Não consigo organizar meus pensamentos e acabo sendo mordido no rosto. Os dentes são grandes e finos suficientes para entrar em meu rosto, pouco abaixo dos meus olhos. A dor é muito forte, mesmo assim tento me concentrar. Não posso controlar a mente dele, mas ainda posso prever alguma possível rota de fuga. Observo o futuro alguns minutos á frente.

Vejo o quarto de Pittacus, ele está com a janela arrebentada, tudo está quebrado e bagunçado pelo chão. Uma coisa me chama atenção, vejo um dos leitores digitais – que usamos para ler, e pegar informações de um enorme banco de dados. Onde tem tudo o que precisamos saber - no chão, quando me concentro consigo ver o que está escrito na tela: “COMO NÃO SER AFETADO PELO CONTROLE DA MENTE”. Então era assim que ele consegue não ser afetado, ele foi muito esperto procurando um jeito de superar meu legado. Aproximo-me mais ainda e leio o artigo completo: “o segredo para não ser controlado mentalmente é você entrar em contato com seu ser interior e manter a concentração. Se envolver em seus próprios pensamentos como se fossem reais, assim você controla sua mente e consciente disso vigaristas com controle da mente não conseguem entrar em sua mente. Mas cuidado, barulhos uma luz forte, cada coisa que atrapalha sua concentração pode ser ruim para você...” parei de ler, já sei o que fazer. Só preciso de uma distração. Neste instante volto para o presente onde estou sendo massacrado pelo monstro.

Mesmo sentindo uma dor imensa, eu empurro com toda minha força o monstro que sai de cima de mim e fica do outro lado do quarto. O que eu preciso fazer é distraí-lo para poder controlar sua mente. No momento não tenho os legados mais úteis para se usar contra ele, mas ainda tenho força e inteligência elevadas. Ele avança novamente. Eu uso uma evasiva para a esquerda, do lado oposto ele me encara. Á minha frente tem a cama e a besta, do meu lado esquerdo a porta de saída para a escada e na minha direita a janela. Estou com sorte, por que estou do lado onde tem os livros (digitais e físicos) numa espécie de mesas de estudos tem uns dois abajures. Luz, a distração que eu precisava. Ele avança novamente, pula e passa voando praticamente pelo quarto inteiro e quando chega a centímetros de mim, eu jogo o abajur em seu rosto. Uma luz se estende pelo quarto. Em Lorien os abajures são feitos de um material não tão resistente, mas como não usamos lâmpadas convencionais e sim uma espécie de luz química (é um liquido que brilha intensamente, dispensando o uso de energia) o chão inteiro fica brilhante e até eu tenho dificuldade de enxergar. Ele balança a cabeça e eu tento entrar em sua mente. Eu tento, mas não consigo me manter. Ele está resistindo. Precisa de mais, pego o outro abajur e arremesso em sua cabeça. Agora ele está cheio de brilho o chão está praticamente coberto e eu não enxergo nada, a não ser um monstro gigante se debatendo. Minha hora de agir. Eu me afasto para a esquerda. Nesse momento ele está perto da porta, eu subo na cama, pulo por cima dele e subo em suas costas. Ele sente que estou ali e se debate mais ainda, tenta virar os dentes em minha direção e morde o vazio. Eu me arrisco e coloco minhas mãos em suas pálpebras, puxo para cima abrindo completamente seus olhos. O monstro ruge e pela primeira vez eu percebo que estou em casa e minha mãe também está, provavelmente ela vai nos ver aqui agorinha. Tenho que dar um fim nisso. Eu consigo entrar na mente do meu irmão.

Eu tento convencer, ele a desistir da luta. Mas alguma coisa lá no fundo está me atrapalhando. Redobro meu esforço e consigo tomar controle por completo. Facilmente eu consigo fazê-lo voltar a sua forma normal. Ele está caído no chão e totalmente sujo com o liquido da luz química. Uns momentos de silencio e as portas do quarto se abrem. Minha mãe não estava do outro lado e sim meu pai.

Eu tento pensar rápido. Meu pai, essa bagunça toda, Pittacus desmaiado (provavelmente morto, acho que abusei demais de sua mente), eu e luz química por todo lado. Só tenho uma alternativa, meu pai. Tenho que controlá-lo.

- Deixe os meninos brincar, venha me ajudar com a comida aqui – digo na mente do meu pai, ele está ouvindo a voz da minha mãe. Ele se vira e desce as escadas. Deve demorar alguns minutos até ele perceber e voltar. Eu solto um longo suspiro, e me aproximo da janela, olho por todo o bairro, do terceiro andar tenho uma boa vista de tudo.

Os segundo seguintes, são muito agitados. Eu me lembro que me desconcentrei da mente de Pittacus, viro para trás, mas já é tarde demais. Vejo outro monstro, maior e mais feroz. O brilho já está fraco e o monstro tem asas. Ele voa para cima de mim, sinto suas garras em minha costela. Sinto a janela se destruindo nas minhas costas. E no instante seguinte, estou caindo do terceiro andar da minha casa. O monstro está voando acima de mim e eu estou a segundos de virar só mais um corpo no chão.