Eram muitas emoções para um só dia! Como sempre continuava sem saber o quê fazer. Meus olhos escorriam làgrimas amargas sempre que lembrava que todas as pessoas que mais me apoiavam, que eu mais amava...estavam mortas sobre escombros de um acidente. 

Subi as grandes escadas da casa de minha avó, entrei no quarto sombrio e comecei a procurar algo para vestir, abri o enorme gurda-roupas para procurar algo que não seja da década de 50. Achei um vestido florido com a estampa levemente desbotada, peguei meu casaco que estava sobre uma cadeira e vesti. Meu desejo era sair daquela casa e ir para a casa da Elisa, mas lembrei que estava completamente sem dinheiro, ou seja, teria que pedir para minha avó. Desci as escadas e peguei a chave da porta.

-Julia, para onde você vai?

-Vou para a casa da Elisa!

-Está acontecendo alguma coisa?

-Vovó, não pergunte nada por favor, mas me empreste um dinheiro para eu poder pegar um táxi!

Vovó tirou $ 40 de sua carteira com bordados que ela troxe de Paris e me deu em minha mão.Saí da casa como uma louca, procurando um táxi disponível, até que achei um. Ao encontrar faço sinal de que vou fazer uma "corrida", logo depois o motorista abre a porta para eu entrar, falei o meu destino e ele começou a puxar assunto:

-Olá moça, está sabendo do acidente que aconteceu?

-Sim, de uma parte!

-Foi uma fatalidade, estão comentando que foi proposital!

-Proposital?!

Fiquei sem reação,quem faria uma coisa dessas?Não tinha nem um maníaco na festa, pelo menos eu acho que não. O carro para na frente da casa de Elisa, avisto algumas pessoas paradas na frente da caixa de correspondência, paguei a corrida e fui em direção dessas pessoas. Elisa estava no meio dessas pessoas, suas expressões eram triste. Quando Elisa me viu, imediatamente me abraça.

Julia, que bom que você veio!

-Veio para que?

-Para o enterro, as vítimas serão enterradas hoje!

Conti as lágrimas para não parecer uma fraca, mas minha vontade era cair no choro. Elisa agarrou minha mão e me levou em direção ao carro para que pudêssemos ir a enterro.

Ao chegar, mal podia imaginar o tanto de gente morta, aqueles caixões escuros, as lápides com nomes e mensagens, as flores sem vida...tudo aquilo me dava arrepios. Estava em um canto quando um grupo de pessoas vieram puxar assunto comigo. Eles eram pálidos, com roupas muito escuras, seus olhos pintados com rimel preto, seus casacos comprados na H&M não escondiam a frieza na qual eles passavam.

-Você estava na festa, não é?

-Sim!

-Nós estávamos também, mas não vimos você!

-Acontece sempre!

Como eles estavam?Não vi ninguém daquele jeito na festa, pessoas que se vestem de preto o tempo todo, olhos pintados demais, não passam despercebidas. Helena nunca me falou dessas pessoas. O que estava contecendo?