trás toda a genealogia de Rambaldi e...
-Carslile, não me leva a mal, mas eu só tava sendo educado, sabe? Rosalie anda dizendo que eu preciso exercitar mais a civilidade, então...
-Ah, certo. E você estava sendo educado e me amansando para...
-Claro e objetivo. Isso é que eu gosto. –Puxei a cadeira e virei-a de costas para eu me sentar. –Sabe, nós já estamos tendo que sair de Panem mesmo... Nosso tempo já tá vencendo por aqui...
-Certo. –Ele olhou-me analiticamente. As vezes eu pensava se ele também não podia ler a mente ou prever o futuro, pois com esse olhar que atravessava nossa mente, com certeza ele modificava nossos sentimentos, como o Jasper.
-Então, esseanoeuqueriasersorteadonaColheita.-Disparei.
-Mas você não pode ser morto por aquelas crianças e muito menos mata-las, filho. E tudo é televisionado.
Eu tinha resposta pra isso!
-Eu e a Rosalie já pensamos em tudo.
-Por que esse desejo? Você não poderá divertir-se na Arena.
-Eu sei. Mas quebra a rotina... Além do mais a Nanica previu que esse ano será sorteado uma criança de quem gosto muito. O garoto é fera, dos meus. –Vi um lampejo de sorriso nos olhos do meu pai.
-Você se voluntaria por uma criança humana, filho?
-Não é que eu seja bonzinho ou algo assim...
-Você é bom, filho. O maior coração que conheço.–Fiquei encabulado com o elogio.
-A Macaquinha diz isso... –Ele sempre ri do apelido que eu e Rosalie nos demos.
-Mas, me conte dessa criança.
-Ele é grande e forte, tipo eu. Todo mundo pode pensar que ele vai tirar de letra a Arena, mas aí é que tá o engano. Há um tempo atrás, eu e o Jacob saímos pra caçar e o vimos na Floresta. Ele burla a segurança do Distrito, mas não é pra caçar, é somente pra colher frutas e raízes pra família. Daí, depois que ele foi embora, caçamos e voltamos de boa. Só que em outra ocasião o vimos novamente, e ele estava com um mamadeira, amamentando uns filhotinhos de urso sem mãe. Acho que a mãe tinha sido o meu almoço na semana anterior. Fiquei curioso com o garoto e passei a observa-lo. Carslile, ele protege as crianças mais fracas e cuida até de passarinhos que caem do ninho. O garoto é uma alma nobre. Não resistirá um dia na Arena! Sem contar que seus pais e irmão dependem dele.
-Você ficou tocado com a criança, neh filho?
-Só me lembrou de mim mesmo, alguns séculos atrás...
-Pois bem, se você for pra Arena, o que fará?
-Nada. Eu e a Macaquinha ficaremos de boa, nos esquivando aqui e ali, sem usar nossos poderes, o que vai ser divertido, e quando não der mais, fingiremos nossa morte. Só cair no chão e derramar sangue falso. O resto é ficar frio e duro.–Imaginei minha cara de morto na Arena. Iria fazer a mais dramática possível para os closes. Os humanos faziam tanto drama pra morrer...
-Se é assim... Você e Rosalie teria que ir antes de nós para o próximo destino, você sabe?
-Mas e aí? –Meu cérebro já tava no maior pique. Arena, lá vou eu!
-E aí... Que para salvar uma nobre criança humana, eu aprovo. Queria poder salvar todos!
-Mas a Nanica já viu que a Revolução que estão armando dará certo. É questão de tempo.
-Nos temos tempo, filho, eles não. Essas crianças têm 60, 70 anos, no máximo, isso se não morrerem com as condições de tanta pobreza que vivem. Não é todo Distrito que tem médicos voluntários como o que estamos.
É verdade! Meu pai, e Nessie, haviam se disposto a atender gratuitamente a população do nosso Distrito. Carslile era o médico, e Nessie se passava por estagiária dele. Ninguém perguntava muito, mesmo que achasse estranho, pois o fato é que todos queriam ser tratados, fosse por quem fosse. A minha Macaquinha era o gênio da mecânica local. Poucos entendiam uma moça tão linda entender tanto de máquinas e passar o dia em baixo delas, mas a Macaquinha se esbaldava com isso. Já o Jasper era o Terapeuta e a Nanica ajudava Esme a fazer e distribuir comida humana para as Crianças idosas e doentes. Já eu e o cachorro, digo o Jacob, encarávamos o trabalho pesado nas minas, adiantando o lado dos mineiros quando esses não estavam olhando, e nos divertindo com isso. Ainda mantínhamos uma vida mais reservada, mas com tanta doença que surgiu por causa na radiação e comprometimentos genéticos no decorrer dos séculos, todos pensavam que sofríamos de alguma mutação ou algo do gênero. E como éramos socialmente úteis, ninguém nos questionava, muito menos nos denunciava para o Governo.
-Vou dar a notícia pra Rosalie.
Num minuto ela se materializou do meu lado, assim como os outros.
-Eu hein? Dava ao menos pra disfarçarem a curiosidade, povo? –Caçoei.
-Como vocês farão no sorteio? –Nessie logo quis saber.
-Edward?–Olhei pra ele sem me dar ao trabalho de gastar saliva, já que ele lia a mente e já sabia que eu estava contando com sua super velocidade.
-O único detalhe é que eu e Bella não somos desse Distrito, lembra? –Puxa vida! É verdade! Edward e Bella por algum motivo bizarro optaram ficar no Distrito vizinho ao nosso. Não que isso fosse problema pra eles ou pra nós, pois distância pra nós era nada, mas em se tratando de Colheita cada um tinha que ser visto em seu próprio Distrito.
-Tio, eu sou bem rápida também. Puxei isso do meu pai.
-Boa, Nessizinha! Então você quebra meu galho?
-O seu e o meu. –Rosalie postou-se atrás dela. Minha Macaquinha amava a Garota. Tipo assim, amava mesmo! Amor de mãe pra filha. Algo bem grande. E se enchia de orgulho e babação a cada feito da Nessie. Até passou a gostar do Jacob. Se bem que eu achava que ela nunca o odiou de verdade, pois o Jake é um cara maneiro.
-Macaquinha, pronta pra Arena?
-Nasci pronta!
-Então, lá vamos nós!

Mal dormi até o dia da Colheita. Detalhe, eu não durmo! Boa!!!! Eu e a Rosalie passamos a noite nos distraindo de maneiras beeeeem mais interessante, se é que me entendem.
Fiquei de longe com Rose observando nosso pupilo. Todo o ritual dele se despedir da família, dos lugares, dos animais que cria e dos amigos. O Garoto parecia saber que seria sorteado. Chegou a chorar o olhando algo gravado numa árvore. Quando ele saiu a Macaquinha correu lá e viu gravado em um coração: Duke e Tila. Então a criança tinha uma paixão...
-Olha só, baby, podemos estar salvando uma futura família. Taí gostei.
-Você é um bobo, Emmett.
-Você é romântica, só fica se fazendo de durona.
-Hum. Romance é bobeira. Existe química, afinidade...
-Blá, blá, blá... Tá que você na ama o seu ursão aqui... Nem vem.
-Eu não disse que não amo, mas é que os humanos falam de amor... sei lá! Falam eu amo, pra qualquer coisa ou pessoa.
-Eles são crianças, gatinha. Não esquece. Um dia eles aprendem.
-O problema, Emmett, é que a qualquer hora, pra qualquer um deles, pode não haver amanhã.
-Falou a minha gênia! –Eu baguncei o cabelo dela e ela rosnou pra mim, pois odiava quando eu mexia em seu penteado sempre impecável.
Chegamos ao lugar da Colheita e tudo correu como o previsto. Quando a estravagante mulher cheia de rugas e cabelos alaranjado cantarolou o meu nome, fiquei quase emocionado com o lamento dos caras da mina. Já ia mandando o maior sorrisão, quando o Jasper, ao meu lado, cutucou-me lembrando-me que eu deveria ficar triste. Só não deu pra chorar. Mas fiz funguei e tudo mais.
Já quando saiu o nome da Macaquinha, eu fingi um desespero tão grande, que do seu lugar, Esme teve que me lembrar de ser menos dramático. Eu estava convivendo demais com humanos.
Por fim, estávamos os dois: Emmett Cullen e Rosalie Hale, Tributos do nosso Distrito.
Quando a velha laranja proferiu a tão batida frase: -“Que a sorte esteja a seu favor!” olhei para a criança que eu havia protegido, orgulhoso do meu feito. O interessante é que eu não esperava nada ao olhá-lo, mas surpreendentemente ele colocou a mão direita sobre o coração e depois sobre a fronte, num cumprimento silencioso a mim. O Garoto sabia que sua vida havia sido poupada.